História Tattoos - Quatro

Lá pelas três da manhã todos resolveram voltar pra casa. Eu imaginei que meu pai e Sinthia estariam dormindo então entrei pela porta da frente mesmo. Fui para o meu quarto e deitei em seguida, sabendo que teria aula daqui a 4 horas e ainda ficaria até depois do horário por conta da detenção. Depois de duas horas acordei, completamente destruída.

- Não deveria ter ficado na rua até tarde, sua anta.- Pensei.

Levantei esbarrando em tudo que via pela minha frente e me despi indo tomar um banho. Resolvi tomar um banho gelado hoje, pra ver se me acordava porque do jeito que eu estava, não iria aguentar até o final do dia. Funcionou já que eu estava um pouco, bem pouco mesmo mais acordada.

Coloquei uma calça jeans e um blusão da Avenged Sevenfold que eu tinha, junto com meu all star de couro. Deixei os cabelos soltos e fiz uma maquiagem pra disfarçar minha cara de quem dormiu só por duas horas.

Arrumei o material e desci as escadas dando de cara com o meu pai e Sinthia.

- Onde estava ontem?- Meu pai perguntou e Sinthia me encarou.

- Em casa.

- Mentira.- Sinthia falou com um sorrisinho.

- Eu estava no banheiro, tomando um longo banho de banheira com os meus fones de ouvido tocando música bem alta, pra ver se eu aliviava o meu estresse.- Menti.

- Ah.- Meu pai disse.- Tudo bem.- Sinthia o encarou e depois olhou pra mim, que dei um sorrisinho fraco. Tô orgulhosa de mim, estou meio lerda mas meu raciocínio foi rápido.

Saí de casa e subi na moto indo pra escola. Cheguei lá e encontrei o pessoal, todos estavam mortos. Loren estava deitada no colo de Chaz babando enquanto ele estava imóvel com a cabeça jogada pra trás. Todos eles tinham uma cara de merda no rosto e eu não estava diferente.

- Bom dia, amiga.- Lexie disse após bocejar.

- Bom dia pra quem?- Perguntei com cara de tédio e ela deu de ombros. Sentei ali e Justin sentou do meu lado botando a cabeça em meu ombro.

- Sabe... Não tô em condições de ficar pra detenção hoje...Se a gente falasse com o diretor ele...

- Estaria pouco se fodendo.- Falei lentamente. Justin fez um som estranho e começou a se debater lentamente, reclamando. Ri fraco e botei a mão no cabelo dele.- Calma, tudo vai ficar bem.

Eu estava lerda, falava como uma maconheira. O sinal bateu me fazendo fazer uma cara de dor por conta da dor de cabeça. O banho só me acordou por um momento, agora eu estava podre de novo.

Fomos pra sala. Essa era uma das únicas aulas que todos nós fazíamos juntos e a professora, abençoada, maravilhosa, decidiu passar um filme. Ela era uma senhorinha boa, não ligaria se dormíssemos. Fomos para a sala de vídeo e sentamos lá pelo fundão.

Estávamos sentados exatamente assim: Chaz, Loren, Chris, Lexie, eu, Justin, Ryan. Peguei meu casaco na bolsa e cobri o meu corpo com ele, Justin me encarou pedindo permissão e eu assenti então ele deitou a cabeça em meu ombro e se cobriu com o casaco. O filme começou e não demorou nem um minuto para que todos estivéssemos dormindo.

Despertamos assustados com o barulho do sinal, Justin levantou a cabeça com os olhos arregalados, secando uma baba que escorria. Ryan continuou dormindo então eu cutuquei ele diversas vezes, até que ele levantou me encarando.

- Ry, intervalo, vamos.- Ele negou se aconchegado mais na cadeira.- BORA RYAN.

Ele murmurou alguma coisa e levantou irritado. Enlacei nossos braços e nós caminhamos até o refeitório, como zumbis. Sentamos na mesa e Chris foi buscar café para nós.

- Isso serve?- Apareceu com oito copos de café, como ele conseguiu equilibrar 3 bandejas eu não sei, mas estava com muita preguiça pra perguntar. Bebemos os líquidos e eu já me sentia um pouco melhor.

