História Anjos e Demônios - Atos Repetitivos.

Jeon Jungkook.

Acordei com leves batidas na porta. Após muito esforço, consegui apenas me sentar na cama e pedir para que entrasse. Era Mark. Neste instante, o mesmo deu um sorriso curto e um pouco envergonhado, adentrou o quarto mesmo com o receio de estar atrapalhando. 

- Bom dia, Jungkook. – Ele falou e se aproximou da ponta de onde estava sentado. – Sinto muito se tiver atrapalhado algo. Mas é um aviso importante.

- Você não atrapalhou em nada, Mark. Pode dizer o tal aviso. – Disse, tentando deixar minha timidez de lado. Afinal, eu ainda estava enrolado nas cobertas junto com o meu namorado, para um quase-desconhecido.

- O nosso grupo quis que adiantássemos o processo. Iremos propor igualdade no Conselho. Queremos todos lá. –  Mark disse, um pouco animado com a ideia. – Todos nós estamos bastante ansiosos.

- Iremos. Logo estarei pronto para ir. Obrigado. – Falei e sorri, o mesmo retribuiu e se retirou do quarto, deixando-me sozinho novamente com Park.

Suspirei cansado e me deitei novamente pela última vez antes de chamar meu namorado que dormia tranquilamente ao meu lado.

Os raios de Sol refletiam na cortina, possibilitando que a claridade viesse à tona no quarto inteiro. Remexi-me um pouco desconfortável pela luz, e senti duas mãos gordinhas e macias rodearem minha cintura logo escutando um murmúrio de Jimin, sorri e me virei para o ruivo. Ele estava numa posição fofa e um pouco engraçada. Seus pequenos olhinhos fechados, as bochechas amassadas e com um tom róseo, igual a sua boca de lábios carnudos entreabertos. Suas mãos apertavam meu corpo, e sua perna esquerda estava em cima da minha, não possibilitando que eu me mexesse muito.

A minha vontade era de permanecer ao seu lado, deitado e ficar dormindo com o mesmo. Mas eu sabia que tinha deveres a cumprir. Então quanto mais cedo levantasse, melhor seria para os outros que estavam dispostos a finalmente, fazer a diferença.

- Bom dia, ruivinho. –  Disse, cutucando-o. Nada, ele continuava intacto. Pensando em outra alternativa para acordá-lo, passei minha mão pelos seus fios vermelhos, fazendo-o abrir os olhos e sorrir. – Precisamos, infelizmente, levantar.

- Mas eu queria ficar aqui com você. – Ele respondeu fazendo um biquinho fofo e se encolheu em meu peito, o que me fez rir baixo. – Por que temos que sair daqui?

- A causa irá atrás do novo Conselho. Eles querem propor o tratado de paz entre Demônios e Anjos. – Falei, lembrando-me da visita que tive há alguns minutos.

- Isso vale a pena para me tirar da cama. – Falou um pouco mais animado, porém ainda sonolento. Levantou-se em seguida e entrou no banheiro que tinha no dormitório.

Após ele sair, entrei no mesmo e fiz minhas higienes matinais, colocando uma roupa limpa que havia na gaveta. Era simples, calça jeans clara e uma camisa preta. Antes de sair do banheiro, lavei meu rosto.

Olhando-me no reflexo, pensando onde vim chegar. Mesmo após inúmeros conflitos eu fico feliz que estou aqui. Parece realmente estranho falando, namorar meu melhor amigo, ter feito o ruivo desistir de uma vingança, ser amigo de Demônios... mas eu me sinto bem. Porque eles são seres maravilhosos. Eu tenho um namorado ótimo ao meu lado. Eu o amo. Faria de tudo por ele. Os momentos que passei ao lado de Jimin são incomparáveis, os melhores que já vivi. E se nada disso tivesse acontecido? Como eu estaria agora? Nem me imagino sem meu pequeno. Agora é como se ele fosse meu oxigênio.

Saí e encontrei o homem que definia a minha felicidade por completo. Cheguei por trás e beijei seu pescoço lentamente, abraçando-o depois. Inalei seu cheiro adocicado. Por mim, eu poderia senti-lo para sempre em meus braços. E é isso que eu pretendo fazer.

