História Angels (Imagine Jeon Jungkook) - Você nunca vai ficar sozinha.

Sorri envergonhada e então o abracei, sentindo seu coração batendo rapidamente.

-Quer dizer que você não acreditava em anjos né? Irônico ter que conviver com vários agora -sorriu assim que me afastei.

-É, realmente achava meio sem noção existir pessoas com asas, na verdade, achava que quando as pessoas morriam iam pro céu e ficavam lá, fazendo sei lá o que.

-Achava que existia o paraíso?

-Algo do tipo.

-Talvez exista, mas o único que vai pra lá é o Tae. Tanto que ele e o Yoongi são os únicos que não precisam ficar na Terra o tempo todo, eles podem ir pras suas verdadeiras "casas" quando querem.

-Você e os outros meninos ficam aqui?

-Sim, no nosso caso, a gente só pode ir pro inferno se formos chamados, senão a gente fica vagando por aqui mesmo.

-Então vocês ''vivem'' normalmente? Tipo, tem uma casa, fazem comida e essas coisas todas?

-Praticamente. A gente só não faz comida, o Jin faz isso por nós, se bem que da última vez que ele tentou fazer isso, acertou um pedaço de pizza no olho do Jimin -riu.

-Que legal, e vocês tem tipo poderes mesmo?

-Sim, cada um de nós tem poderes específicos do pecado cometido, menos o Tae e o Yoongi, eles tem todos os nossos poderes, e mais alguns outros bem mais fortes que poderiam destruir qualquer um de nós.

-Agora você tá falando a minha língua -sorri empolgada- E qual é o seu pecado, Jungkook?

-Luxúria.

-Anjo com desejos sexuais é novidade pra mim -sorri sem graça e ele abaixou a cabeça.

-Por isso que eu tô aqui agora, porque eu sou um trouxa -riu envergonhado.

-Podia estar vivendo bem tranquilinho no céu.

-Eu sei, poderia abraçar meu amigo de novo -era ruim de ver a expressão de tristeza que se formava no rosto do Jungkook ao falar do Tae.

-Queria que não se machucassem desse jeito, Yoongi me explicou que não podem mais se tocar, deve ser horrível.

-A gente sempre foi muito próximo, além de que ele foi o meu primeiro amigo. Ele me tirou dos banheiros da escola e me mostrou que o mundo lá fora não era tão ruim assim, sempre que ficava perto dele, ficava feliz. Realmente me ajudou em praticamente tudo, principalmente nas aulas de matemática que eu pra ser sincero, era péssimo. Era pra quem chorava quando estava desesperado, ligava de madrugada dizendo que estava com insônia e muitas vezes ele vinha jogar video game comigo até dormirmos no sofá com os controles na mão. E até no nosso último momento juntos, ele me protegeu. Quando percebeu que o ônibus iria cair, ele jogou o corpo na frente do meu para que o meu impacto fosse menor e talvez não me machucasse tanto, mas foi inútil -a amizade deles é aquelas amizades que vemos apenas em filmes ou livros, mas era de verdade, era sincera e realmente era um amor tão único.

Mas não é aquele tipo de amor carnal, não havia desejo, nem nada do gênero, havia apenas respeito, e eles queriam se proteger mesmo que fosse um do outro. O amor mais puro e lindo que pode existir.

Imagino o quão ruim deve estar sendo pros dois, de repente estavam em mundos diferentes, separados e condenados a se machucarem por um simples toque. E então a morte os separou, deixando um na Terra e o outro no céu, torcendo que algum dia possam se abraçar novamente como nos velhos tempos.

Abracei ele de lado, que sorriu, passando os dedos entre os meus cabelos.

-Desculpa pelo desabafo -disse sem graça.

-Não pede desculpa, é bom desabafar, imagino a dor que está sentindo.

-É que foi muito de repente sabe? Alguns dias atrás nós estávamos jogando juntos no sofá e agora estamos aqui, cada um no seu canto, nem conversamos direito. 

-Vai dar tudo certo, Kook -falei mesmo sem ter certeza se era verdade, não sei se vai dar certo afinal de contas, mas quero tanto que dê.

