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História Anonymous -Criminal Life Sequel - Vinte e Sete


Escrita por: fab4styles

Capítulo 33 - Vinte e Sete


Ouvia os meus próprios batimentos cardíacos e o tempo parecia abrandar. Todo o barulho á minha volta parecia estar longe e apenas ouvia o batimento descompassado do meu coração. À minha frente, ele avançava de vagar. Comecei a sentir o meu lábio inferior tremer e da minha boca escapou-se um soluço alto. Estava a chorar ali no meio do chão e não me conseguia mexer por conta da dor no meu braço. Mas tinha de o fazer.

Depois de soluçar de novo, arrastei-me pelo chão com o auxilio do meu braço bom. Os movimentos eram lentos em comparação às passadas do homem à minha frente.

Era sequer um homem?

Acho que não queria descobrir.

Mais um passo. Recuei mais um pouco. As suas botas pretas aproximaram-se mais chiando no chão mas as minhas costas bateram contra a parede. Eu não podia andar mais. O coração parecia querer saltar-me do peito e agarrei-me à réstia de esperança que aparecesse ali alguém.

“Socorro!” gritei com soluços entalados “Ajudem-me por favor.” A minha voz saiu mais fraca por conta do choro. Lágrimas grossas rompiam a minha visão e eu desisti de manter os olhos abertos, deixando-me chorar.

À minha frente, o homem baixou-se e ficou a olhar para mim com os pequenos buracos no seu gorro que tapava toda a cara. Mordi o meu lábio inferior.

“Não me faças nada, por favor…” murmurei e ele aproximou gentilmente a mão direita até quase à minha cara. Fechei os meus olhos já a preparar-me para o pior.

Durante uns segundos, tudo o que ouvi foram os meus batimentos cardíacos e o meu fungar. Depois, consegui ouvir o chiar das rodas de um carro no parque e numa onda de adrenalina, consegui sentar-me no chão em segundos e gritar antes que as suas luvas pretas me tapassem a boca.

“Socorro! Ajudem-me!”

Não estava certa de que aquilo serviria para alguma coisa mas valia a pena tentar. O carro aproximou-se a grande velocidade e veio na nossa direção.

Oh, não. Por favor não.

A certo ponto fechei os olhos com força e encolhi-me mais sobre mim mesma. Até que o chiar se tornou mais intenso e próximo o que me fez abrir os olhos. A enorme carrinha preta de vidros esfumados estava parada à minha frente, a meros centimetros e por pouco que não me atingiu. Olhei à minha volta, desesperada em busca do anónimo mas não havia sinal dele. Deve ter fugido.

A porta do lado do condutor abriu-se e a primeira coisa que vi foram umas botas pretas de tropa. O coração parecia bombear-me na cabeça à espera de saber quem era. A minha respiração ouvia-se à distância e já não sentia lágrimas. Só medo daquilo que me esperava. As botas fizeram barulho quando pousaram no chão depois de saltarem do carro e subi o meu olhar.

O meu pai estava a fechar a porta do condutor e senti um enorme alivio percorrer-me a espinha.

Pai!” chamei em alivio.

Foram segundos até ele se baixar na minha direção e me agarrar nos seus braços fortemente mas com cuidado para não me aleijar ainda mais.

“Pai.” Chorei contra o seu ombro vestido por um casaco de cabedal preto.

“Oh Nora.” Abraçou-me nos seus braços fortemente “Estás bem? Ele fez-te alguma coisa?”

Afastou-se para ver a minha reação e eu abanei negativamente a minha cabeça “Eu estou bem. Tira-me daqui.”

Ele assentiu e ajudou-me a levantar do chão sujo. Entretanto, as luzes voltaram a acender-se e quase que pensei que aquilo tivesse sido um pesadelo.

-

Mais tarde, estava a arrumar as minhas roupas dentro da mala que me tinham ido levar. Já tinha tirado as roupas do hospital, deslizados umas calças vermelhas escuras de bombazina pelas pernas e deslizado um crop top preto pela cabeça. As pantufas confortáveis deram lugar a uns botins com pouco salto.

A porta estava aberta e conseguia ouvir as pessoas no corredor a falarem sobre aquilo que tinha acontecido. Mas eu só queria esquecer. Não queria voltar a falar sobre o que aconteceu mas sabia que mais tarde ou mais cedo, iria ser bombardeada com perguntas e mais perguntas.

“Já estás pronta?” uma voz soou atrás de mim. Virei a minha cabeça e vi o meu pai encostado à porta.

