História A.m.o.r - 18, junho 2016

 

 

Capítulo – Sete.

18, junho 2016...

E com o toque do sinal, eu podia comemorar a chegada do fim de semana! Geralmente eu comemoro quando a aula acaba dia de sexta, mas hoje é especial, estamos perto das provas de fim de semestre então os professores estão ainda mais rigorosos com as atividades, tudo bem que eu provavelmente vou passar algumas horinhas do meu sábado revisando algumas matérias que eu estou com dificuldade, mas é tão melhor poder fazer isso sem um cara de meia idade no seu pé dizendo que você não vai ser ninguém na vida se não acertar tudo!

Eu terminei de arrumar as minhas coisas e fui até o meu armário, tinha esquecido a chave da minha moto lá quando troquei os livros para a próxima aula. Não demorei muito nisso, queria ir logo para casa, estava com fome.

No caminho encontrei com Jungkook e Jimin saindo da sala deles, Jungkook estava em um canto mais afastado de braços cruzados enquanto Jimin se despedia do Namorado. É tão engraçado que o Jungkook, que é uma pessoa que nunca gostou de ficar perto de casais melosos demais, muda de ideia rapidinho quando uma pessoa desse casal é Park Jimin; ele fica, contra a vontade, mas fica.

- E aí, guerreiro? – Apoiei o braço no ombro dele e ele revirou os olhos. – Você ama mesmo o Jimin, em? Eu não ia aguentar ficar olhando. – Jimin e Taemin estavam se beijando desde que eu cheguei.

- Eu tô é puto! Ele me pediu carona e disse que só tinha que resolver uma coisa rápida.

- Então você está puto porque ele tá beijando o Taemin? – Tentei jogar um verde, mas ele me olhou confuso.

- Não, porque ele disse que seria rápido, por que eu me importaria com quem ele beija? – É, parece que não.

- Nada, só não tinha entendido direito.

Ele pareceu não se importar com a minha desculpa ridícula e só voltou a olhar para os dois, eu fiz o mesmo e acho que Jimin finalmente se deu conta, ele nos olhou morrendo de rir e abraçando o Taemin. Eles falaram mais alguma coisa bem baixinho, que não deu para ouvir e se despediram. Taemin deu tchau para mim e para o Jungkook e foi embora na direção oposta, já Jimin veio todo feliz para perto da gente.

- Última vez, Park Jimin! – Jungkook brigou e Jimin revirou os olhos. – Você disse que ia ser rápido, sabe quanta gente passou rindo de mim? Garoto, se eu virar meme no grupo do colégio você vai ter um problemão.

- Foi mal, Jun! Eu não vou encontrar com ele nesse fim de semana por você, lembra? – Jungkook ficou calado.

- Por ele? – Perguntei rindo. – Que papo é esse?

- Ele tem corrida nesse fim de semana e dizendo ele, eu não passo mais tempo com ele desde que eu comecei a namorar, não é um absurdo?

- Não muito... – Falei hesitante e os dois me olharam surpresos. – Não é por mal, Jimin. Eu estou super feliz que você arrumou alguém, que vocês se gostam muito, mas nesses três meses você realmente se afastou muito.

- Obrigado, hyung! – Jungkook bateu nas minhas costas, porra! Como esse moleque é tão forte? – Mas o Jimin sabe que é verdade, ele só finge que não vê por que não quer assumir que o namorado dele pediu pra ficar longe de mim!

- O que?

- Não, espera. Ele não pediu nada disso! – Gente quanta confusão eu perdi. – Ele não gosta que eu ande com você por causa da sua fama, mas eu estou aqui, não estou?

- Sim! Porque eu praticamente te obriguei!

- Para com isso, Jun. Eu gosto de sair com você. – Jimin respirou fundo. – Eu só tento equilibrar, o Taemin tem ciúmes de você.

- Eu nem sou uma ameaça pra ele, Jimin! Nós somos amigos! Sinceramente, eu esperava mais de você.

- Jun...

- Não... – Ele deu um passo pra trás e respirou fundo. – Esquece, só vamos indo? Eu tô com fome. – Jimin sorriu e eles se abraçaram.

Cara, é oficial, eu nunca vou entender esses dois.

Mas, contanto que eles não fiquem se alfinetando muito, eu não tento me importar demais. Fomos nós três para a saída, eu e Jungkook costumamos estacionar nossas motos uma ao lado da outra, então íamos conversando um pouco mais.

