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História Amor proibido - Histórias sobre ninfas


Escrita por: Kitty-Batsky

Notas do Autor


Oi, desculpem ter demorado.
Como disse, estive no Japão, e agora as aulas já recomeçaram. E praxe. Nas duas últimas semanas tenho acordado às 6 da manhã e chegado a casa por vezes às 8h da noite, por vezes até mais tarde.

Bom, tenho boas notícias, contudo.
Eu já escrevi, além deste capítulo, o epílogo e o prólogo da próxima temporada! E fiz a capinha para a 5ª fanfic também!

Agora ATENÇÃO!

Eu vou postar a próxima temporada agora, hoje mesmo (ou amanhã se ficar muito tarde entretanto). Sei que alguns de vocês, os que me seguem, vão receber a notificação, mas não caiam na tentação de ir lá ler. Eu vou postar o epílogo e nesse epílogo eu vou dar-vos o link da 5ª fanfic. Para todos.

Sobre este capítulo: ele é bem informativo no início! Para o fim acontecem coisas bem... inesperadas.

Praticamente tudo o que disse no cap sobre Alseídes foi inventado por mim. Por pesquisa apenas encontrei o seguinte parágrafo, repetido em vários sites:
“As Alseídes, na mitologia grega, são ninfas associadas aos bosques e suas flores. Habitam nos canaviais e arvoredos, costumam assustar viajantes que passam por seus domínios. Alguns poderes comuns das ninfas são a cura e a levitação.”

Portanto, tudo o resto fui eu que inventei!

Boa leitura!

Capítulo 34 - Histórias sobre ninfas


Fanfic / Fanfiction Amor proibido - Histórias sobre ninfas

Os raios mornos do sol de Maio iluminavam os campos de Hogwarts, tornando a temperatura bastante suportável. Já por todo o lado, encostados em árvores, em círculos na relva, se viam alunos sentados a ler, a conversar, a brincar ou a estudar. E eu, que já estava farta de estar fechada na biblioteca a pesquisar, também lhes seguira o exemplo.

Tinha um tronco rugoso e quente como encosto, o lago em frente aos meus olhos, e vários livros abertos espalhados pelo meu colo.

Molhei a pena num tinteiro que estava pousado de forma periclitante na relva e transcrevi mais uma frase de um dos livros que trouxera da biblioteca.

Suspirei de cansaço, entreguei o rosto à brisa do final da tarde, deixando que esta limpasse as gotas de suor da minha testa. Estava novamente com febre, efeitos da agradável poção que o meu amabilíssimo professor Snape me andava a dar de beber.

- Então, Vi, como vai isso? – Perguntou Makenna, surgindo por detrás de mim e pregando-me um susto enorme. – Pensei que estarias encafuada naquela biblioteca poeirenta, nos últimos dias parece que não sais de lá! – Analisou a minha postura exausta e respiração entrecortada e acrescentou: – Ena, não estás com bom aspecto. Foi por isso que decidiste vir apanhar um pouco de sol?

Forcei um sorriso na sua direcção, um que dizia “está tudo bem”, mas nada convincente.

- O tempo está bom, lê-se melhor assim às claras! – Expliquei. Afastei uma mecha de cabelos que tinha-se-me colado à cara com o vento e coloquei-a atrás da orelha.- Não consegui avançar muito nas pesquisas, porém… Tudo o que encontro já li em outro livro. Queria tanto saber mais, mas parece que cheguei a um beco sem saída.

- Posso-te sempre arranjar umas coisinhas na secção restrita… - Sugeriu Makenna, com um sorriso de canto safado, mortinha por ter uma desculpa para fazer asneiras. Mas abanei a cabeça numa negativa. Duvido que haja muito mais sobre Alseídes na secção restrita. São criaturas perigosas, mas não obscuras. Claro que, se daqui a duas semanas realmente não encontrar nada, não custará tentar… Mas por enquanto prefiro continuar a pesquisar sem quebrar as regras.

Makenna agachou-se ao meu lado e tentou ler o pergaminho no qual eu escrevia por cima do meu ombro.

