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História Anomalia - Capítulo 54 - O filho do açougueiro está no chuveiro


Escrita por: Duda_104

Capítulo 54 - Capítulo 54 - O filho do açougueiro está no chuveiro


— Senhor Adams! Senhor Adams! — a repórter insistia na sua missão em alcançar o famigerado prefeito da cidade Frank Adams, que saía da estrutura onde ocorria um julgamento. 

 

Frank descia as escadas ao lado do seu advogado, um homem que pelo cabelo marrom claro nas laterais e a falta dele em cima devia ser mais velho, e de sua esposa. O advogado se vestia formalmente com um terno cinza claro. Sua esposa estava menos entupida de maquiagem do que o comum, provavelmente deixando claro sua seriedade perante a situação que enfrentavam. 

 

Joel sentia um nojo grande ao olhar para eles da TV da sua sala. O mesmo sentia Jonas, Rae e Kim, quem estavam sentados no sofá da sala horas depois do ocorrido. 

 

— O que você tem a dizer do grande número de mortes em Bakerville? — a repórter perguntou, sua voz se destacando nas milhares dos repórteres rodeados nos três. 

 

Frank Adams encarou com seus olhos azuis cinzentos e depois para a câmera. Sua boca ficou entreaberta mostrando incerteza e remorso. 

 

— Não tenho palavras sobre o que ocorre nessa cidade, principalmente no que aconteceu hoje na escola da cidade — ele mostrou na voz seus pêsames. — A garota que cometeu suicídio na frente de alguns dos colegas que andavam com ela foi horroroso. Nem imagino o choque que as testemunhas que estavam na hora tem nesse exato momento. 

 

Jonas secou uma lágrima que caía, segurando o resto. Seu rosto já estava seco delas. Não só de ter visto a cena ao vivo, mas também de pensar na dor que Daisy teve e a sua vida jogada fora. 

 

Tudo por culpa deles. 

 

— Frank Adams, estão dizendo que você está dando as costas para essas mortes e vai depositar todo o dinheiro para aumentar os impostos. 

 

— Como eu poderia dar as costas para isso? Há famílias que perderam seus entes queridos por acontecimentos inexplicáveis — Frank Adams se fingiu de abalado — A garota que morreu hoje tem a idade da minha amada filha. E não consigo imagina-la no lugar de Daisy Brooklyn. Nem o que essas famílias e amigos estão passando. Por isso que estou determinado a dar meu suor para achar o responsável por essas mortes e prevenir outras possíveis no futuro. — ele fez discurso com emoção — Que Deus abençoe e proteja a família Brooklyn. 

 

Eles se olharam preocupados. A câmera mudou para o pai de Daisy. Jonas não o via mais como o velho cara durão de sempre. Ele podia ser um homem durão e impulsivo, mas ele amava a filha. 

 

— Honestamente, eu não vou desistir de investigar — ele se pronunciou — Todos me acham durão e sem coração, mas Daisy... — pela primeira vez Jonas viu lágrimas nele. Não o vira daquele jeito quando soube que três dos seus filhos morreram — Eu tenho tanto orgulho dela ser o oposto de mim... Era... Uma grande garota que eu tinha certeza de que seria uma grande mulher um dia. É injusto o que aconteceu com ela. 

 

— Você sabia que sua filha poderia fazer isso? Alguma suspeita? 

 

— Lógico que não! Daisy era feliz! 

 

— Você sabia mesmo de tudo que ocorria na vida de Daisy Brooklyn? 

 

— Sim! Eu amava ela! É uma ótima aluna, quase não a via chorar... Ela nunca cometeria suicídio! Eu... Sei disso... — ele estava inseguro — Minha filha era feliz! — as lágrimas desceram — Eu sei que ela era feliz! 

 

Depois disso, ele empurrou os repórteres até chegar ao seu carro. 

 

Ninguém se importou de mudar o canal. Joel abaixou o volume e olhou para eles. 

 

— E vocês? — ele cruzou os braços — O que tem a dizer? 

 

— Não sabíamos que ela ia fazer isso! — Rae falou. 

 

— Sei que não! Mas vocês viram acontecer! 

 

— Ela... Me disse que não ia para a escola naquele dia — começou Jonas — Aí ela apareceu no fim do corredor, e apenas atirou. 

 

— Só isso? Apenas atirou em si mesma, nem mais nem menos? 

 

— Sim. 

 

— Não. — Kim contrariou Jonas. — Ela perguntou "vocês vão me ajudar". 

 

— O.k., me expliquem direito — Joel se irritou. 

 

— Antes dela atirar, ela perguntou a mesma coisa que a Vindicta perguntou. 

 

— Vocês vão me ajudar? — Jonas e Rae falaram em uníssono. 

 

— E a Vindicta também disse que outros seriam punidos. 