Anui em resposta “Sim, vamos.”

Quando estava para sair do quarto, o meu pai agarra-me os braços para me parar “Vais ficar em minha casa Nora. Nem penses que te quero sozinha no teu apartamento. Ali eu posso-te proteger.”

Os meus olhos aumentaram de tamanho e detive-me no meu lugar. Ele estava mesmo a falar a sério?

“Nem penses!” a minha voz saiu mais alto que o pretendido e algumas pessoas que estavam no corredor olharam para nós. Depois de lhes dar um sorriso de desculpas, voltei-me para o meu pai “Nem sonhes que vou para aquela casa tendo em conta que o Jeremy pode lá estar a qualquer momento!” falei, desta vez mais baixo.

Abanou negativamente a cabeça “Não é uma sugestão o que te estou a fazer.”

O meu olhar tornou-se desafiador enquanto o encarava “Pena que já tenho vinte e quatro anos, não é? Parece que já não me podes obrigar.”

O meu pai suspirou e eu revirei os olhos já à espera de treta “Dá uma oportunidade ao Jeremy, tu não sabes se aquilo que o Jason te contou é tudo verdade. Passou muito tempo e já tens idade suficiente para perceberes que as pessoas mudam.”

Assenti com a cabeça “Lá isso é verdade. Tu és a prova disso.” Chutei com veneno “Pena que não para melhor.”

Ele parecia estar a tentar manter-se calmo enquanto olhava nos meus olhos. Sabia que não me ia agredir no meio do hospital e provavelmente foi isso que me salvou. Conseguia sentir chamas a passar por entre os nossos olhos até que ele voltou a falar.

“O Jason não te contou tudo e acho que devias ouvir a versão do Jeremy.” Cruzou os braços “Para além disso, tu já nem és nada ao Jason, o que raio te interessa aquilo que ele lhe fez?”

“Pai!” gritei numa tentativa de o chamar à realidade, aquele não podia ser o meu pai “O Jeremy sugeriu que devias bater no Dean e que a nossa família não funcionava tão bem sem a mãe, como é que consegues dizer uma coisa dessas?”

Eu estava a sentir-me frustrada por não perceber o que ali se passava. Roger Montgomery nunca iria admitir que falassem sobre a nossa família. E o Jeremy não é boa pessoa nem aqui nem na china.

“O Jeremy é um monstro. Eu é que namorei com o Jason,” apontei para o meu peito “Quem viu cada cicatriz que ele tem por causa desse monstro fui eu e durante muito tempo desejei matá-lo, sabias? Pois bem, se não queres que mate o teu amiguinho como ele te fez matar o Logan, acho bem que me deixes afastada dele.” Apontei para o peito dele e falei com a voz fria e despromovida de emoção.

Os olhos do meu pai perderam a cor com a ideia de a filha dele conseguir matar alguém. Nem eu sei se seria capaz de matar alguém mas honestamente, se conseguisse, essa pessoa seria o Jeremy.

Foi então que percebi que não estávamos ali sozinhos. O Jason estava ao nosso lado e não parecia muito feliz. Os seus braços estavam cruzados e formava-se uma ruga na sua testa. O dedo que apontava para o peito do meu pai caiu e foquei-me no Jason.

“O Jeremy o quê, Nora?”

Estaquei completamente e senti o meu lábio inferior tremer. Ele nunca me ia perdoar. Nós estávamos também. Ele tinha dito que queria ficar comigo, tinha acabado de me escolher e eu já tinha estragado tudo. Devia ter-lhe contado. Devia ter-lhe contado quando ele me perguntou o que se passava. Não. Devia ter-lhe contado à cinco anos atrás assim que soube da verdade.

“Responde. O Jeremy o quê?” falou com a voz mais alta.

“Acalma-te rapaz.” O meu pai empurrou os ombros do Jason e só aí é que percebi que ele se tinha aproximado mais de mim com um olhar ameaçador no rosto. O meu sangue gelou enquanto os seus olhos despromovidos de vida encararam os meus.

O Jason olhou para o meu pai “Acho que não problemas no meio de um hospital, Roger.” Disse o nome dele com nojo e eu fechei os meus olhos.

Porque é que me está a acontecer tudo isto hoje? Era suposto ser um dia fantástico e não assim.

“Agora responde foda-se!” voltou a gritar para mim “O Jeremy mandou o quê?!”

“A Nora não sabe o que está a dizer.” O meu pai advertiu e tentou mantê-lo afastado de mim.

