História An Angel in my wings - De possessão em possessão.

Capítulo 18 : De possessão em possessão.

~Jungkook~

Tudo bem, eu certamente tinha que entender que eu era um Anjo, A-N-J-O, e não um ser humano capaz de dirigir um carro e entender sobre leis de trânsito. Eu ainda pensava sobre isso, e sobre o fato de Taehyung aparentemente desconfiar de quem eu era (ou melhor, de quem o verdadeiro Jungkook era), quando entrei no quarto de Jimin, e vi meu amigo escondido debaixo das cobertas.

- Ah, fala sério, Jimin! – falei, me aproximando da cama e agarrando o cobertor, descobrindo Jimin de uma só vez, abruptamente. – Acabei de te acordar, e você resolve voltar a dormir?!

- Ah, Jungkook! – ele falou, manhoso, enquanto escondia o rosto no travesseiro. – Eu só posso estar ainda sonhando! Isso é um sonho! É um sonho! – ele falava repetidamente, como um tipo de mantra capaz de fazê-lo acreditar naquilo.

Antes que Jimin continuasse com suas criancices, eu fui até ele e peguei em um de seus braços que estava na frente de seu rosto, o garoto se encontrava todo encolhido na cama, e como estava descoberto, parecia ainda mais pequeno do que de costume, principalmente em uma cama grande de casal como aquela. Sentando-me ao seu lado, eu comecei a puxar o braço de Jimin, para que ele tirasse seu rosto do travesseiro e eu pudesse explicar corretamente a situação, mas ele me impedia, fazendo uma força contrária a minha e ainda se mantendo deitado e encolhido. Ah, eu não aguentei, e de raiva cutuquei Jimin em sua cintura, e ele riu. Sim, ele riu! “ Ah, então o garoto tinha cócegas?!” pensei, e com isso começou meu ataque, que de tão apurado fez com que Jimin risse de escorrer lágrimas de seus olhos. Eu me vi rindo da situação também, e quando dei por mim, estava deitado na cama, ao lado de Jimin, rindo como um condenado.

- Você... Está... Vermelho! – eu falei, respirando com dificuldade e com dor nas bochechas de tanto rir – Parece...um... pimentão! – ri mais um pouco.

- E você... está...suado! – ele riu, colocando uma de suas mãos em minha testa para me mostrar como estava molhada – Parece...um...porco!

Nossas respirações entrecortadas e nossos risos histérico foram diminuindo, até que ficamos em completo silêncio, apenas encarando um ao outro com um sorriso bobo nos lábios.

- Oque foi? – perguntou Jimin, ainda vermelho e sorridente – Pare de me encarar!

- Você está fazendo o mesmo comigo, imbecil! – eu ri, cutucando seu peito duro com o indicador.

- Aí! Não me faça rir ainda mais! – ele falou, massageando o lugar em que cutuquei.

- Sobre oque você viu acontecer entre Yoongi e Hoseok... – eu comecei. Decidi que ser direto e franco com meu amigo, era o melhor ataque.

- Eu sei. – ele disse em um meio sorriso, que da minha perspectiva, foi observado em seu perfil. Jimin olhava para o teto agora, com os braços colocados atrás de sua cabeça, como um tipo de apoio. Ele estava relativamente sossegado. – Decidi acreditar nas palavras daquele seu amigo sobre “ Anjo e demônios”. – ele tirou uma das mãos de baixo da cabeça para fazer um sinal de aspas com os dedos- Afinal, depois desse ataque de cocegas, como eu ainda poderia acreditar estar dormindo? Minhas costelas estão dormentes de dor!

Ele olhou para mim ao dizer essa última frase, me culpando com olhos cerrados e lábios em beicinho. Jimin parecia uma criança de dois anos às vezes...

Entretanto, eu estava boquiaberto naquele instante, afinal ele havia acabado de dizer que havia acreditado nas palavras de Min Yoongi, oque de certa forma significava...

- Então você não está assustado, ou com medo? – eu me sentei na cama, em um sobressalto, ao alegar isso. – Você acredita em Anjos e demônios?

