História Amor é... - Capítulo 1 - No choro de Anah

21h, no momento em que Wonshik foi embora.

- E O QUE VOCÊ SUGERE QUE FAÇAMOS, KIM RAVI? – Taekwoon grita, conforme seguia o marido para a cozinha de sua casa. Não aceitaria ser deixado falando sozinho como ele havia feito há pouco – QUER LUGAR PARA O ADVOGADO E ACABAR COM ISSO DE UMA VEZ?

- É O MELHOR, JÁ QUE VOCÊ NEM QUER SE DAR AO TRABALHO DE ME OUVIR – escutou-o responder, assistindo-o abrir a geladeira para fechá-la com a mesma rapidez. O som da porta batendo ecoou pela cozinha – NÃO ADIANTA FICAR INSISTINDO NESSE CASAMENTO PÉSSIMO.

As frases ditas por Wonshik doeram tanto quanto facas cortando o coração de Taekwoon. Por mais que brigassem constantemente pelos mais variados motivos, nunca o ouviu dizer coisas diretamente a respeito do casamento que tinham há 14 anos, prestes a completar 15. Um casamento que estava desmoronando naquele exato momento.

Wonshik suspirou numa tentativa de se acalmar, ciente de que estava a muito pouco de derramar lágrimas por alguém que não as merecia. Fitou o marido, que era apenas 2 anos mais velho que si e naquele momento parecia muito mais, resultado de todo o desgaste daquela discussão. Passou a mão pelos fios negros do próprio cabelo, demonstrando toda a frustração que sentia.

- Vou para a casa da minha mãe. Amanhã venho aqui para conversarmos com as meninas – disse ao baixar consideravelmente o tom de voz. Fitou o marido por alguns segundos, mas quando notou que ele não diria nada deixou o cômodo para não voltar mais. Estava acabado.

Taekwoon queria muito chorar. Colocou as mãos sobre os próprios ouvidos ao curvar a coluna e conter um grito no fundo da garganta. Sentia vontade de quebrar tudo que havia naquela cozinha, para ver se assim se sentiria melhor, mas sabia que não deveria fazê-lo.

Suas três preciosas filhas estavam num dos quartos e talvez até mesmo já tivessem ouvido os gritos da discussão que começou por um motivo que sequer se lembrava, não queria deixa-las ainda mais assustadas. Precisava ser forte pelas crianças que amava com todas as forças do seu ser, e que eram a prioridade em sua vida.

As coisas entre ele e Wonshik não iam bem há cerca de 2 anos. Taekwoon não gostava de vê-lo cercado daquelas jovens que tinham suas músicas produzidas por ele, detestava aquele trabalho que ele começou quando VIXX se aposentou que o deixava no meio de tanta gente tentadora. Era um adulto, mas sua insegurança se assemelhava ao de um adolescente, principalmente pelo fato de ele sequer fazer um esforço para satisfazê-lo como homem. Ele tinha tempo para as filhas, para o trabalho e até mesmo para visitar antigos amigos do meio do kpop, mas nunca para ficar a sós com o marido. O amava com todo seu coração, mas já não suportava ficar em último lugar na vida dele. Não suportava dedicar todo o tempo durante o dia às meninas para quando chegasse a noite não receber o mínimo de carinho da pessoa com quem dividia a cama.

Taekwoon permaneceu onde estava nos minutos seguintes, até que ouviu o barulho da porta de entrada batendo com a saída de seu marido. Ouviu atentamente o som do carro dando partida e sumindo na sua, tentando engolir o choro. Reuniu toda a força que possuía quando olhou no relógio da parede e notou que já estava tarde, precisava colocar as meninas para dormir. Elas teriam aula no dia seguinte e tentaria não alterar a rotina dela.

- Você está bravo, papai? – foi a primeira coisa que Ladiss perguntou quando o viu adentrar o quarto com a expressão pouco contente.

Taekwoon forçou-se a sorrir ao ver as três sentadas sobre o tapete cor-de-rosa que ficava no centro do quarto de Moon, brincando com blocos de montar coloridos. Jamais compreenderia como em idades tão diferentes elas conseguiam se entender tão bem e encontrar jogos que fossem divertidos para todas.

