Capítulo – dez.
27, janeiro 2017...
Feliz ano novo...
A virada foi até que agradável, era um novo ano e as resoluções começaram bem mais cedo do que eu imaginei. Eu passei na Seoul National University e agora eu era um calouro na turma de jornalismo. Jungkook e Jimin estavam no tão temido último ano e Taehyung também estava na mesma faculdade que eu, mas ele estava estudando relações públicas, bem a cara dele na verdade. Noite passada ficamos conversando sobre isso, como era engraçado que sempre sonhamos com essas coisas e agora, o sonho simplesmente estava acontecendo.
Esse era o gostinho de estar se tornando adulto e sabe? Não tenho muita certeza se eu gosto disso, talvez seja esse medo ridículo que a nossa geração tem de crescer, mas pelo menos uma coisa vai poder acontecer esse ano. Eu finalmente vou trocar a minha moto por um carro!
Eu estava terminando de me arrumar na frente do espelho do meu quarto. O inverno acabou, mas ainda estava frio, vai demorar um pouco até o calor forte do verão chegar, ainda temos a primavera. Eu estava particularmente animado e sorri ao me ver pronto. Eu não sei se é só a minha cabeça, ou se realmente é verdade, mas eu me sinto mais adulto. Eu estou até usando uma camisa do meu pai! Eu tentei vestir algo meu, mas nada do que eu tinha me fazia pensar que eu era um quase adulto indo fazer coisas que quase adultos fazem.
Talvez eu mude a decoração do meu quarto também.
Algo menos último ano do colegial e mais para primeiro ano de faculdade, eu não sei, eu gosto muito de mudar as vezes, falando nisso, tenho que retocar o loiro do meu cabelo, talvez tentar outro tom de loiro, um loiro areia ao invés desse loiro platinado quase branco. Eu não sei.
Eu peguei minha carteira, chaves da moto e celular. Taehyung me mandou uma foto do novo apartamento dele, ficava mais perto do campus e ele até me convidou para dividir o aluguel, é uma boa ideia no fim das contas, mas ainda preciso me organizar para sair de casa assim.
Ele me mandou a foto de um quarto vazio no Snapchat com a legenda. “ele está prontinho para você...” e eu ri. Tirei foto dos meus sapatos e respondi com: “boa tentativa”, o que foi seguido de uma risada com k’s e A’s demais.
- Filho... – Eu olhei para a cozinha e minha respiração travou. – Oi, você está tão bonito. – Eu concordei com a cabeça e me curvei um pouquinho, agradecendo.
- Você não quer tomar café com a gente? – Meu pai perguntou.
- Ah. Não, obrigado. – Peguei uma máscara preta que eu deixo pendurada na porta e vesti. – Vejo vocês mais tarde. – Me curvei de novo e sai de casa.
E esse é o motivo de eu ser um quase adulto e não um adulto completo.
Não me orgulho de ser assim, não me orgulho de estar há mais de um mês sem conseguir falar com os meus pais que querem saber os meus sentimentos pós... Enfim. Eu não consigo e não quero falar sobre isso, esse é o meu jeito de lidar com as coisas, eu consigo me concentrar em certas coisas só ignorando outras e olha só! Eu já estou muito atrasado para a minha primeira aula de direção.
Não que eu de fato vá aprender alguma coisa nova nessa aula, meu pai me ensinou a dirigir motos e carros quando eu tinha quinze anos, mas como eu preciso disso para tirar a carteira, aqui estou eu, no meio de uma aula sobre placas de trânsito mesmo já tenho carteira de moto há dois anos. A execução de algumas leis não faz muito sentido.
Eu tenho que ter a mesma aula que eu tive quando tirei a carteira de moto? Eu não posso só ir para parte funcional de um carro? Quando a aula acabou, eu saí muito feliz tinha um compromisso que eu realmente estava empolgado.
Parei na frente da mina antiga escola e sorri.
Cheguei um pouco antes da campa bater e fiquei mexendo no meu celular, ouvindo música, a da vez era wish you were here da Avril Lavigne, de uns dias para cá eu fiquei viciado nessa música.
All those crazy things we did. Didn't think about it, just went with it. You're always there, you're everywhere, but right now I wish you were here...
Sim, nós só nos deixávamos levar.
Nos deixávamos levar. Bastava um sorriso para que ele me fizesse ir para qualquer lugar com ele.
Eu senti um empurrão no meu braço e meus fones caíram dos meus ouvidos. Jungkook me pegou pelo pescoço e abaixou o meu rosto, me prendendo entre o seu braço e o corpo, já Jimin ria da minha cara como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. Eu empurrei ele e dei um jeito de bagunçar o cabelo dele todinho, coisa que ele odeia.
- Caralho, Namjoon! – Ele me bateu e começou a arrumar o cabelo. – Essa é a zona restrita, ninguém pode pegar.
- Jungkook é muito fresco com o cabelo dele.
- Ele é todo fresco. Vocês saíram agora? Eu não vi.
- Sim, não demoramos nadinha. – Jimin suspirou. – Como você sobreviveu ao último ano?
