Suas mãos sem o tecido grosso de sua luva de cor preta eram menores e delicadas do que pareciam ser. Mas carregam um poder incontrolável e possivelmente mortal.
Rae nunca cogitou a ideia de que seu poder fosse mortal. Talvez incômodo. Hoje ela não tem mais certeza. Mabel, a garota que Kim uma vez te falou, ficou com Mike. Este passava bem. Rae apenas o viu quando estava inconsciente. Não teve coragem de olhá-lo na cara e sentir a culpa. Ela já sentia, mas olhando nos olhos dele...
Logo, Audrey entrou no hospital da cidade. Ela era mais digna de entrar do que Rae. Secou uma lágrima que estava prestes a sair. O primeiro garoto que está gostando ela quase o mata.
— Isso é ruim... — Sue falou através do seu celular — Digo, muito ruim mesmo. Nossa... Não quero te fazer ficar pior, mas honestamente... É o seu primeiro amor.
Rae não a contrariou.
— Se quiser um conselho, na maioria das vezes o primeiro amor nem sempre é o verdadeiro. Você está passando por muita coisa, se dê um tempo. Para você e ele.
— Eu vou tentar — considerou ela — Valeu, Sue.
A ligação terminou. Suas lágrimas acabaram, mas a tristeza não. Decidiu então seguir o conselho de Sue. Talvez depois do que aconteceu Mike fique longe dela = fora de vista da Vindicta ou de Jeff.
— Sempre damos um jeito de fazer esses encontros, não? — a voz de Snart do seu lado a assustou. Este sentou-se no meio-fio em frente ao hospital do seu lado.
— Como você soube que ele estava aqui?
— Eu sempre vou saber onde meu filho está — especificou. Os olhos frios olharam para ela sem expressão — Ele está bem?
Rae balançou a cabeça.
— Os médicos disseram que ele quase poderia ficar em coma — disse-lhe.
— E como isso aconteceu, considerando que você é a única pessoa que estava com ele?
É hoje que eu morro. Pensou ela.
— Foi um acidente...
— O que você fez com ele? — perguntou mais sério. Olhou para os lados para se certificar de que ninguém os olhavam e agarrou a gola da sua camisa — Eu não estou brincando!
— Você não vai fazer nada comigo em público!
— Já sou procurado mesmo — ele deu de ombros.
— Além de ladrão vai ser preso também por agressão?
— É um risco que vale a pena para saber o que você fez com ele — Rae estremeceu o corpo.
Rae explicou tudo desde o começo, mal tirando os olhos dele. Leonard a soltou, deixando-a respirar novamente.
— Me desculpe. Eu não tenho controle disso...
— Então por que tirou as luvas? — ela se silenciou — Raven, sabe por que Michael fica tão próximo de você e os seus amigos?
— É Rae...
— Só responda!
— N-Não... Quer dizer, ele quer tentar me dizer algo mas não consegue. É como se algo o impedisse...
— E o que você acha que o impede? — Leonard a olhou profundamente por segundos até entender.
— Ela? Quer dizer, é a mesma pessoa que estamos pensando? Por que Michael quer tanto me falar isso?
— Porque ele sabe de algo sobre seu passado. — respondeu — Eu não posso dar mais detalhes, mas eu, ele e todos que viu naquela nave sabemos de seu passado.
— Mas como isso é possível...
— Você entenderá isso assim que vocês resolverem esse conflito com essa bruxa — esclareceu — E para isso acontecer, Mike vai ficar bem longe dos novos amigos dele. Especialmente você!
Leonard optou por ser mais ameaçador.
— Você me entendeu, Raven?
Ela não ousou em corrigi-lo. Apenas assentiu com a cabeça e saiu. Rae ficou no meio-fio por um bom tempo, pensando em mais um inimigo na sua lista...
***
— CALA A BOCA!
A mão fechada de Owen disparou contra o rosto de Christopher. O sangue saiu de sua boca acompanhado com o cuspe. Liza correu até ele e deu-lhe um gancho de esquerda, seguido por uma joelhada. Final do horário, no mesmo dia em que houve o incidente entre Mike e Rae, Owen não recusava uma briga.
Owen se deixou cair no chão encolhido, mas não desistiria. Chutou a barriga de Liza com força. Christopher chutou-o para defender a namorada, mas um garoto o afastou. Owen se reergueu para atacar Christopher, mesmo que Jonas pudesse amenizar a situação. Fez sua tentativa de correr até ele, mas Kim conseguiu se livrar da multidão envolta e de dois garotos a segurando. Segurou Owen com uma força inimaginável.
— Não se meta, Jonas! — Christopher o empurrou. Kim empurrou ele, quase o desequilibrando. Jonas puxou Christopher e o fez bater contra os armários.
O apito da professora de educação física foi ouvido. Kim pegou a mochila do amigo e jogou para ele, enquanto Jonas via seu irmão correr. Todos correram para longe. Jonas, Owen e Kim conseguiram entrar em um corredor vazio, mas Jonas acabou se afastando deles. Parando para descansar, uma figura feminina chegou.
— Valeu por me avisar, Daisy — agradeceu ele.
