Camila – (Me sentia uma pessoa normal caminhando pelas ruas de Paris, embora atraísse um pequeno aglomerado de gentes que me seguiam com seus celulares em punhos me fazendo lembrar que sou uma celebridade enquanto eu olhava as lojas. Minha mãe me acompanhava mostrando as coisas que achava interessante dando atenção aos fãs que comportadamente nos seguiam. Eu queria privacidade? Sim. Eu queria, mas não tinha coragem de manda-los embora, porque também os queria por perto, minha relação com os fãs sempre foi algo inexplicável para algumas pessoas, existia em mim mais que o sentimento de gratidão por eles, sinto uma forma de amor por essas pessoas que dedicam seu tempo e seu carinho para mim mais até que para algumas pessoas que convivem com eles. Lamentavelmente tive alguns problemas por conta disso, alguns confundiam essa forma de amor com algo sujo e absurdo como se eu não fosse um ser humano, como se estivesse em uma relação conjugal com eles, algo que não existia. Um “fã” quase acabou com meu casamento, para não falar com minha própria vida. Era uma lembrança tão dolorosa que eu a evitava deixando-a trancada a sete chaves. Para afastar os pensamentos ruins comecei a relembrar minha história com Shawn, era algo que sempre me deixava feliz pensar nele e enquanto aquelas memórias tomavam conta da minha cabeça, passei por uma loja com artigos de bebês, aquilo estava realmente chamando minha atenção ultimamente e meus olhos se voltaram de tal maneira para aqueles pequenos macacões rosas e azuis expostos na vitrine que me fizeram parar por um momento. “Tudo bem? ” Minha mãe perguntou se aproximando mais de mim evitando que os outros ouvissem, balancei a cabeça positivamente e saí antes que começassem as especulações das pessoas. Pegamos um táxi e voltamos para o hotel. Novamente pensava naquelas roupinhas e a vontade de entrar naquela loja se fazia presente. Aos 26 anos com um casamento estável, me sentia preparada e segura para dar um passo maior. Relembrei as palavras de meu pai que sempre me falavam que só descobriria como ele se sente em relação a mim quando tivesse uma filha tão maravilhosa quanto eu, isso é algo que eu queria muito descobrir, não estava só curiosa por esse tipo de amor, eu desejava isso tanto que agora vez ou outra me pegava pensando a respeito, muitas vezes perdendo o sono imaginando como seria. Fui tirada dos meus devaneios pelo toque insistente do celular. Um sorriso escapou ao ver Shawn no visor). Oi amor (Ele me contava sobre seu dia, estávamos distantes por causa do trabalho, mentalmente contabilizei 21 dias de saudade, já não era mais tão fácil ficar longe, agora raramente nos separávamos graças aos esforços dele que mudou radicalmente sua vida para estar ao meu lado sempre). Mais uma semana para a tour acabar, estou sentindo tanto sua falta.
Shawn – Você não imagina como me sinto agora (Camila abraçou um bichinho de pelúcia, deitando-se sobre ele em seguida, haviam várias coisas espalhadas pela cama que eu olhava com curiosidade na transmissão lenta e levemente travada do facetime. “Está muito frio aqui” ela falou se agasalhando apertando ainda mais o cachorro de pelúcia contra si). Que vontade de atravessar a tela pra aquecer a sua cama (Camila deu um daqueles sorrisos que iluminavam cada canto escuro do mundo e senti meu coração acelerar como o de um adolescente que não se declarou ainda para aquela pessoa tão desejada, mesmo com o passar dos anos ela tinha esse efeito devastador sobre mim. A verdade é que nada havia mudado muito entre nós desde que nos casamos, nossa frequência sexual caiu um pouco, apesar disso estava tão melhor, o tempo trouxe para mim informações e conhecimentos sobre seu corpo e sua personalidade que faziam dela a melhor esposa, a melhor amiga, a melhor amante. Meus amigos questionavam minha fidelidade, eles não acreditam que é possível manter a fidelidade por mais de três anos principalmente com meu novo trabalho, onde mulheres escandalosamente bonitas e interessantes estavam em contato comigo o tempo todo durante as gravações. Eu sentia que Camila era única para mim, porque me fazia sentir como se fosse o único para ela, embora nosso casamento não fosse perfeito, com todas nossas diferenças, nossos defeitos, a amo loucamente e mais vejo o quanto quando sinto sua falta até mesmo pelas suas falhas, aquelas pequenas coisas que nos fazem brigar no dia a dia e irritar-se um com o outro, era o que mais me faziam falta agora em sua ausência como suas meias jogadas sobre a cama, a xícara esquecida perto do notebook, o violão largado no quintal.. Todas aquelas coisas fora do lugar, a habilidade especial para bagunça dela era de um nível incomum, quando me encontrava no limite da raiva Camila chegava para mim com seus olhinhos brilhantes dando aquele sorriso que eu tanto amava e me dobrava em mil pedacinhos. Eu estava louco de saudade, após um tempo conversando desligamos e sua voz ainda se fazia presente em minha cabeça enquanto distraidamente meus olhos se concentravam em um porta retrato com sua imagem, como queria estar com ela agora. Troquei de roupa, deitei sobre a cama colocando os fones e comecei a ouvir seu último álbum tentando encontrar o sono contando os dias para tê-la de novo em meus braços).
