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História Anonymous -Criminal Life Sequel - Vinte e Oito


Escrita por: fab4styles

Capítulo 34 - Vinte e Oito


Calum Scott – Dancing on my own

 

A viagem de carro foi provavelmente a mais silenciosa que eu e o Jaosn fizemos. Ele não abriu a boca tirando para deixar o fumo dos malditos cigarros sair. O cheiro estava a deixar-me nauseada. Não só o cheiro, mas o nervosismo. Ele estava a fumar erva.

“Será que podias-“

Interrompeu-me “Falamos em casa.”

A sua voz foi curta e deu exatamente para perceber que ele agora não queria falar. Fechei os meus olhos e encostei a testa à janela. Desta vez fui eu que fiz merda e ele tinha mais do que razões suficientes para não me querer dirigir a palavra.

Só voltei a abrir os olhos quando o carro parou. Estavamos em frente ao meu prédio e o Jason tirou as chaves da ignição. Lentamente, tirei o meu cinto. Não queria entrar em casa e ter de o ouvir a gritar comigo por isso demorei o mais que conseguia naquela tarefa.

“Mexe-te caralho.”

A sua voz rouca e profunda fez-me tremer e levei o lábio inferior aos dentes enquanto saia em silêncio e rapidamente. Tive medo que ele me fosse capaz de bater. Eu sabia que isso seria uma forte possibilidade mas garanto que desta vez não ia permitir que ele o fizesse. Afastei-me do seu carro e marquei o código de entrada da porta, fazendo esta abrir-se sem que a destranca-se com as chaves. Com os meus braços fracos, empurrei-a com dificuldade e logo senti a sua mão a espalmar-se contra esta e a fazer tal força que quase cai. Larguei a porta de imediato e chamei o elevador.

“Se essa merda demorar, vamos pelas escadas.”

Uma linha de água começou a formar-se e a minha visão ficou turva. Nunca o meu prédio me pareceu tão triste e escuro, mesmo quando chegava a casa de noite. A culpa pesava-me sobre os ombros de tal maneira que tinha de me esforçar para manter em pé. O elevador chegou e ficamos lá fechados os dois quando começou a subir. A atmosféra estava pesada e eu quis abraçá-lo e pedir desculpa. Quis desesperadamente que ele fosse pacifico e me ouvisse. Mas eu sabia que era melhor não o fazer porque de qualquer das maneiras ele nunca iria entender.

Estavamos em lados opostos do elevador quando a porta se abriu e ele saiu à minha frente. Enfiei a chave na fechadura e girei-a para que ela se abrisse. Estava em casa mas em vez de sentir alivio, sentia uma enorme náusea como se fosse vomitar a qualquer momento. Estava com medo daquilo que podia acontecer. Estive cinco anos sem o Jason e não o queria perder, mesmo sabendo que poderia ser provável depois de lhe esconder algo tão estúpido.

Fiquei ainda mais preocupada quando pousei as chaves e ele ainda não tinha dito nada. Tinha-se limitado a sentar no sofá e a olhar chateado para a televisão.

Um suspiro caiu dos meus lábios e aproximei-me. Fiquei em pé não muito longe do sofá a olhar para ele. Não era aquilo que eu queria quando saisse do hospital. Queria que ele me dissesse que vinha viver comigo e que estivessemos neste momento a trocar beijos e pudesse sentir a sua pele de baixo da minha.

“Jason-“

Interrompeu-me “Dá-me um segundo Nora. Apenas um segundo de silêncio para eu não dizer nada de que me venha a arrepender.”

E dei-lhe esse segundo. Que pareceu quase uma hora. O silêncio preencheu a sala e quase que conseguia ouvir os meus próprios batimentos cardiacos misturados com a respiração pesada do Jason. O silêncio estava a matar-me mas se soubesse o que vinha a seguir, preferia o silêncio.

Ele respirou fundo e passou a lingua pelos lábios “Há quanto tempo sabias disto?”

“Do quê?” ele olhou para mim com raiva “Do teu pai estar cá ou de ele ter mandado o meu pai matar o Logan?”

Cruzou os braços em frente ao peito. Queria tanto poder sentar-me no colo dele e agarrá-lo para lhe dizer qu estava tudo bem. Mas não estava e se eu o fizesse, ele afastar-me-ia. Eu e o Jason nunca seriamos aquele tipo de casal que dá às mãos e enfrenta tudo juntos. Nós os dois somos tóxicos um para o outro e ainda me é estranho acreditar que reencontramos o caminho um para o outro.

