Meu subconsciente sabia que era Harry, não poderia ser outra pessoa no mundo. Mas meu consciente tentava arrumar fórmulas inexistentes para explicar o que o garoto pertencente à banda mais famosa do planeta estaria fazendo ali na minha frente.
Com aqueles anéis...
Eu abri a boca para falar algo, mas nada saiu. Àquela altura eu nem me lembrava do que eu havia vindo fazer no estacionamento.
– Quem é? – eu acabei perguntando automaticamente. Eu sabia quem era.
Era o anônimo. O Harry... Era o Harry ou o anônimo? Pelos anéis, anônimo, pela voz, Harry.
Ele se enfiou um pouco mais nas sombras e tirou um pouco o capuz do rosto.
Pelo rosto, Harry Styles. Ao vivo e a cores na minha frente.
– Ah... – eu tapei minha própria boca para não gritar.
– Shhhhh, please don't scream. Not here. They can't see me.
(Por favor, não grite, não aqui. Eles não podem me ver.)
– Why are you talking english? You know how to speak portuguese. O know that! – falei em um tom autoritário. Eu não devia estar feliz por estar frente a frente com ele?
(Por que está falando inglês? Você sabe falar português, eu sei disso!)
– How do you know? – ele perguntou com a voz rouca.
(Como você sabe?)
– Because you are the anonymous! You talked to me for all this time! – gritei, quase chorando.
(Porque você é o anônimo! Você falou comigo todo esse tempo!)
Eu não estava feliz. Não completamente. Era Harry Styles que falava comigo o tempo todo. Não um amigo novo. Eu não sabia o que eu estava sentindo! Não sabia se ficava feliz por ser Harry ou triste por nunca podermos ter uma amizade normal.
Pude jurar que algumas pessoas olharam para nós quando falei. Mas não conseguiram ver com quem eu falava. Menos mal.
– You've lied to me.– falei.
(Você mentiu para mim)
Ele chegou mais perto.
– Listen... Eu, Isabela, eu não queria...to hurt you... I've been mentindo pra você, I know.... – ele pegou minha mão. Suas mãos tremiam. Ele estava nervoso. Talvez seja por isso que estava misturando inglês e português enquanto falava. – But... Listen, eu teria contado que eu era who I am since the begining of evertything... But eu não podia! Por favor, me perdoe. We need to talk. And I don't have much time.
(Ouça, Isabela, eu não queria machucar você. Eu venho mentindo, eu sei... Mas, ouça, eu teria contado desde o começo de tudo que eu sou quem sou, mas eu não podia! Por favor, me perdoe. Nós dois precisamos conversar e eu não tenho muito tempo).
Eu pensei. É claro que eu ia falar com ele... Mas como? Onde?
Eu precisava de uma solução rápida.
Já sei.
– Wait for me. – falei
(Me espere)
Peguei a carteira do meu pai e corri mais que o vento para entregá-la a ele.
– Pai! Oi. Olha, eu encontrei um amigo, posso ficar conversando com ele enquanto vocês vão? – falei rápido demais.
– É muito perigoso. Estamos em São Paulo.
– Mas o carro está no estacionamento, e vocês vão a pé mesmo... Nós podemos ficar lá dentro.
– Não sei...
O tempo estava correndo. Olhei desesperada para Luana. Eu precisava contar tudo a ela depois.
– Vamos, tio. Deixe. Estou morrendo de fome.
Ele olhou para os lados duas vezes, por fim disse:
– Okay. Fique com a chave e juízo.
– Muito obrigada, pai. – dei um beijo no rosto dele e saí correndo de volta para lá.
Destravei o carro novamente e quando passei pelo anônimo... Por Harry, fiz um sinal com a cabeça para que me seguisse. Entramos no banco de trás.
Ele finalmente tirou o capuz completamente e olhou em meus olhos.
Eu me esqueci de como respirava. Ele estava ali. Harry Styles estava ali.
Observei seu rosto. Seus olhos verdes estavam azuis pelas luzes do lado de fora. Seu cabelo jogado para trás, minúsculas gotas de suor em sua testa. Era janeiro. Verão. Estamos no dia 16, por enquanto.
Espera.
Já passou da meia-noite.
É dia 17. Domingo. Meu aniversário de 18 anos.