Ladiss, Moon e Anah eram as coisas mais preciosas que tinha em sua existência, definitivamente a decisão mais importante quando a ideia de adoção surgiu em sua mente. Elas possuíam 13, 6 e 3 anos de idade, respectivamente, e eram tão cheias de personalidade que o surpreendiam a cada diz.

- Está na hora de dormir, meus amores – disse em seu tão costumeiro tom de voz baixo, sendo obedecido imediatamente. Aguardou enquanto as três colocavam os brinquedos no baú onde eram guardados, contente por elas terem permanecido alheias a tudo que aconteceu há pouco e não terem perguntado acerca do outro pai.

No entanto, Anah sentiu a falta dele. Deixou-se ser pega no colo e levada até sua cama, mas estava chateada por não ser Wonshik fazendo aquilo. Era sempre ele quem a colocava para dormir, quem cantava e ficava a seu lado até que pegasse no sono.

- Cadê o papai Wonshik? – a garotinha questionou, quando foi coberta até o pescoço para que ficasse aquiescida. Ostentava uma expressão preocupada, já que mil ideias de onde seu pai poderia estar estavam percorrendo sua mente infantil.

Taekwoon respirou fundo antes de curvar-se e depositar um carinhoso beijo na testa da filha. Acariciou os cabelos dela e sorriu com certo pesar, tentando passar o máximo de confiança que pôde.

- Ele está na casa da vovó agora, mas amanhã estará aqui – disse no tom mais suave que conseguiu empregar.

Anah começou a chorar imediatamente, como se percebesse o que estava por vir. Em sua mente, era como se tivesse perdendo o pai para outra coisa, o que fez o coração de Taekwoon quebrar-se em mil pedaços.

Os olhos dela eram tão parecidos com o de Wonshik que vê-la chorar era quase como vê-lo. Aquelas íris brilhantes cercadas de água, as sobrancelhas franzidas, os bracinhos que circundaram o próprio corpo. Ela tinha tudo dele: o jeito de falar, de fazer manha, a maneira como pulava quando estava contente. Era como se houvesse absorvido todas as qualidades e as melhorado ainda mais, ainda que fosse tão pequena. Estava passando a descobrir o mundo, e demonstrava fazê-lo através do amor que sentia pelo pai.

- Não se preocupe, meu amor. Está tudo bem – Taekwoon sussurrou, acariciando os cabelos negros dela – Quer que eu cante para você?

Anah balançou a cabeça em negação, virando-se para o outro lado e indicando que não queria conversar. Seu corpo balançava ligeiramente com o choro, mas não foi amparada pelo pai. Para ela nem Robbers, sua canção favorita, teria graça sem Wonshik.

Taekwoon aguardou alguns minutos no quarto dela, longos minutos nos quais apenas ouviu os soluços dela. Apagou as luzes e rumou para os outros quartos, beijando as outras filhas e conferindo se já estavam dormindo. Deixou as portas abertas para ouvir caso algo atípico acontecesse durante a noite, já que estava sozinho. No entanto, sabia que era ele quem enfrentaria algo atípico: todos seus pesadelos quando chegasse a seu quarto.

Sentou-se em sua cama e passou um longo tempo encarando as paredes de um tom camurça, a cor que deveria ser aconchegante e que naquela hora lhe parecia terrivelmente dolorosa. Repetia para si mesmo que tudo havia acabado. Todos os 14 anos que passou casado com Wonshik, todos os 22 anos que passou amando-o.

Trocou de roupa com rapidez, numa tentativa de se distrair. Vestiu um confortável pijama e apagou as luzes, logo buscando o calor dos cobertores quentes. Mas a cama estava fria sem o corpo de Wonshik ali, sem os braços dele que sempre o puxavam e o envolviam para que dormisse aconchegado.

Taekwoon rolou para o lado dele na cama. Puxou o travesseiro que costumava usar e afundou o rosto nele, inalando o cheiro de morango do xampu que ele costumava usar. Não conseguiu mais conter as grossas lágrimas e chorou como uma criança pela dor que sentia.

Só se permitiria chorar naquela noite. Precisaria aprender a lidar com aquela falta. Precisaria deixar de amar Kim Wonshik.