- Não achas que estás a levar isso demasiado a sério? Tipo, o que aquela Francesinha te disse… Pode não significar nada. Ela pode só ter querido pregar-te uma partida porque está com inveja de ti.

- Antes fosse… - Sussurrei, um pouco desanimada. Tudo aquilo que descobrira já sobre Alseídes estava a formar-me um nó no cérebro. Eu começava a achar que aquilo tinha realmente que ver comigo. Eu só ainda não tinha a certeza de onde eu me enquadrava naquela história. Fleur Delacour dissera que estava na cara que eu era parte Alseíde. De facto, estava literalmente na cara. Os meus olhos são como os de uma Alseíde. Mas se fosse só isso, tudo bem, seria uma coincidência. O problema é que não era só isso. Eu tenho um montão de semelhanças com essas ninfas dos bosques, demasiadas para que que possa negar que tenho um parentesco com elas, seja ele qual for.

Notei que Makenna ainda tentava ler aquilo que eu tinha escrito no pergaminho, aquilo que andara a transcrever de vários livros. Passei-lhe o manuscrito:

- Podes ler à vontade! Foi tudo o que, de importante, descobri em todas estas semanas. Como vês, não é muita coisa. Mas… consegues entender agora porque estou preocupada? A Fleur tem razão! Eu sou parte Alseíde! Mas como, como? – Makenna colou o dedo indicador dela nos meus lábios, calando-me, ainda com os olhos no pergaminho, lendo na diagonal toda a informação que nele estava exposta.

Existem três tipos de ninfas no mundo mágico: as do ar (Veelas), as terrestres (Alseídes) e as da água (Náiades). Apesar de aparentadas e, como tal, terem características em comum, têm características únicas que nos permitem diferenciá-las.

As Alseídes são ninfas associadas aos bosques e suas flores e habitam nos canaviais e arvoredos. São bastante menos conhecidas que as Veelas ou as Náiades, isto porque não se mostram tanto como as suas companheiras do ar ou da água. Veelas são menos “tímidas” e as Náiades têm menos território (habitam apenas em fontes, rios, nascentes, lagos e pântanos). A característica mais marcante que podemos encontrar numa Alseíde é a cor peculiar dos seus olhos, que são dourados à semelhança de felinos, aves de rapina e outros animais predatórios. Costumam ter cores de cabelo que se confundem na escuridão (preto) ou na vegetação (castanho, verde, amarelado ou alaranjado) conforme são nocturnas ou diurnas. Não sabem falar o idioma humano mas têm uma forma de comunicar com a Natureza por gestos corporais extremamente precisos pelo que até quem nunca estudou uma pode compreender algo do que elas querem transmitir. Podem, assim, “falar” com animais de uma forma instintiva. Têm inteligência humana e uma magia própria, feita sem o uso da varinha. Têm especial habilidade para curar e profetizar e podem levitar até cerca de dez metros do chão, o que as permite chegar facilmente às copas das árvores (primordialmente desenvolviam até pequenas asas, característica que perderam com o passar do tempo).

Têm uma longevidade que ultrapassa em muito a humana, e não envelhecem. Podem ser mortas com feitiços, força bruta, armas comuns, veneno, asfixia, afogamento, incineramento, gases tóxicos, entre outros. É desconhecida a forma como se reproduzem. Se existem machos na espécie, nunca foram avistados, contudo, é possível que existam, em muita menor quantidade que as fêmeas, uma vez que estas têm órgãos reprodutivos funcionais. Como Alseídes podem viver por várias centenas de anos há um método biológico natural que mantém o número de ninfas sempre estável. Uma ninfa morre ao dar à luz. Ainda se carece de estudos para se entender como isto acontece. Estima-se que, supondo que existem machos, 99% dos recém-nascidos sejam fêmeas. Um macho provavelmente engravida várias fêmeas durante a sua vida. O parto de gémeos, trigémeos e quadrigémeos é regra e não a excepção.

