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História Another Chance For Love - Mudanças


Escrita por: sabrinaray

Notas do Autor


Oi! Novamente aqui! Espero que gostem!

Capítulo 1 - Mudanças


            Eu estava sentada na sacada do sobrado dedilhando uma canção que os vizinhos deveriam estar cansados de ouvir, a brisa batia em meu rosto trazendo uma sensação reconfortante enquanto eu admirava a pintura que as nuvens formavam no céu de fim de tarde. Fechei os olhos e respirei fundo aproveitando a tranquilidade, mas o barulho de um carro estacionando no prédio em frente roubou o meu momento.

            Revirei os olhos ao ver o motorista, seu topete ridículo e seu sorriso sem graça me deixavam enjoada, mas a garota que saiu do banco do carona é que me tirava do sério. Os dois trocaram um beijo e ele foi embora deixando a morena na calçada; a latina tirou os óculos de sol e me encarou por um instante antes de entrar em casa.

            Voltei a dedilhar Hurt da Christina Aguilera.

            – If only I knew what I know today...

            Os deuses insistam em me interromper.

            – Lauren! – Ouvi a voz de Scott e me debrucei sobre a proteção da varanda para ver o moreno na entrada levantando um engradado de cerveja e sorrindo. Desci para abrir a porta e subimos novamente, uma tarde de domingo típica.

            – Vi a Camila te encarando do outro lado da rua, vocês voltaram a se falar?

            Abri uma cerveja e tomei um grande gole, tive vontade de ignorar aquela pergunta, Camila era o último assunto sobre o qual eu gostaria de falar. Soltei o ar dos pulmões com força pensando num jeito de não prolongar a conversa.

            – Não. Ela faz essas coisas às vezes, nunca sei o que ela quer de verdade, mas definitivamente não estamos nos falando.

            – Já faz algum tempo, Lauren, é estranho ver vocês duas assim, por quanto tempo acha que isso vai durar?

            – Tem muita coisa que você não sabe, o que aconteceu entre eu e a Camila foi bem mais do que pareceu. Já tenho que lidar todos os dias com as perguntas da Sinu, é chato mentir para ela todas as vezes que nos encontramos no supermercado ou na porta de casa. Não sei mais quantos convites para o almoço de Domingo consigo negar.  – Tomei outro gole da bebida gelada, o gosto amargo combinava bem com as lembranças da latina da casa ao lado.

            – Você acha que eu não sei o que você sentia por ela? – Ele riu. – Todo mundo sabe, você não conseguia completar as frases quando ela estava por perto. Um dia ela era sua melhor amiga e no outro você estava suspirando por aí.

            – Eu nunca tentei esconder o que eu sentia. – “Ou sinto” pensei. – Camila sempre soube que eu era apaixonada por ela, ela nunca me rejeitou.

            – Como assim?

            – Estávamos juntas, Scott.

            Nesse momento ele engasgou com a bebida.

            – Não precisa ficar impressionado, não estamos mais. Sequer nos falamos agora e isso não vai mudar.

            Ele balançou a cabeça percebendo que eu estava irritada e queria encerrar o assunto.

 

 

-

 

            Chegamos ao clube quase uma da manhã, eu deveria tocar dentro de uma hora. Era mais uma daquelas festas alternativas com um público que mal conseguiria entender as minhas letras de tão chapados, mas os shows ajudariam a pagar a faculdade e eu não estava em posição de negar um dinheiro extra. Era o ultimo ano do ensino médio e todos estavam tensos enviando solicitações para as melhores universidades, eu queria ir para Juilliard, mas não me sentia capaz, então ainda estava pesquisando outras opções.

            Depois de tirar meu equipamento do carro, Scott me ajudou a montar tudo no pequeno palco da boate, a casa estava cheia. Subi para me apresentar ao público, mas a voz falhou quando vi aquele rosto no meio da multidão. “Por que raios ela tem que estar em todo lugar?”, pensei. Metade das minhas músicas eram sobre Camila, e de repente eu teria que cantar para ela. Era como um pesadelo do qual eu não conseguia acordar. 

            Senti os olhos do público sobre mim, deixei de lado as apresentações, eles não seriam capazes de lembrar meu nome no dia seguinte, e cantei um cover de Twenty One Pilots, seguido por Beatles e One Republic. Eu estava quase sem covers no repertório e Camila não ia embora, percebi que seu namorado sumira, ela estava cada vez mais perto do palco e mesmo que eu não tivesse meus olhos sobre ela podia sentir que ela me queimava com aqueles olhos castanhos. Ela fazia isso o tempo inteiro, ficava parada me olhando como se tivesse algo a dizer, mas nunca dizia nada.

            Ela se aproximou do palco com o telefone nas mãos mostrando a Scott alguma coisa escrita no bloco de notas. Eu sempre atendia pedidos durante o show, Camila queria que eu tocasse Love Yourself de um cantor pop qualquer. Eu sabia as notas e a letra, mas preferi deixar que Scott cantasse, afinal ela fez o pedido a ele. Trocamos de lugar e eu peguei o baixo.

