– Eu não acredito que aquela vadia está por aqui. – resmungou Glasses como se os outros tivessem culpa do seu ódio por Julie.
Se tinha alguém que era movida por ódio, essa pessoa era Glasses. Conseguia odiar qualquer pessoa que a atrapalhasse em qualquer momento de sua vida, isso acontecia não se esquecia das coisas que haviam acontecido quando era criança que nem as pessoas normais. Portanto, tinha dificuldade em deixar de lado certos acontecimentos.
Enquanto isso, Liz continuava conversando com Julie. Ou ao menos tentando, a linda garota de cabelos castanhos parecia ser um ima de atenção. Alguns exageravam e diziam que a partir do momento que você olha para Julie, demorará para achar algo que chegue ao menos perto de sua beleza e aura excepcional.
– Não se incomoda com todo mundo olhando pra você? – questionou Liz.
– Confesso que acho estranho, mas já sou um tanto acostumada. – respondeu a jovem. – Mudando de assunto, como é que você está se virando?
– Como assim?
– Digo, o seu pai morreu recentemente certo.
– Sim...
– Onde você trabalha? – perguntou Julie.
– Trabalho?
– Sim, seu local de trabalho. Você arranjou uma forma de ganhar dinheiro, certo?
– Na verdade, eu estou usando parte da minha herança para isso. – afirmou Liz um tanto envergonhada.
– Seus parentes vão pagar sua faculdade?! Que legal! – exclamou a garota sorrindo.
– FACULDADE?! AÍ MEU DEUS! COMO EU PUDE ME ESQUECER DISSO? EU VOU ACABAR PASSANDO FOME ASSIM QUE EU ACABAR O ENSINO MÉDIO! – gritou a jovem que por um momento tinha se esquecido que estava no corredor da escola.
– Calma, podemos resolver isso após a aula.
A próxima aula era de economia doméstica, a segunda aula que Liz mais odiava depois de Física. Não tinha o menor talento para culinária, no máximo sabia fazer o básico mas nada extraordinário como suas amigas faziam. Ao contrário de Julie que além de bonita e gentil conseguia impressionar todos com suas habilidades na cozinha. Conseguia fazer tudo o que você imaginasse, era realmente a namorada perfeita.
Após a aula acabar, Ela quis apresentar a Liz o seu local de trabalho. Julie andava pelas as ruas como se conhecesse aquele lugar a séculos, sabia o caminho de tudo. Liz tinha altas expectativas sobre onde a garota trabalhava, Julie não era uma adolescente comum. Por mais que não aparentasse, era madura e independente até demais para a sua idade. E não gostava de ser tratada como criança pelas as pessoas ao seu redor, queria mostrar que era muito mais que só um rostinho bonito.
Julie então levou Liz para um maid café. Ela explicou que aquele tipo de estabelecimento fosse mais comum no Japão, havia alguns nos Estados Unidos também. Mostrou o uniforme que ela usava e fez a sua colega vesti-lo para ver como ficava nela.
– Acho que isso é tão...
– Kawaii!
– O que?
– Ficou perfeito em você, aposto que você daria uma ótima maid.
– Não sei não, isso é muito cuti cuti pra mim. Sem falar que olha pra você...
– O que é que tem eu?
– Você é bonita, é a única que fica bem nesses tipos de traje. – afirmou Liz.
– Eu não sou a única, existem outras garotas por aqui. Você poderia ficar com a gente, podemos te ensinar tudo sobre esse trabalho. – disse Julie.
– Ok, mas saiba que eu só vou entrar nisso porque realmente preciso de grana.
– Nunca teve um emprego antes?
– Eu nunca precisei de um.
– Então você foi uma criança mimada... – sorriu a garota de olhos verdes.
– Nem tanto assim. A propósito, o seu pai sabe que você trabalha nesse tipo de lugar? – questionou a jovem.
– O meu pai morreu há mais de 10 anos. – respondeu Julie olhando para a sua pulseira que seu pai lhe dado.
– Eu sinto muito...
– Não precisa, ta tudo bem. – afirmou a garota sorrindo novamente. – Você começa amanhã.
Liz se despediu de Julie e voltou para o dormitório da escola. Julie também não iria ficar pelas ruas até tarde, então fechou o estabelecimento e foi andando até o apartamento onde morava com sua mãe. No caminho de casa, teve o azar de topar com Glasses. A pessoa que mais a odiava.
– Arranjou mais gente para o puteiro? – perguntou ela.
– Na verdade, é um maid café.
– Tanto faz. Todos sabemos que você usa dessa oportunidade pra correr atrás de caras mesmo.
