História A.m.o.r - 28, janeiro 2017.

Capítulo – Onze.

28, janeiro 2017.

Talvez esse seja um dos dias mais confusos que eu já tive na vida. Eu estive longe da minha família por mais de um mês, sem conseguir pensar ou falar com eles porque sempre querem saber o que eu estou sentindo e eu nem sempre quero só conversar sobre isso! Mas agora eu não consigo nem mesmo falar com os meus amigos.

Ontem eu recebi uma carta da pessoa que eu pensei que nunca mais veria na vida, que nunca mais receberia notícias, mas Kim Seokjin consegue me impressionar mesmo estando morto...

Ele consegue arrumar um jeito de me deixar apreensivo e mexido como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Eu não consegui dormir, não consegui voltar a ler o meu livro ou fazer qualquer outra coisa, eu passei o resto da noite e o início da madrugada olhando para a porra daquele envelope bonito com o a letra dele. Isso me força a pensar nele, me força a fazer o que eu estava me segurando desde o início, desde que ele foi embora.

Ele morreu e tudo o que eu queria era que ele tivesse se despedido de mim e talvez essa tenha sido a forma que ele encontrou de fazer isso, de se despedir de mim, mas a questão é... Se eu fizer, vai ser realmente o fim? Ele vai ter dito adeus e acabou? Nossas conversas vão acabar oficialmente com o fim da carta? Eu queria ter me despedido, mas eu não queria que tivesse que acabar.

Eu me levantei da cama e andei até a minha mesa, peguei o envelope e voltei para a cama. Estava quase anoitecendo e eu passei o dia no quarto sem pegar no celular ou sair para nada! Eu não faço ideia do que perdi na autoescola, o que foi o café, o almoço e talvez eu não fosse descobrir o que minha mãe preparou para o jantar, mas nada disso fazia a menor importância agora.

Eu conhecia o Jin há anos e ele escolheu um dia para colocar um fim nisso, era o que ele queria e talvez eu estivesse muito errado com o que eu disse no dia do velório dele, mas uma coisa estava certa: ele quis assim, o que eu posso fazer além de aceitar?

Foi tremendo e cheio de medo que eu abri aquele envelope.

"Não sei como começar. Como se inicia uma conversa com a pessoa mais importante da sua vida depois de se matar? Eu acho que talvez com um oi? Então oi, Namjoon, sou eu... O Jin.

 Você tá com muita raiva de mim? Eu realmente não quero que você passe a me odiar. Eu sei que não me despedi de você e ainda por cima menti quando disse que não ia tentar morrer de novo, me desculpa por isso, por favor, não me odeie por isso!

Tem tantas coisas que eu queria te contar Joonie, tantas coisas que você merece saber e eu fui embora antes de te dizer poque não tive oportunidades, eu me tornei um prisioneiro na casa de pessoas que eu nunca tive muito contato e eles me afastaram de pessoas que eram essenciais para mim, então eu não pude fazer isso pessoalmente, mas agora eu posso. Eu quero te contar desde o início.

 Eu nunca te contei como eu me senti quando os meus pais morreram, eu nunca te agradeci por ter se deixado levar e ter me abraçado de baixo de uma chuva de fim de inverno.

Você estava forte e firme a qualquer custo, não chorou em nenhum momento, mesmo tendo uma grande relação com eles. Eu acho que era essa a impressão que você queria me passar, alguém no qual eu pudesse me apoiar... Uma "âncora" como você mesmo disse.

Sim você foi uma âncora.

Quando eu descobri que meus pais estavam mortos, eu senti o meu mundo cair. Sabe como é isso Namjoon? Uma desconhecida completa te dizer que você tem que ir reconhecer os corpos dos seus próprios pais? Isso me destruiu! Eu queria gritar, eu queria gritar e bater minha cabeça na parede até acordar no colo da minha mãe... Ela passando a mão no meu cabelo dizendo "durma de novo Jinnie, foi só um sonho ruim, nós estamos aqui"

Só que eles não estavam mais e, por minha culpa, agora talvez você saiba como eu me senti. Me desculpa mais uma vez.

 Eu sei que você chorou naquela noite enquanto eu estava no banho... Eu te vi chorar olhando para a janela, eu vi o quanto você estava mal por mim e por eles. Ai Namjoon, eu amo tanto você.

Quando eu reconheci os corpos dos meus pais eu tive certeza de que eu ia cair, de que eu não ia suportar e que estava na hora de desistir de qualquer coisa porque eu não tinha mais as pessoas que eu sempre tive comigo, mas então eu corri pra sua casa e você me falou alguma coisa sobre âncoras e não me deixar pensar em besteiras.