Alseídes, apesar de terem uma beleza estonteante, característica de ninfas, são bastante perigosas. Não apresentam evidências de crueldade, porém, são predadoras e vêem o humano como outro animal qualquer. Há relatos de vários viajantes que foram caçados nas florestas por Alseídes famintas. Ao contrário das Veelas e Náiades, que sabem como usar a sua aparência física como chamariz para homens, Alseídes parecem bastante alheadas do efeito que têm nos machos da espécie humana e caçam utilizando os poderes, emboscadas e perseguições.

Apesar da sua periculosidade, há feiticeiros que tentam relacionar-se com elas, e, como tal, existem híbridos. Um meio-Alseíde herda do pai feiticeiro os poderes e a aparência da mãe Alseíde. Os traços de ninfa persistem durante várias gerações. O neto de uma Alseíde é um quarto-Alseíde, o bisneto um oitavo-Alseíde. Na família onde entra uma Alseíde começam a nascer naturalmente muito mais meninas. Alguém com sangue de Alseíde odeia ser confundido com alguém com sangue Veela ou com sangue de Náiade. As três espécies de ninfas possuem entre elas uma rivalidade bastante forte, sendo por isso que, supomos, tenham dividido os territórios no começo dos tempos.

- Estou a ver… - Murmurou Makenna, que agora me acariciava os cabelos como se eu fosse um cachorro doente que precisava de cuidar. – Os olhos, a beleza estonteante, a tua dificuldade em usar a varinha, o facto de falares com os animais… É realmente demasiado para ignorar.

Afastei-me dela e procurei na minha biblioteca ambulante um outro livro que lhe queria mostrar.

- Tem aqui isto também! Ainda não copiei, mas deve ser das coisas mais cruciais que achei até agora.

- “Histórias de amor bizarras – Relatos verídicos” – Leu Makenna na capa do livro que eu lhe passei para as mãos, antes de o abrir na página que eu marcara.

Merle e a ninfa

Em meados do século XVIII viveu um feiticeiro influente, abastado, puro-sangue. Muitas meninas queriam desposá-lo, mas o homem estava indeciso, não estava certo de querer casar-se.

Uma noite decidiu enveredar por um bosque que ainda não havia explorado, pretendendo fazer uma das caçadas nocturnas de que tanto gostava. Achava-as excitantes, as presas eram mais difíceis de achar, os trilhos eram menos desenhados…

Perdeu-se dos seus amigos e foi assim que conheceu a mulher por quem perdidamente se apaixonou.

Ela não era humana, Merle percebeu isso assim que pôs nela os seus olhos. Era demasiado encantadora para ser uma mulher comum. Estava sentada num ramo de árvore, nua, penteando os longos cabelos negros. A pele parecia perolada à luz da lua. Voltou para ele uns olhos dourados faiscantes, que o deixaram hipnotizado. Por momentos ficou somente encarando-o, parecendo ela mesmo um pouco perplexa com a companhia, antes de partir, levitando até ao chão e pondo-se de seguida em fuga.

Merle deixou de comer, deixou de dormir, de tão louco de amor e desejo. Não conseguia parar de pensar na bela criatura da floresta, de como queria levá-la para casa, tocar o seu corpo, acordar ao lado dela todas as manhãs, desposá-la…

Todos o avisaram “cautela, que é uma Alseíde, é perigosa! Não podes com ela comunicar, tiveste sorte que devia estar de barriga cheia, ou tinha-te comido”. Mas os conselhos dos amigos, para que ele não voltasse a procurá-la, foram vãos. Um homem tão apaixonado não tinha tino.

Voltou a encontrá-la várias vezes. As conversas nunca eram muito produtivas, mas ele adorava vê-la. Começou a achar que talvez ele também a agradasse, pois se ficava a ouvi-lo falar…

Então tentou tocá-la uma noite, mas foi prontamente agredido, a Alseíde mostrou dentes afiados e cravou-os no seu ombro, obrigando-o a fugir para salvar a vida.

Isto não fez Merle desistir dos seus intentos de a conquistar. De facto, voltou a arriscar-se muitas mais vezes, voltava para junto dela sempre com um sorriso no rosto e muitos presentes, que quase sempre eram rejeitados.