            O que se deu a seguir na minha memória está marcado apenas como um borrão, Camila recebe uma ligação e sai correndo no meio da multidão, de repente eu sinto meu próprio celular tocando, do outro lado da linha minha mãe está histérica pedindo para que eu volte imediatamente para casa. Os quinze minutos restantes do show eu lutei para me manter de pé segurando aquele baixo, quando pisquei novamente estava em casa.

            Uma Clara inconsolável chorava no sofá da sala, meu pai tentava acalmá-la, mas minha mãe não conseguia processar a notícia, eu estava sentada no chão, imóvel, sem saber o que pensar. Taylor sentou ao meu lado e me disse o que fazer, parecia a coisa certa, mas eu não sabia sequer como fazer, não sabia como encontrar forças. Mesmo assim segui seu conselho, atravessei a rua e toquei a campainha. O Senhor Alejandro abriu a porta e me abraçou, depois me deu espaço para entrar, ele me levou até a escada e pediu que eu subisse.

            Cada degrau era uma memória diferente naquela casa, cresci ali, subindo e descendo, escorregando pelo corrimão quando sentia cheiro dos biscoitos saindo do forno. No entanto aquela escada parecia diferente, não tinha certeza do que iria encontrar no andar de cima. Bati na porta algumas vezes, como não obtive resposta entrei assim mesmo.

            Camila estava deitada debaixo da cama, como costumávamos fazer quando éramos pequenas e estávamos muito assustadas por causa de algum filme de terror. Abaixei-me e sentei ao seu lado, ela quase não notou a minha presença, seu olhar estava vidrado e as lágrimas escorriam sem parar.

            – Está tudo bem, Camz, eu estou aqui. – Falei baixinho pegando a sua mão. O contato tão comum me fez estremecer.

            Ela me olhou quase assustada, como se só então tivesse se dado conta de que era eu.

            – Por que você veio? – Sua voz saía falhada entre os soluços.

            – Sinu era como uma mãe para mim, ela esteve aqui minha vida inteira, assim como você. Eu jamais te abandonaria agora.

            Camila balançou a cabeça em entendimento, mas seu olhar estava tão distante que duvidei que ela tivesse realmente entendido o que eu disse.

            Num instante a pequena Sofi apareceu na porta do quarto, seguida por Alejandro.

            – Lauren, eu vou deixar Sofia na sua casa com a Clara, preciso sair agora para resolver detalhes do... – Ele omitiu a palavra.

            O clima naquela casa era dos piores. Três e meia da manhã da madrugada de uma segunda-feira, algumas horas antes Sr. Cabello precisou levar a esposa com urgência para o hospital, Sinu teve um enfarto e não resistiu. Camila recebeu a notícia da pior maneira possível. Não que houvesse uma boa maneira de se descobrir a morte da sua mãe.

            Peguei-a pela mão e a conduzi até a cama, fiz com que ela se deitasse e desci para a cozinha, voltei para o quarto com um copo de água e uma jarra de suco. Sentei ao lado de Camila e estendi o copo de água, a princípio ela rejeitou, mas eu insisti. Ela ainda não tinha entendido porque eu estava ali depois de tudo. Não nos falávamos há mais de quatro meses, depois que ela terminou o namoro comigo e cortou todo tipo de relação entre nós. O que restava de nossa amizade era as encaradas silenciosas quando esbarrávamos por aí.

            Eu estava sofrendo tanto quanto ela, Sinu e minha mãe sempre foram melhores amigas, eu e Camila crescemos juntas, sua mãe esteve comigo em todos os momentos. Ela cuidava de mim quando eu estava doente e minha mãe desesperada não sabia o que fazer. Eu tinha vontade de correr para minha casa e chorar abraçada à minha mãe, mas eu não podia, tinha que ficar ali e ser forte pela Cabello.

            Em pouco tempo Camila adormeceu ainda segurando minha mão.

            Passei os olhos pelo quarto e notei que ela ainda tinha uma foto nossa colada em seu mural. Era uma foto do dia em que tivemos nosso primeiro encontro de verdade, naturalmente clichê, pois segundo Camila eu sou a rainha do brega. Eu a levei para jantar na cidade vizinha para que pudéssemos ter alguma privacidade, passei a semana inteira fazendo serviços em casa para conseguir o carro por uma noite, inventei que haveria um concerto de uma banda qualquer e mesmo com a cara de desconfiança da minha mãe consegui ter a minha noite romântica com a minha melhor amiga.

            Perguntei-me porque ela ainda guardava aquela foto quando todas as outras não estavam mais lá. Era insuportável como qualquer detalhe bobo me fazia criar esperança. Parte de mim insistia em acreditar que mesmo depois de todo esse tempo as coisas poderiam simplesmente voltar ao normal. Olhei Camila mais uma vez, ela ainda dormia estranhamente serena enquanto o mundo real desabava.

 

           

           

 

            


Notas Finais


Vejo vocês no próximo capítulo! Obrigada por ler!


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