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História AmorTemQuatroLetras - Altos e baixos


Escrita por: Believe8

Capítulo 26 - Altos e baixos


Emma estava sentada no corredor da academia de dança, sozinha. Mesmo com toda a sua preparação física, estava bastante cansada. A audição era mais puxada do que ela imaginava, mais intensa do que tudo o que ela havia vivido até aquele dia.

Primeiro foi uma “aula-geral”, com todas as bailarinas pré-selecionadas. Emma não conseguia deixar de se sentir intimidada pelas concorrentes, todas mais velhas e mais experientes. Porém ela se destacava, e sabia disso. Sua postura, comportamento, empenho e dedicação a faziam chamar a atenção dos professores e ela podia se orgulhar desse fato.

Agora, Raquel e os demais examinadores estavam reunidos no auditório e cada uma das finalistas podia apresentar um número solo. Das quinze pré-selecionadas, apenas seis receberam essa oportunidade.

Estavam chamando por ordem alfabética do sobrenome, e por isso ela era a última. O que era bom e ruim ao mesmo tempo: bom porque tinha mais tempo para se preparar, ruim porque tinha mais tempo para ficar se corroendo de ansiedade.

“Emma Rivera.” Ouviu a voz de dentro do auditório e respirou fundo.

Se levantou e caminhou para o palco. Piscou um pouco pelas luzes fortes dos holofotes, se habituando depressa. Aquele era seu habitat natural desde criança, e mesmo em uma situação como aquela, se sentia em paz.

“Boa tarde.” Saudou com a voz doce, um pequeno sorriso no rosto.

“Boa tarde, Emma.” Raquel devolveu, também sorrindo. “E então... O que preparou para nós?”

“Bom... Eu pensei muito e resolvi trazer algo pessoal, importante para mim. Eu já contei isso uma vez, mas eu decidi que queria ser bailarina após ver um filme da Barbie, as 12 Princesas Bailarinas. Eu escolhi apresentar a música tema do filme, da minha maneira.” Contou a jovem com um largo sorriso.

“O palco é seu, querida.” Um dos avaliadores liberou.

Emma se dirigiu ao centro, assumindo sua posição. Respirou profundamente três vezes, dando o sinal para o rapaz do som.

“Vamos lá, Emma, esse é o seu momento... Faça valer a pena.” Sussurrou para si mesma, antes de começar.

~*~

Na sala de espera do neurologista, a família Guerra aguardava o médico chamar Roberto. O mais velho estava emburrado, desgostoso pela presença dos filhos ali. Já tinha discutido com os dois diversas vezes, dizendo que não havia a necessidade de eles estarem ali, mas os dois estavam irredutíveis.

“Roberto Guerra?” O médico apareceu na porta do consultório, encarando os presentes. “Ora, veio a família toda hoje?”

“Não por escolha minha.” Resmungou o paciente, seguido de perto pela esposa e os filhos.

“Há tempos eu venho lhe dizendo que deveria envolver seus filhos nesta questão, Roberto. Cada vez mais o seu quadro vai progredir e se complicar, e é importante que você esteja cercado de cuidado.” Relembrou o médico, assumindo sua cadeira.

“Ouviu, seu cabeça dura?” Paulo ralhou com o pai.

“Tá, tá... Doutor, posso ir ao banheiro?”

“Você foi agora a pouco, querido.” Lilian lembrou o marido.

“Claro que não, Lilian... Não vou ao banheiro desde a hora que acordei, estou explodindo.” O homem saiu pela porta, causando suspiros na família.

“Como ele está, Lilian?” Questionou o médico, começando a tomar notas.

Os três então começaram a relatar os acontecimentos dos últimos dias, especialmente o final de semana. O médico fez algumas perguntas, tomou nota e suspirou.

“Infelizmente, isso será cada vez mais frequente. A mente dele irá voltar mais e mais no tempo, e em determinado ponto não vai conseguir regressar para cá.”

“Doutor, tem algo que me preocupa... Quando nós éramos pequenos, meu pai era muito explosivo e agressivo.” Paulo relatou, sendo encarado pela mãe e a irmã. “Não só conosco, mas com nossos amigos também... E ele tem confundido muito o Enzo com o Mário, marido da minha irmã.”

“Você tem medo que a mente dele volte a um ponto em que ele comece a confundir os filhos de vocês com vocês e tenha atitudes agressivas?” O homem concordou. “Não direi que é impossível, Paulo... Teremos que fazer vigia sobre isso, sobre o estado do seu pai! Vai chegar o ponto em que ele precisará de um cuidador o acompanhando constantemente, para evitar esse tipo de acontecimento.”

“E por agora, doutor? O que nós fazemos?” Perguntou Marcelina, preocupada.