Eu estava tentando me convidar para uma das corridas dele, eu não ia correr, essa porra é ilegal e eu não acho certo ele se meter nisso só pra descolar um dinheiro sujo, mas eu já ouvi Jimin dizer como o Jun brilha quando está pilotando e isso é algo que eu gostaria de ver mesmo ele sempre dizendo que só podia um convidado por pessoa e que quando abrissem exceção eu seria convidado.

Esse idiota nem cogitou a ideia de uma miséria vez o Jimin não ser o convidado!

- Namjoon! – Eu ia continuar minha cena, mas eu parei quando ouvi me chamarem.

Eu e os meninos olhamos para trás e estranhamos muito. O representante da minha turma vinha na nossa direção com pressa para me alcançar, mas isso não era bem algo comum de acontecer. É que... Eu tinha uma antipatia com ele muito boba e não! Ele nunca fez nada de errado para mim, muito pelo contrário, ele sempre me ajudava na coordenação quando alguma nota minha vinha errada e as secretárias nunca entendiam o que estava acontecendo.

Para todos os efeitos, ele era perfeito, cabelo bonito, uniforme bonito, dentes alinhados lhe dando um sorriso quadrado encantador e é claro, lábios perfeitos! Como eu sei? Ouvi alguém dizer...

 - O que o Kim perfeito Taehyung quer com você?

- Precisava mesmo do perfeito?

- Tocou na ferida, jun... Tocou na ferida.

 Quando o futuro palestrante da ONU chegou, ele respirou fundo pela corrida e sorriu, aquele maldito sorriso que conquista as pessoas e fazem elas beijarem os tais de lábios macios. Eu sorri de volta por educação e quase espanquei o Jungkook pela risada debochada.

- Boa tarde, meninos, mil desculpas por atrapalhar a saída de vocês. – Não disse? Garoto irritantemente perfeito. – Eu queria falar com o Namjoon, se tudo bem.

- Não se preocupe, Taehyung-ssi. – Jimin falou, outro engomadinho irritante. – Eu e o Jun já estávamos de saída. – Eu olhei pra eles com uma puta cara de raiva, eu não queria ficar sozinho com ele. – A gente te liga mais tarde, hyung. – E puxou Jungkook para fora da escola aos risos.

Certo, acho que essa é a hora que eu uso e abuso da educação que os meus pais me deram, não é?

- Então, no que posso ajudar? – Eu perguntei animado, esperando uma animação exagerada como ele sempre fazia, mas ao invés disso, ele abaixou o rosto e murchou toda a felicidade que eu costumava ver.

 - E-eu queria perguntar sobre o Jin-hyung. – Eu fechei os olhos com força! Sempre, não é?

- Eu não sei se posso falar sobre isso Taehyung-ssi.

- Por favor, não pense que eu quero fazer você invadir a privacidade dele, é só que... Hoje eu peguei as notas das primeiras avaliações e você ficaria muito surpreso.

- As notas dele estão ruins?

- Pior que ruins! – Respirei fundo. – Hoje foi a terceira vez que ele faltou só essa semana, eu estou preocupado com ele.

- Academicamente falando? – Ele riu.

- Isso importa agora? – Passei as mãos pelo meu rosto, agoniado. – Namjoon, olha... Eu conheço os boatos sobre vocês, eu não sei se é verdade e nem quero saber. Não sei se o fato de eu gostar dele te incomoda, mas se eu sinto algo significa que eu me importo e quero ele bem. Eu vim até você mesmo com todos falando que vocês estão juntos, não acha isso preocupação suficiente?

Eu olhei pra ele por meia hora metafórica e no fim só concordei com a cabeça. Eu não posso odiar ele só porque gostamos da mesma pessoa quando o próprio Taehyung nunca deixou isso atrapalhar na nossa convivência. No fim das contas, se eu quero odiar alguém, deveria me odiar por ter ajudado eles dois a ficarem juntos no primeiro ano.

- Eu entendo e concordo com você, mas eu não posso fazer nada.

- Mas ele sempre te ouve.

- Isso não é uma situação de um adolescente rebelde que não quer aprender, Taehyung-ssi. Se fosse por ele, nada disso aconteceria. – Taehyung olhou para outro lugar, eu sentia o medo nas suas próprias palavras, ele abriu e fechou a boca umas três vezes tentando ter coragem de dizer.

- E... Ele, você sabe... Tentou de novo?

- Eu não sei, faz muito tempo que ele não fala comigo.

- Vocês brigaram? – Eu ri, não tinha obrigação de explicar, mas entendia a preocupação.