Um desânimo batia só de lembrar que eu ainda tinha detenção. Saí dos meus pensamentos quando Jake entrou no refeitório sério, com o rosto ainda um pouco inchado. Algumas pessoas encaravam ele, eu e Justin e começavam a cochichar, mas eu ignorei e permaneci séria.

- Ele não veio a semana passada inteira.- Ryan disse.

- Nem ligo.- Justin disse mas eu fiquei quieta.

Não conseguia olhar pra cara de Jake sem lembrar da imagem dele me enforcando e dando socos no meu rosto. E infelizmente não sou uma pessoa com uma paz interior extraordinária, eu não perdoaria ele e não queria ver ele pintado de ouro, mas não me vingaria nem nada, só queria distância, acho que já ganho uns pontinhos por isso. Seus olhos pousaram em mim mas ele desviou rapidamente.

Continuei bebendo meu café normalmente e ignorei a cópia exata de Satanás que havia entrado no refeitório.

O pessoal na mesa continuou conversando e eu continuava séria, analisando minhas tatuagens. Eu não sei qual é o motivo de eu ser tão séria assim, tipo, não estou triste nem nada (ás vezes), mas fico pensando em umas coisas totalmente aleatórias com a cara fechada.

Um pouco depois o sinal bateu e nós levantamos. Lexie e Loren me deram o braço, teríamos aulas juntas agora, sorri para os meninos me despedindo e nós fomos.

(...)

Na hora da saída os meninos estavam no portão esperando nós três.

- Temos que estar aqui em 45 minutos.- Falei pra Justin e assentiu.- Vamos comprar alguma coisa pra comer e depois voltamos correndo.

Nos despedimos do pessoal e fomos até um Mc Donalds que tinha próximo dali.

Fiquei na fila enquanto Justin procurava um lugar pra nós sentarmos. Pedi nossos lanches e depois que peguei, sentamos pra comer.

- Se você encostar na minha batata eu vou morder o seu dedo.- Disse quando vi Justin aproximar as mãos da minha bandeja.

- Nossa.- Riu. - Não poderíamos ser aquele casal de amigos que dividem lanche, brincam e tal?

- Não.

- Foi mal aí, esfomeada.- Ri. Peguei uma batata e molhei no ketchup.

- Abre a boca.- Ele abriu achando que eu iria dar a batata pra ele comer, mas passei no rosto dele deixando ele todo sujo, comendo a batata em seguida.

- Você é uma porca.- Disse enquanto eu gargalhava.

- Você comeu um absorvente, Justin?- Revirou os olhos.

- Você dá sorte que eu não consigo ficar bravo com você.- Dei de ombros.

- O que posso fazer se sou um anjo?

- Vai ter volta.- Fiz cara de ofendida.

- Estou morta de medo. Não vou dormir tranquila depois dessa revelação.- Peguei suas batatas e comecei a comer enquanto ele me encarava incrédulo.- Não pode não?

- É sério que eu vou ter que passar uma tarde inteira com você? - Assenti mastigando o último pedaço de hambúrguer.- Que fofa.

- Quero sorvete.- Levantei e fui até o caixa, pedindo um McFlurry de ovomaltine e voltei pra mesa.

- Pra onde vai isso tudo? Olha o seu tamanho, você parece um ratinho mas come igual a um elefante.

- O segredo, é cagar logo em seguida.- Bati na barriga.- Pra manter o tanquinho.- Dei uma piscada e ele gargalhou.

- Só você mesmo...- Suspirou.- Ei...Que horas são?

Arregalei os olhos.

- São uma e quarenta e três.- Ele levantou.- Temos dois minutos.

- Caralho.- Me puxou e nós saímos correndo. Parecíamos dois desequilibrados no meio da rua. Justin quase nos fez ser atropelados umas três vezes. O Mc Donalds era perto mas era no mínimo uns sete minutos andando. Conseguimos chegar na escola uma e quarenta e nove e o diretor que estava na porta da biblioteca, nos encarou fazendo sinal de reprovação.