“Sabe sim. Nota-se que ela sabe.” Apontou para mim e disse ela como seu eu fosse um pedaço de lixo que tinham deixado à porta de casa dele. E meio que é assim que me sinto tendo em conta a frieza com que ele está a falar comigo.

“Tu sabias que ele estava de volta e não me disseste nada!” gritou.

Por esta altura, já tínhamos feito o corredor inteiro olhar para nós. Desejei nunca ter aberto a boca.

“Nora caralho, fala antes que me passe!”

Aquele ali não era o Jason. Os seus olhos estavam pretos e ele estava intimidante. Sabia que o assunto do pai mexia com ele e era precisamente essa a razão pela qual não lhe queria ter dito nada.

O meu pai voltou a afastar o Jason e olhou para ele com os maxilares cerrados “Estamos num hospital, tu não queres armar confusão.”

O Jason assentiu afirmativamente “Tem razão.” Passou a língua pelos lábios enquanto a sua cabeça continuava a abanar “Vamos para casa, Nora. Tu vais comigo.”

“Mas é que nem penses!”

A minha cabeça já doía por esta altura. Odiava ver o meu pai e o Jason a discutirem. Eles os dois são perigosos e sabe-se lá o que podem fazer um ao outro.

“A Nora não vai contigo a lado nenhum.” Disse firme.

Os olhos agora pretos do Jason movem-se para os do meu pai “Ai isso é que vai. Temos muito que falar. Consigo, eu falo depois.” Agarrou o meu braço “Agora vamos.”

O Jason puxou-me com força e sentia-me a ser magoada. Física e psicologicamente.

Levei o lábio inferior entre os dentes para não gemer de dor em frente ao meu pai. Se eu demonstra-se que ele me estava a magoar, o mais certo era os dois pegarem-se à pancada no meio do hospital. Estavam os dois tão cegos de raiva e odio que nem repararam que estava a ser magoada. Tentei esquivar-me do aperto mas foi inútil.

O meu pai interveio e tirou a mão do Jason de mim. Apontou o dedo indicador à cara do Jason “Tu não vais levar a minha filha a lado nenhum, seu monte de merda. Eu bem sei o que a fizeste passar e que a andas a enganar ao fazeres-te de vitima.”

“Fazer-me de vitima quando a quê?” cruzou os braços com o olhar desafiador “O Jeremy é um filho da puta e você não é diferente. Agora, eu vou com a Nora. Não a quero perto dele.”

“Tens medo que ela saiba a verdade, é?” perguntou com um tom ameaçador que indicava que estava prestes a largar uma bomba.

“Que verdade?” afastei-me dos dois e olhei para cada um delez, à vez.

Os músculos do Jason enrijeceram “Não o ouças, Nora. São tudo montes de mentiras.”

“Peço desculpa,” uma enfermeira interveio, parecia incerta de como os abordar e não a julgava se tivesse medo “Mas vão ter de abandonar o hospital ou vou chamar o segurança. Não são permitidos conflitos cá dentro.”

De que raio estava o meu pai a falar? Eu precisava de saber e só tinha duas opções: ou ia com o Jason e ouvia o que ele me tinha a dizer ou ia com o meu pai e ouvia a versão do Jeremy da historia. Algo me dizia que neste momento não podia confiar no meu pai, por isso aproximei-me dele e pus a mão no seu peito.

“Eu vou com o Jason.” Abanei a cabeça para lhe demonstrar que estava certa daquilo que dizia “Não te preocupes, qualquer coisa eu não hesito em ligar-te.”

Os olhos do meu pai mergulharam nos meus de tal maneira que pareciam ler-me a alma. Ele assentiu “Tem cuidado. Vou ligar-te logo á noite, está bem?”

Assenti e ele deu-me um beijo na testa, continuando a seguir: “Não te deixes enganar por ele.”

“Sim, pois.” O Jason puxou o meu braço “Bem sabemos quem é que a anda a enganar. Agora vamos.”

Continuei o caminho em frente ao Jason e olhei para trás uma ultima vez, vendo o meu pai e o quarto de hospital ficando cada vez mais longe e longe, até que as portas se fecharam e deixei de os conseguir ver.

Os meus instintos diziam-me para me manter calada sem abrir uma única vez a boca. E os músculos rijos das costas do Jason a andarem à minha frente, diziam exatamente o mesmo.

Baixei a cabeça enquanto abri a porta do seu carro e esgueirei-me lá para dentro.


Notas Finais


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