“Das duas coisas.”

Passei a mão pelo cabelo antes de começar a falar “Eu soube do teu pai há seis anos atrás, no inicio de estarmos juntos.”

Faziam cinco anos que estivemos separados e seis desde que começamos a estar juntos.

“Descobri num dia em que o meu pai me estava a chatear a cabeça e lhe atirei a morte do Logan à cara.” Vi o seu corpo tremer com a menção do Logan “Na altura não te contei porque sabia que tinhas sofrido e só queria que deixasses isso para trás das costas. Se te tivesse contado tu tinhas-te passado e eu pensei mesmo que tivesse feito a coisa certa.” Fiz uma breve pausa para passar a lingua pelos lábios “De que ele estava vivo descobri antes da expulsão. Ele foi a causa de eu estar assim.”

O Jason levantou-se do sofá com um pulo e recuei com o susto.

“Tu sabias sobre o meu pai este tempo todo, fodasse!”

Eu sabia que isto ia acabar por acontecer. Nós nunca estavamos bem durante muito tempo. Suspirei e baixei a cabeça enquanto a abanava “Desculpa, eu tive esperança de que não fosse preciso dizer nada e ele se fosse embora.”

“O caralho é que ele ia!” olhou para mim, os olhos raiados de sangue e raiva “Tu foste uma merdas Nora, quase tanto como ele! Caralho! Tu sabias que ele anda atrás de mim desde que fugi para me dar a surra final e mesmo assim agiste como se nada fosse?” levou as mãos à cabeça e ele parecia desesperado “Sou tão burro foda-se.”

Tentei aproximar-me dele para o poder olhar nos olhos e que ele visse o quanto me preocupo com ele mas ele afastou-se de mim, ainda com raiva no olhar.

“Eu amo-te Jason, só não te queria ver mal. Tenta compreender isso. É precisamente por saber o que ele te fazia que eu não queria que soubesses porque ias ter com ele e podia correr mal.” Olhei nos seus olhos e voltei a dar um passo na sua direção “Não queria que nada te acontecesse porque eu te amo.” Murmurei mas a situação parecia não suavizar.

“Isso não é amar, Nora.” Abanou negativamente a cabeça “É loucura e estupidez. Se te preocupasses comigo, já me tinhas dito.”

“Não digas isso.” Murmurei de olhos fechados. As suas palavras tinham trespassado o meu corpo como uma espada e eu começava a ficar sem forças para discutir com ele “Não há ninguém que se preocupe mais contigo do que eu.”

Formou-se um silêncio, mas apenas durante segundos.

Por favor, não digas nada de horrível Jason. Por favor.

A minha esperança pedia de joelhos à consideração do Jason mas o meu subconsciente gozava comigo a dizer-me que isso não ia acontecer. Neste momento, o Jason odiava-me. O pai dele sempre foi um assunto muito sério e eu tinha mentido sobre isso.

“Talvez a Megan se preocupe mais.”

O meu coração falhou uma batida e os meus olhos abriram-se. Se até agora as suas palavras me tinham magoado, estas destruiram-me. Podia começar a sentir a água a formar-se nos meus olhos e a minha respiração tornar-se cortada.

Comprimi os meus lábios e adiei a minha resposta porque tinha medo que caso respondesse, começasse a chorar.

“Verdade,” comecei e ele não tirou os olhos raivosos de mim “Se calhar estás mesmo com a pessoa errada.”

Não o tinha magoado da maneira como ele me magoou mas vi um pouco de arrependimento na sua expressão. A sua expressão zangada falhou e deu lugar a uma de dor. Mas apenas durante uns segundos. Depois voltou à expressão raivosa anterior.

Abanou a cabeça “Pelo menos ela contar-me-ia uma coisa destas porque sabe o quanto isso nos pode prejudicar.”

“Nós? Quem é esse ‘nós’?” perguntei, agora com o coração pesado.

Sabia que perguntar isto era o mesmo de me atirar de um penhasco e querer viver. Ele estava a tentar magoar-me tanto quanto aquilo que ele se sentia. As palavras que ele disse a seguir destruíram-me por dentro.

“Á minha família. À Megan e ao meu filho.”

