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História Anjo Diabólico - Tóxico e cruel - não é o amor


Escrita por: MannyChuva

Notas do Autor


OI, GENTEEEEEEEEEE!
AIMEUCORE eu tava com tantas saudades, SOCORRO!

Gente... mil perdões... eu atrasei muito. Demais. Imperdoável, eu sei. Mas vou contar o causo:
Essa semana foi um INFERNO. Alguém me adota, por favor?? Tô com visita em casa, então tive que ficar por conta, ne. Ai tbm tinha a faculdade, que esse semestre vai matar a porrete, mds, muito difícil. Ai eu já estou estudando pra tentar entender que porra é aquela q os profs tão falando, pq parece uma língua alienígena, mas é só bioquímica metabólica. Enfim. Não pude escrever. Eu ia pegar pra escrever e surgia algo pra eu fazer aqui em casa, um cu. Ah, e pra ajudar, eu ainda peguei uma gripe horroroza por causa do ar congelado, ops, condicionado da minha sala. Oqq era aquilo, gente? Só faltava nevar na minha sala, porra! Mas eu pedi na manutenção pra aumentar a temp, pq ninguém mais levantou a bunda da cadeira pra pedir grrrr!
Estou a ponto de perder as estribeiras, me perdoem. Se eu pudesse, ficava aqui vinte e quatro horas, pq esse é o melhor lugar do mundo pra mim, eu queria viver escrevendo. Acho que é a única coisa boa na minha vida ultimamente.
Ai... desculpem o desabafo enorme. Se você me aguentou até aqui saiba que eu nem sei como agradecer a tanto amor e carinho que recebo de vocês. Os melhores leitores do site, grandes amigos que me sustentam emocionalmente de uma maneira incrível. Acho que se não fosse esse projeto com vocês eu já tinha desmoronado...
Enfim, obrigada, mil vezes.

Ai, ai... pra compensar essa demora, vim com esse capítulo ENORME que vai sanar quase todas as dúvidas de vocês kkkkkkk leiam com calma pra entender direitinho. Espero que as coisas façam sentido, mds, imagina se vcs continuam dizendo "tô confusa, tô perdida" TuT
ENFIM. VÃO LER, MEU AMORES!

Capítulo 21 - Tóxico e cruel - não é o amor


Fanfic / Fanfiction Anjo Diabólico - Tóxico e cruel - não é o amor

 

Capítulo 21

Tóxico e cruel – não é o amor

 

Acho que nunca havia me sentido tão feliz na vida. Minha certeza sobre meus sentimentos por Baekhyun, e sobre os dele por mim, havia me deixado com a sensação de que éramos invencíveis. De que toda a maldade, todas as energias ruins no mundo não eram nada se comparadas ao nosso amor e a nossa união. Isso era maravilhoso.

Mas havia me cegado, me deixado tolo e ingênuo. Dois jovens anjos apaixonados. Dois jovens anjos descobrindo o mundo, desenvolvendo seus ideais, aprendendo a separar o certo do errado.

Éramos como crianças que não sabiam que, depois que se quebra algo, aquilo nunca mais voltará a ser o mesmo.

Baekhyun e eu continuamos a nos ver, continuamos a nos amar. Eu continuei buscando meus ideais, motivado pelos sentimentos que fluíam dentro de mim. E Baekhyun fez o mesmo, motivado pelas mesmas razões.

Que mal podia haver uma boa intensão?

Mas não importa a intensão. O mal se esconde entre as boas ideias, se arrasta entre os justos, só para dar o bote quando é tarde demais.

Talvez eu pudesse ter enxergado o quanto Baekhyun parecia distraído, desligado. Quantas suspensões mais havia recebido. Quanto tempo ficava ausente, vagando pelo desconhecido, frequentando locais perigosos, à mercê da tentação.

As pistas estavam ali, expostas na minha frente. Mas eu não as vi.

— Está chegando nossa vez de mudar de orientador — comentei animado, enquanto dedilhava as teclas do piano. — Finalmente vou poder ter um mentor Anjo da Guarda. E finalmente você vai poder sair da orientação de um Anjo da Morte. E estamos felizes, cheios de vontade, e temos um ao outro pra sempre. Podia ser melhor, Baekkie?

