História Another Chance For Love - 727

Depois do jantar meus pais pediram que Taylor e Chris nos deixassem a sós, eles estavam incrivelmente felizes por eu ter sido aceita em uma das universidades mais renomadas do país. Eu estava dando o primeiro passo em direção a realização dos meus sonhos, supostamente eu deveria estar feliz também. Mas aquilo não era verdade, eu não iria para Juilliard como Camila e definitivamente não iríamos realizar nossos sonhos de infância juntas.  

Por mais que meus pais tentassem me convencer eu não poderia acreditar ou ceder às suas propostas, eles estavam dispostos a fazer qualquer coisa para que eu pudesse entrar, mas eu já havia tomado uma decisão.

– Eu pesquisei um pouco, e sei que vocês queriam muito que eu realizasse o meu sonho, mas o programa de Juilliard é muito caro, eu não me sentiria bem deixando vocês endividados, por mais que eu tenha economizado não será o suficiente. Eu me inscrevi para St. Louis, Ônix, Universidade de Miami e para Larsson também.

Tentei convencê-los de que os programas dessas universidades eram tão bons quanto a Juilliard, tentei convencer a mim mesma disso. Decidi que não escreveria a carta de recusa antes de receber as propostas das outras escolas, mas de qualquer maneira eu não aceitaria a primeira proposta.

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No dia seguinte me surpreendi ao chegar à escola e ver a Cabello mais velha sentada no fundo da classe. Era a primeira vez que ela aparecia na escola naquela semana e estava sentada no extremo oposto de onde costumava sentar, ela costumava ser sempre a primeira da classe. Camila tinha as melhores notas, o melhor histórico, a maior quantidade de clubes e cartas de recomendações de professores do que qualquer outro aluno do último ano, mesmo com todo o meu esforço eu não conseguiria alcançá-la. Não foi surpresa quando Sofi me disse que ela tinha sido aceita em Juilliard. Apesar de a audição ser o ponto mais importante, a diferença entre ser aceito ou ter seus sonhos completamente destruídos, as notas e o currículo são o que garantem que você pelo menos consiga uma. E Camila tinha tudo.

Coincidentemente ela estava exatamente ao lado da carteira onde eu costumava sentar, corri os olhos pela sala à procura de um lugar vago, mas a maioria já tinha sido tomada ou era simplesmente muito próximo a pessoas desagradáveis. Não vi outra escolha a não ser sentar ao lado da minha ex-namorada. Eu não sabia como as coisas estavam entre nós, tínhamos nos falado no dia do funeral, mas depois disso era a primeira vez que estávamos nos vendo. Eu não sabia se deveria cumprimenta-la ou não.

Enquanto eu andava até o lugar vago ao seu lado ela me encarava da mesma forma estranha que tinha feito durante os últimos meses, eu não sabia como reagir aquele olhar. Me sentei e coloquei os livros sobre a mesa, tentando fingir que não sentia seu olhar sobre mim.

– Sofi me disse que você foi aceita em Juilliard. – Ela estava realmente falando comigo? Meu coração palpitava, eu não queria que ela visse minha cara de surpresa, mas aquela altura era inevitável. – Parabéns.

– Obrigada, eu acho. Soube que você foi aceita também. Parabéns.

Essa interação estava me deixando inquieta.

– Ainda estou pensando na proposta. – Ela completou.

A professora entrou na classe e fez uma cara de preocupação ao notar o lugar de Camila vazio. Quando a Cabello respondeu à chamada Srta. Rivers parecia ter visto um fantasma. Aquilo deixou Camila incrivelmente desconfortável, era como se todos a olhassem e vissem apenas a órfã que ela havia se tornado. Os olhares de admiração que recebia dos professores e mesmo os rotineiros olhares de desprezo de alguns alunos parecia ter sido tomado por um sentimento coletivo de pena que incomodava até mesmo a mim.

No almoço os olhares permaneciam a perseguir Camila, agora ela estava acompanhada de Dinah, sua amiga mais próxima depois de mim. Tudo ficou estranho entre nosso círculo de amigos, algumas pessoas entenderam que deveriam ficar de um dos dois lados, exceto Dinah, ela continuava a falar comigo como sempre, mas para todos os efeitos estava sempre com a Cabello. Scott era o único que havia ficado do meu lado, eu e ele tínhamos nossa própria banda ou dupla, na verdade. Sem ele os últimos meses teriam sido insuportáveis, quando eu estava na pior ele sempre achava um jeito de me distrair, a melhor maneira que encontramos foi juntar nossas habilidades e fazer algum dinheiro com a nossa música.