– Eu não sei de onde você tirou isso, eu não estou à procura de um namorado. – afirmou Julie.
– A verdade dói tanto assim? Você não mudou nada mesmo, ainda continua dependente de caras para ser feliz. Sem eles, continua a mesma inocente e fraca de sempre. Sério mesmo que tens 18 anos? – disse Glasses forçando uma voz de criança.
– Eu sei que sou fraca, eu sei que jamais serei forte e inteligente como você. Sou uma idiota, admito. Então, por favor, não fique me repetindo o óbvio. – implorou a garota.
– Oh, desculpa se bati na ferida da bonequinha de porcelana. Magoou, foi? – questionou ironicamente Glasses segurando o queixo de Julie como se fosse beija-la.
– Então você não esqueceu do que aconteceu na festa...
– Eu não sei do que você está falando. – afirmou ela.
– Você ainda sente falta do Nathaniel? – perguntou Julie.
– O que acontece ou deixa de acontecer com ele não é da minha conta e muito menos da sua. – respondeu Glasses deixando a garota sozinha.
Julie já estava acostumada com aquele tipo de abordagem. Por mais que várias pessoas gostassem dela, haviam muitas que a odiavam. Depois daquele susto, voltou a seguir caminho para o apartamento que morava.
O local era um pouco distante de seu local de trabalho, morava no bairro vizinho ao da escola. Ao chegar no lugar, pediu desculpas ao porteiro pelo seu atraso e pegou o elevador para o 5° andar. Pegou a sua chave e finalmente estava em casa.
Logo na sala de estar, sentiu um forte cheiro de álcool e encontrou algumas garrafas de bebida espalhadas pelo chão. De início, estranhou aquilo pois não bebia e lá só morava ela e a mãe. Até que lembrou que Evillyn, quando ficava deprimida acabava bebendo até cair.
Ao passar pelo corredor que levava ao seu quarto, encontrou a sua mãe quase morta de tanto beber. Fazia questão de cuidar dela e mesmo sabendo que a sua palavra era inútil, continuava alertando que Evillyn não deveria cometer tais exageros.
– De novo mãe?
– Você viu o seu pai? – perguntou a mulher que tinha quando ficava bêbada perdia a noção do tempo.
– Mãe, o seu esposo já morreu faz mais de 10 anos. Agora é melhor a senhora ir dormir que ganha mais do que ficar acordada nesse estado. – respondeu Julie carregando a mãe para o quarto e ficando lá até Evillyn dormir.
Após a mãe adormecer, foi para o seu quarto e ascendeu uma vela em nome do seu pai como de costume. Mas dessa vez não estava conseguindo dormir de maneira alguma, talvez devia aquilo as provocações de Glasses que a deixavam com um peso na consciência enorme, pois faziam ela lembrar do quanto prejudicou os outros e até mesmo os seus próprios amigos ao não se importar com os objetivos que eles tinham. Mas no fim acabou dormindo após ler uma HQ da Mulher Maravilha.
Ao amanhecer, a jovem acordou e se deu conta de que era sábado. Logo foi correndo se arrumar para ir trabalhar, pois hoje o seu horário era de manhã e não podia chegar atrasada de maneira alguma.
No caminho, se deparou com Liz que estava mais parecendo um zumbi do qualquer outra coisa. Logo quis dar uma força a ela.
– Você tá bem, Liz? – perguntou Julie.
– Eu? Onde?
– Irei considerar isso como um sim. – afirmou ela.
– Eu realmente terei de vestir aquela roupa?
– Vejamos... sim.
O expediente já começou movimentado, Liz sabia que teria de lidar com os mais diversos tipos de pessoas mas não esperava que a maior parte dos clientes fossem ser garotos.
Não que tivesse algo contra, porém não era acostumada com tal tipo de ambiente. Estava ficando constrangida ao escutar os rapazes lhe elogiando, não conseguia entender como Julie aguentava lidar com tal tipo de gente. Acreditava que seria porque ela já era acostumada a ouvir elogios.
Como se o seu dia não pudesse piorar, Glasses acabava de entrar na cafeteria com a mesma expressão de sempre. Parecia que nunca estava bem consigo mesma, aparentava estar até pior do que nos dias de aula. Mas nada que infernizar o dia de alguém não lhe fizesse se sentir melhor.
– O que a Glasses ta fazendo aqui? – perguntou Liz quebrando um copo acidentalmente.
– Não faça ela ficar esperando. – disse Julie.
Liz foi então contra a sua vontade atender a garota que já começou zoando o seu uniforme, Glasses também odiava roupas fofas e ia ainda mais além, não vestia nada que tivesse rosa. Achava tal cor algo característico de uma pessoa fracassada e frágil.
