História Amor na Sicília - Marina

Marina

    Era incrível como o ritmo da cozinha ficou mais intenso no segundo horário, Enquanto organizávamos a bancada Valentim chegou na porta da cozinha e avisou que o governador acabara de chegar. Sempre vi o político pelos jornais e a curiosidade falou mais alto, pedi licença a Dulce e fui espiar na porta, a figura sentada na mesa era um senhor dos seus 60 anos com uma cabeleira branca bem cortada e corpulento,estava vestido de terno cinza com uma camisa branca e uma gravata azul, dali da porta pude ver Valentim mostrando a carta de vinhos, a postura de Valentim era incrível além de muito lindo,o que estou pensando!, tinha que voltar a minha missão de preparar as sobremesas, afinal nunca cozinhei para alguém tão importante e logo no meu primeiro dia. Distraída com a idéia tomei um susto quando me virei e me deparei com o Chef Lorenzo, me encarando com aqueles olhos expressivos, parecia que me engoleria viva.

_Seu trabalho é lá signora, perdeu algo no salão?

_Não Chef_respondi desanimada e envergonhada, me senti como uma criança pega fazendo algo errado.Qual o problema dele? Que controlador, vai ser difícil aturá-lo!

    Voltei para meu posto e Dulce já recheava alguns cannolis, decidi pegar mais chocolate para enfeitar os mousses, o som da cozinha é algo maravilhoso, o barulho das frigideiras o aroma dos temperos e claro a minha parte preferida, os doces. O cheiro dos doces tomavam conta do meu setor, a comida era o principal, mais todos ansiavam pela sobremesa, é a parte do jantar em que o prazer invade o seu ser, ela simplesmente fecha com chave de ouro qualquer experiência gastronômica.O que eu não conseguia entender como um restaurante com uma estrela Michelin conseguira essa proeza, com doces tão tradicionais e simples. O Chef Lorenzo deve ser realmente sensacional para conseguir esse feito.

    Cheguei a porta da dispensa e quando abri mais uma vez pude me deparar com o Chef que pegava alguns ingredientes, ele me olhou e continuou na sua missão, mas pude perceber um olhar aborrecido para mim, não entendo. se não me quer ali, porque me mandou ficar?provavelmente está sem opções. Ele me incomoda, respiro fundo e vejo que o chocolate está na prateleira de cima, mas o Chef está na frente da escada.

_Com licença?...Vou pegar o chocolate_ ele me olha e bufa e me dá passagem, enquanto subo tenho a impressão de que ele está olhando pra minha bunda, olho de soslaio e ele cheira alguns potes de temperos, não sei se me sinto aliviada ou decepcionada, o que estou pensando?estico meu braço pra pegar a barra, ela está um pouco longe, só mais um pouquinho...só mais  um pouco..fico na ponta dos pés e consigo alançar a bendita, quando meu pé desliza em falso e desço com tudo, caindo tentando me segurar... quando sinto mãos me segurando pelos quadris, meu Deus ele me pegou! devagar ele me desçe e sinto sua mão deslizar por meus quadris e apertar minha cintura, me viro e o Chef está me olhando com um olhar sombrio, espanto e excitação, engulo em seco e coro. Percebo que ele ainda mantém as mãos em minha cintura, vejo ele abrir a boca e puxar o ar, fico olhando o movimento de sua boca, por que não me desvencilho? É estranho, não sinto vontade de sair, e como uma força quebrando o gelo consigo emitir uma palavra

_Obrigada..._ A palavra sai quase num sussurro e ele percebe que ainda me segura e solta numa rapidez brusca, sua boca se contrai em uma linha rigída

_Você deveria tomar mais cuidado Chef, o que estava pensando?_ fala de modo rispido, e tenho vontade de esbofeteá-lo mesmo sabendo que se ele não pegasse, eu teria me machucado feio.

