História Ângulos - Antes que as flores murchem

Passo na floricultura e peço o buquê de violetas que ela adora. Enquanto dirijo minha mente viaja em toda e beleza e paz que ela traz consigo. Lembro do quanto amo aqueles cachos ruivos caídos sob as lanternas verdes sempre acesas que são seus olhos. Cada parte dela me agrada e me leva para um lugar longe de todos esses problemas e crises deste mundo poluído. Quero vê-la logo. Agora, já. Ela é a única coisa que me faz ser o que sou.

Como se fosse planejado, a música favorita dela começa a tocar na rádio. Nunca gostei, mas sempre a observava enquanto dançava e cantava como uma criança.

Depois de alguns minutos no paraíso, acabo chegando. Desço do carro e pego o buquê. Na mente há apenas a imagem de seu sorriso tímido e ao mesmo tempo doce. Lá está ela, há alguns metros de mim, num vestido branco e lindo, assim como sua pele. Ando em sua direção com um sorriso de bravura, como se fosse seu guerreiro corajoso que viera lhe resgatar. Está tudo tão maravilhoso, mas acaba de forma repentina e eu me vejo novamente na dura realidade. Não importa o quanto eu lute ou me iluda, não existe um caminho de volta. Antes que eu perceba as lágrimas escorrem quentes sobre o meu rosto e eu me xingo baixinho. Ela me havia feito prometer nunca chorar por aquilo. Chega a doer, mas a verdade é que nunca mais a verei.

Eu me ponho de frente ao seu túmulo como um soldado bate continência. Coloco o buquê em frente a lápide e sussurro um breve “te amo”. Fico mais alguns minutos em silêncio ali, como se ela pudesse chegar a qualquer momento. Mas a dura realidade me diz a verdade. Ela só existe em minhas lembranças agora.

Hoje faz cinco anos desde que eu vi aquele sorriso tímido e ao mesmo tempo doce pela última vez.

Faz cinco anos que a perdi.