História Amor de Gato - Festa e alegria

O palácio estava todo iluminado, com várias lâmpadas coloridas, enfeites e por todo lado se ouvia musica e risos. O povo também comemorava nas ruas a vitoria dos campeões de Fidélius.

Magali e sua turma desfilaram pelas ruas em carros especiais e foram saudados como heróis. Quem podia imaginar que aqueles humanos iam salvar o povo das garras de um tirano cruel? Aquilo com certeza ia ajudar a aproximar gatos e humanos no futuro.

Fidélius tinha ficado tão feliz que aceitou convidar todos os amigos da Magali para uma grande festa de comemoração. E havia muito o que comemorar. Sua coroa estava salva, seu irmão não ia criar mais problemas, não havia mais nenhum sinal daquela epidemia horrível que tinha assolado seu povo e finalmente seu filho tinha encontrado uma boa moça.

Apesar da grande festa que estava ocorrendo no palácio, Magali seguia o rei por um corredor. Ele tinha lhe dito que queria lhe falar algo importante e ela estava curiosa para saber o que era.

– Era isso que eu queria lhe mostrar. Essa era a minha esposa, mãe de Felicius.
– Nossa, ela era muito bonita mesmo! E o Felicius tem os olhos dela!
– Ah, sim... Aqueles olhos que me encantaram... – ele suspirou de saudades. – sabe, desde que ela se foi, eu nunca quis me casar novamente. Jamais vou conseguir sentir por outra pessoa o que eu senti por ela e acho que não vale a pena trazer ao mundo mais um herdeiro para competir com Felicius no futuro.
– Entendo... Mas o senhor não se importa de ficar sozinho?
– Às vezes sim, às vezes não... Eu tenho meu trabalho, tenho meu filho para educar... São muitas coisas. Além do mais, eu não ia querer que outra pessoa usasse isso – ele falou mostrando para Magali uma bonita coroa cravejada com pedras vermelhas e a insígnia do reino na frente. – a não ser, é claro, aquela a quem Felicius terá como esposa e rainha do povo gato.

Ela ficou em silêncio. O que ele estaria tentando dizer com aquilo? Talvez que fosse contra o relacionamento deles e esperava que no futuro eles terminassem e Felicius acabasse se casando com uma gata.

– Eu serei sincero com você, criança. No inicio eu era contra o namoro de vocês dois. Só a deixei voltar ao meu reino porque meu filho estava muito doente e percebi que sua presença o faria melhorar.

Magali se esforçava para disfarçar seu nervosismo. Pelo menos ele estava sendo honesto com ela.

– Com o tempo, eu fui vendo que você é boa pessoa. Foi graças a você que eu aprendi mais sobre os humanos, inclusive que eles têm um lado bom e que nosso povo também tem um lado ruim. Com isso, você acabou cumprindo seu propósito afinal de contas. Gatos e humanos são iguais.
– Majestade...
– Confesso que é difícil falar essas coisas. Um rei velho e teimoso como eu não muda da noite para o dia. Foi preciso tempo, reflexão e também fui observando o quanto você se importa com nosso povo. E como seus amigos lutaram por nós, aceitando os desafios sem queixas e reclamações.
– Eles nunca teriam recusado.
– Mesmo depois do que aconteceu naquele dia? Eles tinham todo o direito de dizer não.

Ela deu de ombros.

– A gente briga de vez em quando, mas depois fica tudo bem. Então aprendemos a não ficar guardando essas coisas que não levam a nada.
– Acho que eu também deveria aprender isso...

Eles ficaram em silêncio por um tempo, contemplando o belo quadro da esposa de Fidélius.