Camila – Bom dia! (Cumprimentei minha mãe ao vê-la acordando. Estava acabando a maquiagem para a entrevista, conferi mais uma vez no espelho antes de finalizar com o batom. Ela saiu do banheiro e se arrumava para me acompanhar, senti um tremelique estranho enquanto seu perfume impregnava-se no quarto e meu café da manhã ameaçou violentamente sair por onde agora pouco havia entrado. Minha visão escureceu um pouco e senti as mãos dela apoiando minha cabeça “Você está pálida” ela disse preocupada). Não coma aquelas panquecas, esse café não me fez bem (Deitei sobre a cama e a sensação subia e descia me arrepiando, levantei e com passos fracos fui até o banheiro onde vomitei freneticamente como a menina do exorcista). Acho que acabei de perder uma tripa ou duas (Minha mãe riu falando um: “Eca!” Enquanto eu limpava as lágrimas que se formavam nos cantos dos olhos por causa da horrível queimação do vômito. Voltei para a cama e deitei encolhida com as mãos nos joelhos). Não estou me sentindo bem, to tão enjoada (Falei adotando uma postura mais reta na cama, observando minha mãe com o celular em mãos para cancelar meus compromissos de hoje). Ah não faz isso, odeio furar com as pessoas, você sabe.. Eles tem esperado por essa entrevista e anunciado desde o começo do mês, vai ser chato cancelar. Se comi algo estragado isso já já passa, fica tranquila (Eu falava para ela o que mentalmente dizia para mim mesma tentando acalmar minhas entranhas que amanheceram nervosinhas demais hoje).
Sinuhe – E se você não comeu algo estragado? (Camila me olhou curiosa “O que você quer dizer?” me aproximei dela checando sua temperatura). Você e Shawn não estavam tentando?
Camila – Humm.. Suspendi as pílulas há algum meses e nada aconteceu, eu não acho que seja (“Já veio esse mês?” ela perguntou com olhos avaliativos e perspicazes para cima de mim). Não.. Quer dizer.. Tá estranho, a minha nunca foi algo regular e .. AU!! (Ela me fez gritar enquanto eu explicava apertando meus seios, empurrei suas mãos cobrindo-os, protegendo-os, aquela região estava especialmente dolorida hoje “Acha que ainda vem esse mês?”). É um interrogatório??? Eu não sei tá! Nunca fiquei me preocupando com isso (Respondi vendo-a com um sorriso conclusivo sobre sua investigação). Pensando bem, agora que tocamos nesse assunto.. Não veio mês passado.
Sinuhe – Você não sabe, é? Certas coisas nunca mudam.. A desorganização chegou aí e parou neh Camila, não sobrou pra mais ninguém (Ela revirou os olhos irritada, colocando sua jaqueta para sair resmungando sobre o atraso ignorando meus questionamentos. Peguei minha bolsa e saímos para o carro). Temperatura elevada, enjoos, dor nos seios.. Não vou falar cansaço e sonolência excessiva porque este são sintomas crônicos de Camilice aguda, você só tem insônia quando lhe é conveniente ou está obcecada pelo trabalho (Ela riu embaraçada com meu comentário). Acho que você está grávida (Concluí meu raciocínio vendo seu rosto assumir uma expressão surpresa, enquanto seus dedos apertaram o volante com força). Após o show hoje vamos fazer o teste?
