1. Spirit Fanfics >
  2. Another way >
  3. Dor e sofrimento

História Another way - Dor e sofrimento


Escrita por: nanyseskiene

Notas do Autor


Olá, galere. Primeira fanfic da categoria e do site. Não garanto que vou conseguir atualizá-la com tanta frequência, mas vou tentar.
Pois é, eu não ia fazer nenhum hot aqui, mas no fim das contas, não faz muita diferença. xD
Aumentei a classificação da fic e deixarei um aviso para quem não gosta de hot só pular o evento. <3
Estou aqui, ansiosa para ca-ra-le-o. Espero que gostem e bora pra história.
Se tiver algum erro, só apontar nos comentários que dou uma arrumada.

Capítulo 1 - Dor e sofrimento


 

Miyako observava atentamente a luta de Magnamon com Chimairamon. Seus olhos estavam tão grudados na cena, que se sua respiração não fosse coisa involuntária, talvez sufocasse, pois não se lembraria que o ar era necessário.  Seu coração martelava com tanta força dentro de seu peito que suas costelas doíam, quase que incapazes de segurar tamanha ansiedade. Suas sobrancelhas estavam tão franzidas de medo, raiva, desgosto que pareciam uma coisa só. Quem era o causador de tudo isso?

Um garoto de sua idade – aliás, da sua idade não, um ano mais novo – montado em um Devidramon, com o rosto de um anjo e o coração de um demônio.  Munido de seu chicote e de mentiras que ele costumava contar para si mesmo. Se denominava ‘Kaiser’. Um Rei, um Imperador. Não lhe era suficiente reinar nas escolas de ensino médio, nos corações tolos... Não. Queria um mundo inteiro só para si. Queria tanto, de fato, que criou um monstro mais forte do que podia controlar e cá estávamos nós. Sem solução contra ele.

Seus punhos se fecharam com tanta força que se tivesse unhas grandes, teria ferido suas palmas. Estava com raiva dele por sua conduta cruel, estava com raiva de si mesma por não ter percebido nos olhos frios dele quem realmente era. Estava com raiva de si mesma por ter vibrado ao estar em sua presença antes. Não a presença dele, a presença de quem ele escondia por trás do cabelo espevitado e dos óculos grandes... Ichijouji Ken, gênio, celebridade. Sentia tanta vergonha por ter sido igual a qualquer outra garota tonta, encantada pela beleza dele.  

O choque de Miyako quase a fez perder a consciência num instante. Wormmon, o pequeno Digimon que seguia o Kaiser por onde fosse, depois de uma declaração bonita atestando sua devoção, deu uma cabeçada em seu mestre, derrubando-o de Devidramon e fazendo que este último investisse contra Chimairamon, libertando Magnamon de suas garras. Em seguida, abriu mão de sua própria energia, dando a força extra necessária para que o dourado pudesse fazer valer a profecia de Wizardmon: ‘A bondade emana uma luz dourada’.  

O monstro foi destruído. A existência do Imperador foi reduzida às lágrimas e ao arrependimento de Ichijouji, sobretudo quando seu parceiro desintegrou-se em um amontoado de dados bem em seus braços. Miyako sentia raiva, sentia pena. Sabia que tudo aquilo, aquela desgraça poderia ter sido evitada se... Se humanos não fossem humanos. E não fizessem o que sempre fazem. A moça sente frio. Frio e um aperto no peito. Sua mente parece anestesiada.

Enquanto ouvia apenas de relance seus amigos conversando sobre o próximo passo, ela caminhou ao redor de onde o Kaiser havia deixado de existir e no meio da areia, ainda restavam seus óculos.

- Você vem? – Perguntou Takeru, observando-a de certa distância. Não o bastante para perceber que ela havia apanhado os óculos e enfiado dentro do bolso grande de suas calças de aviação.

- Sim. Estou indo. – Ela sorriu levemente. Um sorriso tão leve que alguns chamariam de falso. Tudo bem pensarem isso, Miyako não estava querendo sorrir. Não era sádica o bastante para querer sorrir, sabendo de toda a dor que foi infligida naquele mundo.

Hawkmon sentiu vontade de perguntar o porquê de ela tomar aquela atitude, de guardar os óculos consigo, mas engoliu a questão. Conhecia sua parceira o suficiente para saber que quando ela se fechava em seus pensamentos, devia esperar até ela resolver exterioriza-los.

Enquanto caminhava para casa, as lembranças das incontáveis lutas pelas quais havia passado, todas as vezes que viu seu precioso parceiro sendo ferido por Digimons que sequer estavam fazendo o que faziam por conta própria.