– Sabe, se antes eu era contra vocês dois, hoje não sou mais.
– Sério?
– Sério. Para falar a verdade, eu até tenho receio de que vocês dois terminem. Acho que não ia querer outra pessoa como nora, nem mesmo uma gata. Venha, experimente isso: - ele colocou a coroa sobre a cabeça dela e ficou contemplando o resultado. A jóia tinha ficado muito bem nela.
– Eu acho que não devia estar usando isso... É a coroa da rainha.
– Sei que é cedo para falar isso já que do futuro ninguém sabe. No entanto, se tudo der certo, você acabará sendo a rainha e isso não me incomoda mais. Até torço para que isso aconteça. Acho que nenhuma outra pessoa demonstrou se importar tanto com nosso povo quanto você.
– Nossa... nem sei o que dizer...
– Não precisa dizer nada. Apenas continue cuidando bem de Felicius. Sabe, você e minha esposa tem personalidades muito diferentes. Ela era mais agitada, temperamental e muito enérgica. Mas uma coisa vocês tem em comum.
– O que?
– Vocês são pessoas que nos ajudam a fortalecer. Foi com minha esposa que eu aprendi a ser forte. Antes dela, eu era um fracote molenga. Depois dela, aprendi a ser um rei melhor, mais forte e seguro de mim. Depois que te conheceu, Felicius também cresceu de uma forma que eu nunca imaginei ser possível. É por isso que eu estou feliz por ele ter te conhecido.
– Ele também me ajudou a crescer muito! Antes dele, eu era muito insegura e não confiava em mim mesma. Com ele, aprendi a ser forte e independente.
– Fico feliz em ouvir isso. Espero que ambos continuem apoiando um ao outro. E espero também que você tenha sucesso na sua missão de unir gatos e humanos. Saiba que eu farei tudo o que estiver ao meu alcance para ajudar. Acho que temos muito o que aprender uns com os outros.
– Com certeza!
– Agora, que tal voltarmos para a festa? Felicius falou que você e seus amigos têm uma... como se fala mesmo? “Banda”?
– É isso.
– Estou curioso para ouvir a música de vocês. Meu filho deve estar te esperando com muita ansiedade.

***

O salão estava todo enfeitado, repleto de gatos e humanos. Denise parecia uma celebridade, já que sua transmissão tinha sido vista por todo o reino. No fim, ela acabou salvando a pátria e ganhando o respeito de todos. Uma humana que conseguia espiar um gato sem ser vista devia ser alguém fora de série! Ela estava tão feliz que nem se incomodou ao saber que não poderia colocar seus vídeos na internet. Não de todo.

Vários especialistas e intelectuais cercaram Franja, curiosos por causa das suas invenções e Marina discutia arte com alguns artistas. Os gatos tinham uma forma muito curiosa de arte que ela queria aprender.

Cebola também tinha ficado popular por causa da sua capacidade para vencer jogos e desafios e com isso acabou atraindo vários amantes de jogos e enigmas ansiosos por poderem aprender sobre os jogos humanos. Cascão tinha virado quase um ídolo entre os esportistas graças ao seu desempenho no último desafio. Todos queriam aprender parkour e ele mal podia esperar para poder praticar naquela cidade.

Os antigos campeões de Teigr também tinham sido convidados e Fidélius resolveu recompensá-los por terem se levantado contra seu antigo senhor a favor dele. Mung parecia uma criança no meio das pessoas, se divertindo, dançando e comendo. Ele não era realmente mau, apenas fora treinado de forma errada. Com o treinamento e a direção certas, ele daria um bom segurança para Fidélius.

– Ô Magali! onde você estava? Daqui a pouco a gente vai tocar!
– Estava resolvendo algumas coisas. Nossa, será que eles vão gostar da nossa música?
– Eu gostei, não gostei? – Felicius falou abraçando-a por trás. – eles irão gostar também.
– Ai, tomara, viu?

Embora Mônica fosse a vocalista, eles resolveram que Magali faria a voz principal naquela noite e todos estavam ansiosos para ouvirem os humanos cantarem.

E eles não se decepcionaram nem um pouco e após alguns segundos, muitos já dançavam alegremente e até Fidélius acompanhava o ritmo da música batendo os pés no chão. Aquele som não era nada mal!

A turma tocou mais algumas músicas a pedido dos convidados e depois a música voltou a ser tocada pela orquestra real para que eles também pudessem aproveitar a festa.

Os casais da turma dançavam ao som da música que tocava. Algumas danças dos gatos eram parecidas com as dos humanos e eles aprenderam depressa. Não era complicado.

– Olha como a magá tá feliz! – Mônica falou, dançando com o Cebola.
– Pois é... tomara que dê tudo certo entre eles!