Sorri tocando uma nova peça que estava fazendo sucesso. Baekhyun não me respondeu. Me afastei do piano, virando para olhar meu amado que fitava o pôr-do-sol pela janela. Ele estava sentado ao pé da cama, e encarava tudo distraído. Naquela luz crepuscular, seus olhos tinham um estranho brilho avermelhado.

— Baekkie? — o chamei. — Você está me ouvindo? Quero que comemore comigo, vamos dançar!

Me aproximei sorridente de Baekhyun, mas ele continuava na mesma. Suspirei e me ajoelhei na sua frente, procurando por atenção.

— Baekhyun, o que houve? Pensei que fosse virar piruetas porque vai sair da orientação de Lay...

Ele me olhou. Engoli em seco, seus olhos pareciam tão rígidos...

— Eu não vou — ele disse.

Sorri.

— É só uma expressão, bobinho. Não precisa virar piruetas de verdade. Mas podíamos dançar...

— Eu não vou sair da orientação de Lay.

Franzi as sobrancelhas, confuso.

— Eu não compreendo... já se passaram anos que está sob a tutela dele. Você deve passar para o próximo...

— Chanyeol — ele me fez parar de falar. Parecia irritado. — Eu não vou sair da tutela dele, porque, segundo o senhor carrasco, eu estive mais ausente do que presente. E meu tempo com ele não foi o suficiente para “absorver a essência de seu dever” — ele agitou os dedos ao citar o outro. Baekhyun girou os olhos e voltou a escarar a paisagem pela janela, sem realmente vê-la. — Eu não posso mais, Chanyeol. Chega. Eu não vou passar mais um instante com aquele... aquele... ser diabólico.

Ofeguei. Baekhyun realmente não parecia estar em seu juízo perfeito.

— Baek... o que está dizendo... ele é seu mentor...

— Ele é quase um demônio, Chanyeol! — ele gritou e eu me encolhi. — Ele teve a coragem de me dizer que eu não podia mudar de mentor logo após levar uma criança que eu estava quase salvando. Ele a levou! A arrancou dos meus braços, como se não valesse nada!

Baekhyun se levantou. Ele quase bufava de raiva. Eu o olhei assustado, sem saber o que fazer.

— Baek... se você tentar conversar com ele...

— Eu nunca mais vou chegar perto daquele carrasco! — esbravejou. — Anjo da Morte... — ele riu em escárnio. — Não há criatura mais desprezível!

Abracei meus braços, sem saber o que fazer. Apenas observava Baekhyun andando inquietamente pelo quarto.

— Nós temos que mudar, Chanyeol. Isso não é certo, essa guerra sem fim — ele apontou para a janela — nunca vai acabar se nós não fizermos alguma coisa!

— O-o que você quer fazer? — perguntei com receio.

— Outros anjos concordam comigo. Nós vamos realizar uma revolução, Chanyeol. Você pode vir comigo. Jongin está lá também.

Arregalei os olhos. Jongin não era visto há anos.

— Você viu o Jongin? — perguntei ansioso.

— Claro. Nós conversamos muito ultimamente. Ele me entende, também quer fazer alguma coisa.

— Ultimamente? Desde quando sabe onde ele está?

— Desde alguns meses — ele deu de ombros.

— O quê? Baekhyun! Você sabe sobre a minha preocupação quanto ao paradeiro do Jongin. Por que não me contou antes?

— Por causa da revolução, Chanyeol. Estávamos planejando as coisas em segredo. Eu não podia contar pra ninguém, nem mesmo pra você.

Franzi a testa. Tudo isso era muito estranho, muito... errado.

— Baekkie... não podemos fazer isso. Essa revolução vai atrapalhar tudo, a guerra vai explodir de vez se os anjos estiverem muito ocupados lutando uns contra os outros.

Baekhyun parou e me olhou. Seus olhos eram frios, quase cruéis. Não eram os olhos que eu conhecia.

— Você não precisa ir se não quiser. Alguns anjos não são fortes o suficiente para mudanças. Bem que Zholo falou...

Quem? O que estava acontecendo?

— Baekhyun! — o chamei, mas ele já deixava o quarto.

