O resto da semana não surpreendeu a coreana, que curiosa demais quanto a quem era a dona do sorriso que já tinha desenhado por vezes sentia - se boba ao encarar todo o trabalho feito.
Queria contar a alguém o que estava sentindo, mas como explicar algo que nem mesmo você entende? Estava apaixonada por uma desconhecida? Amor à primeira vista? Seulgi não acreditava nessas coisas. Ah, se ela ao menos tivesse pago no cartão de crédito.. Se lamentava, esquematizando planos infalíveis que colocaria em ação se soubesse o nome da jovem.
Na quarta feira seguinte a ansiedade não pôde ser evitada. Seus pais estranharam a animação que ela exalava. Seulgi era sempre preguiçosa de manhã, mas naquele dia tinha acordado mais cedo, passado as roupas e até mesmo ondulado os cabelos castanhos com aqueles apetrechos de vovó.
— Vai tirar o dia de folga, querida? — Perguntou a Sra. Kang, passando os dedos pelos cabelos da mais nova.
— Não, mãe.. Por que?
— Ah, por nada.. Está toda bonita, imaginei que ia sair.
— E quem ia querer sair com essa chata aí? Não sabe nem passar um batom direito, tá borrado aqui, ursinha! — Invasivo como sempre, Minhyuk apontou o dedo para o borrão não tão aparente quanto ele fazia parecer só para importuna - la e riu de sua cara.
— Aish! Sai daqui, garoto! — Irritada e constrangida com toda aquela atenção desnecessária, deu tapa na mão do mais velho. — Você é muito chato. Idiota..
— Ei, ei, ei.. Vão começar cedo hoje? Guardem a energia para o trabalho, nós temos muito o que fazer, vamos logo.
— Mas você nem tomou café, pai!
— Você coloca na garrafa térmica pra mim, ok? Vamos, vamos.
— É, ursinha, você coloca na garrafa térmica.
— Para de me chamar assim! — Protestou a caçula, ajeitando tudo como lhe fora pedido. — Mãe, olha ele, faz ele parar. Ele já tem 25 anos na cara!
— Minhyuk… — Ela advertiu e felizmente o mais velho decidiu se comportar, apesar de ter beliscado o braço da irmã várias vezes durante a viagem curta até a floricultura. Ela o ignorou, como sempre. Ele gostava era de atenção.
As horas passaram devagar pela manhã. Era um dia ensolarado e de clima agradável, não muito quente e com pouca possibilidade de chuva. Havia mesmo muito trabalho a fazer. A lista de tarefas parecia interminável e seus dedos já doíam de tanto torcer arames e montar arranjos.
Quando o relógio bateu cinco e meia, Seulgi começou a se sentir boba. Tinha se aprontado para nada, nem mesmo sabia porque tinha feito tudo aquilo. A frustração veio trazendo um constrangimento que a levou a se trancar no quarto até a manhã seguinte, quando, preguiçosa, levantou apenas porque era dia de ver sua prima Yeri. Ela sempre fazia tudo parecer menos pior.
As semanas seguintes não lhe surpreenderam. Muito trabalho, a festa de aniversário de Minhyuk e seus amigos escrotos fazendo bagunça pela casa, alguns desenhos na lixeira do quarto e um mês já tinha se passado desde a visita da qual sentia tantas saudades. Ela não devia ser dali, de qualquer jeito nunca tinha a visto e considerando que conhecia muita gente isso era estranho.
A única coisa boa do mês foi receber a notícia de que um novo volume de um dos mangás que acompanhava já estava disponível nas lojas da capital. Vantagens de morar na cidade, vantagens. Ela comemorou sonoramente quando recebeu a notícia através de Yeri, que a enviou uma imagem do anúncio pelo Line.
“Seulgi-ah! Olha, olha! A gente tem que comprar, falaram que a metade do estoque já foi! É urgente, unnie!!!!” Dizia a mensagem de texto anexada a foto.
“Mas unnie, eu não tenho dinheiro esse mês, eu gastei tudo com esses stickers..” Adicionou a mais nova, mostrando a seguir sua coleção de stickers animados do aplicativo.
