História Amor Encarcerado - New Level.

Mais um dia na prisão estadual de Seul, um dia normal para todos os presos, menos para Jeongguk, há cerca de uma semana ele vinha recebendo tratamentos e punições que com certeza não merecia, eram sessões de tapas, socos e chutes que segundo os generais “o transformariam em um preso melhor”, mas em Jeongguk o efeito era totalmente o contrário, ele se sentia por fora, cada vez pior e mais fraco, e por dentro, cada vez mais maldoso e amargo, sua convicção de que não se deve confiar nas pessoas só aumentava a cada dia e a imagem da última pessoa que o fez sentir bem, aquele gentil policial, era só um borrão em sua mente. Agora, ali deitado no fundo de sua cela, com as pernas encolhidas e os olhos molhados pelas lágrimas, posição que para ele havia se tornado habitual, ele novamente via o rosto de sua mãe sorrindo para ele na última vez que o viu, dizendo para que o mesmo não chegasse tarde, talvez ele tenha chegado tarde demais. Sentiu seu estômago arder, como de costume, na hora do almoço, imaginou que terrível policial seria mandado dessa vez, em sua contagem era domingo, dia de sopa, ou melhor, o que parecia ser uma sopa, a comida de lá era horrível, mas depois de tantos dias ele havia se acostumado e a fome já era grande o suficiente para aceitar o que viesse, sentou-se na cela, ele sentia muito frio lá dentro, não tinha cobertores, nem mesmo uma jaqueta, o único jeito era por os braços para dentro da camisa e era assim que ele estava, como sempre pontualmente, ouviu sua cela sendo aberta, ele sequer levantou a cabeça, o que acontecia todos os dias era que o policial apenas jogava a bandeja de qualquer jeito no chão e saía, como quando alguém coloca comida para um animal, ou talvez, até com os animais fosse mais carinhoso. Mas dessa vez foi diferente, ele ouviu passos vindo até ele e levantou a cabeça assustado, pensou que seria levado para mais uma sessão de “aprendizado”, mas como em seu primeiro dia, o policial e ajoelhou a sua frente, ele levantou a cabeça devagar e o olhou no fundo dos olhos, os dois ficaram em silêncio enquanto seus olhos percorriam a alma um do outro, por uma fração de segundos, até o policial se manifestar.

-Seu almoço- ele disse quase que sussurrando.

-Obrigado, eu já estava com fome- Jeongguk falou desviando o olhar envergonhado.

-Eu não devia fazer isso, mas você está muito magro e essa sopa é ridícula de tão ruim, toma, eu não sei se você gosta de sanduíche de mortadela, mas é meu preferido- o policial retirou o sanduíche de dentro da jaqueta de sua farda e entregou nas mãos do moreno.

-Por que você é legal comigo?- o moreno lhe perguntou tímido.

-Eu sou legal com quem eu acho que merece minha gentileza, nossa, você tá gelado, aqui dentro é muito úmido, pega minha jaqueta também, você pode ter uma hipotermia- ele sorriu, mas sentiu as mãos geladas do moreno e logo se preocupou em retirar sua jaqueta e entrega-la a ele.

-Não vão dar falta? Vo-você não precisa me dar- o moreno quis devolver, mas na verdade estava mais do que contente pelo presente.

-Os generais têm coisas mais importantes a se preocupar do que com o sumiço da minha jaqueta- ele riu e levantou-se, mas antes que pudesse chegar a porta, sentiu a mão gélida do moreno segurar a sua.

-Eu sei que você tem que ir, mas... Não pode ficar mais um pouco?- ele tentou encará-lo, mas sua timidez não deixou.

-Na verdade eu posso, é meu horário de almoço, mas eu te dei o meu- ele passou a mão na nuca e sorriu.

-Você ia ficar sem almoço? Não! Pode ficar, eu tomo a sopa!- o moreno falou assustado e lhe devolveu o sanduíche.

