História Amor de Infância - Tenha coragem, Jensen

Sexta-feira
             20:00 PM.

Essa já era a quinta camisa que Jared trocava, ele agora arrumava o cabelo enquanto Jensen continuava lá sentado, assistindo a tudo enquanto ruía as unhas e mexia a perna sem parar. 

- Jensen, o que diabos você tem?

- eu?... nada, eu não tenho nada.

- você está inquieto, tem alguma coisa te incomodando?

- não, está tudo bem.

- hm. Tem certeza? 

- tenho. 

- tudo bem, então, essa roupa está legal? Acha que o Matt vai gostar? 

- é, ele vai. - Jensen disse sem muita convicção. - e para onde vocês vão? 

- cinema, vamos assistir Blackjack (1). - Jared disse. 

- mas você disse que queria ver esse filme comigo, lembra? Estávamos combinando de ir juntos.

- eu sei, mas... bom, você tem a Katie e eu achei que você fosse querer ver o filme com ela.

- é claro que não, se eu disse que iria com você é porque eu iria com você e ponto! - Jensen falou num tom mais alterado. 

- Hey, hey calma, é só um filme, Jensen poxa, você pode ir ver depois, qual o problema?

- nenhum, me desculpe. - Jensen disse cabisbaixo.

O moreno ficou alguns segundos estático, ele não disse nada, porque não havia o que dizer. Aquela reação de Jensen deu um completo nó em sua mente. 

Ele está com... ciúmes?

Jensen desviou o olhar, fingiu estar procurando alguma coisa na gaveta do criado mudo. 

- é... então... eu já vou, tchau. - Jared gaguejou um pouco ao se despedir de Jensen. 

- tchau, divirta-se. 

Jared pegou seu casaco que estava sobre a cama e caminhou até a porta.

Matt esperava por ele na sala, estava vestido em um jeans preto e uma camisa de mangas longas da cor cinza. Sorriu ao ver Jared descendo as escadas. 

- que horas vocês voltam? - Donna perguntou.

- antes das onze, não se preocupe Sra.Ackles, assim que o filme acabar eu o trago de volta. - Matt disse. 

- tudo bem, tome conta do meu bebê.

- mãe! - Jared falou envergonhado.

Matt riu junto com Donna. 

- vamos. - Jared puxou Matt pela mão.

- sua mãe é engraçada, ela deve achar que você ainda tem cinco anos. - Matt falou.

- isso é porque você não viu quando Jen ou eu ficamos doente. 

Matt parou de rir e ficou encarando Jared, observando os olhos verde-azulados por baixo da franja, ele sorriu deixando Jared corado.

- você está lindo. - Matt falou sorrindo, Jared ficou ainda mais envergonhado, encolheu os ombros e agradeceu. 

Ele se aproximou de Jared, o bastante para poder sentir seu nervosismo. Pôs a mão no queixo dele forçando-o a encará-lo, Matt se aproximou mais e o beijou. Até então o beijo estava sendo correspondido, mas Jared se lembrou que estava na porta de sua casa e que não fazia muito tempo que tinha tomado um pé na bunda de Chad que era o melhor amigo de Matt, e também tinha Jensen que não devia estar nesta lista de obstáculos, mas estava. Ele estava lá, roubando seu sono todas as noites. 

- Matt, me desculpe. - Jared falou depois que interrompeu o beijo. - nós estamos na porta da minha casa, e você disse que teria paciência.

- eu sei, me desculpe.

- é melhor a gente ir ou vamos perder a sessão. 

- claro. - Matt suspirou frustrado.

                                 * * * 

Jared não o vira, mas ele estava na janela do quarto observando tudo que acontecia lá em baixo. 

Ele viu o jeito apaixonado que Matt olha para Jared e viu como Jared sorri de forma carinhosa para o outro. Ele viu o beijo e uma lágrima caiu de seus olhos. 

Estava perdendo Jared de novo, da primeira vez fora cego demais para enxergar o que sentia, aí Chad chegara e com aquele jeitinho manso acabou conquistando o coração de Jared. E agora que ele finalmente conseguiu enxergar que o amor que sente por Jared não é só um amor de irmão, agora que ele finalmente criou coragem para assumir esse amor para si mesmo, se ver perdendo o moreno outra vez, dessa vez para Matt, que ao contrário dele tivera coragem para se declarar e dizer o que estava sentindo. 

- Jensen? Filho eu posso entrar? - era Donna batendo a porta. Jensen enxugou o rosto molhado pelas lágrimas.