Jimin pareceu um pouco assustado com a minha reação frente ao seu comentário, mas sentando-se também, pegou uma de minhas mãos, e disse enquanto ainda segurava:

- Não há porque ter medo, Jungkook. – ele sorriu – Se aquele garoto é seu amigo, e um ser sobrenatural, eu devo acreditar que isso é irrelevante, certo? Até porque se você gosta dele, quem sou eu para contrariar?

Ao ouvir essas palavras, eu não aguentei, e acabei puxando meu amigo em um abraço apertado. Ah, Jimin não ideia do quanto suas palavras eram importantes para mim!

- Me larga, Jungkook! – ele murmurava com os dentes cerrados – Não consigo respirar!

Era bom saber o quanto Jimin era acessível para um ser humano, não tendo preconceitos e sabendo respeitar a opinião dos outros...Eu não conseguia entender como Deus permitiu que um anjo de pessoa como aquela, se esquecesse de seu pai e o perdesse ao mesmo tempo... “ O mundo era muito injusto para os mortais” pensei, enquanto me desvencilhava de Jimin e segurava uma de suas mãos exatamente como ele fizera comigo.

- Obrigado. – falei – Você está sabe o quanto isso é importante para mim.

Jimin sorriu, com as bochechas rosadas ( seria vergonha?), e esticou sua mão esquerda até meu rosto, me acariciando gentilmente na bochecha direita.

- Faço isso, porque você é importante para mim, Jungkook.

~Jimin~

Já era madrugada quando eu acordei em meio à um sobressalto. Eu havia sonhado com um homem, sim, um homem estranho e que apesar de me parecer familiar, eu não conseguia me lembrar de sua face. Seus cabelos brancos e relativamente ralos no topo de sua cabeça, e seu sorriso gentil mas atuante, eram prova de um ser humano já de idade que tentava manter seu estado de espírito mesmo em meio as dificuldades. O homem se encontrava em frente à um túmulo, e com um buquê de rosas vermelhas nas mãos, ele recitava algumas palavras que eu não conseguia entender, mesmo me aproximando ao máximo dele e do túmulo.

O sol se punha no horizonte, de forma que um vento frio bagunçava meus cabelos e me provocava um arrepio que atravessava todo o meu corpo. O homem estava alheio aquela mudança de temperatura, ainda murmurando palavras mesmo que o vento desfolhasse algumas de suas rosas e arrastasse folhas para cima da tumba, dando um ar de esquecimento e nostalgia ao lugar.

De repente ele olhou para mim, com os olhos fixos em meus olhos, e num sussurrou ele falou:

- Não se esqueça de mim, assim como essas folhas mortas se esqueceram de suas árvores.

Após isso, o vento aumentou, e ficou tão forte que vasos de flores voaram de seus túmulos, e uma árvore próxima começou à estalar, tendo um de seus galhos quebrados e arrastado até mim. Eu pude ver aquele pedaço de madeira vir rapidamente em minha direção, como se um tufão estivesse prestes à começar. Eu fechei os olhos, e acordei em minha cama, com Jungkook dormindo ao meu lado, e a janela completamente aberta, trazendo um vento frio e incomodo ao recinto.

“Mesmo todo encolhido de frio, ele não acordou e se levantou para fechar a janela... Grande amigo, você, heim, Jungkook?” pensei comigo mesmo, ao ver o garoto ao meu lado todo enrolado no lençol, com frio.

Levantei- me da cama e fui até a grande janela em arco, fechando-a com os trincos, e me colocando entre as cortinas que “flutuavam” com a força do vento. “ Esse vento me fez ter um sonho estranho... Não sabia que ações do presente pudessem interferir tanto no que sonhamos!” ri, virando-me para retornar para a cama. Mas, antes que eu pudesse fazer isso, eu olhei para o ambiente à minha volta, acostumando minha visão à escuridão. Após oque me pareceram longos minutos, eu vi um vulto sentado no sofá do quarto, com as pernas cruzadas, me encarando. Eu quase dei um grito colossal ao ver aquele indivíduo em meu quarto, jurando ser um invasor. Minhas mãos começaram a tremer, mas logo pararam, assim que o ser falou:

- Não pode gritar, Jimin. – eu não podia ver seus olhos, mas podia senti-los em mim – Jungkook tem um sono muito pesado, mas temo que apenas um grito seu pode acordá-lo, até porque ele é tão preocupados com você!