– Respira para falar. – falei – Não precisa mesclar as línguas.
– Não precisa o que?
– Misturar. – sorri.
Ele suspirou e, para a minha surpresa, decidiu falar em português.
– Olha, Isabela... Eu sei que eu ser quem sou não me faz ter menos culpa por ter mentido. Não gosto de mentiras, mas ninguém podia saber? Entende? Os meninos da banda sabem, mas se Simon sonhar com isso, meu contrato já era, nossos discos já eram, a banda já era. Eu queria que você me desculpasse... E entendesse meu lado.
– Você me escolheu para cantar com você. Foi de propósito.
– Yes, foi. Não saí de perto de você o show todo. Percebeu?
– Sim.
– Achei que você iria preferia cantar Two Ghosts than* Kiwi.
(*Than= do que.)
– Sim, eu prefiro. – falei. – Mas.. diga... Por que eu? Por que começou a falar comigo do nada? Como me achou?
– Você sempre teve muitos seguidores on* Twitter. E postava coisas legais. E me marcava three thousand times* em fotos. Fui ver seu perfil. Você é linda. Pensei em puxar conversa, mas você ia me ver. E isso não podia acontecer.
(*On= no/ *three thousand times= 3.000 vezes)
Era fofo o jeito que ele ainda misturava as línguas. Com menos frequência.
– E então...
– E então eu comprei outro celular. Coloquei número, whatsapp, e peguei seu número na bio. Era um jeito de a gente se falar.
– E?
Tinha mais coisas, eu sabia.
– E... Eu acho que sei poucas coisas. Sei falar português agora, sei que você é mau humorada quando acorda, sei que é fã da One Direction, sei que prefere pipoca salgada do que doce, Marvel do que DC, azul do que rosa, sei que ama cantar, sei que é bem louca e sei que estou completamente apaixonado por você.
A chave que estava em minha não caiu no carpete do carro.
Silêncio.
– O que?
Ele sorriu.
– Eu não estava planejando contar assim.
– Harry... Mas... Não! Quer dizer você não pode gostar de mim!
– Por que não?
– Porque... Não! É impossível! Você é o artista, eu sou a fã. Não rola.
– Isabela, somos pessoas normais. Eu sou um cara de quase 25 anos, e você uma garota de 17. Somos pessoas normais que conversaram por muito tempo e eu não posso evitar me apaixonar por você.
– Tenho 18. – falei.
– O que?
– Hoje já é 17 de janeiro. É meu aniversário. Tenho 18 anos.
Ele sorriu.
E abriu os braços.
Claro, eu o abracei forte.
– Congratulations, my lil girl – ele sussurrou.
(Parabéns, minha pequena.)
Sorri.
– Bom, e o que vamos fazer agora? – eu perguntei – Quer dizer..
– E eu já pensei em tudo. Você precisa ficar famosa. Nunca vão nos deixar em paz se souberem que você é uma fã. Você tem que construir seu próprio nome. E já está conseguindo.
Um flash passou pela minha cabeça ao lembrar que ele tinha me dado coragem para postar o vídeo. Na verdade, ele me deu coragem para tudo. Sempre esteve por trás de tudo.
– Eu nem perguntei se você quer... Se está pronta para tudo isso. Mídia, holofotes... – ele disse.
– Eu tenho medo – falei – Eu amo você, Harry. Mas tenho medo de ser apenas um amor de fã, e não de verdade.
– Eu vou te mostrar que não é só de fã. – ele sorriu – Você só tem que deixar.
– O que vai fazer depois? Quer dizer... Você vai embora daqui a uma semana. É no mesmo dia da minha segunda audição para o The Voice.
– Confia em mim, lil girl. Vai dar tudo certo. Olha, você já é conhecida. Entenda isso. O povo já te conhece. Você já está construindo seu nome. Mais uns meses e terá feito isso completamente. Aí é onde eu entro.
– Como?
– Eu posso conseguir um contrato para você internacionalmente em dois segundos. Você pode cantar onde quiser o que quiser. Mas tem que estar pronta. Tem que me deixar fazer isso.
– Eu queria cantar em...
– Londres – ele me cortou – Eu sei, você me disse. E eu posso te conseguir isso. Imagina? Você em Londres? Comigo? Consegue imaginar?