- Claro, entra. 

- Tá tudo bem com você? - ela perguntou.

- Sim, tá, eu to bem. - ele disse.

- Seu rosto está vermelho, andou chorando?

- O quê? não! eu não estava chorando.

- Jensen, você sabe que não consegue mentir para mim. - ela disse. 

- Eu sei... eu... - Jensen não conseguiu terminar a frase, tentou ao máximo que pôde engolir as lágrimas, mas simplesmente não conseguiu. 

Donna pôs a cabeça dele em seu colo e o deixou chorar, como quando ele era criança.

- O que está acontecendo? Você sabe que pode conversar comigo. - ela disse enquanto acariciava os cabelos loiros. 

- Está tudo bem, eu juro. - ele disse chorando.

- Se tudo estivesse realmente bem, você não estaria chorando. 

- Mãe...

- É alguma coisa relacionada ao seu irmão? Tem alguma coisa que você queira me contar? 

- Não... eu...

- Eu não vou julgar você meu filho, eu só quero te ajudar, você sabe que eu odeio te ver triste. 

- Então... v-você já sabe, quem te contou? Foi o Misha?

- Ninguém me contou nada, eu sei porque eu sou sua mãe e eu te conheço melhor do que ninguém. Eu sei quando tem alguma coisa te machucando e sei que no momento a coisa que está te ferindo é essa confusão aí dentro por causa do Jared. - ela apontou para o coração de Jensen. 

- como você sabe? 

- Jensen, querido você saiu de dentro de mim, eu observo os seus passos há dezenove anos e nesse meio tempo que o Jared está com a gente eu veio observando vocês dois. O jeito como se olham, como sorriem um para o outro, qualquer pessoa pode ver que vocês se compreendem só com um olhar. 

- Você não me acha nojento por amá-lo dessa forma? - Jensen perguntou. 

- o que?! Não, nunca, o amor que você sente por ele é a coisa mais linda que eu já vi. - Donna enxugou a própria lágrima. - você não pode mandar no seu coração, ninguém pode. 

- o que eu faço, mãe?

- conta a verdade à ele, diga que você o ama.

- e se ele me odiar? se ele sentir nojo de mim.

- ele nunca vai odiar você.

- eu estou perdendo ele de novo, acho que ele está apaixonado pelo Matt.

- bem... isso você só vai saber se perguntar a ele. Agora eu preciso ir. - Jensen se sentou e apertou sua mãe em um abraço. 

- obrigado. - ele disse.

                                  * * * 

No dia seguinte, Jensen foi o primeiro a acordar na casa, tomou um banho e se arrumou antes que Jared ou os outros se levantassem. 
Ele nem tomou café, queria passar na casa de Misha o mais rápido possível. 
Antes de sair, deixou um bilhete avisando que precisou sair mais cedo. 

Misha tinha que saber que Donna já sabia de tudo e que ela não o odiava por isso. Tinha que saber que estava disposto à contar tudo a Jared, mesmo que isso causasse uma tremenda confusão. 

- olá Sra. Collins, o Misha está?

- ele ainda está dormindo. - ela disse. - mas você pode subir se quiser. 

- ah claro, muito obrigado. - Jensen sorriu e subiu as escadas em direção ao quarto de Misha. 
Ele entrou sem bater na porta, era difícil encontrar Misha no meio daquela bagunça, mas ele o encontrou espalhado na cama. 

- Misha! Misha acorda!

- oi? quem morreu? - perguntou assustado.

- ninguém morreu, anda levanta daí, eu preciso falar com você.

- Jensen! Espero que seja algo muito grave para você vir até a minha casa me acordar às seis horas da manhã de sábado. 

- é importante, eu juro. 

- tudo bem, sou todo ouvidos, pode falar.

- só depois que você vestir uma roupa, que nojo. - ele disse ao ver a nudez de Misha que revirou os olhos e bufou. 

- quero ver se você vai fazer essa cara quando for o Jared pelado na sua frente. Eu aposto que não. - Misha disse vendo a cara confusa de Jensen. 

Misha pegou uma toalha e algumas roupas, saiu para se vestir no banheiro, voltou minutos depois e Jensen estava lá roendo as unhas. 

- pode falar agora. 

- o Jared saiu com o Matt ontem, eles ficaram, vi Matt beijando ele.

- uh! isso é bem... chato? - Misha disse, não estava muito interessado na vida amorosa de Jensen aquela hora da manhã. 