As pessoas que lhe eram próximas levavam as mãos à cabeça, estupefactas e tristes, gritavam-lhe, diziam-lhe que ele nunca ia conseguir desposar uma Alseíde, nada do que ele fizesse iria fazê-la entender o que era amor. Chegaram a sugerir-lhe que a capturasse e violasse, mas Merle sempre se opôs à ideia, repudiava-a.

O espanto foi grande quando Merle finalmente veio do bosque com a ninfa aninhada no seu peito, os fascinantes olhos arregalados de medo, medo daquela sociedade diferente da dela. Levou-a para casa, trancou-a lá para a proteger dos indiscretos olhares dos vizinhos. Semanas depois já estava marcado o casamento. Teve uma filha com ela, o que lhe trouxe ao mesmo tempo grande felicidade e grande tristeza, uma vez que o nascimento da pequena meia-Alseíde matou o seu grande amor.

A todos vocês, que estão curiosos, a quererem saber como afinal Merle conseguiu conquistar a sua amada ninfa, respondo-vos com suposições.

Dizem, e isto já é lenda, que o homem cortou o seu braço esquerdo e o ofereceu como refeição. Que foi com este ato que levou a ninfa a confiar nele.

Não há realmente provas de que isto aconteceu, de que Merle se pôs de joelhos na frente dela, com o seu braço ensanguentado envolto num manto branco, mas a verdade é que Merle antes de ter encontrado a ninfa tinha os dois braços. E, de um momento para o outro, lá tinha o esquerdo desaparecido.

Makenna soltou o ar por entre os dentes, num silvo:

- Assim, sim! Quero que o próximo que pretenda namorar-me me dê um braço como prova da sua devoção!

Ri com gosto, só Makenna para dizer esse tipo de coisas. Ela voltou a passar os olhos pelo papel, procurando algo:

- Esse Merle não tem sobrenome, não? Algo como Melmarine? – Engoli em seco. Ouvir Makenna juntar o meu sobrenome ao nome daquele feiticeiro da história pesava-me no coração. Subitamente sentia-me mais ligada a ele e ainda nem tinha a confirmação de que era um ancestral meu.

- Não encontrei nada e bem procurei! Vou ter que continuar as buscas…

- Tem uma coisa que não entendo! – Interrompeu-me Makenna. – Pensava que a tua família era toda constituída por Muggles. Não foi isso que a tua mãe te disse? Que nunca tinha visto magia? Que o teu pai era Muggle como ela e que morreu?

Corei, o que não passou despercebido a Makenna. Sim, a minha mãe dissera-me exactamente isso. Mas nunca acreditei realmente na suposta morte do meu pai. Das raras vezes que pedi à minha mãe para irmos visitar o seu túmulo, ela desculpava-se dizendo que este ficava num cemitério de uma cidade um pouco longínqua. Isso era quanto bastava para me convencer em criança. E, quando cresci, comecei a ter medo. Medo de descobrir que ele realmente era vivo e que não se importava comigo nem com o resto da minha família, que tinha fugido com uma outra mulher qualquer. Nunca quis realmente colocar a minha mãe contra a parede num assunto que lhe parecia causar tanta dor… Mas talvez tivesse chegado a hora de o fazer.

- Tens de ter uma conversa com ela… - Constatou Makenna, que parecia conseguir ler os meus pensamentos. – Escreve-lhe uma carta!

- Não! – Neguei, de imediato. – Isto é algo importante demais, devo falar-lhe pessoalmente quando chegarem as férias do Verão.

Makenna colocou as mãos nos meus ombros e virou-me bruscamente para ela, os seus olhos perfurando os meus.

- Do que tens tanto medo?! – Exasperou-se, e, ao ver a minha expressão amedrontada, largou-me e desculpou-se, com um tom de voz bem menos bruto: - Desculpa se te assustei.