– Não! – soltei uma risada – não consigo. Mas queria.
Seus olhos brilharam.
– Dê o seu melhor naquele reality. Você não vai deixar de ser minha favorita se não ganhar. Sempre vai ser a melhor. – ele levantou a mão e colocou a direita em meu rosto. Chegou mais perto.
– Mas e se dar algo errado? E se eu não for para Londres?
– Aí eu venho te buscar aqui. – sussurrou.
– Não vou estar aqui. Não moro aqui.
– Eu te acho, Isabela. Esse é o menor dos problemas. – riu.
– Meu pai logo chega.
– Quanto tempo você acha que leva?
– Mais uns 15 minutos.
– Então, temos tempo.
E me beijou.
Eu não esperava por aquilo de jeito nenhum.
Então, fiz o que sempre fantasiei que faria se algum dia ele me beijasse.
Corri os dedos por seus cabelos.
Nessa hora, uma frase da música SOS, da Halsey, ecoou na minha cabeça.
"And I wonder what it's like to run my fingers through your hair, but I'll never know"
(E eu me pergunto como é correr os dedos por seus cabelos, mas nunca vou saber)
Mas eu sei. Agora eu sei.
"The dimples in your cheeks, yeah, they swallow me up, and I'm lost in your body, cause you're making it rough"
(As covinhas em suas bochechas, elas me engolem e estou perdida em seu corpo porque você dificulta.)
"All I see is green eyes, and I'm lost on them"
(Tudo que vejo são olhos verdes e estou perdida neles)
Foi aí que eu soube que cantaria S.O.S na minha próxima audição.
Harry me pegava forte pela cintura, não desceu nem subiu a mão para nenhum lugar impróprio, o que me admirou.
Sorri durante o beijo. Ele era o cavalheiro que todas as fãs contavam em suas fanfics.
E agora, estou vivendo uma fanfic com o cara que era protagonista de todas as que eu já li na vida.
– O que foi? – ele perguntou. Deve ter notado que eu sorri.
Seus olhos verdes me puxavam pela alma. As covinhas apareceram em seu rosto. Como ele conseguia ser tão bonito?
Corri os dedos por seu braço e contornei as tatuagens. Outra coisa que sempre quis fazer.
E agora eu podia.
– Fiz essa para você. – ele disse – e apontou um infinito logo abaixo do pulso. Estava meio escondido já que ele possuía um milhão de tatuagens, mas era bom que fosse discreto.
– Por que um infinito?
– Porque cada dia você está de um jeito, de um humor, de um estilo, cada dia você é um pessoa diferente. É isso faz parte de sua personalidade, nunca vai parar. Nunca vou cansar de tentar adivinhar se sua resposta vai ser fofa ou dando patada em todo mundo. Nunca acaba. É infinito.
Sorri.
– Own...
Ele pegou o celular no bolso para ver a hora.
– Merda, eu preciso ir para o hotel... Você vai estar aqui amanhã?
– Me encontra na praça da república, ok? – falei – Dá um jeito de ir para la.
– Ok. Eu vou. Mas antes, vem cá.
E um flash disparou.
– Você não fez isso!
Ele riu olhando a tela do celular, onde estava a foto que acabou de tirar. Minha cara devia estar ridícula.
– Pode parar!
Mais um flash
– Harry!
E mais um, e mais um.
Para me vingar, comecei a bater fotos dele também. Mas ele sempre ficava bonito em todos. Filho de uma mãe.
No final, acabamos tirando fotos fazendo poses engraçadas e idiotas. Eu queria que aquilo nunca acabasse, mas ele teve que ir.
– Eu prometo que te encontro amanhã. – ele falou, recolocando o moletom. – Que horas?
– Te mando mensagem.
Era tão estranho dizer isso a ele. Ainda mais... A ele!
– Ok.
Tomou meu rosto entre as mãos e me deu um selinho. E mais um.
Me deu um beijo na testa e abriu a porta do carro.
Não quis ver ele saindo. Eu seria capaz de puxá-lo de volta.
A porta bateu e ao olhar pelo meu vidro direito, vi ele contornando o carro e colocando o capuz até cobrir metade do rosto novamente. Andando de cabeça baixa, com as mãos nos bolsos.
Me deu uma dor no coração vê-lo partir.
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