- Quem disse que eu sobrevivi? – Jimin e Jungkook fizeram uma careta e só eu ri, eu posso, já passei por isso.
- Taehyung me mandou mensagem no fim da aula. – Jungkook falou. – Ele está esperando a gente.
- Então vamos. – Falei enquanto colocava o meu capacete.
Jimin subiu na moto junto com Jungkook e eu parei tudo o que eu fazia para ver isso. Era engraçado demais e nunca tinha passado pela minha cabeça antes, eu ri e os dois pararam de se arrumar para me olhar.
- O que?
- Sabe, eu nunca parei pra pensar nisso... Porque você sempre vai na moto com o Jungkook se você também tem carteira e moto? – Jungkook parou para pensar e virou para o Jimin, acho que ele nunca tinha pensado nisso também.
- Pra que eu vou gastar os quilômetros rodados da minha moto lindinha quando eu tenho o Jungkook de capacho?
- Como é que é? – Eu ri alto. – É por isso?
- Pensou que fosse pelo o que?
- Jimin... – Ele travou, parecia muito irritado. – Sai da minha moto.
- O que? Não! – Jimin cruzou os braços, ele já tinha colocado o capacete, parecia a amiga da hello kit com raiva. – Jungkook, sai! – Jungkook conseguiu carregar o Jimin e tirar ele da moto, depois montou nela de novo e deu partida em direção ao shopping. – Viu o que você fez? – Eu voltei a rir.
- Anda, sobe antes que eu te deixe aí.
- Ashi, esse garoto vai ver! – Ele se abaixou para pegar a mochila que tinha deixado cair e a colocou de novo.
Nós ficamos vendo Jungkook se distanciar cada vez mais e Jimin revirou os olhos, era engraçado de assistir, mesmo morrendo de raiva, Jimin sorria vendo Jungkook correr tão rápido costurando com a moto por entre os carros.
- Uma vez ele disse que ganhou um prêmio na corrida por maior quantidade de quilômetros rodados.
- O que? – Não entendi.
- Ele me busca e me deixa todo dia nos últimos dezesseis meses. Ano passado ele não participou de uma corrida perigosa porque ganhou um prêmio em dinheiro por mais quilômetros rodados. – Eu ri sem acreditar e ele deu de ombros. – Eu disse que ele correr sempre me incomodou.
- Você não vive sem ele.
- Ele é meu melhor amigo, por mais que agora eu queria que ele caia da moto e morra!
- Relaxa, quando a gente chegar lá, você diz que o Taemin viu o que ele te fez e te deu carona, ele vai se arrepender. – Jimin gargalhou alto e subiu na moto.
- É uma boa ideia, mas acho que ele não vai acreditar.
- Vamos ver se não.
No caminho, eu consegui alcançar o Jungkook, mas ele estava tão concentrado que nem percebeu. Ele chegou primeiro no shopping, eu deixei o Jimin na porta e depois fui estacionar, ele estava me esperando na vaga de sempre.
Eu cheguei rindo e tirei o capacete, ele estava olhando pro meu banco como se o Jimin fosse aparecer nele magicamente e estava se segurando pra não perguntar.
- O que? Ele caiu no caminho?
- Sério? Dois minutos calado e só conseguiu pensar nisso? – Desci da moto e tirei o capacete.
- Fala logo onde ele tá.
- Eu não sei! – Agi como se não fosse nada demais, levantei o banco da moto e guardei as coisas que não ia precisar, deixando comigo só as chaves, o celular e a carteira.
- Como assim não sabe?
- Ele não veio comigo.
- O que? – Eu segurei o riso. – Ele não vem mais só por causa daquilo?
- Não! Ele vem, só não comigo. – Terminei de guardar e olhei para ele. – O Taemin viu o que aconteceu e vai trazer ele, não se preocupa. – Dei dois tapinhas no ombro dele e fui em direção aos elevadores.
- NAMJOON! – Ouvi Jungkook me chamar, mas só levantei a mão, acionando o alarme da minha moto e rindo sem virar pra ele.
E eu ri muito! Muito mesmo!
Mas...
Talvez não tivesse sido uma boa ideia, o almoço todo foi baseado no Jungkook brigando com o Jimin por ter pegado carona com o ex e o Jimin dizendo que o Jungkook não deveria ter deixado ele lá pra começo de conversa. Eu tinha mandado uma mensagem para o Taehyung explicando o que estava acontecendo e eu e ele só comíamos nossa pizza trocando olhares cumplices e rindo dos dois.
Eles estavam tão ocupados lavando a roupa suja deles que eu só deixei de lado, me concentrando na minha comida com as vozes deles de fundo. Respirei fundo, era bom ter esse momento com eles. Eu estava quase pensando no que eu não devia quando senti a mão de Taehyung tocar a minha, me chamando atenção. Eu olhei para ele e sorri.
- Você está bem?
- Sim, é. Eu só estava pensando em quando eles vão parar com isso. – Soltei uma risada sem graça e Taehyung suspirou.
- Olha, você sabe que quando você quiser conversar sobre...