Quando cruzou o portal, fez algumas considerações aos amigos, mas nada do que realmente vinha pensando. Não tinha certeza se compartilhavam de suas preocupações. Era até irônico que uma matraca franca como ela não tivesse achado espaço para abrir seu coração. Era diferente chamar um garoto de ‘bonito’ e dizer que estava decepcionada com toda a raça humana.  Despediu-se deles. Foi para casa ainda carregando nas costas o peso de uma culpa que não era sua. Naquele dia, não houveram sorrisos mesmo.

Depois de terminar a lição de casa, Miyako se sentou na cama e Poromon logo arranjou um lugar ao seu lado.

- Você está tão quietinha hoje...

- Hm? 

- Tá vendo? Parece até que está no mundo da lua... – A voz fininha de Poromon ecoava com doçura nos ouvidos da garota. Ela moveu uma mecha de seus cabelos violeta e acariciou a cabeça dele.

- Desculpe... É que eu não consigo entender. Faz muito tempo que eu não consigo entender... É verdade que existem muitas pessoas boas, mas... Também existem tantas pessoas ruins. Ver o que aconteceu no Digimundo apenas me pareceu uma prova de tudo isso. – Ela afundou a bochecha no travesseiro e soltou um grande suspiro. No móvel, logo ao lado da cama, os óculos do Kaiser brilhavam para ela, como se tivessem a resposta para a pergunta feita. Miya se esticou um pouco e os elevou no ar, contra a luz do teto, como quem molha a ponta do dedo do pé antes de pular de vez dentro da água. Sua espiada não funcionou. Não conseguia ver nada por ali. Tirou suas próprias lentes e as colocou no mesmo móvel de onde tirou os outros. – Será que... Olhando através dessas lentes consigo entender o que você via, Ichijouji Ken?

A Inoue abaixou os óculos nos seus olhos, cobrindo-os com as lentes escuras. Não devia ser capaz de enxergar com eles, mas era. Se arriscaria a dizer que via melhor que com seus próprios óculos.

Milhares de imagens passaram por sua cabeça, descontroladas. Tudo o que havia sido feito antes. Todos os detalhes passados na cabeça do dito gênio, que jamais teria acesso não fosse aquele momento. Seus anseios, suas dúvidas... Seus medos. O filme de toda uma trajetória, talvez de sua vida, estava sendo transmitido para Miyako.

- Miyako-san, Miyako-san! O que está vendo? – Poromon pulou algumas vezes ao lado dela, impaciente com a falta de resposta.

- Estou vendo... O que deve ser feito daqui para frente. E eu vou precisar da sua ajuda. – Ela disse e sorriu. Seu sorriso, pela primeira vez naquele dia, foi verdadeiro.

--------------------------------

- Cadê a quatro-olhos? – Daisuke perguntou tão logo se deu conta de que ninguém ainda havia reclamado de suas piadas matinais.

Takeru, Hikari e Iori amontoavam-se perto do computador da sala de informática onde Koushirou digitava depressa. Vez ou outra, ele parava, franzia as sobrancelhas e continuava seu trabalho. A única hora que também parou, foi para cumprimentar todo mundo que chegou, retornando ao trabalho na sequência.

- Mandei um email pra Miyako hoje cedo, mas me disse que não se sentia muito bem com o que ocorreu ontem e pediu um tempo para descansar e esvaziar a mente... – Iori explicou e os outros se entreolharam.

- Miyako-san... Ela é uma garota doce e amigável... É de se esperar que fique assim. – Hikari explicou, apertando os lábios um pouco.

- Ficar se escondendo não é o jeito de resolver as coisas, magrela... – Daisuke resmungou para si mesmo e sentiu a mão de Takeru repousando em seu ombro.

- Ela vai melhorar depois. Só precisamos de um pouco de paciência.

Izumi fez uma pausa completa no que fazia no computador e a cara desgostosa estava lá, ainda.

- Estranho... Não consigo rastrear nenhuma área do Digimundo.

- Não é algum defeito do computador? – Sugeriu Daisuke.

- Bem... Pode ser, apesar de improvável. Procurem investigar de dentro do Digimundo. – Koushirou aconselhou e os novatos puxaram seus D-3, apontando-os para a entrada.

Ficou um vazio estranho sem ela por lá para dizer seu bordão. O vazio soou um pouco pior, de fato, porque o portal não se abriu.

- Err... Já não devíamos estar do outro lado? – Chibimon perguntou curioso.

- Digiportal, abra! – Disse Daisuke apontando com mais intensidade. – Abre-te, sésamo! Vamos libera aí! – Depois das tentativas frustradas, o corpo do garoto amoleceu, seus braços penderam para os lados do corpo e seus lábios se curvaram numa linha curva de desgosto.

Takeru coçou a cabeça e trocou um olhar preocupado com Koushirou. Iori também se posicionou do lado do outro.

- Devíamos nos preocupar com isso? – Perguntou o garoto.