- Não, nós fizemos um acordo, mas eu disse que não posso falar sobre isso. – Ele concordou com a cabeça.

- Em todo caso, espero que ele se saia bem na recuperação.

- Recuperação? – Jin nunca ficava de recuperação. – Isso... Vai mesmo ser necessário? Ele pode tirar notas melhores nas avaliações da semana que vem.

- Ainda assim ele vai ter que recuperar as da primeira avaliação.

- Aish! Isso é péssimo! – Acabei alterando minha voz, que merda! O quanto isso não ia tornar tudo ainda pior? – Taehyung-ssi, você contou isso para mais alguém?

 - Eu não seria desumano a esse ponto. – Ele respirou fundo. – Essa escola é cheia de gente que vive por um boato, eles não sabem viver a própria vida. – Concordei, é verdade.

- Quando ele souber, não vai ser muito bom.

- Ele já deve saber. Os tios dele pediram sigilo e ele vai fazer as aulas e provas em casa.

- Então... Ele não vem mais para a escola?

- Eu não faço ideia. – Ah merda. – Vim falar com você esperando que você me dissesse, eu estou muito preocupado, não consigo pensar em outra coisa além disso.

Merda... Taehyung realmente é um amor de pessoa. Talvez tivesse sido melhor que eu e ele não conversássemos, assim eu poderia só odiar ele pelo resto da minha vida, mas eu acho que não tenho motivos para isso, por mais que eu odeie admitir.

Acho que foi um pouco infantil da minha parte dizer que eu o odeio quando ele nunca demonstrou o mesmo em relação a mim e me colocando no seu lugar, eu acho que não ia aguentar ficar sem notícias do hyung e bom, eu tenho muito mais informações do que ele...

- De qualquer forma, obrigado pelo seu tempo. – Ele sorriu triste, ai que droga. – Eu esperava ter alguma notícia do Jin-hyung com você, mas entendo. Bom almoço. – Ele se curvou e se virou para ir embora...

- Taehyung, espera! – Eu queria tanto que ele ficasse que acabei esquecendo até das formalidades, mas pelo menos ele parou e me olhou.

Eu andei até ele me odiando por ter sido tão antipático.

- Eu realmente não sei se ele está bem agora... Quando nós nos falamos pela última vez ele me pediu para esperar por ele, disse que ia me avisar quando estivesse bem e eu também não consigo pensar em outra coisa, mas eu confio nele, você deveria confiar também.

-  Eu confio, Namjoon-ssi, mas é mais difícil para mim, eu não tenho tanto contato com ele como você. Eu não tenho esse trato.

- Tudo bem, então confie em mim. – Ele me olhou com desconfiança, eu também teria. – Quando nos falamos pela última vez, os tios dele tiraram o celular dele e ele havia começado a ter consultas com uma psicóloga, por causa do que aconteceu.

- Isso... Isso é ótimo.

- É, eu também tinha ficado bem feliz, mas ele disse que a psicóloga abusa dele psicologicamente.

- Eu não acredito nisso... – Ele sussurrou. – A coisa está pior do que eu imaginei...

- É por isso que não temos nos falado mais. – Sorri triste e ficamos sem o que dizer por um momento.

- Por que resolveu me dizer? – Eu ri e dei ombros.

- Você faria o mesmo no meu lugar.

- Você tem razão. – Nós rimos só por falta do que dizer. – Obrigado, Namjoon-ssi e... Sabe? Isso não é uma prioridade, mas caso os boatos sejam verdadeiros, eu espero que vocês fiquem bem no fim. – Eu sorri.

- Eu também espero.

Minha resposta pareceu ser o suficiente para ele entender, não precisava ser amigo de Taehyung para perceber que ele entendeu o que eu quis dizer com isso; foi um sorriso inconformado que ele me deu, então mais uma pessoa sabia que eu e o Jin tínhamos algo e isso me assusta, quando eu pensei em contar para alguém sobre isso, imaginava Jungkook e Jimin, eles sempre souberam dos meus sentimentos.

Se alguém me dissesse que a pessoa na qual eu compartilharia esse segredo seria Kim Taehyung, eu iria rir muito! Só que agora... Eu estou feliz por ter sido ele, mesmo sentindo o que sente, ele me desejou coisas boas e eu também quero coisas boas para ele.

Nossa conversa morreu ali e eu tive muito para pensar no caminho de casa, eu tentei me concentrar para chegar bem e eu fiquei tão aéreo que nem pude interagir com os meus pais durante o almoço. Pelo menos é sexta-feira, depois de ajudar minha mãe na cozinha, eu me deitei na minha cama e fiquei olhando para o teto.