Você nunca teve a obrigação de ficar, mas você queria ficar. Foi você que me deu forças naquele dia para acordar sorrindo um pouco mais do que eu estava no dia anterior e bom, nós já temos intimidade o suficiente para eu te contar que sei que você sempre gostou de me olhar enquanto eu dormia, então aquele beijo não foi roubado, foi uma forma covarde de te agradecer.

Mas eu aprendi uma coisa, Namjoon. Eu aprendi que o amor nem sempre é o suficiente e que é muito difícil só viver disso, então não foi você. A minha vida virou de cabeça para baixo e ficou dolorosa... E como doía.

Sempre que nós fugíamos juntos, sempre que você me fazia sorrir e esquecer as coisas que me machucavam, eu percebia que te amava ainda mais, eu já te disse antes, mas eu odeio tanto que nós só ficamos juntos quando as coisas já estavam intoleráveis, mas Namjoon, obrigado.

Nós nos beijamos pela última vez dia 22 de setembro, pode ter sido muito perto de tudo, mas ainda assim, agora, escrevendo isso, eu amo o outono da mesma forma que eu amo você.

Obrigado por ser a minha âncora.

A.

-Kim Seokjin."

A...

O que “A” significa?

Quem ele pensa que é pra me fazer sentir saudade? Eu acabei de descobrir que não se despedir era muito melhor. Ele disse que queria contar tudo, mas ele não disse tudo o que eu queria saber!

Os pais dele... Ele teve que reconhecer os corpos dos pais dele e eu nunca precisei olhar para ele realmente morto, é mais uma sorte desgraçada que eu tenho e não mereço de forma alguma! Jin morreu com dezessete anos, eu tenho dezessete anos! Eu posso estar começando minha vida adulta, posso ser inteligente o suficiente para ser um ano adiantado na escola, mas eu ainda preciso dos meus pais! Da mesma forma que ele precisava.

Eu preciso deles e mesmo assim... Mesmo assim eu não dou valor e estou há um mês sem falar com eles.

Não sei se quero ter cuidado com aquela carta, não sei se quero ler outra vez, eu só apertei ela com força na minha mão, a amassando toda e corri para fora do meu quarto.

Eu não estava conseguindo respirar direito e estava chorando mundo, eu sentia um peso enorme no meu peito, me sufocando e fazendo meu peito tremer. Eu desci as escadas e quase caí umas três vezes, fiz tanto barulho com o meu desespero que meus pais correram para ver o que estava acontecendo.

- Namjoon! – Meu pai gritou.

Eu tropecei no último degrau e ele me pegou antes que eu caísse, mas ele caiu no chão junto comigo. Quando ele tentou me ajudar a levantar, eu não deixei, eu segurei ele com força e abracei para que não me soltasse.

- Filho...

- Ele estava sofrendo, pai. – Apertei mais o abraço dele e a carta na minha mão. – O senhor tinha razão... O que ele sentia por mim não impediu ele.

- Namjoon... – Ouvi a minha mãe dizer, mas eu não queria soltar o meu pai.

- Acabou, ele se despediu. – Tomara que eles estejam conseguindo me ouvir, eu estou tentando falar. – Me desculpem, eu não queria falar sobre isso, mas eu não quero perder vocês também.

- Você não nos perdeu. – Ele sussurrou pra mim e eu chorei ainda mais.

Eu queria morrer, queria seguir os passos do Jin. Eu queria estar com ele! Eu queria ele! Eu quero ele! Minha cabeça estava mais confusa que antes. Eu queria tanto poder ir até a casa dele e perguntar, pedir para que o meu melhor amigo tirasse minhas dúvidas, mas não podia, ele não estaria lá.

Então essa é a moeda de realidade pôs luto? Eu jamais conseguiria esquecer o Jin, jamais conseguiria amar outra pessoa como o amei e amo. Sempre vai ser ele! Eu não consigo me imaginar com outra pessoa. 

Sei que tudo isso pode passar um dia, que talvez chegue o momento que quando falarem o nome "Seokjin" recordando alguma memória, eu terei que fazer certo esforço para lembrar de quem se trata, mas até esse dia chegar, as pessoas certas vão me acolher e quem sabe me ajudar a chegar lá.

 Meu melhor amigo pode não estar mais comigo agora, mas não estou sozinho, tudo bem, a dor da falta que ele faz é maior que qualquer coisa, assim como o lugar que ele chegou a ocupar no meu coração, mas eu ainda tenho amigos, isso é bom...É ótimo, mas ainda não é perfeito, então por agora, abraçado com o meu pai no chão da sala, ouvindo a minha mãe chorar e esmagando os últimos pensamentos do Jin entre os dedos, eu digo que eu nunca vou conseguir esquecer ele.