- Nós... Precisávamos comer e...

- Eu não ligo, estão 4 minutos atrasado.

- A gente sabe, temos relógio... Acha que viemos correndo por quê?

- Quer mais dois dias de detenção, Bieber?- Negou.- Então segura a língua.- Justin bufou.- O que vocês vão fazer é simples. Vão organizar todos os livros que estiverem nas mesas e na sala atrás das estantes. Têm até cinco horas para fazerem isso, quero essa biblioteca um brinco. Não me incomodem.

Assentimos e ele se retirou.

- Isso é tranquilo, vamos terminar antes e...- Abrimos a porta e nos assustamos com a quantidade de livros espalhados.- Tá bom... Talvez a gente demore um pouco, considerando o tamanho da biblioteca e...

- Eu vou surtar.- Falei desesperada.- Olha o tamanho dessa porra dessa biblioteca, isso aqui é quatro vezes o tamanho da minha casa, como isso é possível? Qual é o problema desses adolescentes retardados de terminarem o caralho do livro e colocarem de volta no lugar? E nós nem vimos a sala ainda e...

- Calma porra.- Justin falou alto me fazendo o encarar.- Vamos começar logo, se não terminarmos hoje, terminamos amanhã.- Pensou.- Ou depois de amanhã.- Bufei.

Caminhei pela biblioteca observando aquela infinidade de livros. Justin tirou a jaqueta que usava ficando apenas com uma camiseta branca. O ar condicionado não estava funcionando e com certeza ficaria mais calor do que já estava. Ele se encostou na parede e ficou me observando.

- Que foi?

- Qual é o plano?

- Que plano, garoto?

- De organização, pra arrumar tudo isso aqui?

- E por que eu que tenho que ter um plano?

- Sei lá, porque você é aparente e obviamente mais inteligente que eu, talvez?- Revirei os olhos.

- Tudo bem. Duas alternativas. Podemos juntar todos os livros e separar pra depois colocar em seus respectivos lugares, ou podemos ir colocando por mesa, e por último a sala.- Dei de ombros.

- Vamos separar então.- Assenti.

Sentamos nas cadeiras e começamos. Os de história, romance, separando por gêneros e por ordem alfabética.

(...)

Quatro horas depois, já estávamos surtando. Justin estava prestes a comer papel de tão estressado que estava, e eu estava prestes a socar a cara dele por puro prazer.

- Esse aqui é onde?- Me mostrou.

- Será que você não sabe ler a porra do gênero? Pra que você pega então?

- Você tá estressada? Trata de se acalmar.- Disse bravo.

- NÃO MANDA EU ME ACALMAR.

- EU TAMBÉM NÃO ESTOU ALEGRE POR ESTAR AQUI HÁ QUATRO HORAS, INFERNO.

- Tá bom.- Eu respirava forte e meus olhos estavam arregalados. O coque que eu fiz já tinha virando um ninho de mafagafos na minha cabeça e eu estava suada e grudando. E eu estava com fome, não fico muito agradável com fome. Eu realmente parecia uma louca.- Não podemos ficar um contra o outro, precisamos ficar juntos nessa, Justin.- O balancei e ele assentiu sorrindo.

- Sim, sim, me desculpe.- Segurou meu rosto com suas duas mãos e apertou.- Vamos.- Secou a testa.- A gente consegue. Já chegamos até aqui.- Assenti e continuamos o livro.

Sabe aquelas pessoas que já estão aprisionadas há 3 anos sem ver a luz, sem tomar banho com a barba grande, os dentes podres e os cabelos bagunçados, totalmente alucinados? Estávamos quase assim, mas sem a parte da barba, da luz e dos dentes podres, claro.

Pode parecer exagero, mas já estávamos dentro dessa biblioteca há horas, passando calor, fome e sede e parecia que simplesmente não tínhamos feito nada. Os livros não acabavam de jeito nenhum.

Acabei sentando no chão perto de alguns livros e Justin sentou ao meu lado.

- Eu tô muito cansado.- Suspirou.- Eu preciso de um banho, água e um ventilador.

- Você não é o único.