Semana que vem começam as minhas provas, eu tenho exercícios para entregar na segunda-feira, ontem lançou a quarta temporada de Orange Is The New Black, eu tinha um tempo sozinho em casa antes dos meus pais voltarem do mercado, mas eu não conseguia fazer nada do que eu deveria estar fazendo.

Para me desligar de qualquer pensamento irritante, eu peguei o meu celular para ver se eu conseguia me distrair e quase chorei de alívio quando vi notificação do Jungkook no Snapchat. Jimin tinha feito um vídeo dele pilotando em uma estrada deserta, no meio da imagem tinha aquela barrinha com a legenda “Ele tá treinando pra amanhã”.

Tirei uma foto deitado na cama e mandei com a legenda “Same Energy”. Ele respondeu com uma risada escandalosa, me ligou por vídeo no FaceTime e conversou um pouco comigo enquanto cronometrava o tempo que Jungkook levava até chegar no fim da pista e voltar, foi legal acompanhar o treino dele, fiquei uma hora inteira assim.

- Ele se esforça tanto... – Jimin falou baixinho, mas eu pude escutar por estar perto do microfone.

- É o que ele gosta de fazer.

- Não tenho certeza, hyung. – Ele virou a câmera para a frontal e agora eu via seu rosto. – O Jun me disse que participa dessas corridas pra conseguir dinheiro extra.

- Jimin... Não é novidade pra ninguém as condições do Jun, isso nunca te incomodou antes.

- Sempre me incomodou, mas não da forma que você está pensando. Eu não gosto de ter que ver ele fazer coisas ilegais só pra ter dinheiro. – Suspirou. – Eu faria qualquer coisa pra mudar isso.

 - Você é um ótimo amigo, Jimin. – Ele sorriu e olhou para algum lugar fora da câmera.

- Eu sou, não é? – Ele virou a câmera de novo, ele estava assistindo ao treino em uma arquibancada e Jungkook estava estacionando a moto, ele subiu os degraus correndo e se sentou do lado de Jimin.

Ele pegou o cronometro da mão livre do Jimin e viu o tempo, eu não entendo nada de corridas, mas ele sorriu e deu um beijo estalado na bochecha de Jimin fazendo os dois começarem a rir.

- O tempo foi bom?

- Foi ótimo! – Jungkook respondeu. – Com esse tempo eu tenho certeza de que vou vencer!

- Que foda! – Falei no meio de um bocejo alto.

- Hyung, você já descansou? – Jungkook perguntou. – Você passou a semana toda cheio de coisa, eu tenho medo do terceiro ano.

- Eu também. – Respondi fazendo uma careta de dor, os meninos riram.

- Dorme um pouco, nós ainda vamos fazer umas coisas.

- Eu ainda acho que posso bater esse tempo.

- Jun! – Falei com um pouco de raiva. – Você disse que esse tempo está bom, não se arrisque com mais velocidade.

- Acho que ele tem razão.

- Tudo bem... – Falou mais baixo, se dando por vencido. – Mas você tem que descansar também.

- Não precisa nem dizer duas vezes. – Me ajeitei na cama e me deitei de lado, abraçando meu travesseiro de corpo inteiro. – Vou desligar. Jimin, cuida pra que ele não se esforce muito.

- Pode deixar, hyung.

Desliguei e fui ver as horas, ainda eram três horas da tarde, eu podia tirar um cochilo rápido e acordar antes do jantar e, quem sabe, ficar acordado de madrugada assistindo série, faz tempo que eu não faço isso mesmo. Desliguei o meu celular para não gastar bateira e o deixei do meu lado, não demorei nada para dormir.

Eu tinha um plano, mas eu não acordei a tempo do jantar. Sério, eu não fazia ideia de que estava tão cansado! Acordei duas horas da manhã completamente perdido de como eu consegui isso. A primeira coisa que eu fiz foi pegar o meu celular e ligar.

Nada muito importante, só algumas mensagens e umas duas ligações não atendidas de números que não conheço. Certo, eu estou dormindo há seis horas, é obvio que eu não vou dormir tão cedo! Pelo menos vou poder fazer o que eu queria desde o início, passar a madrugada assistindo série.

Tudo o que eu queria agora, é que a madrugada tivesse mais algumas horas, assim eu ia poder terminar a temporada em uma só noite, eu gosto tanto dessa série que nem sei explicar, então eu só tomei um banho demorado e fui assistir, mas quando eu percebi, já estava amanhecendo e eu tinha combinado de sair com o meu pai para comprar um almoço diferente para a minha mãe, então eu só vou ficar acordado até a hora.

