História Angel - Cuidados especiais, parte II

              Continuo encarando Zelo, que mantem toda a sua concentração nos cadernos a sua frente. De alguma maneira, ainda espero que ele fale mais alguma coisa depois do que acabou de acontecer, mas desisto depois de alguns minutos. Percebo que ele se sente incomodado com a situação, então decido deixar isso de lado, pelo menos por enquanto. Eu me deito no sofá logo atrás de Junhong e ligo a TV e troco os canais até achar algo interessante. Não demora até que pego no sono.

                - Lu? Lu? – Junhong me chama, cutucando minhas bochechas.

                - Ahn, que foi? – respondo rouca, sem abrir os olhos.

                - São 10 da noite – Junhong responde sério.

                - Que? Como assim? – respondo, quase gritando e já querendo me levantar pra ir embora.

                - Não, não, é brincadeira, calma, fica aí – Junhong diz, rindo e me empurrando de volta pro sofá.

                - Idiota. Por quanto tempo dormi? – perguntei.

                - O suficiente pra eu terminar de copiar a matéria.

                - Ah tá.

                Eu volto a me deitar no sofá, encarando a TV. Estava passando um dos filmes do Hobbit.  Junhong fica me olhando de um jeito fofo, como se fosse uma criança querendo pedir alguma coisa.  Eu tento ignorá-lo completamente, mas ele fica colocando a cabeça na minha frente para que eu não possa enxergar a televisão.

                - O que você quer? – pergunto.

                - Logo eles vão chegar do ensaio, a gente podia fazer algo pra comer – Junhong responde, se referindo ao restante do BAP.

                - Ahm, ok. O que quer comer?

                - Queria uns hambúrgueres.

                - Ok então. Eu vou ao mercado comprar as coisas pra nossa janta então! – respondo animada. Levanto do sofá, pego minha mochila e vou em direção à porta.

                - Calma, eu vou junto! – Junhong diz, quase desesperado.

                - Não, você está doente. Fiquei aí e tome um banho.

                Junhong fez biquinho mas logo cedeu, deu meia volta e foi direto ao banheiro. Fui andando até o mercado mais próximo com um pouco de medo, pois já estava escurecendo. Comprei pães com gergelim, alface, tomates, queijo e carne para fazer os hambúrgueres. Comprei também uma barra de chocolate, um pequeno agrado para o menino Junhong. Ao sair do mercado, já estava noite. Briguei comigo mesma mentalmente já que eu nunca conseguia ter pressa em mercados, sempre olhando coisas que não precisava e perdendo tempo. Voltei ao dormitório dos meninos aos passos largos, quase correndo. Quando cheguei todos já tinham voltado, o que dava pra perceber a metros de distância do lugar por causa do barulho e das vozes altas.

                - Olá, Lu! – Yongguk me recebeu com um sorriso simpático – Meninos, esta é a nossa amiga que está nos ajudando com Junhong.

                Respondi um “oi” meio desajeitado, pois estava morrendo de vergonha. Olhei apenas para Daehyun que era o único além do Zelo e do Youngguk que já tinha conversado. Ele acenou para mim euforicamente de um jeito engraçado. Quando finalmente Junhong apareceu, me senti extremamente aliviada por ver um rosto mais familiar. Ele estava vestindo um moletom cinza com um desenho em braco e uma bermuda de mesma cor do moletom, segurando uma toalha de banho branca e com o cabelo completamente molhado.

                - Você demorou pra voltar. Quer tomar um banho? – Junhong diz.

                - Não precisa, vou pra casa logo depois da janta.

                - Pode dormir aqui se quiser.

                - Acho melhor não.

                - Pode dormir aqui se quiser, Lu – Daehyun interrompe nossa conversa – Eu posso ir buscar roupas limpas na sua casa.

                - Eu não sei se é uma boa ideia – eu respondo, insistindo.

                - Por favorzinho! – Jungong diz, fazendo aegyo. Daehyun o acompanha na “chantagem”.

                - Está bem... Eu fico. Mas só essa noite – eu respondo, enquanto Junhong e Daehyun fazem uma espécie de dancinha da vitória.

                Jae chama Daehyun, que vai ao encontro dele. Fico sozinha com o Junhong, que me encara um pouco envergonhado.

                - Vem cá, deixa eu secar seu cabelo – falo, enquanto pego a toalha das mãos de Junhong e aponto para o sofá, onde ele senta.

                Massageando o cabelo dele com a toalha afim de que seque mais rápido, secando também suas orelhas e seu pescoço que ainda estavam um pouco molhados. Ouço ele reclamar baixinho sobre eu puxar muito o seu cabelo, mas apenas ignoro.

                - Comprei algo pra você – eu falo, enquanto seco o cabelo de Zelo.

                - O que é? – ele vira o rosto para mim no mesmo instante, extremamente animado.

                - Não é nada demais, te dou depois da janta.

                - Você não pode me deixar ansioso desta forma, me de agora – Junhong responde, fazendo manha.

                - É só um chocolate, Junhong – respondo, rindo.

                - Eu gosto de chocolate, você podia me dar agora.

                - Depois da janta.

                Junhong levanta do sofá e põe a mão na testa, fazendo drama:

                - Oh não, estou ficando fraco! – ele diz - Acho que preciso de chocolate.

                Ele estende a mão para mim, como se fosse alguém pedindo ajuda. Eu digo não mais uma vez e começo a rir da cena. Junhong desiste do drama e ri também.

                - Agora é sério, eu to com muita fome – ele diz.