Depois do nosso momento, resolvemos deixar o quarto, pois era um pouco tarde. Encontramos com os nossos amigos do lado de fora, conversando despreocupados.

- Pensei que tivessem mortos lá dentro. – Wendy brincou ao chegarmos perto deles, o que fez que nos dessem espaço na pequena roda que se formara.

- Muito engraçadinha, Wendy. – Jimin cruzou os braços. – Estava bem cansado. – Defendeu-se e revirou os olhos.

- Nós não temos coisas adicionais para pegar, então já podemos ir. – Yoongi disse, dando de ombros do assunto anterior. Concordamos e resolvemos ir atrás de Mark, o único que conhecíamos por aqui.

Avistamos o loiro conversando com outro alguém. Ao diminuir a distância, pude notar que era Jackson com quem Mark falava. Jackson? Pensei que ele fosse amigo de Namjoon, mas não que estivesse envolvido com algo parecido. Talvez Wang preferisse manter seus assuntos em segredo, até porque o próprio Nam aparentava estar surpreso.

- Jackson? – Nam indagou e colocou sua mão sob o ombro do garoto, que até então, estava virado de costas para nós.

- N-Namjoon... – O loiro disse, sorrindo um pouco tímido. – Me desculpem por não ter contado a vocês. Pensei que não fossem daqui.

- Você os conhece, amor? – Tuan perguntou após se aproximar perto demais de Jackson. Amor? Eles são o que?

- Amor? – Dissemos em uníssono, obviamente confusos. Parece que a nossa dimensão é um lugar realmente pequeno. Nunca poderia imaginar que eles se conheciam.

- Sim... nós somos... namorados. – Mark diz e sorri, um pouco corado. Fiquei surpreso, mas eles combinavam. – Ah... então, nós já podemos ir?

[...]

O novo prédio principal do Conselho não ficava tão longe da onde estávamos. Era ainda maior do que o Vinte e Seis, porém também não aparentava ser muito extravagante em questões de beleza. Com muito custo, os Anjos e Demônios da causa puderam entrar, encontrando no mesmo momento YoungJae e seus aliados. O mesmo passou por mim e Jimin, sorrindo cinicamente e parando na entrada, nos observando.

Que caralhos esse idiota estava fazendo aqui?

Quando a gente pensa que nos livramos dele, ele volta novamente a atacar. Eu tenho a maior certeza de que ele não veio aqui apenas para fazer uma visita, afinal, ele é um Demônio inimigo em Território dos Anjos. Como YoungJae conseguiu sair daqui sem ser preso? E só de pensar nas possibilidades do motivo da sua vinda, me dá dor de cabeça. 

Parece que tudo acontece repetidamente. Atos repetitivos. Estava tão frustrado, e a maioria das coisas acontecia por causa do primo de Jimin. Ele sempre está lá. Disposto a estragar o que todos constroem, como a família do meu namorado, por exemplo. Suas atitudes são estúpidas, e por mais que eu não o conhecesse muito bem, sabia bastante coisas daquele garoto que o tornava um completo babaca. Sentia-me mal por ter matado Demônios, mesmo que fosse por legítima defesa, já ele, nem se importou quando entregara a vida de seus tios de bandeja ao Conselho. Repugnante. Era essa a melhor palavra para descrever a personalidade de YoungJae.

Se nem eu estava confortável com o olhar de Jae direcionado a mim, fico imaginando como Jimin se sente. Ele passara por tanta coisa, deixou-se abalar pela a morte de seus pais, mas eu consegui o trazer de volta. Espero que todo o meu esforço não seja em vão. Que o ruivo não se entregue ao mal novamente, e consiga controlar a raiva que expelia do próprio. Encarei o mais baixo, que olhava seu primo incrédulo. Provavelmente pensava as mesmas coisas que eu. Ou até mesmo formas lentas e dolorosas de estrangular Jae.

- O que você está fazendo aqui? – Jimin perguntou quase que em um sussurro. A resposta não veio, então o ruivo repetiu, porém de uma forma mais agressiva. – Que merda você está fazendo aqui, Choi Youngjae?

- Só vim avisar os boatos da Causa. Que eles têm um membro que matou... Jung. Conhece esse nome, Park Jimin? – Youngjae debochou, revirei os olhos com a tal infantilidade do mesmo. Mark, Jackson e os outros permaneciam calados, assistindo toda a cena.

