Andava pelas ruas de Nova York sem rumo, como sempre fazia, só que hoje parecia diferente, uma sensação nova se apoderava no meu corpo. Parei ao lado de uma Starbucks e observei ao redor, quando o avistei do outro lado da rua... E não pude acreditar que ele tinha me visto.
POV Raymond
Eu a vi. Parecia uma garotinha com medo do bicho papão, estava encolhida perto do Starbucks, como se quisesse desaparecer. Não me contive e corri até lá, até agora não sei por que diabos fiz isso, mas eu precisava dela.
-Oi! - falei meio alto demais, me aproximando dela.
-Olá. -respondeu num sussurro. Olhei em seus olhos negros e me encantei, parecia que escondiam algo.
-Prazer, me chamo Raymond. - sorri e esperei ela dizer o seu nome. -Hm, e você como se chama?
-Jennifer. - ela parecia envergonhada e olhava para os lados, como se esperasse alguém ou algo acontecer.
-Você está bem? Parece meio tensa - perguntei.
-Consegue me ver? - ela me perguntou, disse que sim, confuso. - E me ouvir? - concordei também. Jennifer tinha uma expressão abismada no rosto, e colocou as mãos entre seu cabelo, balançando a cabeça negativamente. - Isso é loucura! Não é possível, é totalmente impossível!
-Do que você está falando? - eu estava completamente confuso, não sabia o que fazer para acalma-lá.
-Garoto, não sei por que está falando comigo e nem quero saber, mas para o seu próprio bem melhor ir andando e me deixar em paz. - estava paralisado, era o maior fora que havia recebido. - Ei, olha aquilo! - ela apontou o dedo atrás de mim e me virei, quando voltei a olha-lá e dizer que não havia visto nada, ela desapareceu. Tentei a encontrar no meio da multidão, mas não fazia a menor ideia para qual lado ela tinha ido.
POV Jennifer
Abri meu olhos e estava em "casa", me joguei no sofá velho e empoeirado e repassei os últimos momentos na minha cabeça. Como aquele garoto tinha conseguido me ver? Nunca alguém havia me reparado.
Raymond...
Seu nome ecoava na minha mente, e pensar em seu rosto me fazia sorrir, devo admitir que ele era bonito, mas não entendia o porque de tentar se aproximar de mim. Fui até o banheiro e encarei meu reflexo no espelho, esperando alguma resposta plausível, abri a torneira e passei a água gelada no rosto para me acalmar.
Eu precisava de respostas, ou pelo menos vê-lo novamente...
Acordei dos devaneios com o toque do celular.
-Alô?
-Bom dia Jennifer! Preparada para um dia daqueles? - Elisa perguntou.
-Sempre estou preparada. - respondi soltando um risinho no final.
-Ótimo! O seu cliente se chama Joaquim Garcia, 72 anos e nesse momento está em casa sozinho, melhor aproveitar agora. E os dados da residência já foram enviados para você, tudo bem?
-Tudo bem, irei pra lá nesse exato momento, até Elisa. - me despedi.
-Até querida, boa sorte. - ela desligou e eu fui para meu quarto me vestir para estas ocasiões. Vesti uma camiseta preta, com jaqueta e calça jeans igualmente pretas, e como sempre, descalça.
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Ao chegar, observei as fotos em cima da lareira, tinha de Joaquim e sua esposa juntos, e de seus filhos e seus netos, sorri e peguei uma em que toda a família estava reunida.
-Mocinha? Como entrou aqui? - coloquei o porta-retrato em seu devido lugar e me virei para Joaquim.
-Olá. - falei e andei em direção a ele, botando minha mão esquerda em seu ombro.
-Oh não, por favor, agora não. - suplicou e pôs as mãos no rosto. Enquanto esperava ele se acalmar, sentei no charmoso sofá vermelho.
-Venha, sente-se ao meu lado. - Joaquim andou vagarosamente e também sentou. - Acho que você sabe porque estou aqui. - ele concordou e tornou a chorar. - Acredite, também é difícil pra mim.
-Minha mulher, como ela vai viver sem mim? - me olhou e como sempre senti pena. - Por favor, me dê mais tempo, não estou pronto.
-Ninguém está pronto para a morte, parece o fim, mas verá que é apenas o começo. - coloquei minhas pernas em volta da cintura dele e toquei suavemente seus lábios com os meus, e soltou seu último suspiro. - Joaquim, uma nova vida te espera. - levantei-me do sofá e mandei uma mensagem para Elisa, "Terminado".
POV Raymond
Terminado o banho, me deitei na cama, o dia havia sido longo, e aquela garota não saia de meus pensamentos. Ouvi batidas na porta:
-Filho? Não vai jantar? Coloquei seu prato no forno. - meu pai perguntou.
-Obrigado pai, mas já comi no trabalho.
-Ok, boa noite filho. - também respondi com um "boa noite" e meu velho fechou a porta. Desde que minha mãe morreu, ele ficou muito abalado, e por isso tenta ser um pai melhor que antes.
Peguei meu celular e fiquei no Facebook, até que reparei que já eram quase 1 da manhã, então o guardei e me virei para dormir.
Acordei no meio da noite com um vento frio, eram 3:31 e por algum motivo estava apreensivo. Olhei para a janela e um vulto negro passou em direção ao armário, meu coração acelerou rapidamente e me senti com muito medo. Levantei da cama e caminhei até a janela para fecha-lá.
-Não. - alguém havia dito, dei um pulo e corri para a cama.
-Q-quem está aí? - perguntei gaguejando.
-Calma, sou eu. - então a garota do Starbucks saiu de uma parte escura do meu quarto e levei um susto.
-O-o que está fazendo aqui? Como entrou aqui? - estava desesperado, quase tinha entrado em pânico.
-Eu tenho contatos. - e quando a vi sorrindo, senti uma paz interna que instantaneamente me acalmou. - Me desculpe aparecer no meio da noite, é o único horário do dia que me sinto bem. - ela andou até a janela e sentou na borda.
-Seria mais fácil ligar, não acha? - retruquei, ficando próximo dela.
-Talvez fosse mais fácil, mas gosto de complicar as coisas. - sorriu novamente e me senti feliz. - Sua cara foi hilária, devia ter visto. - ela riu e a acompanhei.
-Então, não vai me dizer o que faz aqui? – ao me aproximar senti seu cheiro de rosas e fiquei embriagado.
-Hm, só quis ter certeza de uma coisa... – respondeu.
-E o que seria? – fiz outra pergunta.
-Sente isso? – e de repente suas mãos pararam em meu rosto, eram frias, porém macias, e seu toque era tão bom que nem percebi que havia fechado os olhos. – Pelo visto sim... – olhei sua expressão e parecia em choque, não como mais cedo, pois havia algo ali que não consegui decifrar. Quando ela tirou sua mão senti falta de seu toque no mesmo instante.
-Ainda não entendo por que se espantou com isso. Bem, não estou entendendo nada desde que veio parar no meu quarto. – falei. Jennifer sorriu, olhou em meus olhos, pegou em minhas mãos e disse:
-Desculpe...
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Continua...
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