— Nós vamos mudar as coisas, Chanyeol. Até lá — ele me olhou —, fique fora do nosso caminho.

 E saiu, batendo a porta.

Me encolhi na cama, sentindo que as coisas estavam erradas demais. O que acontecera com o meu Baekhyun? Meu doce e gentil Baekhyun, de uma hora para outra, virou alguém que eu não conhecia. Alguém que me assustava.

Eu precisava trazer meu Baekhyun de volta.

 

 

Procurei por Lay incansavelmente, mas ele devia estar ocupado, pois ficava mudando de lugar constantemente. Quando o encontrei, o dia já abria espaço para a noite. Ele parecia cansado, mas ainda assim exibia aquele sorriso sereno. Sua aparência pacífica era quase uma perturbação naquela cidade destruída e caótica.

Eu nunca havia falado realmente com o Anjo da Morte. Sempre o olhei de longe, me perguntando secretamente por que ele teria escolhido aquele caminho onde se testemunhava dor e sofrimento, ao mesmo tempo em que tentava encontrar o carrasco que Baekhyun descrevia. Lay era angelical demais para poder ser comparado a um carrasco.

Minha conversa com ele foi estranha e imprevisível. Ele parecia ser um anjo distraído, como se enxergasse algo que passaria despercebido para o resto do mundo, ou como se estivesse constantemente vigiando alguma coisa, escutando algo além de mim.

No começo, não deu tanta importância para a minha preocupação sobre o estado de Baekhyun. Ele começou a comentar como Baekhyun era um jovem anjo cheio de paixão e determinação, apesar de ser impaciente algumas vezes. Lay realmente gostava de seu pupilo.

Porém, quando mencionei as ideias sobre mudança e uma suposta revolução envolvendo Baekhyun e outros anjos, Lay pareceu focar toda a atenção em mim. Foi estranho, como se me enxergasse completamente pela primeira vez. Me senti exposto, mas não tive muito tempo para me incomodar com isso, porque ele pediu por mais detalhes, pediu para que eu repetisse tudo o que Baekhyun havia dito. Não sei o que ele esperava encontrar, mas fiz isso durante algum tempo. Eu falava, ele ouvia e depois me fazia tentar me lembrar de mais coisas.

Ficamos nisso por algum tempo. Falei sobre Jongin, e sobre como Baekhyun escondera de mim que estava encontrando nosso irmão de Angelus nimbus. E então, cansado de tantas perguntas por parte de Lay, falei o que estava me incomodando tanto: sobre como Baekhyun havia dito que eu era fraco por não querer participar de toda aquela história sem sentido. Eu estava assustado, perdido, isso fazia de mim um anjo fraco?

Mencionei a Lay que um tal de Zholo havia dito isso a Baekhyun, e na minha cabeça me forcei a não considerar tanto isso. Mas Lay deve ter encontrado o que tanto queria me fazendo repetir aquela dolorosa conversa inúmeras vezes. Parecendo perturbado pela primeira vez, Lay me disse para continuar com meus deveres, e ele cuidaria de Baekhyun, e então foi embora, desaparecendo na minha frente.

Foi com esse “vou cuidar de Baekhyun” que eu comecei a sentir que havia algo muito mais sério acontecendo. Eu não conhecia nenhum Zholo, nunca tinha ouvido falar sobre revolução antes de conversar com Baekhyun, então não imaginava a dimensão dos acontecimentos que se seguiram.

Mesmo assim, só me importei com Baekhyun. Desde o princípio, até o fim.

 

 

Eu bem que tentei continuar com meus deveres. Tentei ignorar tudo aquilo, dizendo a eu mesmo que tudo ficaria bem, e deixando tudo nas mãos dos anjos mais experientes.

Mas não consegui. Talvez aquilo fosse meu primeiro ato rebelde. Ou talvez só fosse eu tentando entender o que estava acontecendo.

Dei um jeito de encontrar Lay. Não foi difícil, já que ele estava em uma reunião com outros anjos mentores da região. Eles se encontraram em uma grande construção. Alguns anjos mais jovens como eu estavam por lá, conversando despreocupados, tentando adivinhar o motivo de uma reunião repentina. Acho que não estou tão por fora assim, pensei passando por eles.