- Minha região anal está suando, Ariana.- O encarei de sobrancelhas arqueadas.- E eu não gosto disso. Minha cueca está molhada e eu não me mijei.

Gargalhei.

- Nossa, eu pensava que você era aquele tipo de menino que quando fica suado fica super sexy com o cabelo caindo no rosto, aí você tira a blusa e...

- Sem pensamentos obscenos comigo agora, a situação é séria. Eu fico sexy mas até certo ponto, eu não tô mais com cabeça pra ser sexy, eu estou pouco me fudendo pro sexy agora.- Respirou rápido.

- Calma... Falta pouco, daqui a pouco a gente sai.- Ele deitou a cabeça no meu ombro.- Sai, tá calor.- Ri fraco deitando a minha cabeça na dele e ele levantou o rosto me encarando, mas quando ele levantou, seu rosto ficou muito próximo do meu.

A cena era até meio engraçada. Nós estavamos no chão da biblioteca na parte de livros de anatomia e eu e Justin estávamos suados com os rostos a milímetros de distância. Meu cabelo estava todo em pé e o dele também estava uma bagunça, mas a gente nem estava ligando muito. Na verdade não estávamos nem um pouco. Eu encarava os olhos de Justin fixamente e podia notar que ele intercalava entre meus olhos e minha boca, mas eu mantinha o meu em seus olhos.

Justin foi se aproximando e eu sem controle nenhum sobre meu corpo, acabei me aproximando também e...

- Estão liberados. E o trabalho de vocês não é ficar trocando beijinhos. Se acontecer de novo, mais um dia de detenção.

Ouvimos a voz do diretor pelos alto falantes e eu segurei o riso enquanto Justin desviou o olhar e riu também, negando com a cabeça.

Levantamos desesperados e pegamos nossas mochilas saindo daquela escola o mais rápido possível. Pelo menos eu, que acabei deixando Justin pra trás.

- Calma aí, relâmpago marquinhos.- Ri do seu erro e parei enquanto ele suspirava.

- Sedentário.

- Não, sou bem atlético na verdade, mas estou em um momento de sensibilidade.- Concordei.

- Eu vou me esfregar tanto hoje que vou chegar em carne viva na escola amanhã.- Ele riu.

- Então... Não era você que tinha total controle sobre o seu coração.- Riu se referindo a cena de eu quase ter correspondido ao seu beijo.

- Eu tenho controle sobre o meu coração, sobre os meus hormônios e a minha amiga lá de baixo eu não costumo ter não.- Dei de ombros e Justin deu uma gargalhada gostosa.

- Ainda temos uma aposta?

- Claro que temos. Estávamos em um momento de tensão e a gente quase se beijou, não significa que estejamos apaixonados um pelo outro.- Ele concordou dando de ombros.- E seria meio nojento, a gente tava todo suado e descabelado e grudando e fedorento e...

- Se você quiser, em outra situação a gente pode re...

- Cala a boca.- Ri.- Eu não sei o que a gente tá fazendo aqui ainda, eu preciso tomar um banho, comer até meu cu fazer bico e dormir até amanhã.

- Precisa mesmo, parece que um gambá morreu no seu suvaco.- Revirei os olhos.

- Valeu, bunda suada.- Dei um soquinho em seu ombro e ele sorriu. Subi na moto e acenei pra ele.- Até amanhã, parceiro de detenção.

- Até, parceira.- Sorriu e foi andando até seu carro.

Uma coisa que eu gosto em Justin é que a gente se parece, então nós nem precisamos falar nada e as coisas não ficaram nem um pouco estranhas entre nós. Eu gosto disso, a gente se dá bem.

Sabe aquelas pessoas que você conhece e nem faz muito tempo, e elas já ganham certa importância na sua vida, sabem te alegrar e te fazer rir, estão lá quando você precisa, brincam com você e têm várias coisas em comum? Então. São essas pessoas que vocês têm que manter.

Pessoas como o Justin. Uma cópia masculina minha que se meteu em uma briga na frente do refeitório todo pra me defender e acabou metendo nós dois em três dias de detenção.

Esse tipo de pessoa, precisa ser mantido.