Então decidimos parar de falar sobre isso. Jungkook começou a perguntar sobre algumas coisas bobas da minha vida, até mesmo sobre a minha cor favorita a gente acabou falando. Era fofo ver como ele tentava manter uma conversa mesmo que não existisse mais assuntos. Ele via uma pedra na rua e isso já era suficiente pra ele tentar criar um diálogo baseado nisso, qualquer coisa era motivo de conversa, por mais que fosse completamente inútil, e eu adorava falar sobre absolutamente nada com ele.

Sentei com ele no banquinho da praça e então um moço passou vendendo picolés, e Jungkook logo pediu pra ele parar. Comprei um picolé de chocolate e ele pegou um de morango.

-Nossa que gostoso, experimenta -falei colocando o picolé perto de seu rosto e como ele estava de cabeça baixa, levantou com tudo, sujando o nariz com o chocolate derretido.

-Ah, gostoso mesmo -disse sorrindo ironicamente e então passei meu dedo na ponta de seu nariz, o limpando.

-A boca é mais pra baixo, Jungkook.

-Sério? -ele sorriu e colocou a mão em minha nuca, aproximando nossos rostos- É aqui né?

Disse passando o indicador em meus lábios e eu corei, logo sentindo o toque leve de seus lábios colados aos meus. Quando aprofundamos o beijo, era possível sentir a mistura dos sabores de morango e chocolate, o que era incrivelmente bom.

Passava minha mão em seus cabelos e sorria levemente entre o beijo.

Eu realmente beijei um anjo.

Nos afastamos e então o abracei com força, me transmitia uma paz, uma segurança incrível, e eu não queria mais largar essa sensação, na verdade não só a sensação, não queria deixar Jungkook ficar longe de mim.

Levantamos e então senti alguém puxando a barra da minha camiseta.

-Continua a mesma vadia de sempre, não é? -olhei pra trás e vi o maldito homem grisalho que tanto odiava.

-Quem é ele, ____? -Jungkook perguntou assustado.

-Esquece, vai embora, a gente se vê amanhã -falei me afastando o deixando completamente confuso, mas não poderia deixá-lo ver essa cena horrível acontecer.

Saí rapidamente sendo seguida pelo homem.

-Tira a mão de mim- falei brava e ele me puxou pelos cabelos com força.

-Você não respeita seu pai não é mesmo?

-Você é qualquer coisa, menos meu pai, pai de verdade não trata a filha desse jeito.

-Me respeita, piranha -disse dando um tapa em meu rosto.

Coloquei a mão no rosto e saí correndo pra casa, assim que cheguei, tranquei todas as portas e janelas, fechei as cortinas e me joguei na cama.

Eu só queria que ele morresse, aquilo não era um pai decente, não devia ter o mínimo direito de ser chamado de pai. Esse bêbado nojento e aquela prostituta drogada, como eu poderia chamá-los de pais? Tinha nojo deles e só queria me ver livre deles.

Talvez devesse pedir ajuda pro Tae, mas ele é um anjo e não me ajudaria numa tarefa tão pesada.

Meu rosto estava inchado por causa das lágrimas que insistiam em cair, estava desesperada. Queria ter ficado com o Jungkook, tê-lo abraçado e pedido ajuda, mas não queria que ele visse a cena horrenda que sempre acontecia quando encontrava meu pai, ele não merecia ver algo assim.

Eu só queria ser forte o suficiente pra revidar as agressões, ou pelo menos impedir que ele me batesse, mas no final, sempre apanhava e me via chorando jogada na cama. Eu não sei o que fazer.

Fechei os olhos implorando que aquilo fosse apenas um pesadelo e então beijei o colar que Yoongi tinha me dado.

-Por que você não me levou junto com você? Por que me deixou sozinha aqui? Eu preciso de você, Yoongi -ele era o único que podia me ajudar, sem me julgar ou sem me dizer que eu tinha que ser calma e paciente, que seria o que Taehyung diria. Precisava do seu apoio.

Yoongi P.O.V

Me ajoelhei ao lado de sua cama, vendo seu rostinho inchado e vermelho. Passei meus dedos em suas bochechas, enxugando suas lágrimas. 

A cobri com um edredom roxo e me sentei ao seu lado, passando os dedos desembaraçando as pontas de seu cabelo bagunçado. Entrelaçei nossos dedos e mesmo dormindo ela os apertou com força.

Dei um beijo em sua testa e sorri fraco.

-Enquanto lembrar de mim, você nunca vai ficar sozinha.