-Eu não ia ficar sem almoço, eu posso ir à cantina e pegar comida, a nossa não é a mesma de vocês- ele falou com certo tom envergonhado.

-Ah... Se você quiser a gente racha o sanduíche, eu como bem pior que isso normalmente- ele sorriu de forma acolhedora e até de certa forma animada.

-Não... Você pode comer, eu vou te fazer companhia- ele se sentou no chão e apoiou as costas na porta, em seguida Jeongguk fez o mesmo.

-Tá muito gostoso, tem certeza que não quer um pouco?- ele falou de boca cheia e estendeu o sanduíche em direção ao policial.

-Não fale de boca cheia, é feio- ele falou rindo e recusou com a cabeça.

-Me desculpe, mas eu não como uma coisa tão boa assim há tempos- ele sorria animado e seus olhos brilhavam.

-Sempre que der eu te trago um desses, ok? Ninguém merece essa vida que vocês levam aqui, por mais que sejam criminosos, o ser humano merece pelo menos ser tratado como ser humano- ele falou sério enquanto fitava o chão.

-E o pior é quando você sabe que não merece estar aqui... – Jeongguk deixou essa frase escapar como um sussurro.

-Você... Eu não sei se devo perguntar isso... Pelo que você foi... – ele procurava as palavras para perguntar ao moreno.

-Mataram meus pais e eu fui condenado no lugar, eu não tinha advogados e o advogado estadual não fez praticamente nada... As provas que eles tinham era eu sujo de sangue com uma arma na mão e uma testemunha... – ele tentou continuar, mas as lágrimas não permitiram- eu não consigo... – ele se envolveu em prantos e começou a soluçar cabisbaixo.

-Não chore... Eu não devia ter perguntado me desculpa... – ele levantou a cabeça do moreno e chegou mais perto para enxugar lhe as lágrimas, movimento esse que fez com que seus rostos ficassem bem próximos e Jeongguk sentiu seu rosto corar e seu coração acelerar.

-Taehyung, eu... – ele se aproximou ainda mais, estava pronto para se entregar ao beijo que parecia óbvio.

-Eu tenho que ir, desculpe, mas acabou meu intervalo- Taehyung levantou num súbito e deixou a cela com uma expressão que parecia ser assustada, o moreno se dirigiu até a pequena janelinha e olhou o policial trancar sua cela em silêncio e sem ao menos um último olhar, deixar o lugar.

Voltou a sentar-se no chão e ficou relembrando os momentos para verificar em que parte tinha errado, talvez houvesse errado em dar espaço para que aquele policial despertasse sentimentos nele, sentimentos que ele não queria sentir por mais ninguém, ele desferiu um tapa em seu próprio rosto e colocou as duas mãos sobre o mesmo, se odiando por dentro, mas não sentia-se capaz de rejeitar as gentilezas daquele incrivelmente lindo ser, sentiu seu coração doer e desejou nunca mais vê-lo, ele sempre confundia as coisas, para ele bondade e amor eram separadas por uma linha muito tênue, era por isso que seu coração estava sempre tão quebrado, tão machucado...

Como todos os dias ele voltou a chorar, por horas, não entendia como, mas mesmo sem a ausência de água, ou mesmo de simples nutrientes em seu corpo, suas lágrimas eram incessantes, seu coração talvez, não pudesse aguentar mais nenhuma dor, era por isso que se sentia na obrigação de rejeitar com todas as forças que restavam, ao possível amor que ele via surgir.

Na semana que seguiu, sua vida voltou a ser o que vinha sendo, não viu mais o policial e sentia que devia agradecer por isso, mas na verdade, sentiu sua falta, ainda mais com a lembrança que ele havia deixado, a jaqueta preta que continha o nome dele acima do bolso direito, continha também seu cheiro amadeirado, cheiro esse que se tornou companheiro de Jeongguk em todas as noites quando ele deitava no chão sujo e frio de sua cela e agarrava com força a jaqueta, como se fosse a única coisa boa que ele tinha, e na verdade era mesmo.