 

— E a primeira se foi — murmurou Joel o óbvio. 

 

— Não tem como parar isso. — disse Rae — Ela vai fazer isso até quando ela que

Isso parar. 

 

Jonas não olhava para nenhum deles. Achava que ficar em silêncio era o melhor para aliviar a culpa. Não imaginava em como seria grande o peso da consciência do pai de Daisy, achando que fez algo de errado para a filha ter a coragem de fazer isso. Sem fazer ideia de que ela não queria fazer isso por querer, e sim sob um feitiço. 

 

— É assim que vamos viver? — Kim perguntou. 

 

Joel sentiu o peso da consciência sobre ele. Rae se levantou e ficou do seu lado. 

 

— Você está dando o máximo de si, Joel. Obrigada... Por isso. 

 

— Parece a minha mãe falando — brincou sem emoção. 

 

Kim e Jonas de entreolharam.  

 

— Obrigada. 

 

Rae e Joel guiaram seus olhos para Jonas. Este nem se deu o trabalho de olhá-los. Fixou os olhos na TV, mostrando fotos de Daisy. 

 

— Estamos em perigo do mesmo jeito, mas obrigada por tentar nos proteger. — ele continuou intacto. 

 

— Valeu garoto — Joel agradeceu tristemente — Mas o que eu faço não é o suficiente. 

 

As mãos de Rae se enroscaram no seu braço musculoso sobre a camiseta branca, da qual Joel sempre a usava. Deitou sua cabeça nele. Joel tocou sua mão sentindo o conforto que ela dava a ele. Ele se esqueceu de como é esse sentimento de alguém se importar com ele. 

 

*** 

 

A mesma coisa que aconteceu depois da morte de Melanie aconteceu com Daisy. Só que dessa vez, os verdadeiros amigos dela fizeram-lhe uma homenagem. 

 

Isso alivia Jonas, Rae e Kim, que andavam pelos corredores e muitos alunos falavam daquilo. O armário dela estava decorado com mensagens e as fotos dela. Suas amigas estavam em meio aos prantos. Uma delas teve que ir para casa para pegar suas fotos e colar no armário. 

 

Rae se separou de Jonas e Kim para a aula de Filosofia. Caminhou até a sala sentindo o clima estranho ali, diferente quando Melanie morreu. Era estranho para todos pensar que uma aluna morreu ali, atirando na própria cabeça sem motivo aparente. Como Vindicta é capaz de uma coisa dessas? Ela se perguntava. 

 

Foi antes para o banheiro feminino lavar o rosto. Ela fica assustada em pensar qual seja a próxima vítima. Owen e Jonas já são, com o tempo que estão juntos, melhores amigos. Alice estava mais com Kim. Sue estava com ela. E Michael? Ele ainda está na cidade. Os irmãos Queen a salvo. Rae bufou. Por que ele teve que ficar agora com Audrey? 

 

Pôs a mochila nas costas pronta para sair. Mas uma mão tapou sua boca por trás e pressionou seu corpo contra o seu. Rae deu-lhe uma cotovelada e abriu o zíper da bolsa. Mas sentiu a lâmina contra sua garganta. A pessoa a mobilizou por trás e a virou para o espelho, se deparando com o sorriso marcado pela enorme ferida. 

 

— Senti sua falta, Rae! 

 

Jeff estava como antes. Mas Rae via algo na sua testa depois de olhá-lo melhor do espelho. A marca que ela deixou com sua radiação. Samuel tinha uma como ela por causa de um terrível acidente. Só de perto daria para ver a marca. 

 

Ele pressionou a faca no seu pescoço. Rae se debateu ao sentir o sangue sair. Jeff a empurrou para frente, batendo o corpo contra a pia. Rae apoiou as mãos nela por causa da inércia. O sangue pingou no ralo e o ar era repelido pelo sangue. Olhou para o espelho e Jeff sussurrou no seu ouvido: 

 

— Vá dormir! 

 

Fincou a faca pelas suas costas. Rae ficou sem palavras. Jeff tirou a faca tirando mais sangue e fez de novo. Repetiu o ato mais quatro vezes. Quando tudo escurecia a sua volta, Jeff empunhou a faca e acertou sua cabeça. 

 

Isso fez Rae acordar. Pela escuridão sabia ser umas cinco da manhã. Rae se levantou e correu para o quarto de Joel. Este dormia feito pedra e como ela — babando. Rae achou engraçado ao ver a poça de saliva no travesseiro, mas não ousava em fazer piada daquilo. 

