Luan.
Ana dormia encolhida na cadeira, com a cabeça repousando em meu ombro e o simples movimento de mexer o pescoço me causou dor. Ainda estávamos no hospital, e o dia estava amanhecendo. Ficaríamos aqui até Jade acordar. Remexi-me desconfortável, e sem querer a acordei.
- Luan? – ela estreitou os lindos olhos azuis na minha direção.
- Tô aqui, amor. Acabamos pegando no sono. – respondi.
- Hmm, queria estar na sua cama. – ela falou ainda com a voz rouca, e escondeu o rosto com um sorriso no meu peito.
- Eu realmente queria que você estivesse na nossa cama. – dei ênfase no nossa. Ela precisava saber que minhas coisas também pertenciam a ela.
- Com licença, senhores? – o médico nos chamou e nos endireitamos. – A paciente já está acordada. A transfusão de sangue foi um sucesso, só precisamos de tempo para que ela se recupere totalmente agora. Se quiserem vê-la, posso conceder dez minutos.
- Você quer fazer isso? – perguntei a Ana, mesmo com a dúvida em seu rosto, ela assentiu que sim. – Tudo bem, vamos. – entrelacei nossos dedos e caminhamos até o quarto em que Ana estava.
Ana.
Eu estava nervosa, não sabia qual seria a reação de Jade ao nos ver, não sabia se ela já estava ciente que tinha perdido o bebê... Tomei coragem para empurrar a porta do quarto, ela pareceu não notar nossa presença e estava com os olhos fixados em sua barriga. Era uma cena de cortar o coração, e eu pude ver que o acidente foi feio, ela estava toda cheia de hematomas, o rosto com escoriações.
- O que estão fazendo aqui? – ela levantou a voz assim que nos viu.
- Como se sente, Jade? – perguntei.
- É piada? – ela revirou os olhos. Estava quase chorando. – Vocês vieram até aqui pra rir de mim?
- Jade, pelo amor de Deus! Todos nós ficamos preocupados quando soubemos do acidente. – Luan explicou. – Não é momento pra piada.
- Eu me sinto um lixo, se é isso que querem saber. Está satisfeito, Luan? Já sabe que o bebê era realmente seu? Perdi o meu filho, nosso filho, Luan! Acho que você não consegue entender isso. Eu ia ser mãe, já tinha comprado tanta roupinha, ele ia ser um menino lindo porque tenho certeza que ia puxar a você! – ela começou a chorar e sua voz saía atropelada pelas lágrimas. – Você nunca quis essa criança.
- Acha que não estou triste por ter perdido meu filho? Como eu poderia saber se era realmente meu? Separamos-nos e em questão de pouco tempo você aparece grávida, o que queria que pensasse? Nosso filho não está aqui, mas você está, ainda tem uma vida pela frente, vai poder engravidar de novo. Além do mais, Ana salvou a sua vida.
- O que quer dizer com isso? – Jade franziu o cenho.
- Eu doei meu sangue pra você. – gelei ao falar. – Você estava muito mal e... – antes que eu terminasse, ela se esforçou para gritar.
- Deveria ter me deixado morrer! Acha que quero viver num mundo sem meu bebê?
- Jade, se acalma. – Luan pediu.
- Não, eu não me acalmo, Luan! Ele era nosso! Sabe de uma coisa? Eu não vou poder engravidar de novo! Foi um aborto feio, nunca mais vou ter condições de ter outro filho. Eu odeio você, Ana.
- Eu salvei a sua vida! – me alterei.
- Não, você me condenou a viver pra sempre com essa dor e esse ódio dentro de mim. Eu disse que deveria ter me deixado morrer.
- Pare de ser mal agradecida. – Luan se intrometeu.
- Saiam daqui, sério. – ela pediu.
- É melhor irmos, ela não está bem. – puxei o braço dele e ele assentiu. O assunto já tinha se encerrado, era hora de ir embora. Como ela poderia me culpar? Demos as costas e quando segurei a maçaneta de porta, ela me chamou.
- Ana? – a voz gélida. Sem emoção, mas carregada de raiva. Virei-me e a olhei, Luan fez o mesmo. – Você vai me pagar. Eu não sei como, eu não sei quando, mas vai me pagar e não estou blefando.
- Isso é uma ameaça? – Luan interferiu.
- Não. É uma promessa.
Luan.
Ana parecia longe desde quando tínhamos chegado do hospital. Tudo que Jade tinha falado havia me incomodado bastante, porém decidi ignorar. Ela se acalmaria em algum momento e iria perceber que Ana tinha feito a coisa certa.
- Tá tão calada, amor. – estávamos deitados e um filme passava na tv, eu a envolvi numa conchinha e beijei seu pescoço.
- É impressão sua. – ela comentou. – Só tô cansada.
- Certeza? – a questionei. – Olha, eu não quero que fique pensando no que Jade falou, ela só está muito abalada.
- Ela falou com tanta convicção, tô com uma sensação ruim. – Ana admitiu.
- Não precisa ficar com isso na cabeça, estou aqui pra te proteger, esqueceu? Não vou deixar que ninguém te faça mal, princesa.
- Já que você promete... – Ela abriu um sorriso tímido e me puxou para um beijo.
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