— Não tem de quê. Eu via você e Owen juntos nos intervalos e achei melhor avisar sobre a briga — a garota de cabelo longos, lisos e castanhos claros disse.
— Foi legal da sua parte — seu corpo se endireitou.
A garota doce e amigável sorriu. Na maioria das vezes, Daisy era calada. Sua vizinha que morava ao lado de Kim tinha deus encontros diários ao jogar o lixo. Para o mundo, constituía apenas suéteres de cores claras e gostava de coisas sobre animais. Jonas até que brincava com ela quando criança, na época em que teria que acostumar-se com o autismo na sua vida. Seu isolamento chamou a atenção dela e começaram a se encontrar, até que a mãe morreu e ficou mais próxima da família, mal saindo de casa.
— Até mais — falou a garota.
— Até!
Jonas vagou pelos corredores até avistar Owen.
— O que deu em você? Arranjando briga perto da sala dos professores? — Jonas suspirou.
— Eles... Estavam falando de Melanie — Owen disse entre pausas para respirar e massagear o braço — Não dão respeito para quem está vivo e nem para quem está morto.
— De nada por termos te salvado — Kim os alcançou.
— Você é mais forte do que parece!
Jonas e Kim sorriram um para o outro.
— Você não tem ideia... — murmurou ela.
***
— Tem certeza de que essas luvas...
— Deus, Rae, já falei que sim — disse Joel farto das mesmas perguntas da filha adotiva.
Rae terminou de ajustar as garrafas vazias em cima da mesa enferrujada. O vento frio bateu em Rae, derrubando algumas delas. Distante deles, outra mesa, só que com armas.
— O que você acha que o pai de Snart quis dizer com aquilo?
— Não pense nisso agora, Rae — falou ele — Eu também estou curioso, mas... Você sabe que a Vindicta pode fazer algo, certo?
Ela concordou com ele. Joel sentia um certo receio ao falar daquilo, mas o escondeu facilmente.
— Sabe o que houve com Michael? — Joel se aproximou dela — Graças a Deus nada aconteceu com ele. Mas podia ter sido pior...
— E eu tenho que controlar esse poder. Eu já sei...
— Não! Chega disso! — afirmou segurando as suas duas mãos com luvas de boxe pretas — Por enquanto, esqueça essa ideia! Seja lá o que seu poder tem, Rae, vai ser difícil controlar. Mas pode usá-lo ao seu favor...
— Como?
— Em vez de usar isso nos seus amigos e no garoto que está gostando...
— O quê? — Rae se afastou.
— Se esqueceu que tenho ouvidos apurados? — ela se lembrou das vezes em que falava com Sue pelo celular e citava o nome dele...
— Temos que conversar sobre isso!
Joel pegou suas mãos e as juntou.
— Eu vou te ensinar boxe. Quando houver alguma emergência não tenha medo de ficar sem as luvas — Joel vestiu as suas.
Eles ficaram em posição. Rae sentiu calafrios em ver que teria de lutar contra Joel.
Assim começou o treino...
***
— Você não pode simplesmente sumir de repente desse jeito, Nick! — Barry contrariava as ideias do filho, quem ele gostaria muito que pudesse ouvir ele e Caitlin.
— Ninguém pode me pegar, pai! Vocês não ouviram o que eu acabei de dizer...
— Nós ouvimos! Mas não acreditamos! Eu não consigo entender como de repente teve essas ideias! — foi a vez de Caitlin dar um sermão.
— Mesmo sendo eles ou não, eu tenho que ajudá-los. Estão enfrentando um perigo... Diferente. — a voz de Nick ressoava por todos os cantos do córtex. — E eu acredito que sejam mesmo eles...
— O que pensa que está fazendo envolvendo meu filho nas suas ideias ridículas? — Rip se irritou ainda mais.
— E ainda mais fugindo de casa com minha filha para outra cidade? — Kara também disse.
— Como podem achar que ele...
— Se você manter essa sua boca calada ajudaria muito! — o Allen mais novo ficou mais irritado do que todos ali, interrompendo Rip — Eu acredito que Jonas, Raven e Kimberlly estão vivos! Se aquelas pessoas não são eles, não vou deixar de ajudá-los! Se não vão os ajudar, eu mesmo vou, por mais que seja um perigo diferente dos que vocês costumam enfrentar!
— Nick...
A tentativa de Caitlin acalma-lo não adiantou. Nick correu para fora do Star Labs para esfriar a cabeça. Minutos depois, parou em uma sala de estar bem sofisticada.
— Eu vou voltar — ele anunciou a Mabel — Não vou deixar eles lá!
— Mas e os nossos pais? — Mabel ajeitou seu roupão.
— Não me importo com o que eles dizem! E não só eles estão em perigo naquela cidade! Você sabe disso...
— Aquela cidade é estranha... — Mabel concordou — Espera um pouco? Vou arrumar minha mochila!
— Mas por...
— Eu vou com você! — ela sorriu — Alguém tem que ajudar Kim a controlar o poder dela!
***
— Você tem certeza de que é uma boa ideia fazer isso?
