História Amor de Infância - Confissões.

- Jensen! Seu traidor, você e Jared estão juntos há uma semana e você só vem me dizer isso agora.

- Eu não tive tempo de te contar. 

- Sei, vocês devem ter feito muito sexo, se for assim eu perdoo, mas fique sabendo que eu quero detalhes sobre TUDO, ouviu? TUDO! - Misha disse. 

- Eu já ouvi, quer falar baixo, nós estamos no meio do refeitório. Você não precisa ficar gritando isso pros quatro cantos do mundo ouvir.

- Ah! Sem mimimi, por favor eu sei que se você pudesse iria colocar uma placa na testa do Jared escrita "Do Jensen, por favor não chegue perto" - Jensen riu do pensamento do amigo. 
- Idiota, eu colocaria mesmo, assim esses urubus param de cercar ele.

- Esses urubus no caso seriam...?

- Matt Cohen e Chad Murray

- Você ainda sente ciúmes do Chad? Faz meses que ele e seu irmão não estão mais juntos. 

- Eu sei, mas ele ainda gosta do Jay, eu sei disso. 

- Desencana, a gente sabe que o Jared é louco por você. 

- Ele é incrível. - Jensen disse com um sorriso bobo. Misha gargalhou alto.

- Do que você está rindo? 

- Da sua cara de idiota, parece uma virgem apaixonada.

- Não seja invejoso, Collins está soltando seu veneno porque não foi comido essa semana. Pensei que já tivesse se acertado com o Chris.

- Eu não fui mesmo, se você quiser saiba que estou disponível e não fale no nome daquele ser, eu o apedrejaria se pudesse. 

- Eu estou bem com o Jared, muito obrigado. E porque toda essa raiva do Chris? Ele teve mais uma crise de ciúmes?

- Não, eu peguei ele atracado com a Amber, os dois estavam no maior amasso.

- Ah! Então o ciumento foi você dessa vez. 

- Não é ciúmes, é só que... ele é um idiota e eu o odeio, ponto final.

- Ok! - Jensen riu. 

- Vamos mudar de assunto. O Jared já sabe de tudo? - Misha perguntou enquanto enchia a boca de batata frita.

- Não, eu ainda não tive coragem de contar para ele. - Jensen falou, Misha revirou os olhos. - Mas eu vou contar, eu só preciso de um tempo.

- Você está dizendo isso há um mês.

- Eu sei, mas eu não tive oportunidade, entende? 

- Não. - Misha disse. Jensen bufou. 

- Tem coisas demais acontecendo de uma vez só, primeiro ele com essa ideia de procurar a família biológica e depois as declarações, nós estamos tão bem, eu só quero aproveitar mais um pouquinho antes dele começar a me odiar. 

- Família biológica? De onde ele tirou isso? - Misha perguntou.

- Eu não sei, ele pôs isso na cabeça e não quer desistir, roubou até uns documentos que estavam nas coisas da minha mãe e agora fica a noite inteira na internet. - Jensen falou,  ele estava aflito, e se Jared resolve ir morar com essas pessoas? 

- Olha, não fica assim, ele não vai deixar você nem a sua família para ir morar com esses parentes que ele nem conhece, o Jared é novo, mas é maduro, relaxa. 

- É, ele me disse isso. 

- Então, você está se preocupando a toa. Vai ficar de cabelos brancos. - Misha disse. Jensen riu triste ao se lembrar de seus cabelos, teria que raspá-los em breve. 

- Daqui há alguns dias eu nem vou ter mais cabelo, não preciso me preocupar com isso. 

- Eu acho que você vai continuar gostoso, isso vai te deixar com cara de mau, e isso é sexy. - Jensen riu. 

- O que seria de mim sem você? - Jensen perguntou em meio as risadas, Misha tinha o dom de fazer piada com as coisas mais inusitadas possíveis. 

- Nada, meu amor você não seria nada sem mim. Agora levante a sua bunda gorda daí e vamos voltar para a sala porque a próxima aula é de física e eu não quero ganhar mais uma advertência por atraso. 

- Tudo bem, vamos.

Jensen e Misha voltaram para a sala de aula, e como previsto o professor de física estava lá dando sermões nos alunos e dizendo como aquela escola estava indisciplinada. 

- Se você ficar quieto ele não vai nem te notar.

- Eu não consigo, minha vontade é de voar na cara dele, esse velho barrigudo acha que nós somos o que? Ele nos trata com indiferença, como se fosse melhor do que os alunos. - Misha disse. 

- Ele é velho e deve acordar mal humorado porque não consegue mais fazer sexo. - Jensen disse, Misha não conseguiu prender o riso. 

- Eu estou atrapalhando vocês, rapazes? Se quiserem ficar de namorico ou fofoquinha façam isso fora da minha sala, ok? - o professor advertiu, chamando a atenção de todos na sala para Misha e Jensen que se entreolharam e riram baixinho. 