As reuniões eram fechadas. Elas tratavam sobre o mundo angelical, sobre os deveres dos anjos, nossas organizações e algumas mudanças nas diretrizes. Nada não usual, nada fora do comum. Exceto aquela reunião repentina.

Entrei na construção, evitando os outros anjos. Alguns eram meus irmãos de nuvem e me cumprimentavam. Eu respondia e dava um jeito de despistá-los. Adentrei a construção, tentando ser rápido e discreto ao mesmo tempo. Subi lances de escadas, espiei em salas vazias, desviei de anjos que vagavam pelos corredores. A sala de reunião devia ser a última. Eu sabia que não me seria permitido entrar, mas daria um jeito de ouvir alguma coisa.

Mas quando pensava estar próximo, vi inúmeros anjos descendo do último andar. A reunião havia acabado.

Corri até uma sala vazia, onde havia vários instrumentos musicais. Me escondi atrás de um piano bem no momento em que a porta se abriu. Alguém entrou. Não, era mais de um.

— Temos que ir logo — ouvi uma voz que me era familiar.

— Sim, mas estou preocupado — respondeu alguém. Era Lay, eu tinha certeza. Sua voz ficara gravada na minha mente. — Iremos sem avisar os jovens? Ainda acho que eles deveriam saber.

— Já foi decidido, Lay. Isso causaria uma confusão desnecessária aqui, tudo o que não queremos. Conversaremos com todos quando isso acabar — a voz era séria e severa, mas eu não conseguia reconhecê-la.

Alguém suspirou.

— Espero que acabe logo — disse Lay.

— Isso vai acabar hoje. Não podemos deixar que avance nem um pouco mais. Isso traria graves consequências para os humanos. Eles dependem de nós, ainda mais nesses tempos inconstantes. Agora vamos, somos a frente.

Os dois deixaram a sala e eu me levantei. Perto da porta se encontrava um pequeno palanque que devia ter sido utilizado na reunião.

A movimentação do lado de fora havia cessado. Os anjos deviam estar indo acabar com o que quer que fosse. Talvez fossem buscar os anjos jovens que querem se aliar à revolução. Talvez fossem conversar com o tal Zholo. Ou talvez fossem iniciar uma briga. Essa ideia me fez estremecer. Brigas de anjos eram como uma catástrofe natural: vêm com intensa força, fazem a maior bagunça e depois desaparecem, com um monte de consequências deixadas para trás como forma de provar o que acontecera.

Baekhyun poderia estar no meio disso. Poderia se ferir. Poderia morrer. Eu precisava ir com eles. Precisava estar na frente e ver o que fariam de perto.

Saí do prédio, encontrando os anjos jovens ainda ali. Os mais velhos já deviam ter partido. Me aproximei de um grupo de irmãos de nuvem e perguntei o que aconteceu, como se tivesse chegado agora, e soube que os mentores haviam partido para atender um grande chamado e que os jovens deviam permanecer ali até segundas ordens. Uma simples instrução, que seria seguida à risca. Os anjos são muito confiáveis e obedientes.

Por isso me assustei comigo mesmo quando voltei para a construção e me escondi, pegando meu cristal de nuvem e me concentrando. Precisava saber onde os mentores estavam. Quando os localizei, respirei fundo, concentrando minha essência, e me deixei seguir até o local desconhecido.

 

 

Quando abri os olhos, desejei não tê-lo feito.

O lugar era o completo oposto de onde eu estava. No lugar de construções semidestruídas, porém visivelmente belas, eu via rochas crescendo do solo morto. No lugar do céu azulado cheio de nuvens brancas, estava um breu tão intenso que julguei não ser o céu. Parecia uma caverna ampla como o grande salão do meu Castelo de Cristal. A iluminação era fraca e avermelhada e o ar era quente e pesado, com uma névoa rala tomando forma mais adiante.

Não havia ninguém ali.

Andei pelo salão cavernoso, vendo algumas passagens nas paredes, que deviam levar a túneis e outras galerias. Um som abafado vinha de uma das passagens, pareciam vozes falando ao mesmo tempo, e também parecia o som de algo quebrando.