Novamente era domingo, ele mantinha seus olhos abertos e fixos na porta da cela, seu estômago novamente ardeu, ele sentiu seu coração acelerar, Taehyung sempre vinha aos domingos e por mais que não quisesse ele ansiava sua visita, sua garganta estava seca, ele se levantou e a porta da cela abriu, mas ele não entrou, sua expressão e seus sentimentos aflorados logo cessaram, outro policial que ele nunca havia visto, como de costume, só que dessa vez não trazia seu almoço, pelo contrário, o pegou pelos braços como sempre faziam todos os outros, não sem que desse tempo de ele esconder o presente dado por Taehyung dentro de sua camisa, e então ele foi arrastado, com as mãos para trás e a cabeça baixa, voltou pelo caminho que havia feito até aquela cela no dia em que chegou, mas dessa vez sem os presos, pelo que entendeu era a hora de lazer, foi levado até a sua cela, percebeu que sua cela continha duas camas e que uma parecia ocupada, tratou de deitar-se na outra, mas logo foi retirado pelo policial com um forte grito, Jeongguk se levantou e foi conduzido até a porta que dava acesso ao pátio, quando ele saiu e sentiu a luz do sol bater em seus olhos, os mesmos se fecharam e ele não percebeu que todos os demais olhares se focaram nele, inclusive, os olhares dos dois líderes, mas no meio de todos, talvez o de Ret Monster tenha se interessado mais, ele caminhou até uma das mesas, dessa vez, ele se sentou do lado pertencente aos Gentlemans.

-E ele chefe? Ficou na solitária por duas semanas, foi o último a sair, deve ser bom- Yixuan falou para G-Dragon com um olhar interessado.

-Não sei... Não me interessa muito... Parece ser muito fraco, mas fique à espreita e me avise caso ele apresentar o nosso comportamento- o líder falou desinteressado e sem prestar atenção no garoto.

Já no outro lado, o líder da BK o encarava piamente, observou todos os seus traços finos, porém fortes, sentiu interesse em tê-lo na equipe, mas Chim não estava no local e o moreno havia se sentado no lado dos “vermes”, depois do ocorrido e de Beast ter ido para a solitária, viu-se obrigado a não concluir seus planos, mas continuaria a observa-lo, de algum modo ele tinha ganhado a sua atenção, nada além de algo profissional ele achava.

O moreno com certeza não percebeu o que acontecia à sua volta, manteve sua cabeça abaixada por toda a hora de lazer, não sentia a menor vontade de observar a vista ao seu redor, considerava bom o suficiente ter a luz do sol novamente tocando o seu corpo e ele se sentia agraciado apenas com isso, quando a sirene tocou e os presos começaram a ser conduzidos para suas celas, ele se levantou devagar e começou a andar, no meio do caminho, os presos eram separados e levados até suas alas, Jeongguk foi mandado de volta a sua ala e quando adentrou o corredor e avistou sua cela, viu que um loiro mais baixo e com uma expressão alegre também a encarava, pensou ser o seu colega e ficou aliviado por o mesmo não ser tão assustador quanto os outros, os dois se aproximaram da cela e o loiro sorriu para ele, Jeongguk não percebeu que mais alguém o avistava de longe, o policial que ficava de guarda no corredor 3 da ala 7 era Taehyung, ele viu Jeongguk e Chim trocarem algumas palavras e foi movido por um sentimento diferente, num súbito se viu andando até lá com raiva, talvez, mas ele só queria tirar aquele precioso ser que ele sentia tanta vontade de proteger de perto de todos aqueles homens maldosos.

-Park, para a cela!- ele falou autoritário encarando o loiro.

-É Chim! E por quê? O que eu fiz?- ele lhe olhou indignado.

-Seu apelido de gangue, guarde para a gangue! Eu sou seu supervisor e você tem que ir pra cela agora!- ele falou dessa vez mais irritado e não percebeu que estava assustando Jeongguk.

-Nós já vamos entrar policial Taehyung, desculpe- o moreno falou cabisbaixo.