Min Yoongi. Reconheci a voz após a primeira de suas palavras. A arrogância sempre precedia alguns de seus atos, mas naquela noite, vendo Jungkook dormir, ele parecia apenas um ser humano normal, vendo o amor de sua vida... Opa! Estariam as minhas suspeitas certas?! Yoongi e Jungkook tinham um caso?! Por que eu estava tão nervoso com isso?!

- Não, Jimin, nós não temos um caso. – falou Yoongi de seu lugar. Pude ver seus ombros subirem e descerem marcadamente: ele havia suspirado. – Por que vocês, humanos, tem pensamentos tão idiotas e com tanta frequência? Só por que eu preso por uma pessoa, significativa que eu quero trepar com ela? Ah, faça-me o favor, criança!

- Você... Você ouviu oque eu pensei?- Eu estava perplexo com aquilo.

- Não costumo ler pensamentos frequentemente, até por que necessitam de um alto grau de concentração, mas como você estava muito quieto, eu decidi fazer isso sim...Me perdoe.

Quando eu falei à Jungkook que eu acreditava nas palavras de Min Yoongi, eu ainda não tinha total confiança naquilo, mas tinha noção da importância de minhas palavras à meu amigo, mas depois disso... tenho certeza de que Yoongi não é um humano.

- Anjo Caído, querido. – ele falou – É isso que sou.

- De novo?! – falei.

- Foi estritamente necessário. – ele murmurou.

Pensei em acender as luzes, mas antes que eu cogitasse falar isso, o Anjo caído falou:

- Sem luzes, Jungkook não gosta delas enquanto dorme.

Ok, aquilo de ler pensamentos já estava indo longe demais...

A luz da lua que entrava pelas vidraças, e permitia que eu visse apenas a silhueta magra e altiva de Min Yoongi. Eu falei:

- Oque faz aqui?

- Você já sabe, - ele apoiou o cotovelo direito no braço do sofá – vim ver Jungkook dormir. Isso é bom para mim, sabe?

- Mas por que..? – perguntei, indo até a cama, e me sentando. Min Yoongi não parecia ter a intenção de ir embora tão cedo – Desde quando você está aí?

- Talvez duas ou três horas? – ele inclinou a cabeça para um lado, como se refletisse – Não sei ao certo. Ah, e sobre o “por que” disso, é que ver Jungkook dormir me acalma, especialmente nos meus dias de insônia.

- Está com problemas? – perguntei curioso.

- Quem não os têm? – ele disse em tom de deboche, mas sabia que falava sério. – Vi que teve um pesadelo, certo?

- Você assistiu ao meu sonho?! – eu estava estupefato.

- Em parte. – ele admitiu, com um tom de voz de alguém prestes à rir. – Seus sonhos são um tanto malucos, não? Mas devo confessar que até bem condizentes com a realidade. – ele riu – Hilário!

“Maluco mas condizente com a realidade”... Aquele parecia um pensamento que se encaixava perfeitamente à Min Yoongi...

- Oque você quer dizer com isso? – questionei, me ajeitando na cama, pronto para ouvir sua resposta – Meu sonho não é nada mais do que algo referente à realidade, é isso?

- Todo sonho remete à uma situação da realidade, talvez um fato que já aconteceu ou irá acontecer, oque faz as pessoas terem aqueles sentimentos de “dejavú” inexplicáveis. – ele descruzou as pernas, e esticou-as em cima do sofá, ficando agora meio deitado, meio sentado, em uma posição privilegiada do sono de Jungkook. – Acho isso mostra não só a irreverência da realidade, como a capacidade do ser humano para análises e suposições, entretanto....

