História Amor entre Cisnes - O encontro dos cisnes

E pensar que as primeiras notas pela qual me apaixonei seriam compostas por melodias de um piano. Lembro como se ainda tivesse em pleno 6 anos de idade e minha mãe estava me levando para uma apresentação de balé clássico, o folheto bem trabalhado nos detalhes, e figurinos exuberantes. "O lago dos cines" o primeiro contato que tem com a apresentação é a música, e ali estava as primeiras notas tocadas por aparentemente um mestre pianista, pois aquelas notas penetraram meu coração muito antes da então tão esperada entrada dos bailarinos.

Se tudo fosse como aquela época, seria tão mais fácil. Mas aqui estou eu, em um lugar cheio de bailarinos, empresários, amigos, familiares, e apenas eu. Odiava ter que ir em festas para que os patrocinadores pudessem aprovar as ideias para a nova apresentação. Ninguém me conhecia, eu era invisível, mas mesmo assim tinha de cumprir com o meu papel. Afinal todos queriam saber qual seria o próximo tema da apresentação, até mesmo eu.

- Senhoras e senhores, peço-lhes um minuto de sua atenção. - Disse uma mulher elegante com um vestido logo e cabelos grisalhos. - Hoje anunciaremos o novo tema para as apresentações de outono! - Todos aplaudiam como se a próxima temporada de caça tivesse sido anunciada.

- E é com imenso prazer que chamo ao meu lado um amigo e grande pianista que será de nossa orquestra nas apresentações, senhor Oliver Walker ! - Podia se ouvir as conversações de todos depois de anunciarem esse nome, afinal, era o Oliver Walker.

E lá estava ele subindo as escadas, era notável ver os 1,80 de altura vestido em um terno preto com uma gravata cinza. Não apenas a altura, como o fato de ser um albino imensuravelmente elegante. Sempre o admirei, afinal ele foi a primeira pessoa a alcançar meu coração através das notas, seria incrível poder conhecê-lo, mas um ninguém como eu provavelmente não teria a chance.

- Boa noite senhoras e senhores, e um imenso prazer ser convidado para participar de uma apresentação de umas das mais incríveis escolas de balé! Agradeço primeiramente a professora Naomi por me apresentar uma oportunidade dessas. - Até o seu jeito de falar conseguia prender a minha atenção. A senhora Naomi entregou um envelope pra ele onde estava o novo tema, com cuidado abriu o envelope e puxou um papel dourado. - E é com prazer que eu anuncio o novo tema para as apresentações de outono.. - Ótimo, qual será o nome da próxima caça. - O lago dos cisnes! - Por um estante o mundo ficou em câmera lenta, onde via os lábios de Oliver se movendo com as palavras " Lago dos cisnes".

Acreditei que seria apenas uma piada do destino, até cair na cruel realidade, onde estava eu no meio de um salão aplaudindo. Em 16 anos de carreira, em cada academia que passei, nunca tive a oportunidade de participar de uma apresentação com esse tema. Afinal, era um tema antigo e que todos faziam, então quase não tinham interesse em fazê-lo. E agora, aqui estou eu, um quase mais ajudante de camarim do que um bailarino.

- Na segunda-feira as seletivas para os papéis começaram, então todos os bailarinos estejam preparados. - Naomi disse quase como se estivesse anunciando uma guerra. - O jantar será servido agora.

Agora mais que nunca eu odeio sextas-feiras.

Como já tinha concluído eu papel sendo presente nessa reunião, já estava liberado para ir embora. A noite estava um pouco fria com a chegada do outono, e como um excelente cabeça avoada que sou, esqueci meu sobretudo, tendo que me contentar com um bolso presente em minha calça. De costume pedi para que o táxi me deixasse a uma casa de festa onde estava tendo a festa de aniversário do meu colega, ou devo dizer rival? Não sei ao bem como defini-lo, ele é um dos bailarinos principais, e claro que sentiria inveja dele, mas apesar de tudo, crescemos juntos. Logo que sai do táxi já me deparei com um segurança, lhe dei meu nome para que verificasse na lista, claro estava eu lá. Graças ao aquecedor daquele local, não estava congelando tanto. Logo na entrada me deparo com Shizu, um tanto quanto sorridente, talvez algumas doses de tequila providenciaram isso.

- Olha só quem chegou! Pensei que não viria nunca haha - Ele chegou já jogando seu braço esquerdo sobre meus ombros como forma de procurar algum apoio. - Entre! Entre! A festa está apenas começando! - Como se ele não soubesse que eu odiava locais muito movimentos.

O lugar estava escuro e com luzes piscando, e alguma fumaça onde não saberia diferenciar entre gelo seco ou alguns maços de cigarros. A música levemente alta, de um jeito no qual me agradava de certo modo, afinal apesar do balé clássico, sempre amei músicas eletrônicas, Seria abusar muito pedir um copo de água ao garçom? Apenas não era muito tolerante ao álcool.

