Ana.
Acordei zonza e enjoada, minha cabeça processou rapidamente que eu estava num hospital. Tentei me levantar e só serviu para que eu ficasse ainda mais enjoada.
- Hmm, a mocinha acordou. – um homem alto, de jaleco entrou na sala portando uma prancheta. – Como se sente?
- Estranha, mas bem. – minha voz saiu mais baixa do que eu esperava. Ele caminhou até a minha cama e acendeu uma lanterna nos meus olhos.
- Você vai ficar bem, só precisa de repouso, soro e algumas medicações. Devo dizer que há umas pessoas lá fora bastante preocupadas com você, autorizo a entrada delas? – ele questionou.
- Sim, claro. – respondi. Luan devia estar louco comigo.
Voltei a ficar sozinha por uns dois minutos, até que Luan entrou quase correndo no quarto e me abraçou. Um gesto que me deixou muda, sem saber o que dizer. Seus olhos estavam arregalados, como se tivesse nervoso.
- Meu Deus, Ana! Fiquei tão preocupado, nós estávamos conversando e você desmaiou do nada... – ele falou apressadamente e sua mão fazia carinho na minha. Aquilo estava sendo demais, estava me deixando com o coração acelerado e eu também percebia que ele tomava cuidando para não machucar a região onde uma agulha tinha furado minha veia para trazer soro.
- Luan, desculpa. Eu estou tão sem graça! Não sei o que deu em mim, me perdoa? O seu amigo da agência, Deus, eu devo ter estragado tudo. – me lamentei.
- Shhh. – ele colocou um dedo sob meu lábio, fazendo com que eu me calasse. – Está tudo bem, resolvemos isso depois. O que importa é sua saúde.
Avistei Bruna na soleira da porta, com um sorrisinho no rosto e tia Mari passando apressada por ela. Espera, Bruna tinha assistido aquela cena? Que ótimo, agora ela teria bons motivos para alimentar sua paranóia.
- Minha filha, como você está? Que susto você nos deu! – ela fez um carinho no meu rosto e beijou minha testa.
- Desculpa, tia. Não queria deixar vocês preocupados, foi só um mal estar repentino. Luan, não precisava ter incomodado seus pais, nem a Bruna. – o repreendi. – Foi só um desmaio.
- Claro que precisava, somos sua família, esqueceu? – Bruna respondeu.
- É, a Bruna está certa. E você vem pra minha casa, Ana. – tia Marizete disse convicta e bufei.
- Eu tô bem, só um pouco enjoada. Não quero atrapalhar tia, e além do mais eu tenho que trabalhar..
- Você não tem que fazer nada, tem que descansar e eu vou cuidar para que você fique de molho uns dias. Nem adianta fazer cara feia, Aninha. – ela me deu bronca.
O médico então voltou a sala e parecia tranquilo.
- Ela vai ficar bem? – Luan perguntou.
- Sim, ela teve uma intoxicação alimentar que poderia ter sido grave. Senhorita Ana, lembra de ter comido algo estragado ou vencido? – ele se referiu a mim outra vez. Forcei minha mente a lembrar das minhas últimas refeições e aparentemente estava tudo certo.
- A Jade me ofereceu um pedaço de torta de chocolate de tarde, foi a última coisa que comi. Ela também estava comendo, e está bem, não é? talvez o problema tenha sido com meu estômago. – queria acreditar nessa teoria.
- Sim, Jade está bem. Que estranho. – Luan ficou pensativo.
- Não é só isso, Ana também está fraca. Tem se alimentado direito? Um desmaio desses poderia acontecer a qualquer horas, em qualquer lugar e lhe deixar em situações arriscadas.
- Ana? – tia Mari levantou uma sobrancelha. Ela realmente parecia uma mãe preocupada.
- Pulei algumas refeições nos últimos meses, eu andava preocupada, não sentia fome. – admiti.
- Nos últimos meses? Por Deus, Ana. Agora que você vai pra minha casa mesmo! – ela disse.
Luan.
Ok, eu estava intrigado com o fato de só Ana ter adoecido ao comer a mesma coisa que a Jade. Mas Jade prometeu mudar, e jamais faria algo desse nível para prejudicar outra pessoa. Ou faria? Fiquei tão preocupado, estava detestando vê-la frágil naquela cama de hospital e nem me preocupava em disfarçar, sabia que Bruna estava me analisando.
Bateram na porta, e um cara barbudo entrou. Não pude deixar de reparar no brilho que surgiu no olhar de Ana ao vê-lo. Quem era esse cara?
- Henrique?! – ela falou animada e se sentando na cama. Diferente de mim, ele a apertou num abraço. Será que ele não via que ela estava frágil? Minha vontade era de mandar que ele cuidasse direito dela.
- Aninha, senti sua falta. – ele bagunçou seu cabelo loiro e ela sorriu. – O que te fez vim parar aqui?
- É uma longa história. – ela respirou fundo. – Como você me descobriu aqui?
- Sabe que eu descobriria você em qualquer lugar, não sabe?
- Pessoal, esse é o Henrique, esqueci-me de apresentá-lo. Henrique é meu melhor amigo desde os tempos do colégio.
Ele foi simpático e cumprimentou minha mãe e minha irmã, dizendo que Ana sempre falava muito nelas e agradecendo por tudo que minha mãe havia feito por ela. Ele fez um gesto com a cabeça em direção a mim e respondi. Ele não era uma má pessoa, mas ainda assim não conseguia gostar dele.
{...}
O amigo de Ana foi embora rápido, e minha mãe passaria a noite com Ana e a levaria para sua casa na manhã seguinte. Bruna e eu saímos da sala para deixar que elas descansassem.
- Você tá sentindo alguma coisa por ela, sim. Não vá negar. – Bruna começou e antes que eu pudesse respondê-la, a vi correr na direção de Jade e partir para cima dela. – Sua bruxa! O que você colocou na comida da Ana? Se algo mais sério acontecesse com ela, eu nem sei o que faria! Ou melhor, iria desfigurar essa sua cara de pau. Como tem coragem de aparecer aqui? – Bruna a atacava e tive que segurá-la por trás para desapartar.
- Ficou maluca, garota?! Estou toda arranhada, olha isso. – Jade murmurou alto, com os cabelos desgrenhados e os braços cheios de arranhões. Bruna não tinha pegado leve com ela. – Eu só queria saber o que está acontecendo! Do que está me acusando? Luan, você não vai me defender?
- Se você não fez nada, por que precisa da minha defesa? Chega as duas. Bruna, eu me entendo com a Jade. E aliás, o que está fazendo aqui? Vamos nos resolver em casa. – saí puxando sua mão, deixando Bruna para trás e percebendo o quanto Jade estava sem graça e nervosa.
- E-eu não fiz nada, Luan! Acredita em mim. – ela disse assim que entramos no carro.
- Como você explica o fato de só a Ana ter passado mal, se vocês comeram a mesma coisa? – minha voz era intimidadora. Eu estava bravo.
- Você nunca falou assim comigo antes. Você mudou depois dessa garota! Acha que eu colocaria alguma coisa na comida? Isso é ridiculo. – ela revirou os olhos. – Meus braços estão ardendo. – reclamou.
- Jade, eu não estou brincando. Você tem culpa nisso ou não? É melhor dizer a verdade. – perguntei mais uma vez.
- Ok, eu só queria dar um susto nela. Não pensei que seria tão grave. – Jade confessou e minha raiva aumentou ainda mais.
- Um susto? Você podia ter causado algo grave a vida de outra pessoa. – liguei o carro e dei partida. – Eu nunca mais vou acreditar quando você me disser uma palavra.
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