- Entretanto? – incitei.

- Entretanto você parece acreditar sonhar com algo ou alguém que nunca viu, quando na realidade essa pessoa está em você.

- Como alguém pode estar em outro alguém?! – disse, batendo as duas mãos no colchão devido a indignação. Jungkook se contorceu com a agitação, e se virou para o outro lado. – Isso é impossível! – sussurrei essa última parte.

- Para você pode até parecer Impossível, mas na realidade isso praticamente faz parte do meu trabalho. – Yoongi cruzou as duas mãos em cima do abdômen ao falar isso – Você irá compreender minhas palavras quando chegar o momento, por hora, apenas durma Jimin, parece que você tem uma viagem amanhã, ou estou enganado?

- Como sabe disso? – Jungkook havia me contado sobre a viagem inesperada para o interior, algo referente à negócios ou coisa do tipo. Ele não teve tempo de contar para Min Yoongi...Ou teve?

- Ele não me contou, criança. – falou ele em meio à outro suspiro – Eu simplesmente sei, não há como Jungkook esconder nada de mim. Agora durma, eu irei fazer o mesmo.

- Mas..! – comecei, porém Yoongi já se virava de lado, me dando às costas. Jungkook parecia fazer realmente bem à ele...

Por fim me deitei ao lado de meu amigo, e fechei os olhos. A manhã seguinte prometia ser longa...

~Jungkook~

Quando eu acordei, o sol incidia fraco pela janela, e eu pude ver que tinha adormecido no quarto de Jimin. “Aish! Como sou folgado!” pensei.

Me desvencilhiando das cobertas finas que me cobriam, eu levantei, e estava prestes à ir até a porta, quando percebi um corpo magro e conhecido deitado no sofá. Min Yoongi.

- Nem tente me acordar. – ele murmurou com os olhos fechados – Você sabe que quando alguém me acorda eu levanto de mau humor.

- Mas eu não ia te acordar! – menti, um tanto tímido.

- Vejo que a terra está fazendo de você cada dia mais humano...- ele se sentou, ainda sem abrir os olhos – Mente até para mim.

Aish! Eu realmente não conseguia enganar Yoongi.

- Não conseguiu dormir estar noite? – perguntei, tentando mudar de assunto.

- Na realidade eu queria falar com você, mas a insônia também estava um pouco atacada ontem... Não sei porque, nunca fui de ter esse tipo de coisa. – agora ele já tinha aberto os olhos, mas não olhava para mim, e sim para um ponto fixo no chão à sua frente.

- Está com sentimentos confusos? – perguntei, me sentando ai seu lado no sofá. – Isso acontece frequentemente comigo.

Meu amigo ficou quieto por um tempo, após a minha pergunta, talvez refletindo sobre oque eu tinha dito. Por fim disse:

- Vamos falar sobre algo mais urgente agora. – ele inclinou um pouco a cabeça para o lado, de forma a poder olhar para mim.

- Seus problemas são urgentes para mim. – falei, um tanto preocupado. Min Yoongi era um dos meus melhores amigos, eu não podia deixá-lo resolver seus problemas sozinho.

- Você é uma criança muito peculiar, Jungkook. – ele riu, desviando o olhar – Gosto disso.

Eu fiquei vermelho. Era muito raro quando Min Yoongi me elogiava.

- Entretanto, - ele continuou – se eu precisar de sua ajuda eu direi, Por hora, vamos falar do fato de que você terá de dirigir um carro essa manhã, mesmo sem saber como.

- Você ouviu minhas conversas ou pensamentos dessa vez, para estar à par de tudo isso? – perguntei desconfiado.

- Um pouco dos dois. – ele disse, cruzando as pernas – Mas independente disso, eu irei ajudá-lo, afinal eu sei dirigir muito bem.

- Não me diga que...- comecei um tanto pesaroso. As ideias de Yoongi sempre acabavam me assustando.

- Sim. – ele falou com um meio sorriso. – Vou possuir você, menino Jungkook.

Continua....