Mas eu não me tinha assustado por causa dela, mas sim por causa dos indícios que começavam a aparecer por todo o lado. Eu tinha medo deles. Do incêndio que eu vira deflagrar nas minhas recordações aquando um Dementor me tinha tentado dar o beijo. De uma melodia de waltz decorada com sons de gritos e de um copo a estilhaçar-se. E havia também as palavras de Moody Olho Louco: “Há segredos que devem morrer connosco, madame! Que devem ser enterrados juntamente com o nosso corpo e apodrecer debaixo da terra. Se soubesse do que falo, implorar-me-ia para que cosesse a minha boca”.

A naúsea invadiu-me, e uma vez mais praguejei contra a poção de contenção dos poderes. Aquela porcaria deve ter cá uns ingredientes... Arsénico deve estar entre eles…

Meti a cabeça entre as pernas. Já tinha vomitado naquele dia e não queria vomitar outra vez.

- Eu tenho um mau pressentimento… Só isso! – Respondi, ainda encarando a relva entre os meus pés.

- Vai-te fazer bem saber toda a verdade! – Opinou Makenna. – Agora que já começaste não há como parar, não é? Isso vai-te assombrar a vida toda se o tentares ignorar. – Os meus lábios curvaram-se para cima um milímetro, num sorriso sem humor. Do jeito que a minha amiga fala parece que estou amaldiçoada. Talvez esteja mesmo. Makenna, então, soltou um resmungo: - Vem aí alguém!

Fechei os livros e escondi os apontamentos à pressa. Não sei porque o fiz. Não é nada comprometedor encontrarem-me a estudar sobre Alseídes. Posso ser uma mera curiosa a querer saber mais sobre criaturas mágicas, não é verdade? Porém, a ideia de alguém de quem não sou próxima ver estes manuscritos deixa-me envergonhada.

Quando vi Moody a passear pela margem do lago, a poucos metros de nós duas, tão lentamente como um leão que vigia a sua presa, senti-me ainda mais aliviada por ter escondido as minhas coisas. Não imagino o que aquele homem sabe sobre mim, mas sei que é bastante. Contudo, não tenho qualquer vontade de lhe ir perguntar coisa alguma. Olhou para mim, as duas mãos apoiadas na bengala, uma sobre a outra. O seu olho azul não rodopiava, estava como que a tentar ver através de mim. E então a sua língua saiu da boca e delineou os lábios, como a bifurcada de uma serpente, o que me deixou com calafrios que em nada se deviam à pouca febre que me vitimava.

- Porque não pedes ajuda à Hermione? Ela é perita na matéria! – A voz de Makenna parecia vir de muito longe. Não conseguia desviar o olhar de Moody, daquele sorriso pérfido. Só voltei a mim quando senti um toque no braço.

- Ela… Ela está ocupada com outros assuntos… - Balbuciei. Procurei concentrar-me, agir naturalmente. Por sorte, Makenna não insistiu em saber quais os assuntos com que Hermione estava ocupada, os quais eu não queria mencionar na frente do professor. Nos últimos meses, ela andava a ser difamada em artigos escritos pela Rita Skeeter e, portanto, metera na cabeça vingar-se, descobrir por que meio ilegal é que a venenosa mulher a andara a espiar. Além disso, tinha que conciliar isso com os estudos e também tinha que ajudar o Harry a preparar-se para a terceira prova. Era muito trabalho!

- Então se não vais pedir ajuda a ninguém, é melhor estudares essa matéria toda bem estudadinha. – Volveu Makenna, que ignorava a presença de Moody com espantosa perícia.

- Tu não? – Era uma pergunta estúpida. Eu sentia-me estúpida.

- Não preciso, tolinha! Há gente naturalmente dotada, eu nasci nesse lote. Também há gente lentinha… - Olhou-me com falso pesar, arrancou-me um sorriso. – Mas estou a falar a sério! És meio burrinha, e os exames já estão aí à porta! – O meu sorriso murchou e olhei-a irada. Eu não sou estúpida! Bem sei que os exames começarão não tarda, em meados de Junho. Eu tenho estudado. Pouco, mas alguma coisa. Não andara só a ler sobre Alseídes.

- Não sei se a tua bruta honestidade me faz ter admiração por ti ou se me irrita! – Confessei.