Camila – (Sentei na cadeira de frente para o apresentador que muito cortês começou a entrevista “Você é ainda mais bonita pessoalmente” ele falou galanteador e senti meu estômago girar em dois ou três loops rápidos como uma montanha russa, aquela sensação horripilante estava em mim de novo, a ânsia de vômito se fazia mais forte enquanto tentava digerir as palavras dele dando-lhe um sorriso falso e eu sabia que não seria nada bonito vomitar naquele palco. Eu mal conseguia me concentrar cerrei os punhos com força repetindo um mantra; aqui não, aqui não, aqui não... Eu suava frio e involuntariamente fechei um olho só, mal, enjoada, trêmula vendo-o exibir o melhor de seus sorrisos para mim, talvez na cabeça dele nós estávamos flertando o que aumentava minha vontade de vomitar. No intervalo corri para o camarim, mal deu tempo chegar a pia e novamente vomitei). Fala sério mãe?! Eu aqui morrendo e você chupando picolé... (Ela sorriu esticando-o para mim “Toma, você vai se sentir melhor comendo algo gelado” Após beber um pouco d’água, muito contrariada aceitei sua oferta e realmente senti meu corpo acalmando um pouco. Ela me olhava atenciosa). Pode parar tá, já tive dois alarmes falsos, não quero me iludir de novo (Na correria do dia os enjoos desapareceram me fazendo desistir de tomar o comprimido para náusea que eu e minha mãe guerreávamos por ele, porque ela não queria me deixar tomar qualquer remédio na esperança de ter um bebê dentro de mim. Fiquei bem feliz por me sentir melhor, estaria no palco sem medo durante a noite e comprei outro picolé de limão, não sei o que havia entre eu e aqueles refrigeradores com todos aqueles sorvetes, mas estava rolando uma atração fatal com eles. Após o show voltei para o hotel, estava absolutamente cansada e com uma vontade incontrolável de comer pizza doce, enquanto providenciava minha pizza de banana com chocolate, minha mãe entrou no quarto com uma sacola “Comprei os testes, mais de um para ter certeza” ela falou observando minha reação. Mexi nas mãos nervosa, gravidez parecia uma palavra meio assustadora agora, por mais que eu quisesse ter um bebê, eu estava com medo e o que me amedrontava mais é que de alguma forma me sentia diferente. Estava lendo as instruções na caixa quando a pizza chegou, comemos e minha mãe me apressou para fazer o teste). Eu não estou enrolando, eu só tô.. (“Enrolando” completou ela rindo, peguei um dos copos que ela havia comprado para a amostra de urina, fiz a coleta e coloquei em cima da pia abrindo um dos testes mergulhando-o no copo em seguida. Sentei no aparelho e fiquei esperando, enquanto os minutos se passavam girei minha aliança nervosamente, depois de cinco minutos de espera olhei os dois tracinhos vermelhos que confirmavam a suspeita da minha mãe me fazendo arregalar os olhos. Abri a porta e com as mãos um pouco trêmulas mostrei o teste para ela que o segurou franzindo as sobrancelhas tentando entender o resultado “Como funciona isso Camila? Que que deu aqui?” ela falou ansiosa). Assim.. só pra você saber essa parte que você está segurando é a do mijo (Ela sacudiu a mão pegando do outro lado com uma careta de nojo). Tá positivo! (Gritamos juntas com alguma histeria e uma onda de felicidade me invadia, enquanto ela me abraçava forte me parabenizando. Abri a outra caixa e coloquei para confirmar, um novo momento de espera se iniciava e durante ele Shawn me ligou. Conversamos sobre coisas aleatórias e o segundo teste reafirmava que eu seria mãe. Coloquei a mão sobre a boca contendo um sorriso que insistia em escapar de mim, uma vontade louca de contar para ele crescia e ficava cada vez mais difícil controlar, minha mãe fez um sinal para que eu falasse, mas me contive, queria dar a notícia pessoalmente, também queria ver um médico primeiro confirmar os testes e saber se estava tudo bem com nosso bebê. Eu estava curiosa, com quanto tempo será que estou? Como isso passou despercebido por mim? Muitas perguntas se formavam em minha cabeça e pela primeira vez direcionei um pensamento a ele(a) que estava dentro de mim. Meu bebê! Acariciei meu ventre e um sorriso escapou de mim esboçando minha felicidade).
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