-Você não Jeongguk, preciso acertar uma coisa com você- ele segurou no punho do mais novo e conduziu Chim para a cela.

-Pra onde você tá me levando?- Jeongguk falou confuso enquanto era arrastado para o fim do corredor.

-Você não pode se misturar com esses caras- ele falou parando perto da grade que dava acesso ao corredor principal.

-Mas eu nem conheço ele... Ele só estava tentando ser gentil, nós vamos dividir a cela, eu acho que temos que ser amigos- ele falou inocente e sem encarar o policial.

-É isso que ele quer que pense! Ele é cruel Jeongguk, vai transformar você em um deles!- ele falou irritado.

-E por que isso te incomoda? Você aparece um dia e some por duas semanas e acha que tem algum direito de dizer com quem eu devo andar?- o moreno o encarou confuso e indignado.

-Isso me incomoda muito! Porque você... Você não é como eles Jeongguk... Você tem isso no seu olhar que eu não sei explicar, mas que me diz que você não é mau, por favor... Não se deixe levar pelo sorriso falso do Chim... – Taehyung lhe falava com um olhar triste e ao mesmo tempo furioso.

-Eu sei que você acha que eu sou fraco, mas eu não vou fazer algo que eu não queira fazer, confie em mim- Jeongguk sorriu para ele de forma sincera.

-Não acho você fraco, acho você precioso demais... – Taehyung deixou essa frase escapar, não ao ponto de que Jeongguk ouvisse- volte para sua cela, não pode ficar aqui por tanto tempo assim- o policial viu seus rostos próximos novamente e firmou sua voz, conduziu o mais novo de volta para sua cela e voltou para seu posto em seguida.

Jeongguk entrou na cela com aquele mesmo sorriso ainda em seus lábios, sentiu os olhos do loiro em cima dele, mas não ligou, apenas se atirou em sua cama e fechou os olhos, era bom deitar em algo acolchoado após tantos dias dormindo no chão, se perdeu em seus pensamentos por um minuto, mas foi interrompido pela voz de Chim.

-Qual o lance com o policial bonzinho?- ele falou debochado e riu.

-Ele só foi legal comigo lá na solitária- ele falou indiferente.

-Ele é legal com todo mundo, quando eu tava na solitária ele era o único que me tratava bem, dou mérito pra ele, mas não faz meu tipo- ele continuou falando irônico.

-Como assim não faz seu tipo?- o moreno sentou na cama, confuso, e encarou o mais baixo que ria de olhos fechados.

-Eu gosto mais dos malvados, que tem atitude e que tem pegada, esse daí parece ser muito passivo pro meu gosto- dessa vez ele gargalhou e encarou o mais novo.

-Masoquista?- Jeongguk riu e se jogou na cama.

-Depende do dia da semana- ele gargalhou novamente- mas e você, qual o seu tipo?- ele se levantou e caminhou até a cama do moreno, se sentando ao seu lado em seguida.

-Eu gosto dos calmos e misteriosos, daqueles que não são fáceis de desvendar, ou de conquistar- ele falou, agora olhando nos olhos de Chim.

-Eu gosto de você, garoto, você não parece com nada do que a gente encontra aqui- ele deu um leve soco no braço de Jeongguk e sorriu sinceramente.

-Eu também gosto de você, você não parece mau como os outros- ele falou de cabeça baixa e sorriu.

-Não me subestime! Mas vamos dormir, amanhã é “um dia longo”- ele levantou os dedos em sinal de aspas e riu sarcástico, depois caminhou até sua cama.

- Boa noite Chim- Jeongguk fechou os olhos e se acomodou melhor.

-Boa noite coelhinho- Chim falou e os dois riram por causa do apelido inusitado, mas resolveram não falar nada e aproveitar o silêncio confortável que se instalou, silêncio que para Jeongguk, se tornou melhor do que qualquer outra palavra que ele ouviu enquanto esteve na solitária, com exceção é claro, das palavras de Taehyung.