Pisquei várias vezes os olhos para tentar afastar as lágrimas mas quando dei por mim, algumas escaparam pelas minhas bochechas. Mas o Jason estava ali, à minha frente com a mesma raiva quase a parecer um cubo de gelo e sem mostrar qualquer tipo de emoção apesar de me ter deixado a chorar mesmo diante de si. Como se ele nunca se tivesse importado comigo e com a minha felicidade.

“Mas também a culpa foi minha,” continuou e deu de ombros “Fui acreditar numa cabra traidora.”

O meu coração tornou-se mais pesado e não consegui respirar antes de falar “Tivesses pensado nessa merda antes de lhe teres enfeitado a testa! Se calhar agora estavas melhor e eu não tinha de ser menospresada por alguém como tu!” berrei.

Cruzou os braços, uma expressão desafiadora no seu olhar “Como eu?”

“Sim, um merdas que não merece a minha preocupação! Tu és sempre o centro de tudo: o Jason foi traído, o Jason vai ser pai, o Jason não sabe quem escolher, o Jason tem de ser responsável, o Jason não pode namorar com a Nora, o Jason está-se a cagar para os sentimentos de toda a gente, o Jason não sabia que o pai estava vivo, tudo o Jason. Jason, Jason, Jason.” Ironizei e podia sentir a veia do meu pescoço ficar saliente “Vai à merda então, Jason! Nem paras para pensar no quão injusto estás a ser!”

“Fala baixo!” a sua voz ecoou na divisão e eu senti-me encolher. No entanto, apertei os meus punhos ao lado do meu corpo ainda com lágrimas a picarem-me a visão “Se calhar tu é que fazes de mim o centro de tudo e esse é o teu problema!”

A minha respiração começou a ficar cada vez mais irregular e eu empurrei os ombros dele com força sem pensar “É esse o suposto quando amas uma pessoa e estás com ela! Eu ponho-te sempre como prioridade, bem antes de mim e mesmo assim tu passas por cima de mim sempre que nos chateamos e sempre que podes!” chorei “És um filho da mãe e quero que morras longe de mim Jason!”

Parei de o empurrar e fiquei parada em frente a ele com o meu coração a bater fortemente contra as costelas.

“Tens bom remédio, volta para o gajo a quem abriste as pernas sem pensar duas vezes assim que virei as costas e deixa-me em paz. Aliás, é a melhor coisa que tens a fazer porque também me estou a foder para ti!”

Empurrei-o mais uma vez com força “Tu não me falas assim fodasse!” gritei contra a cara dele “Tu também traiste a tua namorada grávida, caso estejas com amnésia. É que nem foi assim há tanto tempo por isso não me tens de falar sobre respeito ou o que quer que seja.”

Ele levantou a mão, pronto a dar-me um estalo e eu recuei um passo com os meus olhos arregalados. A minha respiração prendeu-se na minha garganta e senti que não havia mais oxigénio. O mundo parecia ter parado enquanto ele estava ali à minha frente, completamente esquecido do monte de merdas e promessas com que me encheu.

“Livra-te de me bateres Jason!” gritei “Livra-te!”

“Ou o quê?” desafiou com a mão já ao lado do seu corpo “Ou o quê, caralho?”

Mordi o lábio inferior para segurar as lágrimas e olhei nos seus olhos em busca do meu Jason e não deste rapaz totalmente consumido pela raiva e pela dor que só queria fazer todos à sua volta tão mal quanto ele. Ou pior. Mas ele não estava lá.

“Ou nunca mais me pões a vista em cima.”

O Jason parou no lugar e ficou a olhar para mim enquanto a sua expressão ia mudando. A sua respiração começou a abrandar, ao contrário da minha que só aumentava. Eu sabia que ele não gostava que lhe atirasse aquilo à cara e o quanto custava. Mas aquele era o nosso jogo favorito. ‘Quem magoa mais?’.

“Podes ter a certeza que se me voltas a bater, eu faço-te sair por aquela porta e nunca mais me vês Jason. Não vão ser meses, nem cinco anos. Nunca mesmo. Eu desapareço de vez.”

A minha voz, assim como a minha respiração estavam a tremer de medo daquilo que ele diria a seguir.  E eu não queria acreditar que ele fosse capaz de dizer tal coisa.

“Então vai. Estás à espera de quê?”

 



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