                Eu começo a preparar a janta, distribuindo tarefas a todos os meninos para que possamos comer o mais rápido possível. Após a janta, todos ajudam na limpeza da cozinha. Daehyun então me leva ao meu apartamento para que eu pegue minhas coisas enquanto os outros ficam no dormitório assistindo televisão, conversando e brigando pra ver quem tomaria banho primeiro. Junhong estava sentado no sofá e embrulhado em um cobertor enquanto via um filme, tão concentrado que nem me viu sair.

                - Ele gosta muito de você, sabia? – Daehyun quebrou o silêncio, enquanto estávamos indo de carro ao meu apartamento.

                - Eu também gosto muito dele. Ele é um amigo legal... – respondo, tentando ser simpática.

                - Não, é sério. Ele fala muito de você.

                Eu apenas olho para Daehyun, sem saber o que dizer. Ele continua:

                - Na verdade, eu acho que ele está apaixonado por você, de verdade. Nunca vi ele desse jeito. Você realmente vê ele apenas como amigo?

                - Eu não sei... – respondo.

                - Junhong nunca teve uma namorada.

                - Não estamos namorando – respondo, rindo.

                - Eu sei. Mas sei la... você gosta dele também.

            O silêncio domina até chegarmos ao meu apartamento. Eu subo para pegar minhas coisas rapidamente e Daehyun fica me esperando no carro. Na volta para o dormitório, Daehyun ficou o tempo todo dizendo coisas do tipo “Vocês são bonitinhos juntos” e tudo o que eu conseguia responder era algo como “Pare com isso” enquanto ficava com o rosto vermelho igual os tomates que comemos nos hambúrgueres.                

              Ao chegarmos no dormitório, vi que Zelo ainda estava no sofá porém já havia pego no sono. Deixei minhas mochilas em cima da mesa da cozinha e fui para o banho. Vesti uma calça de moletom lilás e uma camisa branca com o desenho de um gato segurando uma pizza. Após o banho, Yongguk me mostra o único quarto do dormitório. O quarto era enorme e possuía 6 camas que eram grandes demais para ser de solteiro e pequenas demais para ser de casal. Eu teria que dormir com Zelo já que não haviam colchões extras e o sofá era pequeno demais para alguém dormir confortavelmente durante uma noite inteira. Cobertores e travesseiros eles tinham de sobra.

              Quando finalmente tive um tempo livre, corri para o sofá. Zelo ainda estava embrulhado no cobertor, dormindo todo encolhido e de um jeito muito fofo. Só a sua cabeça e suas mãos estavam para fora do cobertor. Sentei no tapete, na frente de Zelo e ao fazer carinho em seu rosto, percebi que ele estava quente: ele estava com febre. Continuei com o carinho em seu rosto, desta vez sussurrando seu nome baixinho a fim de acordá-lo. Ele apenas resmunga e continua dormindo.

                - O que houve? – Himchan pergunta.

                - Acho que ele está com febre.

                Yongguk ouve e coloca as mãos no rosto de Zelo, preocupado.

                - É, ele está bem quente. Ele deve tomar os remédios e ir dormir.  Vou lá arrumar a cama dele – Yongguk sai.

              Continuo chamando por Zelo, agora sacudindo ele de leve. Ele finalmente acorda, esfregando seus olhos que estão bastante avermelhados. O acompanho até sua cama, levando seus remédios e um copo de água. Ele toma os remédios, se deita e eu lhe cubro, tomando cuidado para deixar apenas sua cabeça para fora do cobertor. A cena fica um pouco engraçada, eu começo a rir e Zelo se esconde embaixo do cobertor com vergonha, mas rindo também.

                - Você não vai dormir aqui comigo? – ele pergunta, me espiando de debaixo do cobertor.

                - Quer que eu durma aqui? – perguntei, mesmo sabendo que eu não tinha escolha.

                - Sim, eu queria cafuné – ele responde, rindo.

                - Não se aproveite da minha bondade! Não se esqueça que ainda não te dei o chocolate – respondi, rindo.

                - Se quiser, eu faço cafuné em você – ele diz, tentando negociar.

                - Gostei da ideia – eu respondo, piscando para ele.

                Pego meu travesseiro que estava em cima da minha mochila, ao lado da cama de Junhong e coloco sob a cama. Eu me deito, puxando uma parte do cobertor para cima de mim e sem querer descobrindo Zelo, que reclama imediatamente.

                - Desculpa bebezão – eu falo, rindo, enquanto o cubro novamente.

                - Desculpa nada, vai ter que fazer um toddynho pra mim amanhã de manhã – ele responde, com uma voz manhosa.

                Eu estava deitada de frente para ele. Zelo estava com o rosto corado e evitava contato visual, embora estivesse com o rosto a centímetros do meu. Fiquei apenas o observando por um bom tempo, até que percebi o sono tomando conta de seu corpo: ele permanecia mais tempo com os olhos fechados do que abertos.

                - Como você está se sentindo? – perguntei.

                - Eu não sei, minha cabeça dói – ele responde, com a voz rouca de sono.

                Eu faço carinho no rosto de Junhong com uma das minhas mãos, o que faz ele abrir os olhos imediatamente e me fitar. Ele pisca algumas vezes e então volta a fechar os olhos, enquanto “abraça” a minha outra mão. Eu chego mais perto dele na cama e o abraço, colocando uma de suas mãos em minha cintura. Eu seguro sua cabeça e dou um beijo na sua testa. Ele envolve suas mãos em meu pescoço e fica apenas me encarando por alguns segundos, aproximando cada vez mais nossos rostos, até selar nossos lábios em um beijo lento, molhado e apaixonado. Junhong volta a me abraçar, me apertando e afofando sua cabeça em meu peito, como um cachorrinho. Ficamos assim até adormecer.