Nesse meio meio tempo, Moody partira finalmente, seguira o seu caminho com a maior das caras de pau, como se não tivesse estado todo aquele tempo a olhar descaradamente para mim.

- Finalmente aquele esquisito se foi! – Desabafou Makenna. – Estava a ver que não! Não gostei nada da forma como ele te estava a comer com os olhos. Está-me a crer que é um pedófilo…

- Que viagem, Makenna! – Repreendi, mas ainda tinha os pêlos da nuca em pé.

**********************************************************************

Harry e os outros campeões tinham começado a prova há já duas horas. Nesse meio tempo, tinham sido lançadas faíscas vermelhas uma vez. O campeão que as enviara deve ter ficado inconsciente, porque não o vimos regressar. Devem tê-lo levado para a enfermaria por uma outra via que não a entrada principal do labirinto, para não alarmar os espectadores.

Todos debatiam sobre quem seria esse campeão, que já tinha sido eliminado da prova. As apostas iam de coisas inocentes, como barras de chocolate, a grandes quantias de dinheiro.

Estava sentada nas bancadas, perto de Ron e Hermione, com o coração nas mãos, perguntando-me como Harry se estaria a sair, se estaria bem. «Mas claro que sim, Dumbledore não vai deixar que nada de muito mau aconteça. Estes jogos já não são como antigamente, em que havia mortes. E ele também se safou muito bem nas últimas duas provas», Procurei acalmar-me. Comprei um pacote de pipocas ácidas a uma senhora que se passeava por ali com um carrinho de doces. Quando voltei para o meu lugar encolhi-me toda, com um pouco de frio. Era já noite e a bruma que rastejava por entre as altíssimas sebes dava ao local um ar húmido de desagradável.

Tentei imiscuir-me na conversa que Ron e Hermione estavam a ter, mas eles discutiam, portanto todas as minhas tentativas foram inúteis. Ron insistia que deviam ter treinado com Harry um feitiço que fazia o adversário caminhar para trás, mas Hermione contrapunha que teria sido perda de tempo. “Como se o Alarte Ascendare fosse mais útil…” resmungou.

Estava ali, reduzida à posição de velinha, quando senti um toque no ombro. Ao virar-me deparei-me com Blaise, que sorria gentilmente. Ao ver a minha expressão assustada o seu semblante entristeceu-se.

- Só queria saber se está tudo bem contigo. Tens faltado um pouco às aulas e estás com um ar não muito saudável.

Suspirei. Já tinha respondido àquela pergunta muitas vezes. Vários alunos tinham reparado que eu andava muito fraca, como se padecesse de uma virose. Digo-lhes que sim, que têm razão, é mais fácil que lhes explicar que ando a tomar uma poção de contenção de poderes porque tudo leva a crer que herdei as capacidades místicas de uma Alseíde.

- Estou um pouco doente… - Menti mais uma vez. Virei-me para a frente, na esperança de que Blaise fosse embora. Mas ele não foi.

- O Draco está em Durmstrang. O pai dele enviou-o para lá! – Foi como se me tivesse caído algo muito gelado no estômago. Andara a evitar Blaise porque temia que ele me fosse dar notícias do Draco. – Tem-me escrito de vez em quando. Queres dizer-lhe alguma coisa? Eu posso comunicar-lhe a mensagem e…

- Não quero dizer nada! – Cortei, asperamente.

Estava irritada. Não com Blaise, mas comigo mesma. Saber que Draco estava em Durmstrang fazia-me ter vontade de fazer as malas e viajar até lá. Agora se para lhe bater, se para o beijar eu não tinha a certeza. Provavelmente faria as duas coisas. Ao mesmo tempo. Mas ele fizera a sua escolha e eu não devia interferir. Não ia persegui-lo como uma desesperada.

Olhei por cima do ombro. Blaise coçava a cabeça, constrangido, sem saber se devia acrescentar algo mais ou voltar para o seu lugar junto dos outros Slytherin.

- Não é porque eu e o Draco nos separámos que não podemos continuar amigos. – Comentei, com um sorriso pequeno mas honesto. – Apenas não fales comigo sobre ele.

Blaise acenou com a cabeça em como entendera, e foi embora.