    Saio na mesma hora da dispensa me sentindo humilhada, quem ele pensa que é? cara arrogante! ,em poucas horas e já não o suporto.

    A noite corre bem, Dulce é muito competente e conseguimos servir as sobremesas com rapidez e por último a sobremesa do Governador, o garçom entrou e falou que ele queria falar com o Chef, e claro, o ignorante reclamou, mais saiu para receber os cumprimentos e tirar foto com o político, depois entrou e encerramos a noite de trabalho. Começamos a limpar e a guardar os ingredientes e utensílios, um a um os funcionários iam deixando a cozinha, pegavam seus pertences e se despediam, agora a brincadeira reinava, pude rir com Martino um dos cozinheiros imitando o Governador, tinha colocado uns panos de prato dentro da camisa para parecer gordo, e imitava os elogios ao Chef Lorenzo, o Chef ria de chorar, o que me surpreendeu, parecia outro, bem mais leve, dispensei Dulce e continuei me organizando, quero criar o mais breve possível, claro... se o chato me deixar. Mas olhando pra ele agora posso ver um sorriso lindo, ele parece bem mais jovem sorrindo, vejo ele tirar o domã e se dirigir ao banheiro, lavo meus utensílios, passo um pano no balcão, agora que estou sozinha, e quase todos já foram embora, tiro minha touca e o jaleco, estou com uma blusa de alça preta por baixo, seco suor na testa a limpeza me deu calor! E ele reaparece e está de camiseta preta e calça jeans escura e um all star no pé, quem diria, o cabelo molhado da chuveirada que parece ter tomado, ele entra na cozinha e posso sentir o cheiro de sabonete que sai dele, posso não gostar dele mais ele está de tirar o fôlego, e vem em minha direção e quase esqueço de respirar.

_Marina, você já acabou?_Ele me chamou pelo nome?Como assim?

_Sim Chef_respondo e dobro o pano de prato que seguro, nossa estou nervosa, olho pras minhas mãos

_Como sabe, como Chef, temos algumas obrigações, como fazer as compras. Claro que temos que conversar sobre isso

_Sim Chef

_E já que você já está contratada precisamos fazer alguns experimentos, criar algumas sobremesas juntos, fazer um novo cardápio de doces

    Nossa finalmente posso criar, pensei que continuaria nos tradicionais

_Amanhã você pode chegar mais cedo para uma reunião?Para acertarmos os detalhes, quero criar alguns pratos e quero sobremesas que combine

_Umas dez pode ser?

_Sim Chef, claro às dez

_Até amanhã Marina

_Até Chef

_Ah me esqueci_ele volta se virando pra mim

_Você quer uma carona?

    Essa me pegou desprevinida, olho no relógio e já passam das duas da manhã, que Droga estou sem alternativas, poderia ir andando, mais essa hora não é inteligente, considero aceitar, afinal não esperava começar hoje no trabalho, mas...

_Então? Você vem ou não?_pergunta com olhar aborrecido outra vez

_Tá...obrigada...vou só me limpar

    Saio em direção ao banheiro, quando entro lavo meu rosto com sabonete líquido que trouxe na minha necessaire, passo um batom e troco de roupa, mas dessa vez coloco minha jaqueta, pois já está de madrugada e deve estar frio lá fora. Saio do banheiro e ele esta na porta esperando e quando olho todos já se foram, isso não é bom o que vão falar de mim e como se lesse meus pensamentos ele fala:

_Fique tranquila não vão pensar mal de você, eles sabem que você está sem carro e não esperava sair tão tarde, acredito que não imaginava que iria começar hoje, estou certo.

_Realmente me pegou um pouco de surpresa, achei que seria só um teste e se passasse , você me mandaria começar na segunda._Falo e caminho até a porta, e ele aciona o alarme

_não te culpo Marina o normal seria isso mesmo, mas preferi aproveitar e testar direito hoje mesmo.

Não sei porque mas a palavra “testar” poderia ter duplo sentido.