No fim das contas o Sr. Thompson acabou nem dando aula porque estava ocupado demais passando sermão nos alunos o que fez todos reclamarem coisas como "se eu soubesse que ele só ia falar besteiras a aula inteira teria ficado no pátio", "esse cara precisa se aposentar, é sério, você viu ele nem deu aula, só ficou falando um monte de asneira".

Os alunos suspiraram aliviados quando ouviram o sinal tocar indicando o fim das aulas. Aquilo era como música para os ouvidos de Misha. 

- Ah finalmente o pesadelo acabou! Agora eu vou para a minha casa, tomar um banho demorado e dormir a tarde inteira. - Misha falou suspirando, como se estivesse sonhando com isso há dias. 

- Vagabundo. - Jensen disse,  recebendo o dedo do meio como resposta. 

                                  * * * 

Jensen voltou para casa a pé porque precisava pensar, ele tinha que abrir o jogo com Jared, contar o que estava acontecendo. A verdade é que tudo acabou fugindo do seu controle, depois da descoberta da doença, Jensen decidiu não contar sobre seus sentimentos, ele morreria só como o irmão mais velho de Jared, mas na hora que ele viu o interesse do outro em saber sobre sua família biológica sentiu tanto desespero que acabou contando tudo que sentia, e ele estava extremamente feliz ao lado de Jared, mas o moreno não poderia saber daquilo, da sua paixão absurda, do seu amor que vai além dos limites. Agora era tarde demais, porque ele estava envolvido demais e Jared também, e e como se o amor deles estivesse estampado em suas testas. 

Jensen o amava e é por isso que não poderia continuar escondendo os fatos da sua real condição. 

Jared estava lá na frente do computador pesquisando sobre a família Padalecki, eles tinham conversado sobre isso e o outro disse que não desistiria de saber mais sobre sua família, mesmo com Jensen implorando para que ele esquecesse essa história. 
O loiro preferiu não discutir mais sobre aquele assunto. 

- De novo pesquisando sobre isso? - Jensen falou assim que entrou no quarto e o viu sentado de frente ao computador. 

- Jen, nós já conversamos sobre isso. - Ele disse virando de frente para Jensen que estava sentado na cama. 

- Eu sei, me desculpe. 

Jared sentou-se ao seu lado e lhe beijou.

- Aconteceu alguma coisa? Você está tenso. - Jared falou, o comportamento estranho de Jensen jamais passaria despercebido pelos do moreno.

- Eu preciso te contar uma coisa, mas eu quero que você me prometa que não vai ficar bravo comigo. 

- O que você fez dessa vez? Não me diga que você quebrou mais um dos meus carrinhos. - Jared brincou, lembrando de quando eram crianças, era exatamente assim que Jensen fazia quando vinha lhe confessar algo. 

O loiro riu. 

- Jay, estou falando sério.

- Tudo bem, o que você quer me contar? Eu prometo que não vou ficar bravo. 

- Eu... E-eu, deus eu não consigo dizer isso. - Jensen passou as mãos pelos cabelos demonstrando seu nervosismo. Ele se levantou e começou a andar de um lado para o outro, sendo seguindo pelo olhar preocupado de Jared. 

- Jensen, você está me assustando. O que aconteceu? 

- Eu... Eu estou doente, Jared muito doente. - Ele disse engolindo o nó na garganta. - Eu... eu tenho câncer.

Jared sentiu o chão se abrir sobre seus pés, foi como levar um soco no estômago, ele ficou estático, sentindo os olhos transbordarem, mas sem reação para enxugá-las, ele estava processando a frase que Jensen acabara de falar. 

Eu tenho câncer. Aquilo não era verdade, não podia ser verdade. 

- O que você disse? - Jared perguntou com a voz embargada.

- Jared... - Jensen foi interrompido

- Diga que isso é mentira, diga que é mais uma das suas brincadeiras estúpidas. - Ele ordenou, mas Jensen só sabia chorar. - DIGA! DIGA QUE É MENTIRA! POR FAVOR! - então ele gritou em meio as lágrimas. 

Jensen o abraçou e eles desabaram juntos. 
Jared sentindo a dor e o medo de perder Jensen, ele não queria acreditar naquilo, mas a verdade nos olhos de Jensen era verídica. 

E por um segundo tudo voltou a sua mente. 

O dia da sua viagem com chad, quando ele teve febre.

As vezes em que vomitou e pôs a culpa em algo que comeu na rua.

A pele mais pálida que o normal. Estava tudo na cara, como não percebera? 

- Há quanto tempo você sabe? - Jared perguntou 

- Desde aquela noite que eu cheguei tarde com os nossos pais, eu desmaiei na festa, mas não foi por causa de bebida, Misha me levou ao hospital, eles fizeram os exames e o meu diagnóstico é de leucemia. 

- Então todo mundo sabia menos eu? 
- Jay, por favor entenda.

- Não! Eu não entendo! Porque você não me contou? Porque escondeu isso de mim? Eu tinha o direito de saber!

- Eu sei, mas eu não queria que você sofresse.