Ron e Hermione olhavam para mim, muito quietos, tinham assistido a todo o desenrolar da conversa.

- Não estavam a discutir? Porque pararam? - Vi-os a trocar olhares. Desagradava-me a ideia de estarem com pena de mim. O que há para ter pena? Foi só um namoro que deu errado. Que sempre se soube que iria dar errado.

Alguém gritou na multidão. Vários dedos começaram a apontar para o meio do campo relvado e nu que antecedia a entrada do labirinto. Duas pessoas tinham aparecido ali, do nada. Mesmo àquela distância era possível perceber o brilho flácido da taça dos três feiticeiros.

- É o Harry! O Harry tem a taça! Ele ganhou! – Exclamou Ron, bem alto, todo contente, pulando do assento.

- O Cedric Diggory está no chão! Está desmaiado! – Notou Hermione, segurando o braço de Ron e semicerrando os olhos para tentar perceber melhor o que via. – E o Harry está no chão também, mas está a apertar a taça.

- Ele há-de estar bem! O nosso Harry é campeão! – Volveu Ron, com um sorriso de orelha a orelha.

Eu já mal os conseguia ouvir, todos estavam a fazer muito barulho. Festejavam, tinham-se levantado dos lugares e corriam para o relvado, acotovelando-se. Todos queriam ser os primeiros a chegar junto de Harry. Ron e Hermione também seguiram a multidão. Eu não. Não queria ser atropelada. Ia demorar séculos a conseguir chegar junto dele, se calhar até ia conseguir ver melhor as coisas dali de cima. Mais tarde, na torre dos Gryffindor, durante a festança, falaria com ele.

Reconheci Dumbledore, chegando junto de Harry e colocando-o de pé. Não conseguia ver-lhes os rostos, mas percebi que Harry deveria estar muito fragilizado. Não tinha postura de quem se estava a aguentar muito bem sobre os pés.

Então, o círculo de pessoas fechou-se ao redor dos dois. Já não conseguia ver Harry, nem Dumbledore, nem Cedric, nem Ron, nem Hermione. Tudo não passava de uma argamassa de cabeças e barulho.

Os clamores de vitória tornaram-se guinchos atrozes. Não entendia o que estava a acontecer, mas percebi que algo tinha dado muito errado. Precipitei-me escadas abaixo (agora era a única nas bancadas vazias) mas escorreguei e caí de rabo no chão.

“Ele morreu!”, “Morreu!”, “O Cedric Diggory”, gritava-se por todo o lado. Primeiro pensei que aquilo não passava de um falso rumor. Só podia ser. Alguém vira Cedric desmaiado, talvez a sangrar, assustara-se, e acabara por contagiar toda a multidão com os seus temores.

Mas o relógio continuava a trabalhar, e a histeria a aumentar. Porque ninguém desmentia o falso rumor? Porque não ouvia gente a gritar “Pessoal, foi falso alarme, ele está bem!”?

Levantei-me do chão, esfregando o rabo dorido, e pus-me a observar a multidão novamente. Aquele círculo que se movia e respirava como se fosse uma só criatura. Algo captou a minha atenção. Dois pontos negros destacaram-se do magote e seguiram noite adentro em direcção ao castelo. Não me custou reconhecer Harry, pela estatura, ele coxeava agarrado a um homem. Era…

Corri pelas bancadas desocupadas, para conseguir um melhor ângulo de visão sobre os dois indivíduos. Sim, eu não estava errada! Era Moody Olho-Louco! Era ele quem estava a levar Harry para o castelo.

Tive medo pelo meu amigo. «Medo porquê, Viviane? O professor vai apenas levá-lo para a enfermaria.», Repreendeu-me a minha mente, mas eu ignorei os pensamentos racionais e fui atrás deles. Queria lá saber se o meu medo era ilógico! Não queria ver Harry sozinho com Moody.

Atravessar a multidão foi um desafio, a confusão era tanta que demorei séculos a chegar ao outro lado do campo. E, com isto, perdi-os completamente de vista.

