História Tattoos - Cinco

O segundo dia de detenção, que foi ontem no caso, ocorreu normalmente. A gente tentou se controlar e comprou uns biscoitos também, só pra não rolar canibalismo.

Conseguimos terminar de organizar todos os livros porque por estranho que pareça, no segundo dia estava um pouco mais arrumado do que no primeiro. Hoje teríamos que ir pra escola de tarde novamente, já que ainda precisaríamos completar o terceiro dia.

- Sabe o que eu queria agora?- Perguntou e eu o encarei.- Estar na praia, comendo um picolé.- Deu de ombros.- E você?

- Não sei... Talvez estar com meus amigos tipo, me divertindo ou com minha mãe, falando sobre a vida e comendo morango com nutella.

- Você gosta mesmo de morango com nutella, né?- Assenti sorrindo.

Ficamos em silêncio e eu comecei a encarar seus braços procurando entender suas tatuagens. Acabei vendo uma menina de cabelos pretos com asas de anjo em seu pulso.

- Essa tem significado?

- Tem, mas eu finjo que não.- Deu de ombros sério.

- Não me diz que ela é sua ex.- Segurei o riso e ele assentiu me encarando.

- Tá rindo do que?

- Você não tatuou o nome da sua ex no seu pulso, você tatuou literamente a cara dela.- Arqueou as sobrancelhas.- Nossa Justin, é uma lei da vida. Não fazer homenagens pra namorado.

- Foi o que pareceu certo na época.- Riu.- Hoje em dia eu olho e não sinto nada além de vontade de arrancar o pulso.- Deu de ombros e eu ri.

- Foi tão ruim assim?

- Ruim foi o sufoco que a gente passou na biblioteca quarta. Ela foi o inferno na minha vida, mas eu demorei pra descobrir. Hoje em dia eu me conformei de que eu era só um adolescente fraco, se fosse hoje eu acho que não me afetaria tanto. Até porque eu também não me apaixono por ninguém, ainda.

- Ainda, Bieber?- Sorri.- Você vai perder, tô sentindo.

- Não disse que a primeira pessoa seria eu, mas eu não vou ficar sozinho pra sempre, sou gostoso demais pra isso.- Rimos.

- Você tá uma manteiguinha ultimamente, acho que vai ser o primeiro mesmo.

- Só com você.- Disse se aproximando e me deixando sem entender.

- Só comigo o que?- O encarei curiosa.

- Eu quero muito fazer uma coisa agora.- Eu ainda o encarava e seu rosto foi se aproximando e eu fechei meus olhos, mas senti algo molhado no meu rosto.

- JUSTIN...VOCÊ LAMBEU A MINHA CARA?- Ele deu de ombros.

- Eu disse pra você que teria volta.- Sorriu.- Nossa, você é docinha.- Peguei sua blusa e passei no meu rosto revirando os olhos.

- Isso foi mais porco do que o que eu fiz.- Ri.

- Desculpa, preciso comentar o fato de que você achou que eu ia te beijar. Você fechou o olho e sua boquinha tava...

- Cala a boca.- Dei um tapinha em seu braço.- Foi o calor do momento.

A porta foi aberta bruscamente revelando o rosto sério do diretor.

- Vocês estão fazendo o que aqui?

- Terceiro dia de detenção.- Falei óbvia.

- Vocês já terminaram o serviço ontem, vão embora.- Meus olhos brilharam.- E espero que a situação não se repita, eu fui legal dessa vez mais na próxima vai ser expulsão.- Assenti e levantei sorrindo. O diretor saiu andando e eu puxei o braço de Justin na tentativa de o levantar, mas não fez muita diferença considerando que ele era grande e forte e eu pesava menos de 65 quilos. Ele levantou e nós começamos a caminhar até a saída.

- Sabe o que eu acho?- Disse passando os braços pelo meu pescoço.- Que nós poderíamos ter uma amizade colorida.

Ri alto, mas fiquei séria quando percebi que ele estava falando sério.

- Que?- Perguntei com as sobrancelhas arqueadas.- Tá comendo merda?

- Sério, porque tipo, a gente é amigo e eu já gosto de você pra caralho. Parece que eu te conheço há muito tempo, mas não.- Concordei.- Mas eu já percebi que rola essa tensão sexual entre a gente.- Gargalhei.- É sério, a gente já quase se beijou umas três vezes.

- Tá e daí?- Ele bufou.

- Ai, Ariana, vai se foder.- Revirou os olhos.

- Me ajuda?- Fiz a voz mais sexy que eu conseguia e ele me encarou de olhos arregalados.

- TÁ VENDO?- Perguntou e eu ri da cara dele.- Você deve estar achando que eu tô desesperado. Olha pra minha cara, eu tenho o time de líderes de torcida inteiro aos meus pés. - Sentamos em um banco que tinha na praça fora da escola.

- Não fala como se eu não fosse uma obra de arte.- Ele riu.

- Mas comparada a mim, você é só...uma menina bonita. Nem dá vontade.- Arqueei as sobrancelhas.

- Não dá vontade.- Ele fez cara de indiferente.- Então se eu te beijasse agora... Você tá me dizendo que não corresponderia ou não iria querer?