“Eu compro pra você. Me deve essa.”
“Jinjja??? Unnie, você é a melhor!!”
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Era uma terça feira chuvosa e de muita movimentação nas ruas, ou as primas tinham simplesmente escolhido o pior horário para ir até a loja de quadrinhos e mangás - na pressa, decidiram aproveitar o horário de almoço.
Chegar até loja sem se molhar foi quase impossível. Respingos de chuva tinham desfeito metade dos cachos artificiais de Seulgi e sujado a barra da calça de Yeri, que reclamava do clima por esta ser a sua favorita.
— Ai. Que saco.. Vamos logo, me molhei toda e ainda tô com fome. — Se queixava.
— Certo. Eu vou dar uma olhada nos quadrinhos e você pega os mangás. — Dito isso a mais velha seguiu para a sessão onde ficavam as histórias de heróis famosos para procurar algo de seu interesse.
Achou pouca coisa, quase nada que de seu gosto. Decidiu levar alguns para testar e foi atrás de Yeri na sessão que parecia estar em festa com o lançamento de mais um volume do romance histórico.
Não estranhou vê - la gesticulando e falando muito alto, mas não estava reconhecendo quem era a garota com quem ela dava risada. Precisou se aproximar, e quando estava a poucos metros das garotas seu corpo congelou.
Era ela. Tinha certeza de que era ela. O que fazer? Deus, e agora? Meu cabelo está todo bagunçado, pensou. O desespero agarrou - se em suas costas e ela quis correr ao vê - la ali mostrando outros exemplares de quadrinhos que estava levando para casa a sua prima.
Tudo pareceu parar por um momento, assim como quando a viu sorrir pela primeira vez. Ela tinha que se mexer, tinha que ir lá, mas o que diria? Oi, olá, como vai?! Eu não vou conseguir, eu não vou conseguir.. Repetia para si mesma enquanto se esforçava para retomar a coordenação das pernas.
Seu impasse durou até Yeri a vir, e escandalosa como sempre, puxá - la para perto da nova amiga. — Vem, garota! Deixa de ser bicho do mato, dá oi pra Joohyun! Oooi Joohyun! — Segurando em seu pulso, a mais nova imitou sua voz e cumprimentou a coreana em seu lugar. Que vergonha..
— O-oi.. Joohyun. Eu sou a Seulgi. — Tentando disfarçar a timidez, sorriu minimamente, mas sem olhar nos olhos que a visitavam em seus sonhos.
Graciosa e simpática, Joohyun riu e lhe estendeu a mão, costume não muito cultivado pelos asiáticos. Seulgi franziu o cenho, e acanhada, apertou a mão quentinha da morena. — Ah! Me desculpe, eu posso explicar.. Eu cheguei há pouco tempo, ainda não perdi o costume de apertar as mãos, espero que entenda.
— Chegar? Chegar de onde?..
— Da América, unnie! Ela veio de lá! — Interrompeu a mais nova das três, já empurrando - as para o caixa. — Agora vamos, eu tô com fome e a Irene vai comer com a gente.
— Irene?.. — Nunca tinha se sentido tão desatualizada, sua prima parecia já ser amiga de infância da outra, o que fez brotar um pouquinho de ciúmes em seu peito.
— Irene, Joohyun, fica por sua conta.. Seulgi. — Ela pareceu se esforçar para pronunciar o nome, e Seulgi achou graça do biquinho que ela formou no eul.
— Ok.. É.. Você vai comer com a gente? É que estamos aproveitando o horário de almoço e ele já vai acabar, então..
— Não.. Deixa pra outro dia! Eu preciso resolver algumas coisas agora, tudo bem por vocês?
— Por mim tudo bem.
— Ah, que droga, unnie.. Me manda uma mensagem no Line quando quiser almoçar!
— Eu mando sim, obrigada pelo convite, Yeri. Vejo vocês depois. Bye!~
Bye… Mais uma vez ela sorriu e abriu o guarda-chuva, seguindo na direção oposta da lanchonete onde iriam almoçar. Depois de tudo aquilo Seulgi nem sabia se ainda sentia fome, na verdade, tinha borboletas o suficiente voando em seu estômago.
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