Eu gosto desse tempo, é uma hora especifica da madrugada que me deixa tão bem. Não é tarde o suficiente para ser considerado noite, mas não é cedo para ser chamado de dia. O céu já está azulado, mas um azul triste e ao mesmo tempo acolhedor. Eu fui até a janela e apoiei os meus braços no batente para ver melhor a minha rua, aproveitando esse vento frio gostoso que vai acabar assim que amanhecer totalmente.

Como eu não vivo sem uma trilha sonora, peguei o meu celular com fones de ouvido e coloquei Summertime sadness para tocar, eu sou o tipo de pessoa que gosta de potencializar os sentimentos, seja eles quais forem e sei lá, esse tipo de música combina muito com esse céu, me dá vontade de pegar estrada.

- I just wanted you to know... That, baby, you’re the best. – Cantei baixinho e fechei os olhos.

Eu gosto de colocar as músicas que falam o que eu estou sentindo no momento e eu não quero dizer quem está me fazendo sentir isso, eu só quero ouvir outra pessoa dizendo o que eu estou sentindo.

O clipe que eu bolei na minha cabeça ia ficar lindo se fosse produzido de verdade, mas bem no finalzinho, a música parou e o meu celular começou a tocar.

         “Jinnie”

Eu senti o meu peito começar a queimar, eu estava com medo, da última vez que eu atendi uma ligação dele tudo o que aconteceu, aconteceu, mas ainda assim eu não tenho o luxo de recusar, não depois de três meses sem poder falar com ele.

Eu atendi.

- Hyung... – Falei muito baixo, fiquei sem forças de repente

- Eu sei que eu não mereço... – A voz chorosa, puta merda ele tinha chorado. –, mas a gente pode fugir um pouco?

- Você...

- Eu consegui sair hoje, eu estou na rua, indo em direção a sua casa porque é o único lugar que eu sei que posso ir... Me desculpe! Me desculpe por te acordar. – Ele soluçou.

- Vem. – Falei mais forte, para que ele soubesse que estava tudo bem.

Ele desligou e eu saí da cama para ficar em pé. Tá... Ele está vindo, eu deveria trocar de roupa? Ou arrumar a cama? Eu não sei o que fazer! Ele estava chorando, mas estava vindo pra cá então eu nem posso ir até ele, tenho que esperar com a minha ansiedade e preocupação a mil.

Não foi muito tempo, mas para mim pareceram horas! Eu vi pela janela que ele estava chegando, então desci as escadas com pressa e corri até a porta. Talvez eu tenha feito barulho demais e vá receber broncas quando meus pais se levantarem, mas isso eu me preocupo depois.

Quando eu abri a porta e ele me viu, ele parou de andar e respirou fundo. Estava com um moletom azul grande e óculos de sol. Tenho que admitir que fiquei bem decepcionado por não ter recebido um abraço. Ele não me olhava e estava com as mãos dentro dos bolsos do moletom, não era bem a situação que eu queria prolongar, então só dei espaço para que ele entrasse e fui para o meu quarto com ele atrás de mim.

Seokjin passou o caminho todo calado e nem um misero “oi” me disse, isso estava me deixando com muito medo. Agora estamos aqui, ele está de costas para mim e continua chorando, posso ouvir o seu fungar baixinho, era como se ele tivesse conseguido segurar o choro até o momento em que eu fechei a porta do meu quarto.

- Jin...

- Eu contei para os meus tios que sou gay... – Puta merda!

Eu fiquei tão surpreso que nem soube o que dizer, eu estava com a mão na minha boca, surpreso demais e tentando entender quando que o plano de esperar até os dezoito anos havia dado errado.

Espera... No telefone ele disse que aqui era o único lugar que ele podia vir...

- Não... Não me diga que eles te expulsaram de casa.

- Eles não me expulsaram. – Era um pouco difícil de ouvir, ele ainda estava de costas para mim.

- O que eles falaram?

- Falar é um termo muito forte. – Deu uma risada debochada. – Eles não quiseram falar muitas coisas.

- Como assim? – Ele virou de frente para mim e preferiu me responder de outro jeito.

Jin abaixou o rosto e tirou os óculos para logo depois tirar o moletom.