Andei até a passagem. Um corredor estreito e irregular seguia em curva, não me permitindo ver muito além de onde eu estava. Cautelosamente, segui pelo túnel, torcendo para encontrar Baekhyun logo. Nós sairíamos de lá e ficaríamos em um lugar tranquilo onde não precisássemos nos envolver em nenhuma briga ou discussão.

O túnel começou a ficar mais claro, com uma luz mais amarelada. As vozes aumentaram e eu pude ouvir gemidos, sussurros e risadas. Engoli em seco e me aproximei devagar. A pequena galeria aonde dava o túnel logo apareceu em meu campo de visão, iluminada por velas amarelas espalhadas por toda parte, e eu pude ver que alguns anjos estavam lá.

Adentrei a galeria e parei de repente, tendo uma ampla visão do que acontecia lá dentro: anjos se beijavam, se tocavam e se lambiam grotescamente. Estavam com as asas expostas, caídas atrás de si, como se estivessem sido esquecidas. Elas estavam desbotadas, em um tom de cinza escuro, e pareciam se tornar gradativamente mais claras, como fumaça. Seus olhos – quando abertos – tinham um brilho avermelhado. Alguns anjos pareciam chupar a pele de outros compulsivamente, até eu notar que estavam sugando seu sangue.

Ofeguei, me afastando, mas escorreguei e caí sentado. O chão estava sujo com o sangue prateado. Minha queda atraiu a atenção de um anjo em particular. Ele me olhou com os olhos vermelhos brilhantes e abriu um largo sorriso. Seus dentes eram afiados. Ele era um demônio, apenas levemente diferente de um anjo, um dia já foi um. Nós aprendíamos isso em nossa nuvem. Imaginei como ele era antes de beber tanto sangue angelical que se tornou uma variação densa de si mesmo, transformando sua essência angelical em demoníaca. Era aquilo que os outros anjos estavam bebendo: essência demoníaca.

— Olá, irmãozinho — sussurrou o demônio que ainda me encarava sorrindo bizarramente. Sua voz soava como metal líquido, aguda e áspera. Ele se aproximava devagar. — Se perdeu? Não precisa ficar assustado, estamos nos preparando para a grande brincadeira. Você quer um pouco de essência? Ela te fará se sentir melhor, você parece não tomar a algum tempo...

Fiquei encarando o demônio falando comigo. Ele parecia cada vez menos com um anjo. Sua expressão era assustadora. Seus olhos vermelhos estavam arregalados e seus lábios não paravam de sorrir lunaticamente. Ele parecia a imagem do desespero e da insanidade. Vi a criatura ergueu o braço e rasgar o pulso com os próprios dentes. Um sangue prateado escorreu de lá.

Eu não podia beber aquilo. Perderia meus sentidos e poderia ficar preso aqui pra sempre, até me tornar um demônio também. Aquilo era como uma droga. Era uma abominação beber do próprio sangue, o líquido da vida, que ao mesmo tempo poderia levar à loucura. Dois lados de uma mesma moeda.

Quando um anjo bebe o sangue de outro anjo, ele se intoxica com o poder antigo que reside em nossas veias. Isso causa uma mudança interna, o descontrola. O consumo contínuo pode mudar a própria essência do usuário, transformando-o em um demônio; seu sangue vira essência demoníaca. Beber diretamente dessa essência só acelera essa transformação.

Me levantei rapidamente, deslizando no chão de pedra ensanguentado, e corri para o túnel, ouvindo o sibilar do demônio surpreso.

Não parei para ver se ele me seguia, apenas continuei a correr até chegar no grande salão cavernoso e adentrar outro túnel qualquer. Corri por ele, suado e ofegante. O túnel parecia mais quente, mais luminosamente vermelho. Gritos podiam ser ouvidos, e eu corria em direção a eles.

Quando o túnel acabou, pensei que fosse sair para o ar livre. Porém, a galeria era tão grande, tão alta, que poderia abrigar milhares de anjos. Isso se não fosse o enorme rio de lava que corria bem na minha frente: o Rio do Tempo, que assim como o tempo, flui desde o início das eras, trazendo vida e morte. Ele se encontra no coração do mundo, e era a fonte de energia que movia o planeta.

E era no coração do mundo que eu me encontrava.