Corri até à enfermaria, mas a madame Pomfrey disse-me que Harry nunca ali chegara. Ainda por cima, dado o meu pânico, ficou alerta, e reteve-me com mil e uma questões. Foi um suplício convencê-la de que eu não sabia de nada. Viktor Krum estava numa das macas, desperto, mas com as cortinas corridas, procurando privacidade.

Da enfermaria fui para o castelo. Pensei que talvez Moody tivesse levado Harry para o seu gabinete. Para conversarem em particular. Os corredores estavam tão desertos que os meus passos ecoavam nos ouvidos.

Quando cheguei à porta do gabinete de Moody deparei-me com uma cena bizarra. Um homem magro, pálido, com cabelo cor de palha e enormes olhos delirantes estava amarrado com cordas, encostado numa parede. Lutava para se libertar, mas estava tão claramente atordoado que não conseguia. Quem era ele?

A língua saiu da sua boca, molhou os lábios, voltou, emitiu um silvo. Aquilo… Aquilo fazia-me lembrar Moody.

Notou a minha presença, pois eu estava mesmo na sua frente, somente levemente escondida pela porta entreaberta.

- Mademoiselle… Gostas quando te chamo assim? – Agitou as pernas furiosamente, deixou tombar a cabeça para trás e soltou uma gargalhada demente. – A tua mãe gostava!

Tentei avançar para dentro da divisão, mas a professora McGonagall apareceu à minha frente. Eu não vira que ela estava dentro do gabinete. Estava branca como um fantasma, muito séria.

- Mrs.Melmarine, o que faz aqui? Volte para junto dos seus colegas! Este homem é perigoso! – Tentei ver por cima dos seus ombros. Perigoso ou não, falara da minha mãe. Ele era… Moody?

Quis recusar-me a sair, mas a minha garganta estava seca demais para emitir um som que fosse. A professora facilmente me fez recuar e fechou a porta na minha cara.

- Ela fodia muito bem! Fodia muito bem! – Ouvi-o gritar, por detrás da porta que McGonagall acabara de trancar. Bati na porta com mãos trémulas mas não tive resposta. Depois daqueles berros loucos seguiu-se um silêncio mortificante. Calculei que a professora McGonagall tivesse feito desmaiar o homem com um qualquer feitiço.

Fiquei especada ali, com as palmas das mãos sobre a madeira, um sentimento enorme de irrealidade a apoderar-se de mim.

O que raios acabara de acontecer? Parecia uma cena saída de um dos meus pesadelos esquisitos.

Snape teve que vir descolar-me da porta. Levou-me para a enfermaria, disse que eu teria que esperar ali se quisesse ver Harry. Estava, agora que penso nisso, extraordinariamente gentil.

E eu deixei-me ir, deixei que me levassem dali sem respostas. Não imaginava que nunca mais seria capaz de confrontar aquele homem insano. Um devorador da morte, chamado Barty Crouch Jr.. Naquela mesma noite, aquela noite tão negra, ele foi condenado ao pior dos castigos. Teve a sua alma devorada por um Dementor.

As condições em que ficou, após o beijo, não lhe permitiam que respondesse a qualquer interrogatório.

“Há segredos que devem morrer connosco, madame!” Dissera-me uma vez. Aquele ele levara para o túmulo.


Notas Finais


Música capitular: The Voice (Celtic Women)

https://twinningforbooks.files.wordpress.com/2015/05/mind-blown.gif

Feeling this boss now:
http://big.assets.huffingtonpost.com/reesedrivingoffCIbye1.gif
Because I know you all are so confused right now!

Barty Crouch e a mãe da Viviane?!
Bom, vocês com certeza não estavam à espera dessa!
A menos que eu esteja enganada e vocês já tenham matado a charada.
Mas penso mesmo que não, há todo um enorme background envolvido! Tanto que a 5ª fanfic é só praticamente acerca de desvendar esse novelo de lã.

O que acharam? Teorias?
Agora esperem outra bomba no epílogo!

Uma nota à parte: Aquela língua do Barty ( ͡° ͜ʖ ͡°)

Se não leram as notas iniciais, VÃO LER! É importante!


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