 

Voltou ao seu quarto. Ele estava pronto. Pôsteres, cabeceira com seus mangás, CDs, poucos discos, em especial o de Bob Dylan de Samuel, seu celular e bonecos de animes e séries. Deitou-se na cama debaixo dos lençóis. Não queria acordar Joel depois de horas de trabalho duro que Kevin impõe nele. Pegou seu Death Note e o abraçou. Toda hora olhava ao redor temendo que Jeff estivesse ali a obrigando dormir. Bem que ela queria, mas o pânico não a deixava. Tocar violão era uma boa ideia, mas acordar Joel não. Depois de um bom tempo, levantou-se derrotada e foi ao banheiro. 

 

Agradeceu a Deus que Joel voltou a trabalhar para a polícia para que pudesse pagar o chuveiro elétrico. Incluindo uma água quente. Mas só podia usá-la nos finais de semana. Rae pensou no trabalho que teria em ajudar Joel a cortar a lenha. Podia sentir a atmosfera congelar no local. A porta era grossa o suficiente para não deixar o frio passar. Rae soprou o ar em uma maneira de testar a temperatura. Disseram-lhe que seu sopro podia ser congelante, o que seria legal e bizarro ao mesmo tempo. De sua boca saiu fumaça. 

 

Qual seria o estado que uma pessoa estaria se ficasse dez minutos com uma Rae de roupão? Poucos segundos restariam até o coração congelar. 

 

Por um segundo ouviu uma voz estranha. Sussurros. Aos poucos, surgiram como uma avalanche. Rae tapou e bateu nos ouvidos pensando ser uma mosca ou um zumbido. Pegou sua toalha e vestiu um roupão. Quando voltou-se ao espelho, deparou-se com o garoto das pizzas. Fred. Seu companheiro das aulas de Física. Mal trocava palavras com ele, até porque ele era extremamente tímido. Ele não a olhava. Muito menos estavam no banheiro. 

 

Rae ficou atordoada com a mudança de cenário. Fred vestia-se com as roupas do açougue da família. Ele carregava uma caixa e atravessava a rua, sendo pego de surpresa por uma moto. Rae deu um grito fino e recuou para trás. O sangue jorrava de Fred e com certeza fora morto na hora. Fechou os olhos e agarrou os cabelos. 

 

— RAE! 

 

Joel segurou seu pulso e a virou para ele. Rae chorou apavorada e contou o que viu. Ele permitiu o abraço dela ao vê-la traumatizada. 

 

Enquanto Joel fazia o café para ambos, recebeu uma ligação. Rae olhou para a expressão tensa dele. 

 

— É sério? Como... Agora? — ele fez perguntas intrigado — Está bem... Obrigada! 

 

Joel olhou para Rae nervoso. Rae esperava pela notícia ruim. 

 

— Qual é o nome do garoto que você viu? 

 

— Fred... — ela se levantou após entender. — Não... 

 

— Há cinco minutos atrás ele foi encontrado morto no meio da estrada, atropelado por um moto. — Joel deu a notícia. 

 

Ele caminhou até a mesa e abriu um livro que estava nela. 

 

— Não pode ser... — Rae já estava com as lágrimas na beira dos olhos. Sua voz tremia. 

 

Joel parou em uma página e a pôs em cima da mesa, empurrando para a visão de Rae. A página continha informação sobre um dos dons mais traumatizantes e assustadores para o ser humano. 

 

— Premonição. 

 

***

 

Rae sentia suas mãos sujas, por mais que as limpassem. O sangue não saía. 

 

Três mortes seguidas em três dias. Este era o único assunto dos corredores da escola. Rae passou o final de semana inteiro na companhia de Joel, Kim e Jonas. Joel pegou pesado no treino de escopetas. Rae achou o motivo pelo qual as pessoas sentiam vibrações além de frio ao toca-la. 

 

Por mais que o tempo entre a hora em que ela teve a visão e a morte de Fred fossem curtos, Rae sente a consciência pesada sobre ela. Ninguém mais iria saber que ela previu a morte de Fred. Não era justo com ele. Mal trocavam palavras. Ou melhor, Fred não trocava com ninguém. Seu jeito tímido trazia também um jeito fofo de sua parte. Por isso ninguém nunca teve coragem de fazer algum mal ou deboche a ele. 

 

— A culpa não foi sua. 

 

Rae virou-se para Mike. Não ligava mais se ele sabia ou não. Como se ele usasse isso contra ela. A imagem dela não é uma das melhores e tinha coisas mais importantes com o que se preocupar. 

 

Ela não respondeu nada. Desviou dos olhos deles e segurou as lágrimas. 

 

— Eu sei. 

 

Mordeu o lábio inferior tentando se conter. Não irá chorar na frente dele. 

 

— Eu quero ficar sozinha... — sua voz ficou trêmula. 

 

Ignorando seu pedido, Michael a puxou para um abraço. Minutos depois de estarem assim, ouviram um aluno falando que Frank Adams estava na escola para um aviso no auditório.



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