“Esperamos, Marcelina. Não há mais o que fazer.” Suspirou o médico. “Vou examinar seu pai, mudar um pouco os medicamentos, mas... Agora é esperar o tempo agir. E lidar com isso.”

~*~

Em outro consultório, não muito longe dali, Malu encarava a psicóloga com desinteresse. Já tinha um bom tempo que estava ali, mas não havia falado muito com a mulher.

Julia Garcia encarava a paciente, a analisando.

“Seu cabelo ficou muito bonito, Malu.” Elogiou, vendo a menina revirar os olhos.

“Também achei no começo. Mas depois de ver ele na cara da sonsa da Nina, peguei ranço. Acho que vou pintar e mudar um pouco.” Desdenhou a jovem.

“Interessante, uma boa ideia. Assumir um pouco de personalidade sua, separada da sua irmã. Fez isso com a decoração do seu novo quarto também?”

“Cogitei, até ver as coisas legais que meus pais iriam dar para o quarto da Nina. Então exigi que nossos quartos fossem iguais.”

“E o que eles iam dar?”

“Eles compraram uma escrivaninha linda, uma estante de livros...”

“Mas achei que você não gostava de livros ou de estudar.”

“E não gosto.”

“E o que eles iam comprar para o seu quarto?”

“Uma penteadeira com um espelho cheio de lâmpadas, como de camarim.”

“Ora, justo... Você gosta de maquiagem e de se produzir, e a Nina gosta de livros e estudo. Eles iriam dar o que cada uma gosta.” Lembrou Júlia.

“Eles iam dar duas coisas para ela, Julia, e uma para mim.” Malu revirou os olhos, impaciente. “Isso porque eu nem comecei a falar no quarto daquele pivete do Nico.”

“Malu, qual o seu problema com os seus irmãos? Por que tanta raiva deles, tanto ciúme?” Questionou a médica, se inclinando para a frente e cruzando as mãos no colo.

“Julia, eu já te contei sobre quando minha mãe ficou grávida, não é? Li os pedaços do diário e tudo.” A médica assentiu. “Então... Eu era a gêmea maior, mais bem posicionada, mais saudável. Se não fosse pela Nina, não teria acontecido nenhuma intercorrência no parto. Eu seria perfeita!”

“Você é perfeita, Malu. É linda, saudável, inteligente!”

“Tenho dificuldades na escola por causa do TDAH, tenho que tomar remédios! Eu podia ter ficado retardada e cheia de problemas por causa da merda que eu aspirei na hora do nascimento. Enquanto isso aquela maldita sonsa está lá, um exemplo de aluna e de tudo o mais. A filha nerd perfeita do casal nerd perfeito.” Os olhos de Malu se escureceram. “E eu aqui, tendo que vir na psicóloga porque sou bipolar ou qualquer coisa assim.”

“Você tem TDAH sim, Malu. Tem problemas de personalidade e algumas dificuldades, mas centenas de outras crianças que tiveram gestações e partos perfeitos também o tem!” A médica era severa. “Não, Malu, seu problema é outro... É ódio, raiva, desprezo.”

“Claro, é só o que eu recebo.”

“Não, é o que você direciona. Seus pais e irmãos sempre te encheram de amor e carinho, Malu, assim como seus tios e amigos. Mas você prefere ignorar essas coisas boas e se focar apenas nas ruins.”

“Não é querendo cortar seu papo de psicóloga careta, mas eu tenho que cuidar de mim, Julia. Eu só tenho a mim mesma, preciso defender meus interesses.”

“Interesses? Malu, o que você acha que precisa fazer?” Julia vincou a testa, preocupada.

“Me livrar de qualquer um que tente me fazer mal ou entre no meu caminho.” Avisou a menina com uma expressão gélida no rosto, fazendo a psicóloga engolir em seco.

~*~

Davi estava na cozinha, tentando fazer um sanduíche. Se irritava em ver como trabalhos simples, coisas corriqueiras, lhe pareciam cada vez mais difíceis e cansativas. Havia poucos dias que conseguia preparar uma refeição completa, mas agora sequer conseguia fazer um lanche para si mesmo.

“Pai? O senhor está bem?” Ravi apareceu na porta do cômodo, o encarando.

“Só fazendo um lanche, filho.”

“Você está pálido.” O garoto mancou até ele, o apoiando. “Sente, por favor. Eu terminarei o lanche para você.”

“Quem diria... Você, cuidando de mim. Deveria ser o contrário, não?” Questionou o pai, rindo sem humor.

“Pai, não sou totalmente inválido. Posso fazer um lanche, fique tranquilo.” Ravi terminou de montar o sanduíche, logo entregando para o mais velho em um prato. “Tem algum remédio que eu possa te dar?”