- Eu corresponderia, mas pra mim não seria grande coisa.- Deu de ombros de fazendo de indiferente novamente.- Além do mais, eu duvido que você teria coragem de...

Eu conheço Justin. Sei que as coisas não ficariam estranhas entre eu e ele depois de eu ter feito isso, porque elas pra mim não iriam ficar e automaticamente pra ele também não.

Não é como se eu gostasse dele, mas eu estava com vontade sim. Fala sério, ele é lindo, super legal comigo e estamos passando muito tempo juntos.

Eu não sou de ferro e sou filha de Deus, né.

Então o interrompi, virando o seu rosto rapidamente pra mim e colando nossos lábios. Nem precisamos "pedir" passagem, porque a passagem estava mais do que dada. Sentei no colo dele e puxava levemente seus cabelos enquanto ele apertava minha cintura.

No banco.

Da praça.

Normalmente eu acho esse tipo de coisa ridículo e depois eu com certeza me reprovaria por isso, mas agora eu estava tacando o foda-se. Justin mordeu o meu lábio e eu dei um leve gemido, arranhando sua nuca. Separamos os lábios e ele arfou grudando nossas testas.

Sorri fraco e levantei, voltando a minha pose.

- Então é isso. Lição do dia: Não duvide de Ariana.- Ele riu enquanto eu ajeitava meus cabelos.

- Tu é louca.- Falou baixo.

- Tava calor assim antes? - Deu de ombros e sorriu.

- Eu nem lembro de antes.- Ri.

- Poxa, pra quem disse que ia ser indiferente... Só não pode se apaixonar.- Botei a linguinha pra fora e sorri.

- Garota... Tá se achando demais.- Dei de ombros.

- Me leva em casa aí, não vim de moto hoje.

- Vai me dar almoço?

- Eu tô pedindo pra você me deixar em casa, não tô te convidando.- Ri e ele me encarou incrédulo.

- Por que você é assim? Me beija e depois me destrata?- Fez cara triste e colocou a mão no peito de forma dramática, mas logo riu também.

- Se meu pai e Sinthia não estiverem em casa, a gente faz strogonoff.- Bati palminhas.

- Por que eles precisam não estar em casa?- Sorriu malicioso.

- Porque eu não gosto muito deles.

- Ah. Se quiser falar sobre isso depois...

- Tô sussa.- Falei simples.- Bora?

- Bora.

Entramos no carro e Justin deu partida. Colocamos umas músicas e ficamos cantando até que ele perguntou.

- Quando o nosso dueto sai?

- Só marcar.- Sorri e continuamos cantando.

Logo chegamos em casa, já que eu não morava muito longe da escola. Abri a porta e Sinthia estava sentava no sofá fazendo algo do trabalho. Bufei e voltei até o carro de Justin.

- Aí, não vai rolar.

- Você quer ficar aí?

- Eu vou me trancar no quarto e dormir, como sempre faço.- Ele assentiu.

- Tudo bem, ratinha.- Revirei os olhos sorrindo e fui em direção ao meu portão para entrar novamente.- E eu não esqueci do lance da amizade colorida.- Falou alto o suficiente para que eu pudesse ouvir.

Ri negando com a cabeça e subi indo direto para o meu quarto. Tomei um banho e dormi em seguida.

Justin POV

Ariana é maluca, ela realmente tinha me beijado. Não falei brincando sobre a amizade colorida, afinal, Ariana é gata e é minha amiga, nunca achei as duas coisas em uma pessoa só. Eu gosto muito da Ariana, como amigo, é claro, gosto da companhia dela e gostaria ainda mais se fosse pra fazer outras coisas.

Sou homem, tenho meus desejos. Seria super legal, além do mais, poderíamos nos relacionar com outras pessoas.

Ariana deixou esses três dias de detenção muito mais divertidos do que eu imaginei. Ela sabe brincar, não se ofende com minhas ofensas e sempre tem uma graça pra falar. Diria que ela é meio irritante, mas é um irritante bom.

E seu beijo, puta que pariu hein.

Eu já estava imaginando cenas totalmente impróprias no meio da praça, mas mentalizei as crianças.

Mentalizar as crianças sempre me ajuda.

Não que eu queira ter filhos, não mesmo, mas acho o filho dos outros fofos. Tipo, aquela coisa que você aperta mas pode devolver pro pai logo em seguida.

Voltando ao beijo, eu sabia que ela queria tanto quanto eu, mas não imaginei que fosse tão "uau" e ao mesmo tempo tão aleatório.

Eu estou parecendo uma menininha cheia de graça fazendo um show por causa de um beijo, mas é que realmente foi diferente, e olha que eu já beijei muitas pessoas.

Cheguei em casa e nem minha mãe e nem meu pai estavam lá. Só tomei um banho e fui pra cama deitar, afinal estava cheio de sono.

Quando eu estava quase dormindo, meu celular vibrou e uma mensagem chegou. Gargalhei quando vi o nome que Ariana tinha salvo no contato dela no meu telefone. E gargalhei ainda mais quando li a mensagem.

15:48 Relâmpago MyQueen: Obrigada por esses três dias de detenção, amigo colorido.

Bloqueei o celular ainda com um sorrisinho no rosto e fui dormir.

Essa garota era inacreditável.