- Misha! eu to aqui precisando da sua ajuda e tudo o que você me diz é que é chato, isso não é chato, é péssimo! imagine o Chris sendo beijado por outra pessoa na sua frente.

- oh não meta o Chris nisso, nem me fale nele. - Misha disse.

- o que houve? 

- te conto depois, agora prossiga com o seu drama amoroso.

- eles foram no cinema, e Matt o beijou na porta em frente a nossa casa. - Jensen falou.

- e depois...?

- depois a minha mãe foi até o meu quarto e perguntou o que havia de errado comigo, eu tentei mentir, dizer que está tudo bem, mas eu simplesmente não sei mentir para a minha mãe, eu nunca soube, nem quando era moleque e aprontava com o Jay. Eu não precisei contar a ela porque ela já sabia, eu perguntei se você tinha comentado alguma coisa e ela disse que não, que ela sempre soube que havia algo diferente no modo com ele e eu nos olhávamos. 

- tenso. - Misha disse.

- eu senti medo, sabe? medo que ela me rejeitasse e me achasse nojento por amar o meu irmão dessa forma, mas ela disse que é a coisa mais linda que ela já viu. - Jensen falava sorrindo e com lágrimas nos olhos. 

- nossa, tua mãe é mesmo de ouro. Mas o que você pretende fazer.

- eu vou conversar com o Jared, bom... vocês disseram que o nosso plano estava funcionando, disseram que ele estava com ciúmes de mim com a Katie, eu vou arriscar, vou falar para ele o que eu sinto porque eu não aguento mais.

- e você já pensou na possibilidade de que... ele pode está se apaixonando pelo Matt? - Misha falou um pouco relutante.

- pensei, pensei até demais. Eu tive que ficar ouvindo ele falar sobre o encontro dele, e como o Matt era legal, engraçado e blá-blá-blá. - Jensen falou. - por um momento eu quis bater nele sabia.

Misha riu.

- no Matt? - perguntou

- não, no Jared mesmo, para ele calar a boca. - Jensen disse fazendo Misha rir ainda mais. 

- e quando você pretende contar ao Jared que você é loucamente apaixonado por ele? 

- hoje a noite. 

- hoje a noite? - Misha perguntou.

- é, por quê?

- será que você pode fazer isso depois que a gente chegar de uma festa? - Misha perguntou forçando um sorriso. 

Jensen revirou os olhos e bufou.

- que festa? 

- sabe o David? Amigo do Chris.

- sei.

- então, ele vai dar uma festa hoje, e o Chris vai estar lá.

- e daí?

- e daí que nós brigamos, basicamente por sua causa, eu quero que você me ajude a tirar ele de lá antes que ele fique bêbado. 

- tudo bem, mas eu ainda não entendi a parte do "nós brigamos basicamente por sua causa". por que minha causa?

- eu estava resolvendo o problema da Katie com o carinha que trabalha no Monet's - o Henry, o Chris chegou lá e cismou que eu tava dando em cima do cara, eu tentei explicar, mas ele não me ouve. Depois eu fiquei sabendo dessa festa, com certeza ele vai estar lá.

- tudo bem, passe na minha casa às oito ou nada feito. 

- certo, estarei lá, as oito em ponto. 

                                  *   *   * 

As 20h00min em ponto, como prometido, Misha estava lá, buzinando na porta da casa de Jensen. 

- mãe, pai eu não demoro. 

- tudo bem, tome cuidado, não vá ficar bêbado. 

- não se preocupem, eu não vou beber. 

Jensen pegou seu casaco que estava jogado em cima do sofá e atravessou a porta encontrando Misha com o carro parado em frente a sua casa.

- pontual, gostei. - disse Jensen. 

Misha sorriu convencido.

- e aí, preparado para fazer sua primeira declaração de amor? você nunca deve ter feito isso na vida.

- eu nunca fiz, e estou nervoso pra caramba. 

- relaxa, vai dar tudo certo, quando o Jared olhar nos seus olhos incrívelmente verdes e ouvir você dizendo que o ama, vai cair de quatro bem rapidinho.

- tudo bem, chega de piadinhas, vamos embora logo, eu quero esperar o Jared chegar.

- ele não tá em casa? 

- não, disse que tinha que pegar um trabalho na casa do Billy, mas que volta logo. 

- hm, que estranho, será que ele tá pegando o Billy?

- o que?! não! quer parar, tá me deixando ainda mais nervoso! 

- tudo bem, desculpe, eu só estava brincando.

- dirija essa jossa calado, ok?