“Pegue a caixinha para mim, por favor.” O judeu indicou a maleta no armário. “Eu só posso tomar um por dia.”

“O que ele faz?” Ravi sentou em frente à Davi.

“É como se fosse uma quimioterapia. Não vai me curar, isso é impossível. Mas ele ajuda a desacelerar a proliferação das células doentes. Também é para me ajudar com as dores, falta de ar, fadiga... É como se fosse um combo de medicamentos.” Explicou o judeu, engolindo a cápsula e um gole de água.

“Quais os efeitos colaterais?”

“Esse.” O homem passou a mão pelo cabelo, levando um tufo. “Ele está começando a cair aos poucos, sua mãe quem reparou. É meio que um cabo de guerra, sabe? A gente puxa de um lado para ver estourar do outro.”

“Sinto muito, pai... Sinto mesmo.” Ravi segurou sua mão, os olhos cheios de lágrimas.

“Ah, meu filho... A cada um de nós cabe uma cruz para carregar, você sabe. E devemos carrega-las com gratidão.”

“Gratidão, pai?”

“Sim, Ravi... Sabe, a avó da sua mãe costumava contar uma história, que era mais ou menos assim: todos andavam por uma trilha carregando uma cruz em suas costas. Um dos homens, em determinado ponto, achou que sua cruz era demasiada pesada. Ele então cortou parte da sua cruz para ficar mais leve. Seguiu seu caminho com os demais, quando chegaram a um rio. Não havia ponte, então cada um jogou sua cruz. A largura era precisa, e todos conseguiram atravessar. Porém, por ter cortado parte de sua cruz, esse homem não conseguiu.” Contou o judeu, pensativo.

“Isso quer dizer que temos que aceitar tudo o que nos acontece sem reclamar?”

“Claro que podemos reclamar, Ravi, somos humanos. Mas... É preciso entender que se estamos passando por isso, é porque precisamos. Quando viemos a esse mundo, escolhemos um caminho para trilhar... Mas quando chegarmos ao fim dela, não sabemos o que nos espera ou do que precisaremos. Então agradeço pelo que colho ao longo do caminho, meu filho... E torço para se seja o bastante para me ajudar no fim dele.”

~*~

“O que você quer nos dizer, Julia?” Carmen e Daniel estavam junto da psicóloga, na sala de espera. Malu ainda estava no consultório, em uma ligação com uma amiga.

“Vocês precisam afastar a Malu de vocês e dos irmãos.”

“Você está louca?” Carmen se indignou com o que ouviu.

“Apavorada.” Ela chocou. “Carmen, em quinze anos de profissão, nunca vi ninguém com tanta raiva quanto a Malu tem. E nem com uma tendência tão psicótica. Ela vê a Nina e o Nico como inimigos, como empecilhos. E ela me afirmou, categoricamente, que não deixará nada e nem ninguém ficar no caminho dela.”

“E você acha que ela faria algo contra os irmãos?” Daniel sentiu os ombros pesarem.

“Até contra vocês, se ela julgasse necessário. Eu honestamente não sei do que ela é capaz.” Julia estava realmente preocupada. “Já falei com a psiquiatra que é minha conhecida, ela verá a Malu amanhã e prescreverá alguns remédios. Ajudarão a controlar a ansiedade e impulsividade dela em situações assim. Mas eu realmente cogitaria a ideia de afastar a Malu por alguns tempos... Talvez novos ares lhe façam bem.”

~*~

Emma saiu do estúdio de dança perto das 18h. Aquele dia havia sido o mais longo e desgastante de sua vida, e não tinha como negar.

Assim que colocou os pés na calçada, pegou o celular. Havia várias pessoas para ligar, mas uma era a mais importante.

“Amor? E então?” A voz de Ravi ecoou do outro lado.

“Lindo... Eu consegui! Eu vou ser a Aurora!” Ela contou, começando a chorar. “Esse é o dia mais feliz da minha vida!”


Notas Finais


Oi, gente, tudo bem? Trabalhei o dia inteiro em um evento da loja, a semana toda até as 23h, to sem PC, mas precisava escrever um pouco para vocês! Quase um mês já é demais, né?
Gostaram desse capítulo? Espero que sim! Confesso que me emocionei com a parte do Davi e do Ravi. To bem na TPM, o que fazer?
Tentarei voltar em breve, prometo!
Vejam esse vídeo que eu fiz e deem dicas: gostariam de me ver reagindo a que fanfics? Falando o que sobre fanfics? https://www.youtube.com/watch?v=NTAzAkFC-xI
Para quem quiser, essa foi a música que a Emma dançou na audição https://www.youtube.com/watch?v=9bApszuv-oM
Beijos de luz ;*


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