Eu estava no início de uma larga ponte que parecia ser feita de pedras e carvão. O solo era quente e o ar estava tomado pelo mormaço.

E estava tomado por anjos.

Anjos com suas asas negras e brilhantes empunhando espadas luminosas e atirando flechas com arcos. E demônios combatendo os anjos com espadas flamejantes. Espadas forjadas do metal encontrado naquele lugar, e mergulhadas no Rio do Tempo. Uma arma perfeita para lutar contra anjos, já que as águas de fogo do rio eram mortalmente tóxicas para a natureza angelical.

Mas é claro que demônios, seres que abandonaram sua natureza angelical há anos, poderiam manusear tais armas sem correrem grandes riscos. Já nós, anjos, estávamos cercados pelo perigo naquele lugar. Tudo era letal.

Precisei me mover quando uma flecha luminosa quase me atingiu. Andei pela gigantesca ponte, vendo que entre os demônios se encontravam jovens anjos como eu. Suas asas cinzentas pareciam rachadas, e das fendas emanava um brilho alaranjado como fogo. Era parte do processo de transformação e – assim como os olhos vermelhos como rubis – significava que aqueles jovens anjos estavam altamente intoxicados com essência demoníaca.

Arfei em desespero, querendo encontrar logo Baekhyun. Eu precisava tirá-lo dali. Sumiríamos daquele lugar mortífero e nunca mais voltaríamos. Corri pela ponte, olhando para os lados, para o ar, procurando algum sinal. Tentando alcançá-lo.

Enxerguei o final da ponte, que acabava de repente em uma enorme parede, como se a adentrasse. A parede era deslumbrante. Ela brilhava em milhões de feixes de luz, feita totalmente de diamantes. Era o Portal do Além-Mundo. Nenhuma criatura viva podia ultrapassá-lo, a não ser os Anjos da Morte, que encaminham as almas para o Além-Mundo. Só eles sabiam o que se encontrava do outro lado daquela enorme e magnífica parede.

Me aproximei do Portal, avistando alguns seres ao final da ponte. Um deles era um enorme demônio, com asas tão largas e quase leitosas se abrindo atrás de si. Em volta dele, estavam alguns jovens anjos.

Ofeguei.

Jongin estava lá. Ele encarava a batalha como se estivesse hipnotizado. Gritei seu nome, mas ele não pareceu me ouvir. Acho que nem se eu o sacodisse ele me veria. Seus olhos estavam com o típico brilho avermelhado, e suas asas, cinzentas e rachadas de fogo. Essência demoníaca pingava de seu queixo.

Olhei entre os outros anjos jovens, avistando alguns conhecidos. Todos no mesmo estado de Jongin. Todos acordados, porém presos dentro de si, dentro de uma nuvem diabólica.

Mas foi quando olhei em direção ao enorme demônio que eu o vi.

Baekhyun.

O demônio grotesco o segurava, deixando seu sangue cair de um corte na palma da enorme mão. O sangue prateado escorria pelo pescoço de Baekhyun, pois era mais do que ele poderia beber. Ele parecia desacordado, com os olhos fechados e a boca aberta.

Observei inerte e impotente até que o demônio pareceu ter julgado que era o bastante, e segurou Baekhyun o empurrando rudemente para frente do grupo de jovens anjos intoxicados. Ofeguei quando Baekhyun caiu de joelhos, com a cabeça abaixada. Suas asas cinzentas tremeram atrás de si e ele ergueu a cabeça devagar. Abriu os olhos repentinamente, e estes pareciam brilhar com a cor escarlate e a luminosidade de fogo do rio. O sangue prateado contrastava com sua pele pálida.

Seus olhos cruzaram os meus e eu estremeci. Ele não pareceu me reconhecer. Apenas se levantou e se postou ameaçadoramente. O demônio riu atrás do grupo e olhou na minha direção. Seu sorriso se alargou, expondo os dentes afiados e ainda mais assustadores do que o do demônio que me abordara antes.

— Chanyeol... — sua voz trovejou chamando o meu nome. O ar pareceu ficar parado nos meus pulmões. Todavia, ele continuou a falar com sua voz gutural. — Eu esperei por você. Baekhyun também. Ele ficou tão decepcionado quando você não o procurou... mas vejo que está aqui agora. Veio receber meu presente e mudar o futuro, filho?