- Você não fez isso, fez? – Park falou alto, fazendo uma pergunta retórica. Cerrou os punhos, bravo, e provavelmente se controlando para não dar um soco no primo.

- Ah, fiz sim. E agora provavelmente ninguém deles – Jae apontou para a sala que ficava os membros principais do Conselho -, irão acreditar em vocês.

- Como você ousa a estragar a nossa chance, a chance deles de mudar as coisas por aqui? – Perguntei, alterado. Fui me aproximando aos poucos e cruzei os braços.

- Eu tenho meus motivos. E também, nunca que eu iria querer ver a felicidade de alguém como você, Park Jimin. – Ele falou e riu anasalado, retirando-se rapidamente.

Quando me virei, encontrei todos menos Mark. Provavelmente deve ter ido conferir o que Jae dissera. Fui atrás do mesmo, entrando na sala principal. Após abrir a porta, deparei-me com o loiro gritando com alguns Anjos.

- Como vocês puderam acreditar em um assassino? Ele manipulou um dos integrantes da Causa, reativou o lado Demônio. –  Mark tentava defender seus motivos a todo custo, mas o Conselho negava.

Observava tudo de longe. Faltava pouco para o garoto implorar de joelhos para que considerassem a sua oferta. Empenharam-se tanto nisso, em mudar nossas leis de séculos. A Causa existe há muitos anos, juntando Anjos, Demônios, que deram a sua vida para que o nosso mundo se tornasse um lugar melhor. Sem desigualdades. Apenas com a finalidade de impedir seres de invadirem o Mundo Humano. Não precisava ser designado apenas Demônios e sim os maus. Sinto-me culpado por – talvez – ter sido culpado por ter impedido este movimento que poderia salvar Demônios inocentes, que tinham de viver escondidos apenas por medo, ou se juntavam aos que queriam contrariar o bem, somente pela insegurança de não encontrar paz em nenhum lugar.

- Vocês são tolos por acreditarem nisso. Mudar uma lei que foi feita há mais de séculos? Poupe a sua humilhação, Mark Tuan. –  Um homem que aparentava ter trinta anos disse e se levantou da cadeira de couro preta onde estava acomodado. – Sinto muito, mas quero que você e seus Anjos e Demônios inúteis. –  Ele praticamente cuspiu as palavras em Mark, que tinha os olhos marejados, ele realmente havia se empenhado nisso.

- Você pode ser quem for, o diretor do Conselho, ter qualquer cargo, mas eu não me importo. – Finalmente de minha boca saiu alguma frase nessa sala. – Eu, todos da Causa, acreditamos em Mark Tuan e seus líderes anteriores. Abra a sua mente e verá que temos razão. Para que viver deste jeito? Impondo regras desnecessárias, tenho amigos Demônios que são muito melhores do que você, e não são esnobes por terem um título rídiculo.

- Basta. – O homem mais velho retornou a falar, interrompendo-me. –  Mais respeito conosco, somos mais velhos e merecemos.

Revirei os olhos, segurando-me para não mandar ele tomar no cu no mesmo instante. Antes de voltar a falar algo, olhei para Mark, que estava boquiaberto com a minha atitude. Provavelmente essa seria a primeira e a última vez que ele me veria falando tantas coisas assim. Mas dessa vez, eu precisava dizer tudo que havia entalado na minha garganta.

- Eu ainda não acabei. – Disse, impaciente. – Iremos conseguir a igualdade, mais cedo ou mais tarde, acredite. Seja sincero consigo mesmo. Essas malditas leis só causaram desordem de alguns tempos para cá. Como a morte do queridinho Jung, por exemplo. –  Falei sobre o falecimento do antigo Diretor, já que sabia que isso os afetava. – É melhor você aceitar isso, porque daqui a pouco, alguém igual YoungJae irá fazer algo pior, e quando isso acontecer, você lembrará dos que realmente quiseram ajudar e implorará pela a nossa ajuda.

Os cinco que estavam sentados se afastaram um pouco de nós somente para murmurar algumas coisas e logo voltarem, com uma resposta:

- Você me convenceu.