– Então agora você entrou para o grupo das putas desesperadas por atenção de macho? – questionou ela pegando na saia do vestido de Liz.
– Não estamos desesperadas por garotos, fazemos isso porque gostamos. – respondeu a jovem.
– Claro...
– Aposto que você diz isso porque nenhum cara jamais ficaria com você.
– Saiba você que eu sou uma garota independente, nunca precisei de cara nenhum para nada dessa vida.
Julie vendo aquilo sentiu necessidade de interferir, sabia que as duas tinham temperamento curto e personalidade forte. Sem falar que Glasses andava armada pra tudo quanto era canto, sabia manusear desde de espadas até armas de fogo além de que não pensava duas vezes antes de matar alguém.
– Deixa que eu atendo ela. – falou Julie calmamente.
– Mas ela não merece ser bem tratada...
– Bom dia, Mestra. O que deseja para hoje? Quer ouvir a sugestão do dia? – perguntou Julie como se nada tivesse acontecido.
– A sua opinião não me interessa, só me traga um cupcake e umas 3 fatias da torta de chocolate. – respondeu Glasses.
Ao terminar o seu expediente, Liz foi direto para a escola ensaiar com as outras garotas da banda. Tinha composto uma música nova e queria muito mostrar, já que com o evento que iria acontecer na próxima semana em sua escola, queriam ter no mínimo 5 músicas já prontas.
– Cheguei! – disse Liz com uma voz ofegante.
– Não sabia que você era cosplayer. – afirmou Violet olhando para o uniforme da garota.
– Finjam que eu não estou vestindo isso. – sugeriu Liz mostrando a letra para Ellie.
– Você parece ter colocado muito esforço nisso. – disse Mary.
– Foram 4 noites de puro esforço, apesar de que o Andrew me ajudou em algumas partes.
– Você tem sorte de ter um namorado tão prestativo. – falou Mary que estava com o pensamento nas nuvens.
– Tem razão.... Espera, O QUE?! – gritou Liz.
– Eu acho que vocês formariam um casal bem 100% mais ou menos. – disse Scarlet.
– Vamos logo ensaiar, papo furado não vai nos levar a nada. – afirmou Liz tentando fugir do assunto.
– Mas é você quem está mais atrasada nas músicas, precisa aprender as outras 3 antes do próximo sábado. – lembrou Ellie.
– Eu consigo, não vai ser difícil.
Durante o ensaio, Mary notou que Liz continuava com um comportamento estranho. Sabia que era por causa da morte do pai dela que ainda permanecia recente, Liz era o tipo de pessoa que escondia bem o que estava sentindo para não prejudicar os outros nem a si mesma.
Estava ansiosa para o evento e queria fazer tudo direito. Como tinham uma música nova, ainda não tinham feito a distribuição de linhas por completo. Tinha medo de pegar uma nota alta e falhar na frente de todo mundo. O que fez com que dedicasse o seu sábado inteiro para praticar.
Enquanto isso, Glasses se encontrava em uma situação difícil. No futuro, tinha mais de 50 convites de festas e eventos de trabalho, entretanto, não se interessava por nenhuma delas. Pois os eventos eram de Classe A e as festas tinham sempre muita gente. Por mais que fosse DJ em tempo livre, ainda não tinha se acostumado a conviver com tanta gente ao seu redor.
Sem falar que via e escutava de tudo naquelas boates, desde de pessoas que fingiam ser amigas de outras apenas por likes até usuários de drogas que além de consumir, vendiam para outras pessoas. Porém se não aceitasse esses convites, seria obrigada a comparecer ao evento da escola que também teria coisas que não lhe agradavam.
Mas nenhuma delas tinha com o que se preocupar, afinal, teriam a semana inteira para isso. E mais um bom tempo para lidar com as consequências do que iria acontecer.
Eram 5 da tarde quando Julie terminou o seu expediente, andava alegremente pelas ruas falando até com os passarinhos até que notou que havia um rapaz ao seu lado. Ele era loiro dos olhos azuis, usava um casaco vermelho que além de cobrir a sua camisa, tinha um capuz que cobria parte do seu rosto. Andava de cabeça baixa enquanto jogava em seu PSP e não dava atenção para as pessoas ao seu redor.
A garota o estranhou um pouco no começo, porém começou a perceber semelhanças dele com uma pessoa que conhecia. Quando iria retirar o capuz do jovem, ele segurou a mão dela e disse:
– Quanto tempo, Julie.
– Nathaniel?! – exclamou Julie surpresa.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.