Magali e Felicius dançavam juntos e felizes, olhando um para o outro com olhares apaixonados.

– Está gostando da festa?
– Sim, muito! Meus amigos estão se divertindo demais!
– Que bom. Sabe... eu não sei se você reparou, mas a noite está muito bonita.

O rosto dela corou.

– Mesmo?
– Ah, sim! As estrelas estão brilhando de um jeito especial hoje. Quem sabe a gente não acaba vendo uma estrela cadente? Eu vou adorar fazer um pedido.
– Eu também...

Ele pegou em sua mão e a conduziu para fora do salão discretamente, sob olhares e risinhos da turma.

Ao chegarem do lado de fora, ele a pegou em seus braços e com um grande pulo, eles foram parar em outra torre, onde podiam ficar a sós.

– As estrelas estão mesmo lindas hoje.
– Não falei?

Eles ficaram abraçados, contemplando o céu. A cidade estava toda iluminada e havia alegria por toda parte, inclusive nos corações deles.

– Magali, eu preciso perguntar uma coisa...
– Pode perguntar.

Felicius ergueu o rosto dela segurando o queixo para olhar em seus olhos.

– Você ainda pensa no seu ex-namorado?
– No Quim? Não, claro que não.
– E a historia que vocês tiveram juntos?
– Estou tendo uma nova historia com você e é isso que importa para mim agora.
– Nós ainda não sabemos como será essa história.
– Não, mas podemos nos esforçar para que ela seja bonita.
– Se depender de mim, será a mais linda do mundo. Eu sei que não sou como ele, que não sei cozinhar muito bem e...

Ela colocou um dedo sobre os lábios dele.

– Você não precisa ser como ele. Eu gosto do jeito que você é.
– Hum... apenas gosta?
– Vejamos... – ela deu um sorriso maroto, fazendo um pouco de suspense.
– Pois eu a amo!
– Felicius...
– Por isso eu perguntei sobre seu ex. Será que existe alguma chance de você sentir por mim o que sentiu por ele?
– Não, isso não.

O rapaz abaixou a cabeça, sentindo-se triste, mas ela fez com que ele a olhasse de novo.

– O que eu sentia pelo Quim era coisa de criança. Foi bom enquanto durou, mas não era algo realmente forte.

Os olhos dele voltaram a brilhar novamente. Aquilo era muito melhor.

– Sabe, eu nunca falei sobre isso, mas acho que o Quim só conseguiu se aproximar de mim porque soube explorar meu ponto fraco que era a comida. Ele me dava coisas gostosas, tudo o que eu queria e de certa forma isso foi me mantendo presa a ele. Com o tempo, fui ficando dependente, com medo de ficar sozinha e mesmo assim nunca parei para questionar meus sentimentos.
– E comigo, como você se sente?
– Forte, independente, feliz. Você incentiva meu melhor lado, me ajuda a crescer e realmente se importa comigo. Se eu tiver algum problema, sei que você tentará me ajudar de verdade e me ouvirá ao invés de apenas me dar algo para comer. Isso é muito importante para mim.
– Eu não sabia...
– É por isso que eu não poderei sentir por você o mesmo que sentia por ele. Porque com você, o sentimento é mais forte. Eu... eu...
– Por favor, diga isso olhando no fundo dos meus olhos.
– Eu também te amo...

Com aquilo, ele a abraçou bem forte e colou seus lábios nos dela. Há tempos ele queria ouvir aquelas palavras e sabia que ela estava falando a verdade. Dava para ver em seus olhos.

Apesar da grande festa que acontecia no palácio, eles resolveram ficar por ali mais algum tempo. Tudo estava tão bom, tão tranqüilo!

O futuro ainda era incerto e não havia como eles saberem como seria aquela história. Tudo estava em aberto, muita coisa podia acontecer. De uma coisa eles sabiam: que fariam de tudo para que aquela história fosse bonita. Se algum dia terminasse, pelo menos ficariam belas lembranças, embora no fundo eles tivessem certeza de que esse dia nunca chegaria.

Eles voltaram a olhar as estrelas sem pensar em mais nada. De que adiantava especular sobre o futuro? Curtir e aproveitar o presente era muito melhor.