— Fala sério, Kim! Você pode muito bem ficar um dia sem ir para a escola — Sue brincou com seu jeito nerd de ser, ainda tentando destrancar a porta do escritório do seu pai. Impaciente, levantou o corpo já dolorido — Vamos ter que arrombar!
— Mas e se ele...
— É só chamar alguém para concertar — ela respondeu na impulsiva.
Kim olhou para a porta e deu-lhe um pontapé. O que era para destrancar, foi para partir a porta ao meio.
— Isso não dá para concertar... — Sue suspirou — Depois vemos isso.
As duas vasculharam todo o escritório até encontrarem o que desejavam. Contratos alegando dinheiro para os que ficariam de boca calada. Sue e Kim conseguiram entrar no computador de Frank Adams e acharam os maiores nomes que ele subordinou.
— Quase todos da polícia estão sendo subordinados. Como nós vamos fazer isso?
— É mais complicado, Sue. Um prefeito que, além de estar subordinando, tem muito dinheiro, quem conseguira se impor a ele? — Kim foi mais lógica.
— Então me diz, Kim, quem nessa cidade tem um grande cargo e é confiável?
A loira fixou os olhos na parede pensativa.
— Acho que sei uma pessoa...
***
Os gritos do padrasto são ouvidos por toda a vizinha. Sorte de Rae não ter mais que ouvi-los.
Jonas saiu às pressas de casa. Impressionante como ele sempre levantava a voz quando Jonas fazia algo, ou, nesse caso, quando Christopher e Hannah o culpavam. Jogou a sacola de lixo na lixeira, soltando um estrondoso som de vidro se quebrando por ele ter quebrado um vaso de sua mãe.
— Parabéns, Jonas! — murmurou para si mesmo.
— Está tudo bem? — Daisy apareceu no seu campo de visão, do outro lado da cerca que os separavam. — Eu ouvi os gritos...
— Já deve ter se acostumado! — ele sorriu sem emoção.
— Se você tiver algum problema, é só me falar. Eu também tenho minhas discussões familiares — Daisy Brooklyn foi amigável. Jonas sabe que é verdade, pois sabe bem como a sua família era.
— Pode deixar — dessa vez, ele sorriu de verdade.
Daisy apoiou os cotovelos na cerca, parecendo na se incomodar.
— Meu avó tinha um igual — indicou para o relógio aparecendo no bolso do casaco de Jonas — Ele gosta de colecionar coisas velhas.
Jonas o escondeu melhor.
— Achava que era mentira quando falavam que você tinha um relógio de bolso. Não acho que seja algo para zombar.
— É algo pessoal — Jonas se sentia aberto com ela. Smeared foi assim, pois se tinha uma pessoal leal era Daisy.
— Se quiser conversar, pode me chamar.
— E... Que tal...
— Agora?
— Sim. — ela respondeu. — Podíamos ir para a sorveteria?
Jonas assentiu com a cabeça. Seu sorriso foi substituído por uma expressão de susto. Segurou seu relógio pronto para atacar antes de reconhecer o pai de Daisy. Atrás, um de seus seis irmãos. O mais velho.
— Por que demora tanto, Daisy? — perguntou rispidamente. O homem já velho, com o colete verde escuro desgastado e camiseta xadrez olhou para Jonas — Quem é esse garoto?
— É Jonas. O nosso vizinho — Daisy falou mais delicada, sabendo do temperamento estável do pai.
— O que você quer, Jonathan?
— Jonas — ele corrigiu — Só...
— Vamos a sorveteria agora — Daisy falou ousada.
— E quem te deu permissão?
— Eu sempre vou lá, pai! Ele é meu amigo!
— Desde quando tem essa ousadia comigo, garota? — ela bufou e andou até a casa — Ei! Estou falando com você! Não dê as costas para mim!
— Eu já volto Jonas...
— Daisy Brooklyn, você não vai sair com nenhum garoto sem a minha permissão! — gritou ele enraivecido.
O seu irmão bloqueou a passagem da porta.
— Nosso pai está falando!
— Não se intrometa, Bryan! — Daisy o empurrou bruscamente.
Ele olhou para Jonas com ódio. Sua pele pálida e os olhos escuros são iguais aos da irmã. O cabelo escuro recém-penteado para cima e os músculos amostras eram o suficiente para deixar uma imagem de mulherengo. Ele, acompanhado do pai, se aproximou.
— Quantos anos você tem?
— 14...
— Você e Daisy costumam conversar na escola? — perguntou o pai de novo.
— Ás vezes...
Poucos segundos depois, Daisy apareceu e levou Jonas para a sorveteria, claramente querendo se afastar da família.
Daisy era o oposto do pai e irmãos. Jared é rabugento e rígido com ela, mas extremamente "aberto" aos demais filhos, dando-lhes mais liberdade. Daisy os amava mesmo com o temperamento difícil, mas sempre achou uma injustiça tratá-la de modo diferente, o que sempre gerava brigas. Isso vem acontecendo desde que a mãe se foi. Jonas ainda se lembra de muito tempo atrás ver o corpo sendo retirado da casa. A morte ainda é um mistério.
O que mais intrigava é que todos os órgãos do corpo dela foram retirados, bem perto da floresta.
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