- Uma água com limão por favor. - Me dirigi a o garçom mais perto do balcão, recebi um olhar como se estivesse pedindo algo errado. Rapidamente me entregou um copo achatado com um rodela de limão presa a borda. Me virei para observar a pista movimentada, aproveitei por uns instantes minha bebida, e então decide descontrair um pouco. Coloquei o copo no balcão e caminhei conforme as batidas, como eu amo sentir cada nota ecoando pelo meu corpo, como se cada uma surgisse um movimento diferente. A música estava entrando em seu ápice, fechei meus olhos, e deixei que meu corpo ficar leve por alguns minutos. Estava ficando quente, tirei meu palito e abri um pouco a gravata. Sim, dançar era a minha paixão.

Por um breve momento, senti como se estivesse sendo observado. Olhei pelos lados mas não vi nada, então continuei. Quando a música finalizou, fui ao balcão para pedir outra água com limão. Verifiquei no meu celular o horário e percebi que já estava tarde. - Ei moço, alguém pediu pra lhe entregar isso. - O garçom me entregou um bilhete dobrado ao meio " Você dança com paixão."  - Sabe me dizer quem lhe deu isto? - Perguntei ao garçom. - Ele disse que se você quisesse saber, ele estaria na mesa do fundo lhe esperando. 

Fui caminhando até o final até que vi um homem de terno preto sentando com as pernas cruzado tomando alguma bebida de cor azul, enquanto me encarava. Não conseguia ver direito o rosto, até que fui chegando mais perto. - Ora ora, acho que alguém ficou curioso com o bilhete. - Sim, era Oliver que estava naquela mesa. - Ah, senhor Oliver. Desculpe incomoda-lo, mas sabe quem estava sentado aqui?. - Bom, apenas eu estou nessa mesa. - Desculpe, como? - Com certeza não estava entendo o que diabos estava acontecendo. Até meu estimado colega atrapalhasse.

- Ah! Olha só vejo que já se conheceram. O que achou dele hein Oliver? - Shizu sempre se referia a mim com um tom sarcástico. - Ainda não nos apresentamos direito - Oliver levantou e veio em minha direção como se nenhuma bebida no mundo pudesse fazer ele perder sua elegância. - Prazer, Oliver Walker - Ele estendeu a mão direita em direção a minha - Eh.. Prazer,  Kuronoma Yamato. - Estendi minha mão e encostei na dele. Uma onde de arrepios tomou meu corpo com apenas um toque daquelas mãos, eram geladas e firmes. Senti como se nunca mais conseguisse me soltar daquelas mãos, até que Oliver as separou.

- Então, quer mais uma rodada? - Disse Shizu quase o obrigando como se minha presença fosse nada mais que insignificante. - Claro, até mais senhor Kuronoma. - Disse ele olhando para fixando seus olhos azuis e profundos aos meus e levemente se livrando indo à direção de Shizu.

Com certeza esses são olhos marcantes para qualquer pessoa. Como já estava tarde decidi que já estava na hora de ir para meu apartamento. Logo que sai os dois últimos táxis disponíveis saíram e o último uma garota tinha acabado de entrar. Com certeza teria que esperar cerca de 30 o 40 minutos até outro táxi chegar, e a noite estava cada vez mais fria.

- Será que você aceitaria uma carona de um estranho? - Disse uma voz logo atrás de mim, então me virei rapidamente e percebi que era Oliver. - Oh, pensei que estava lá dentro com Shizu. - Digamos que ele está alegre de mais para perceber que sai. - Ah, entendo. - Passei um momento calado até que ele perguntou novamente. - Tem certeza que não vai querer uma carona? Não sou só um bom pianista, também sei dirigir, digamos que razoavelmente - Enquanto terminava sua frase quase sarcástica, um sorriso torto se formava em seu rosto. O que faz com que eu me sinta levemente tímido. - Ah, claro. Obrigado!

Seguimos até o carro dele, ele percebeu que eu estava com frio e ligou o aquecedor. Quase não conseguimos manter uma conversa sem que eu encerrasse com palavras curtas e rápidas. Afinal, não era bom em conversar com pessoas novas. - Ah, essa aqui a direita é o meu apartamento. - Ok. - Ele fez uma manobra até que pudesse entrar na garagem.

- Obrigado por me deixar em casa, nem sei como agradecer! - Disse um pouco envergonhado por realmente não saber como poderia um dia retribuir sua gentileza. - Na verdade a uma maneira. - Disse ele com um sorriso no rosto. - Ah, pode dizer. Fico feliz em poder retribuir. - Dei um sorriso para demonstrar que realmente queria lhe retribuir de alguma maneira. - Será que eu poderia dormir no seu apartamento enquanto fico na cidade?

- Como?? - Isso com certeza não chegava perto em nada do que eu poderia imaginar.

= Continua =