Me encolhi como se suas palavras me repelissem. Olhei para Baekhyun, parado como uma marionete. Meu coração bateu dolorosamente, mas ao mesmo tempo a visão me encheu de fúria. Meu Baekhyun, usado como um objeto. Não poderia pensar em outra coisa que não fosse ele sendo enganado por aquele ser das trevas. E eu não percebera o que estava acontecendo com aquele que tinha a maior importância na minha vida.

Me virei furioso para o demônio. Aquele que eu sabia agora ser Zholo.

— Eu não sou seu filho. Baekhyun não é. Nenhum deles é. Você os enganou! Você os usou! Os fez beber seu sangue profano! Como pode não ter nojo de si mesmo, seu demônio?!

O sorriso de Zholo vacilou, mas ele não desistiria facilmente.

— Vejo que apenas me enxerga da maneira que lhe foi ensinado enxergar. Meus irmãos anjos sempre espalharam uma imagem ruim e distorcida sobre nós, demônios. Tudo porque eles não suportam a ideia de mudança, de tentar algo diferente. Preconceituosos, todos eles. Mas eu não os culpo. Também temia o desconhecido. Mas quando soube da verdade, nada mais precisava ser temido.

Franzi as sobrancelhas.

— Que verdade? — perguntei cauteloso, sem conter minha curiosidade.

Zholo gargalhou.

— Ora, vejo que é tão curioso quanto seus irmãos. Todos os jovens anjos são. Crianças inocentes, sedentas por aprender, por beber da fonte da sabedoria. Por desvendar os segredos da vida e da morte...

Ofeguei. A morte. Se Zholo enganasse Baekhyun, dissesse a ele como poderia contar tudo sobre o que mais o aterrorizava, não vejo como Baek poderia resistir. Ele sempre fora o mais curioso de todos da nossa nuvem.

— A morte não nos pertence — retruquei. — Não é algo que precisamos nos preocupar. É algo para os humanos questionarem e aprenderem. Nossa vez ainda chegará.

— Ah... o jovem aprendiz exemplar. Você deveria estar aos cuidados de Lay. A morte não parece assustá-lo.

— Não me importo com a morte. Nasci para ser um Anjo da Guarda. Baekhyun também poderia ser um, mas você o tirou de seu caminho.

Zholo finalmente parecia estar perdendo a paciência. Eu não cederia. Nunca me voltaria para o lado daquele que enganara Baekhyun. O demônio me encarou sorrindo sarcasticamente.

— Anjo da Guarda? — ele cuspiu em desprezo. — Seres fracos que servem aos humanos. Agora sei por que não acompanhou Baekhyun. Anjos fracos não são capazes de proporcionar mudanças grandiosas. E muito menos merecem o meu tempo.

Rangi os dentes, pronto para gritar com ele, mas com um gesto das mãos, ele fez algo que pra mim seria inimaginável.

— Grande Anjo da Guarda você seria — falou Zholo. — Não pôde ao menos salvar seu irmãozinho, com certeza só traria morte aos seus Guardados. Veremos se você lida tão bem assim com a morte, anjinho.

Ainda absorvia o peso de suas palavras quando Baekhyun abriu as asas e avançou velozmente na minha direção. Vislumbrei o lampejo vermelho de seus olhos antes de ser acertado e voar para trás, rolando pela ponte.

O ar me faltou e eu tossi, sentindo uma dor lacerante do lado esquerdo do rosto. Tentei me erguer, mas mal me ajoelhei e Baekhyun já havia me alcançado. Seu joelho foi de encontro ao meu abdome, arrancando o resto do ar que me sobrara. Fui acertado de novo, e de novo, sem ao menos poder chamá-lo, tentar acordá-lo.

Ele me deixou cair de exaustão e dor. Rolei no chão, gemendo e tossindo, engasgando com meu próprio sangue prateado. Olhei para cima, vendo os olhos escarlates, que me encaravam com tamanha frieza, que me esqueci de que estava olhando para os olhos de quem amava. Suas asas estavam estendidas, cinzentas e cobertas com rachaduras de fogo. A visão bela e terrível de um fim.