 Nesse momento eu quase caí no chão. Ele estava roxo! Tinha hematomas nos braços e marcas de dedos nos ombros. O olho dele estava machucado e ele não conseguia parar de tremer. O quarto estava frio e ele estava muito mais magro do que há três meses.

Eu juro que quando é alguma coisa relacionada a situação dele, eu sempre tive controle das minhas emoções, eu sempre me segurava muito para não chorar e desestrutura ele, mas eu não consegui dessa vez.

 Eu chorei tanto, mais que qualquer coisa, meu peito doía e minha cabeça latejava, mesmo olhando aquilo eu só queria que ele se cobrisse, assim não pioraria seu estado, assim não possuía riscos de ficar doente com a brisa que estava começando a nos cercar.

- Isso é tão... Injusto. – Caí sentado na cama.

- Tem como ficar pior. – Ele sussurrou e eu já quis morrer por antecipação. – Meus pais tinham parceria com várias empresas... – Ele se sentou do meu lado e colocou a mão direita em cima da minha coxa, eu chorei ainda mais quando vi um anel de compromisso. – Lee Chaerin...

- Vo-vocês...

- É um namoro falso. – Ele respirou fundo. – Só por uma cláusula no contrato deles.

- Eles não podem te obrigar a isso! – Eu acabei falando bem mais alto do que queria. – Não com uma garota! Você é gay, hyung!

- Acho que é meio óbvio que eles não se importam nem um pouco com esse fato, Namjoon...

- Jin eu... Eu... – Eu não sabia o que dizer.

Eu olhei para ele e eu queria morrer, ele estava triste e sem vida alguma nos olhos que eu tanto amava. Criei coragem o suficiente para toca em seu rosto e fazer carinho perto de seu machucado. Ele fechou os olhos e começou a chorar, dessa vez eu chorei junto com ele.

Eu não podia fazer nada por ele.

- Quando foi isso?

- Quando eles voltaram do trabalho... – Respirou fundo e fez uma careta de dor, tremendo um pouco. Eu puxei o meu edredom e cobri os seus ombros. – Eles me falaram do contrato com os pais da Chaerin e eu não falei por mim...

- Por que você se alterou tanto?

- Eu tive consulta com a psicóloga hoje. – Ele fechou mais o edredom ao corpo, como se quisesse se esconder. – Ela... Ela me fez chorar muito, falou da minha aparência e tentou falar de você de novo, mas eu fugi... Eu disse que não falava com você há muito tempo e ela disse que eu fiz certo, disse que eu só trazia tristeza pra você.

- O que? – Falei mais alto e Jin se encolheu. – Isso... Isso não é verdade.

- Não é totalmente mentira. – Ele sussurrou e me olhou assustado. – Eu te fiz chorar.

- Seus tios me fizeram chorar! Eles me fizeram chorar por te machucarem! – Segurei em seu rosto com as duas mãos, o fazendo olhar bem para mim. – Hyung... Eu te amo. – Ele voltou a chorar assim que eu disse e se jogou para frente, colocando seu rosto escondido no meu pescoço. Eu o abracei.

- Eu também te amo... Você não faz ideia do quanto eu te amo.

Deixei um beijo demorado em sua cabeça, eu estava tão estranho.

- Você acha que aguenta mais alguns meses? Até fazer dezoito? – Ele apertou a minha camisa e chorou ainda mais. – O que foi?

- A psicóloga disse que talvez eu não possa ficar independente. – Ele se afastou. – Ela disse que... Que do jeito que as consultas estão, eu sou uma ameaça para mim mesmo e sou incapaz de administrar a empresa dos meus pais.

- Essa mulher é louca... – Ele concordou com a cabeça e fungou alto.

Fiz carinho em sua mão, os nós dos seus dedos estavam vermelhos, eu não quero nem imaginar como foi essa briga.

- Eu vou cuidar dos seus machucados. – Tentei me levantar, mas ele não deixou.

- Eu já cuidei... Só... fica comigo. – Eu sorri sem mostrar os dentes e concordei, ele se deitou no meu peito e eu comecei a fazer carinho em seu cabelo.

Ele olhou para mim e se inclinou para deixar um beijo nos meus lábios, eu senti tanta falta disso. Fiz carinho em seu cabelo enquanto nos beijávamos e acabamos nos deitando na minha cama. Eu não estava com sono, mas Jin me parecia muito cansado, nós conversamos um pouco sobre os meninos e outras coisas para que ele se sentisse melhor, aos poucos ele dormiu em meus braços.

Eu não sei como as coisas vão acontecer, eu só quero que ele consiga ver como isso vai acabar.