- Não queria que eu sofresse, acha que eu não estou sofrendo agora? Acha que o tempo diminuiu a minha dor?! 

- Me desculpe. - Jensen sussurrou.

Jared estava triste, irritado, magoado. Eram tantos sentimentos ruins que ele pensou que fosse morrer. 
Jensen esperou que ele dissesse mais alguma coisa, mas ele só se levantou e saiu.

- Para onde você vai? - o loiro perguntou preocupado, Jared estava atordoado demais para sair sozinho por aí. 

- Sair, eu preciso de um tempo. - ele disse. Jensen saiu atrás dele. 

- Jared! Volta aqui, nós temos que terminar essa conversa! - Jensen gritou, ele ainda pensou em correr atrás de Jared, mas não conseguiria alcançá-lo e seus pais haviam acabado de chegar e estavam ali paradas com a expressão mais confusa que se pode ter. 

- O que aconteceu? Porque está chorado? - Donna disse segurando o rosto dele. - Porque o seu irmão saiu correndo daquele jeito?

- Eu contei tudo para ele, contei que estava doente e agora ele me odeia. 

- Oh meu amor, ele não odeia você, não tem como alguém conseguir odiar você. Seu irmão só está bravo, você sabe que demorou tempo demais para contar a verdade a ele. 

- Eu sei. - ele disse tão baixo que mal pôde se ouvir.

- Vem, você precisa descansar. 

Donna o levou para dentro da casa e o fez comer, mesmo ele dizendo que estava sem fome. 

                                  * * * 

Jared passou a tarde inteira rodando a cidade, até que seus pés começaram a doer. Ele estava em uma ponte que ficava em cima de um viaduto, ninguém nunca passava ali, as pessoas tinham medo de serem assaltadas, mas a essa altura do campeonato, ser assaltado seria o menor de seus problemas.

Jared nunca havia estado ali durante a noite. Era magnífico, as luzes da cidade, os carros passando como flashes abaixo de si, Dallas parecia enorme quando se era vista de cima.

Aquilo lhe fez lembrar de todas as vezes em que planejou um futuro com Jensen, mesmo antes de saber dos sentimentos do irmão e dos seus. As vezes em que conversaram e prometeram cuidar um do outro. 

Jared ainda se lembra de uma conversa que tiveram quando eram crianças, Jensen devia ter uns doze ou treze anos, o loiro disse que no futuro quando eles se casassem iriam morar na mesma casa com suas esposas, assim poderiam continuar cuidando um do outro.
E ele se lembra de todas as vezes em que ficou doente e Jensen estava lá, cuidando de si e fazendo todas as suas vontades mesmo quando sabia que era manha. Ele se lembra de todas as vezes que o loiro arrumou confusão com gente que tinha o dobro do seu tamanho só para lhe defender ou quando ele disse a Roger que queria aprender a lutar box para poder defender Jared dos valentões da escola. De uma forma ou de outra Jensen sempre estava lá cuidando ou lhe protegendo, era sua vez de fazer o mesmo. 

                                  * * * 

Quando voltou para casa foi direito para o quarto, Jensen estava lá, dormindo, sua expressão era serena, mas o rosto estava vermelho o que fez Jared deduzir que ele estivera chorando durante a tarde, então para não acordá-lo, Jared tirou os sapatos em silêncio e se deitou com cuidado na mesma cama, ele se aconchegou no peito de Jensen e desejou que aquilo tudo fosse um sonho ruim.  

Jensen sentiu um peso sobre si e abriu os olhos devagar. 

- Me desculpe, eu não quis te acordar. - Jared disse ainda abraçado a si como se tivesse medo que ele fugisse. 

- Tudo bem. - Jensen falou e então eles ficaram quietos, ouvindo apenas o som das suas respirações. - Jay? - Jensen quebrou o silêncio.

- Oi 

- Você me odeia? Sabe... Por eu ter escondido tudo isso de você?

- Eu jamais poderia te odiar, porque eu te amo e não existe espaço para sentimentos ruins quando se tem tanto amor. - Jared falou. - Me desculpe por sair daqui daquele jeito, eu não tinha o direito de ficar bravo. 

- Você tinha, eu menti para você e isso é errado.

- Você mentiu para me proteger, você só queria cuidar de mim. Jen, é a minha vez de cuidar de você. - ele disse e Jensen sorriu logo depois de beijá-lo. 

- Sabe, eu não quis que você soubesse, primeiro porque eu não queria que você sofresse com isso e segundo porque eu não quero que você me trate como eles ou que me olhe como eles olham. Todo mundo tem me tratado como se eu fosse uma bomba relógio, até o Misha que é o cara ma otimista que eu conheço, as vezes ele me olha como se eu fosse morrer ali bem na sua frente. Eu não quero que seja assim com você.

- Não vai ser, eu prometo. - Jared sorriu e o beijou como se fosse a última vez. 

- Eu te amo. - Jensen disse.

- Eu também te amo. 

Continua...