Mas eu não podia desistir.

Grunhi e com a força que me restava, liberei minha essência interior. Algo semelhante a um animal dentro de mim. Meu eu mais poderoso, onde minhas asas se abriam em liberdade. Baekhyun se afastou quando percebeu o que eu estava fazendo.

Senti minhas asas negras e fortes temerem atrás de mim e encarei Baekhyun.

— Baek! Você tem que me ouvir — comecei, passando o punho pela boca para limpar o sangue. — Você foi enganado. Toda essa revolução é uma mentira vinda de um demônio. Você detesta demônios, lembra-se? Mais do que detesta a morte. E agora um demônio está te ordenando a ser um carrasco. Você não pode fazer isso, não pode ceder a isso. Está me ouvindo?

Olhei em seus olhos, desesperado para enxergar alguma mudança, algum traço vindo do meu Baekhyun.

Mas não havia nada ali.

Ouvi a gargalhada gutural de Zholo enquanto Baekhyun avançava decidido na minha direção.

— Baek, não... — meus olhos lacrimejaram. Eu tinha que pensar em outra coisa. Tinha que libertá-lo. — Por favor, Baek... você tem que me ouvir!

Nunca havia me sentido tão inútil, tão impotente. Era tudo culpa minha. Eu havia feito aquilo com Baekhyun. Eu havia menosprezado sua dor, sua angústia em viver dia após dia cercado por aquilo que mais temia e repudiava. E agora ele se tornaria instrumento para a morte. Como ele poderia lidar com isso depois?

Tentei fugir. Voar para o meio da batalha aérea. Procurar por ajuda, procurar por Lay. Mas quando alcei voo, Baekhyun foi mais rápido e, tomado pela força demoníaca, me segurou e me derrubou.

Caí no chão só para ser acometido por mais violência. A cada golpe eu chorava e lamentava aquele destino horrível e cruel. Chamava inutilmente por Baekhyun, que nem sabia o que estava fazendo.

Deus, ele não tinha ideia do que estava acontecendo.

O que aconteceria com ele? Quem estaria aqui para ajudá-lo? Para salvá-lo? Eu esperava que alguém o salvasse, já que eu não pude fazê-lo por conta própria.

Zholo tinha razão. Eu era péssimo como um Anjo da Guarda. Não conseguira proteger quem eu mais amava. Eu era um fraco, e isso custou muito caro para Baekhyun.

Quando eu, enfim, estava abatido demais para tentar fugir, Baekhyun me ergueu do chão até o ar pelo pescoço. Eu não conseguia mais dizer seu nome, não conseguia ao menos gemer de dor. Apenas o olhei. Mesmo que não parecesse meu Baekhyun, ele ainda estava ali em algum lugar. Eu podia ver seu sorriso doce, seus olhos escuros e brilhantes, sentir seus beijos, ouvi-lo dizendo que me amava.

Eu também te amo, pensei. E sorri por dentro, pois por fora não tinha forças pra isso.

Então me senti sendo lançado no ar. Baekhyun saiu do meu campo de visão, e a batalha aérea entrou. Parecia que alguém chamava meu nome.

Mas apenas por um instante, até que tudo o que vi foi o fogo. E, depois, a dor. Tão grande que parecia explodir de mim. Tão agoniante que fez eu me esquecer de tudo. Tão intensa que pareceu durar uma eternidade.

Mas foi só um instante.

Então tudo eram trevas.

 


Notas Finais


Tóxico e cruel - é a essência demoníaca...
Meu anjos... sobreviveram a tantas palavras? Kkkkk
Espero que tenham gostado. Espero que tenham entendido toda aquela bagunça dos outros capítulos kkkkkkk
Se ficou alguma coisa mal explicada, ou se tiverem mais uma dúvida sobre os demônios e tals, podem perguntar. Ainda tem coisa pra ser respondida no próximo capítulo, então não se desesperem kkkkkk
Faltam dois capítulos... o próximo e o epílogo. Já quero chorar ;u;
Espero não atrasar, de verdade, mas não sei como vai ser essa semana. De qualquer maneira, vou tentar voltar logo.
Muito obrigada por ler, amo vocês. Beijinhooooos! *3* ♡♡♡


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