- Eu sei que se eu estou falando só com vocês é porque eu não quero falar sobre o que quer que seja o que você está pensando. – O interrompi e ele apertou a minha mão com força.
- Tudo bem, então vamos falar sobre você ir morar comigo? – Eu ri, ele realmente não vai esquecer isso. – É mais perto da faculdade e... Bom, é um começo longe de o que quer que seja o que eu estou pensando.
- Por incrível que pareça, eu estou considerando isso.
- Não é pra considerar! É pra fazer, entendeu? – Eu sorri e concordei com a cabeça.
Eu ia dizer algo bonito, eu ia agradecer ou quem sabe fazer o meu primeiro comentário sobre como alguém que eu talvez esteja pensando estaria feliz de nos ver nos dando bem quando eu senti algo duro acertar o meu rosto. Olhei para as minhas mãos e lá estava uma batata frita voadora. Olhei para Jungkook, que era o único que estava comendo hamburguer, e ele estava com raiva enquanto Jimin estava rindo.
- Pois não? – Perguntei confuso.
- Vai se fuder!
- Sou muito ocupado, não tenho tempo pra isso. – Ele revirou os olhos e se levantou, indo para o banheiro masculino. Eu olhei para o Jimin e ele não parava de rir. – O que foi isso?
- A ideia foi sua e ele descobriu. – Eu ri.
Eu não mereço esses caras.
Quando acabamos de almoçar e Jungkook me perdoou pela brincadeira, nós tivemos que ir embora. Jimin e Jungkook tinham um simulado para fazer, Taehyung tinha que arrumar algumas coisas no apartamento novo e eu precisava chegar em casa para receber os livros que eu comprei na amazon para me ajudar no início do semestre.
Ainda estava cedo quando eu cheguei em casa. Os meus pais tinham ido trabalhar e eu estava sozinho. Eu tomei um banho bem demorado e liguei o meu computador, tinha umas histórias para ler no kindle, eu achei um título chamado Simon vs the homo sapiens agenda na sessão lgbtq que me chamou muito a atenção, foi lançado em 2015 e eu nem podia acreditar que passei tanto tempo sem ler.
Eu deveria estar na terceira troca de e-mails entre Jaques e Blue quando a campainha tocou. Ainda estava sozinho em casa, então desci o mais rápido que pude.
Quando abri a porta, vi um rapaz, talvez mais velho, porém mais baixo do que eu, ele sorria e eu me senti bem com o carisma dele. Ele estava usando o uniforme dos correios e segurava um pacote grande nas mãos com a logo da Amazon.
- Meus livros...
- Perdão?
- Ah! Desculpe! – Eu ri constrangido. – É que eu estava esperando esses livros.
- Ah sim. – Ele sorri e me entrega. – Kim Namjoon, certo? – Sorri concordando com a cabeça. – Preciso que assine aqui. – Ele me entregou os papeis de entrega e começou a procurar algo na bolsa de carteiro. Eu ri. Ele era muito atrapalhado.
- Sabe? Esse bairro tinha um carteiro antes, o senhor Lee.
- Oh, o senhor Lee se aposentou, eu estou sendo treinado para substituir ele. Meu nome é Mark.. – Eu sorri mais uma vez quando ele sorriu. Eu entreguei os papeis e ele os pegou.
- Bom, Mark-ssi. Mais alguma coisa?
- Sim! – Ele falou mais alto e voltou a procurar algo na bolsa dele, eu tinha o atrapalhado, eu ri, ele ainda é todo sem jeito.
Ele sorria bobo por sua própria gafe e eu estava estranhando tanto isso. Aquele sorriso, ele... Era tão familiar.
- Eu tenho uma carta para você aqui em algum lugar.
- Oh... - Balancei a cabeça tentando me concentrar no que dizia. – Sério? Geralmente quem recebe cartas são os meus pais.
- Mas dessa vez não – Rimos juntos.
- Deve ser algum folheto e propaganda de faculdade. – Dei de ombros, nessa época é comum.
- Não, na verdade é de uma pessoa. – Ele diz, agora, olhando entre outras cartas em sua mão.
- Uma pessoa? – Ele concorda. – Qual o nome?
- Deixa eu ver. – Ele continua procurando e morde o lábio enquanto faz isso, que merda! Eu conheço essa mania de algum lugar.
- Mark... – Ele murmura algo, concentrado em sua procura. – Nos conhecemos de algum lugar? Você parece muito com alguém que eu conheço, eu só não sei quem pode...
- Kim Seokjin. – Arregalo os olhos, só então percebendo a semelhança entre eles
- O que? – Perguntei muito confuso, como ele conhecia o Jin? E por que eu estou pensando e ouvindo o nome dele quando eu claramente não quero?
- A carta... – Falou sem jeito por eu estar com raiva agora. – É de alguém chamado Kim Seokjin. – Diz e estende a mão para mim.
Eu só deixo cair os meus livros no chão e sinto meus olhos começarem a lagrimar.
Ele... Não. O jin está morto...
Que parte do “eu não quero falar ou pensar nele” o universo não entende?
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