Nós estávamos sentados a duas mesas de distância da latina, mas eu não conseguia tirar meus olhos dela.

– Vocês voltaram a se falar?

– Eu não sei, Scott. Nós nos falamos no dia do velório e ela falou comigo hoje, mas não sei o que isso significa.

– Sério? Sobre o que vocês falaram?

– Coisas da universidade.

– Você recebeu uma carta ou coisa do tipo? – Balancei a cabeça positivamente pois minha boca estava cheia com um maravilhoso hambúrguer  - Como você me esconde uma coisa dessas?

– Eu fui aceita em Juilliard, mas eu não vou. Que diferença faz? – Dei de ombros.

– Juilliard? – Ele me olhava perplexo – Você foi aceita em Juilliard e vai recusar a proposta?

– A não ser que eu ganhasse na loteria ou algo do tipo eu não poderia pagar o programa deles, então eu vou pra uma universidade mais barata e perto de casa.

– Eu sinto muito, Lauren. – Ele apertou minha mão ternamente, um gesto um pouco estranho, mas Scott sabia ser incrivelmente sensível às vezes – De qualquer forma você deveria estar feliz, eu sequer consegui uma audição para Juilliard.

– Camila também conseguiu, eles enviaram uma carta para ela. – Voltei a olhar na direção da morena – Era sobre isso que estávamos falando mais cedo, ela me disse que ainda está pensado.

– O Sr. Cabello é incrivelmente rico, o preço não deve ser o problema. O que há de errado com ela?

– Eu não faço ideia, mas será que podemos não falar sobre isso? Essa coisa toda com a Camila está me deixando exausta, eu penso nela o tempo inteiro e parece que todos estão falando dela o tempo inteiro também.

– Desculpa, Lauren.

Scott me cutucou chamando minha atenção para o meu irmão parado no meio do refeitório analisando o lugar a procura de algo. Acenei para Chris e ele abriu um sorriso se juntando a nós.

– Lauren, papai acabou de me ligar, você recebeu mais duas cartas de universidade, parece que alguém está bem popular essa semana. – Ele me deu um tapinha nas costas antes de se levantar e voltar para os seus amigos.

– Mais duas cartas, Lauren? Está popular mesmo – Scott riu de mim. – Aposto que nem mesmo os antigos reis recebiam cartas com tanta frequência quanto você.

Ofereci meu melhor olhar mortal como resposta, mas não pude conter o riso. Na verdade eu estava feliz de ter uma chance real de entrar em uma universidade onde eu pudesse focar do que eu realmente gosto, o ensino médio era maçante, e mesmo que não fossem as universidades mais renomadas do país, como a Juilliard, eu estava animada para trabalhar na minha música, na minha voz e essas cartas eram minha oportunidade de tornar isso real.

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            Os meses seguintes passaram numa velocidade assustadora, quando me dei conta estava dirigindo para Orlando para visitar a Universidade de Larsson. Eu também fui aceita em Ônix e na Universidade de Miami (aparentemente minha carta nunca chegou à St. Louis), mas o programa de Larsson foi o que mais me chamou atenção. Meu pai ficou feliz em me levar para conhecer o campus e fazer a matrícula, faltava apenas um mês para o início das aulas.

            A formatura tinha passado há algum tempo, mas eu não esqueceria fácil o discurso da oradora da turma. Camila estava realmente linda de beca e seu discurso sobre os anos que passamos juntos e as lições do ensino médio me arrancaram lágrimas. Nada havia mudado muito entre nós, exceto que agora podíamos nos cumprimentar nos corredores e na rua, mas nada tinha se tornado menos estranho. Continuei a ver Sofi todos os dias, ela parecia cada vez mais triste à medida que os meses se passavam. Ela sabia que Camila não estaria por perto por muito mais tempo, logo se mudaria para Nova Iorque e seria somente ela e Alejandro morando naquela casa enorme. Sem a companhia da irmã mais velha, Sofi sentiria ainda mais a falta de Sinu.

            Após horas dirigindo chegamos à Orlando famintos, mas não havia muito tempo para comer, fomos direto para Larsson, a fim de chegar a tempo para acompanhar o grupo da “excursão”. Assim estacionamos o carro percebi um homem acenando para nós, meu choque foi imediato, era Alejandro Cabello e ao seu lado estava Camila com uma expressão que diria ser igual a minha. Por que razão ela estaria visitando a Larsson quando deveria estar arrumando as malas para Juilliard? Não fazia sentido.