- ok, mas da próxima vez que você ofender o meu carro eu te empurro para fora dele . 

                                  * * * 

A festa na casa do David tava bem animadinha, músicas alta, gente bêbada por toda parte, garotas ficando com garotas, garotas dançando em cima do sofá.

- em cima do sofá da minha mãe não queridinha, vaza daí. - David disse para a garota loira que estava se requebrando em cima do sofá. - MISHA! - ele gritou animado. - e... oh meu Deus! eu não acredito, Jensen Ackles, você aqui, cara que honra. - ele disse, Jensen forçou um sorriso. - meninas, vocês já viram quem está aqui, isso mesmo, Jensen Ackles, o futuro capitão do nosso time de basquete. - David anunciou a chegada de Jensen e aquilo tirou completamente a possível chance de paz que ele podia ter naquele lugar. 

David não parava de falar e as meninas se aproximavam a cada instante querendo puxar papo. 

- aí David, você viu o Chris? - Misha perguntou.

- está na cozinha enchendo a cara.

- eu vou até lá falar com ele, Jensen você me espera aqui?

- claro, vai lá, mas não demore.

- tudo bem.

- aí Misha, o cara tá malzão, disse que você tava de paquera com outra pessoa é verdade?

- cala a boca, David você tá bêbado e eu não te devo satisfações. 

- nossa, tá nervosinho em. - ele disse.

Misha saiu atrás de Chris e Jensen ficou lá sendo assediado pelas garotas, por um segundo ele achou que fosse morrer por lá, a música alta estava começando a fazer seus ouvidos doerem, Jensen fechou os olhos por uns pequenos segundos e quando os abriu viu o mundo girar à sua volta, estava tonto e com uma dor de cabeça terrível.

 - Jensen, você não vai beber? - a voz da garota parecia ter sido trazida pelo vento, ela ecoou em seus ouvidos. 

Jensen saiu dali inventando que precisava tomar um pouco de ar porque a fumaça dos cigarros o estava deixando sufocado.

 Na varanda da casa as coisas estavam mais calmas, o barulho era menor, mas isso não diminuía sua dor de cabeça nem a tontura, Jensen se encostou na parede e respirou fundo, fechou os olhos e tentou fazer aquilo parar, mas quando abriu os olhos nem teve tempo de pedir ajuda, tudo ficou escuro outra vez.

                                  *   *   *

- já chega, Chris você não acha que já bebeu o suficiente? 

- não, sai daqui, me deixa em paz, porque você não volta lá pro Monet's pra paquerar com o garçom. - Chris falava tropeçando nas palavras. 

- argh! como você é cabeça dura, quantas vezes eu vou ter que te contar essa história? O Jensen está de prova, ele está lá fora esperando por nós.

- eu não vou à lugar algum. - ele disse.

Misha respirou fundo.

- Christian, essa é a última vez que eu te chamo.

- tchau, Misha. 

- tudo bem, fica aí enchendo a cara. 
Misha voltou para a sala onde tinha deixado Jensen. 

- onde está o Jensen? - perguntou a uma das garotas que antes estava querendo se esfregar nele.

- eu não sei. - ela disse. 

- aí David, você viu o Jensen?

- ah vi sim, ele tá lá na varanda, disse que estava se sentindo sufocado pelos cigarros.

Misha foi atrás de Jensen na varanda, ele queria ir embora daquela maldita festa o mais rápido possível. 
Misha chegou a varanda e encontrou Jensen caído, o loiro estava inconsciente.

                                  *   *   *

Duas horas mais tarde.

Jensen abriu os olhos devagar porque a luz daquele lugar incomodava sua visão. 
Ao seu redor, as paredes eram brancas. Sua mão esquerda estava presa a uma agulha que continha um tubo levando a um recipiente com soro. 

Donna estava do outro lado o observando pela janela de vidro, ela estava abraçada a Roger, os dois choravam, Jensen podia ver, só não entendia. 
Misha também estava lá, chorando. 

- mãe? mãe, o que houve? - ele perguntou. 

um médico apareceu segundos depois e entrou no quarto junto com Donna, Roger e Misha.

- gente, o que aconteceu? porque vocês estão chorando desse jeito? - ele perguntou. 

ninguém respondeu. Donna chorou ainda mais. 

- ninguém vai dizer nada?! Misha?

- Jensen... é, v-você... - Misha gaguejava, mas não conseguia dizer.

- fala logo! - Jensen gritou.

- você tem leucemia.

CONTINUA...