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História Lágrimas de São Pedro - Prólogo


Escrita por: CandyVanD

Notas do Autor


Meus babys, infelizmente decidi abandonar "Amor, meu grande amor!". Não conseguia dar continuidade, isso desde janeiro.
Entretanto
Contudo
Todavia
Esse neném tem a mesma pegada e acho que pode dar certo.

Boa leitura!

Capítulo 1 - Prólogo


Fanfic / Fanfiction Lágrimas de São Pedro - Prólogo

Igreja de São Pedro Príncipe dos Apóstolos – Rio Comprido, Rio de Janeiro.

Missa de sétimo dia, começando às sete da noite, como números cabalísticos dentro de um contexto desconexo. A garota com seus vinte e seis anos adentra à antiga construção do templo católico, tentando segurar as lágrimas, disfarçando a culpa que pesa em seus ombros. Caminha de cabeça baixa e ainda sim consegue perceber os olhares de reprovação da família de seu falecido marido.

Senta na primeira cadeira de madeira em frente ao altar, se benze, pede forças. Nunca pediu um casamento, tampouco imaginou ficar viúva antes dos trinta. Enquanto o padre fala sobre morte, Stela consegue ver sua vida inteira passando num piscar de olhos. Finalmente entende que toda sua jornada é feita por escolhas dos outros, sonhos dos pais, e projeções – surtos – de sua mente depressiva.

Implora entre sussurros que Deus perdoe-a, afinal, como continuar respirando se o único homem que aparentemente lhe amou está morto? Por muito encarou o sentimento do rapaz como pura obsessão, tanto que mesmo depois de desencarnado ainda persegue-a em sonhos. A psicóloga receitara uma dose maior de calmantes e antipsicóticos desde então. Contudo, o coração não consegue ter paz. Anda sentindo muitas dores na nuca desde o trágico acidente que levara Victor embora.

Ao ouvir os presentes entoando O Pai Nosso, acompanha-nos mesmo sentindo calafrios que vão da espinha até a cabeça.

[...]

Stela tem ficado na casa de seus pais desde que ficara viúva. A residência é bem simples comparada à sua. Entretanto, ainda é o lugar mais acolhedor do mundo, mesmo que tenha de dormir na sala.

Meia hora após chegar da missa, deita e aguarda o calmante fazer efeito. A TV permanece no mudo apenas para fazer luz no cômodo. O celular continua no modo avião, a garota não aguenta mais tantas ligações e ofensas da família Alcântara, mais precisamente, do ex-cunhado que insiste em culpá-la pelo trágico acidente do irmão. Após alguns pensamentos de pura metanoia, sente a respiração ficando mais tranquila, agradece mentalmente a medicação por lhe proporcionar alivio, por mais momentâneo que seja. Cerra os olhos, espera ser tomada pela fraqueza até o sono chegar. Todavia, a luz é acessa, o clarão incomoda, abre os olhos e vê seu pai acendendo um cigarro enquanto senta no sofá.

O senhor Joaquim com seus cinquenta e poucos anos aparenta cansaço, parece procurar fôlego antes de questionar a filha:

– Como foi que deixamos isso acontecer?

– O quê? – indaga baixinho, protegendo-se com a coberta. – Não me diga que está falando de Victor, por favor, não tínhamos como prever tamanha fatalidade!

– Eu com certeza não. – diz de forma ríspida, jogando fumaça. – Mas você sim. Sabia de todo o amor dele por você. Entendia muito bem que ele surtaria se fosse embora, e mesmo assim partiu.

– Pai! – tenta gritar, mas a garganta dói. – Eu nunca quis me casar com ele! Estava farta de ficar ao lado de alguém me dizendo o que fazer. Victor controlava meus passos, minha respiração! Lembra de quando ele ameaçou meus amigos do trabalho e em seguida me proibiu de trabalhar? Eu poderia sim ter pedido o divórcio cara a cara quando tive chance, mas fiquei com medo do que poderia fazer. Não entende que seu querido ex-genro me despertava pavor?!

– Por isso escreveu uma carta, saiu da cidade e deixou com que se matasse?

– Ele não se matou! – encontra forças para finalmente levantar a voz. – Ele não soube lidar com a separação, ficou feito louco me procurando, não me achou. Ao invés de buscar ajuda, foi encher a cara e bateu com a moto. Diga-me onde está minha carteirinha de culpa nisso! Quer saber? – levanta um tanto quanto tonta, mas segura no raque. – Esses sermões não vão trazer meu marido de volta! Não tenho que ficar aqui à mercê de suas torturas mentais. Sinceramente, chega a ser ridículo até pra um homem ignorante como o senhor!

Dá alguns passos em direção à cozinha, tenta manter-se de olhos abertos, quando na verdade tudo à sua frente está demasiadamente embaçado. Fita a geladeira, tentar voltar toda sua mente a ela, senta com dificuldade numa das cadeiras em volta da mesa. Apesar de também fumante, sente náuseas com o cheiro do cigarro de filtro vermelho de seu progenitor. O nariz entope lhe causando mais agonia.

Abre a boca, mas nenhum som sai da mesma. Uma sensação terrível de que o ar está faltando passa a fazer morada em sua mente. O choro vem abafado, deixando tudo mais lancinante. Exprime os olhos diversas vezes, não demora a ser acolhida por sua irmã mais nova, Roberta, que em tom de exasperação, reza:

"Glorioso apóstolo São Pedro, com suas sete chaves de ferro abra as portas dos meus caminhos, que se fecharam diante de mim, atrás de mim, a minha direita e a minha esquerda. Abra para mim os caminhos da felicidade, os caminhos financeiros, os caminhos profissionais, com as suas sete chaves de ferro e me dê à graça de poder viver sem os obstáculos. Glorioso São Pedro, tu que sabes de todos os segredos do céu e da Terra, ouve a minha oração e atende a prece que vos dirijo. Que assim seja. Amém."

A cada palavra da súplica, sente um peso saindo de seus ombros. A respiração aos poucos volta ao normal. Por fim, resta apenas um grande cansaço físico e mental.

– Preciso descansar! – sussurra.

É auxiliada pela mais jovem a levantar, a mesma lhe guia novamente até a sala que já está devidamente apagada. Percebe que ficara chorando mais tempo do que imaginara. Quando deita, recebe um beijo da menina de cabelos loiros que desde sempre é um anjo em sua vida. Agradece-a mentalmente por tudo, afinal já falta voz até mesmo pra dizer um simples “obrigada”.

Pega a colcha de algodão e cobre-se por inteiro, incluindo a cabeça. Ouve alguns trovões anunciando a procela. Por um instante lembra-se de sua infância. Por muito tivera medo da chuva e dos raios. Entretanto, sua mãe, Joana, uma baiana com espírito jovial e alma mais pura que a de um anjo, lhe dizia: “Aquiete teu coração, menina! É a barriga de São Pedro que está roncando!”. Esboça uma pequena risada, faz carinho no próprio braço. Não vê à hora de sua progenitora voltar de viagem. Hoje mais do que nunca precisa dela. Por mais que os caminhos da vida sejam confusos, as teorias da senhora Luz sempre ajudam a ficar melhor. E com a recordação do cheiro dos cachos de Dona Joana, entrega-se ao sono enquanto mentaliza São Pedro lhe pegando no colo e protegendo de todo mal.



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