            Meu pai e Alejandro trocaram um cumprimento amigável e começaram a conversar sobre o trânsito de Miami à Orlando, eu não conseguia me concentrar na conversa, muito menos consegui encarar Camila, que também não parecia muito interessada em algum tipo de contato. Continuamos andando até o portão, eu estava chutando uma pedra qualquer quando me dei conta de que eles haviam parado.

            – Lauren, você de ir à frente com a Camila? Eu e Alejandro vamos comprar algo para comer e daqui a pouco encontramos vocês! – Meu pai gritava mesmo com a pouca distância, felizmente não havia mais ninguém por perto.

            Eu nem mesmo tive tempo de responder, os homens foram da direção oposta enquanto Camila me acompanhava ainda cabisbaixa. Logo que chegamos à recepção uma funcionária confirmou nossos nomes e nos guiou para uma sala onde outras pessoas aguardavam o horário da visita. Para minha felicidade não havia nenhum outro rosto conhecido, era suficiente ter que lidar com a possibilidade de ver Camila todos os dias dali em diante. Não demorou mais que alguns segundos para que um garoto qualquer começasse a dar em cima da Cabello. Estávamos sentadas lado a lado em um grande sofá preto quando um garoto careca e barbudo começou a puxar assunto com minha vizinha, ele não guardou os elogios sobre os lábios carnudos que eu tanto tinha saudade e teve atrevimento suficiente para comentar sobre suas curvas. Eu não pude me conter, levantei e saí da sala.

            Alguns segundos depois Camila apareceu no corredor com uma expressão confusa.

            – Como você pôde me deixar sozinha com aquele pervertido?

            – Ah, agora você está falando comigo? “Oi” para você também!

Ela bufou e começou a andar de um lado para o outro pelo corredor.

– O que você está fazendo aqui, afinal? Não deveria estar fazendo as malas para Nova Iorque?

Ela parou de repente, ela não respondeu minha pergunta, apenas fez o caminho de volta para a sala.

Mike e Alejandro chegaram cinco minutos depois e meu estômago os agradeceu por terem trazido lanches. Mesmo depois da chegada de seu pai Camila ainda parecia irritada, ela não voltou a me olhar diretamente. Eu não conseguia entender porque ela recusaria Juilliard, o Sr. Cabello poderia pagar por qualquer universidade que sua filha desejasse, mas de todas as universidades dos Estados Unidos ela escolheu justamente o mesmo lugar que eu. Naquele ponto eu comecei a acreditar que o destino estava me pregando uma peça.

Gostando ou não tivemos que passar o dia inteiro ao lado da outra, depois de um tempo andando pelo campus eu tinha esquecido que Camila estava ali. Tudo naquele lugar tinha me impressionado, a arquitetura era maravilhosa, certos prédios tinham um toque gótico, com vitrais e rosáceas que me deixaram maravilhada, além de gramados repletos de árvores. As salas de aula, os auditórios, anfiteatros e salas de espelhos me convenceram de que Larson era onde eu queria estar. Ao fim do dia eu estava maravilhada, porém exausta de caminhar pelo enorme campus, então após ter aprendido sobre a fundação do lugar, sua estrutura e seu programa, nós quatro nos dirigimos à sala de matrículas onde deveríamos falar com o diretor do nosso bloco.

– Senhor Cabello, Senhor Jauregui, senhoritas! – O homem de aparência jovial vestido num terno azul marinho nos recebeu em sua sala com um sorriso mecânico. – Por favor, sentem-se! Fico muito feliz em saber que escolheram nossa universidade para suas meninas, tenho certeza de que não irão se arrepender. – Ele logo nos entregou uma papelada para preencher e continuou com seu discurso pomposo que deveria saber de trás para frente.

Depois que preenchemos a papelada, o homem nos entregou diversos livretos contendo normas, mapas e um guia da universidade. Apertou nossas mãos e nos conduziu até a saída. Era isso, dali um mês eu estaria realizando o meu sonho de estudar música, agora eu tinha certeza de que era aquilo que eu faria a vida inteira. Mas antes de saímos o diretor nos alcançou.

– Peço perdão, senhoritas, quase me esqueci de lhes entregar isto – Ele entregou uma chave para mim e outra para Camila, nas duas havia um chaveiro com o número do nosso quarto – aqui estão as chaves do seu dormitório, vocês duas ficarão no 727.