Izumi não respondeu. Ao invés disso, ficou calado, digitando mais algumas informações e quando não recebeu nenhuma resposta aos comandos que acionou, voltou-se para os novatos.

- Decididamente, acho que não será possível ir ao Digimundo hoje.

- Mas, tem tanta coisa que precisamos fazer por lá. Tanta destruição foi deixada, precisamos ajudar na reconstrução... – Iori estava inconformado com aquilo.

- Talvez, o Digimundo não precise mais da gente... – Hikari sugeriu, olhando fixamente para a tela.

- O que quer dizer, Hikari-chan? – Daisuke perguntou a ela com a dúvida estampada na face.

- Quero dizer que... Quando vencemos a ameaça da outra vez, ficamos sem ter como ir ao Digimundo. Pode ser o mesmo caso agora. E se for isso, não importa o quanto tentemos abrir o portal, ele não se abrirá.

Koushirou considerou aquela possibilidade e sacudiu a cabeça.

- Os Digimons, Hikari. Eles ainda estão aqui. - Os olhos de todos os outros se arregalaram de leve. – Se esse fosse o caso, os Digimons não teriam sequer conseguido sair de lá ou já teriam sumido. Creio que o portal foi fechado artificialmente.  – Ele mordeu o canto do lábio enquanto pensava e tamborilou os dedos sobre a mesa, ao lado do mouse. – Façam como a Miyako-san e descansem por hoje. Amanhã, a situação pode já ter se normalizado.

E por ‘normalizado’, ele queria dizer que trabalharia numa solução para aquele estranho problema.

-----------------------------

 Sem você por lá, ninguém conseguiu conter as piadas bestas do Daisuke-kun. Haha. Espero que se sinta bem logo.

- Yagami Hikari

 Está tudo bem, Miyako-san.  Graças a um evento estranho do destino, também estamos de folga. Se precisar de alguma coisa, sabe onde me encontrar.

- Takaishi Takeru

Só quero que saiba que pode ter o tempo que precisar para se sentir melhor. E... Desculpe não sou bom nisso...

- Hida Iori

Mó vacilo, hein, quatro-olhos? Deixou a gente esperando, não disse nada pra ninguém... Sentimos sua falta.

- Motomiya Daisuke

Os olhos de Miyako rolaram pelas mensagens, uma após a outra. Todas tão amigáveis e comoventes, mas que não arrancaram dela nenhum sorriso de simpatia. Palavras não valiam nada sem ação. E ela? Ela era uma mulher de ação.

Eu decidi não voltar mais ao Digimundo por enquanto. Toda a dor e o sofrimento causado lá... Não sei lidar com isso. Sinto muito, não me procurem mais.

- Inoue Miyako

Alguns instantes depois, seu D-Terminal começou a piscar e apitar sem parar. Provavelmente trazendo respostas diversas ao que acabara de dizer. A mesma mensagem que enviou a todos. Poderia parecer genérica, mas era o que deviam saber. Guardou seu aparelho de volta na mochila e apontou na distância para o que havia sobrado da base flutuante do Kaiser.

- Holsmon, ali. Vamos descer ali.

- Por que iremos para lá, Miyako-san? – A voz forte da ave ecoou a dúvida.

- Eu tenho muitas perguntas. Esses óculos me trouxeram mais perguntas que respostas e eu quero ser capaz de responder todas. Me ajude nisso, sim?

- Mas claro! Descendo!

O pouso de Holsmon perto da abertura da base foi suave como se tivesse sido amortecido por um colchão de ar. No minuto que pousou, voltou à sua forma de Hawkmon para economizar energia. Miyako tirou uma lanterna de dentro da bolsa e seguiu por dentro do lugar, agora, abandonado.

Havia grandes corredores caindo aos pedaços, máquinas com fios jogados para fora. Não parecia muito seguro ficar por ali.

- O que estamos procurando, Miyako-san? – Hawkmon perguntou depois de algum tempo de andar no escuro. O frio dentro da base era inacreditável, o que levou a garota a acreditar que o antigo dono deixava algum tipo de aquecedor ligado. Algo brilhava no fundo do corredor. Algo que estava muito mais a frente que sua lanterna, o que indicava que ela não era a causa.

Não devia haver ninguém naquela base. Um arrepio quis segurá-la no lugar onde estava, a visão clara que tinha nos óculos a impulsionou a continuar andando. Quando chegou à fonte da luz, Miyako sorriu. A sala do outro, o lugar cheio de telas e tudo o mais, parecia praticamente intacto. Mais que isso, havia uma tela acesa bem diante dela, mas não havia ninguém do outro lado. Ninguém que Hawkmon pudesse ver.

- Sim. Vamos mudar tudo.

-------

Nas duas semanas que se seguiram, os Digiescolhidos estavam impacientes. O portal não tinha tornado a abrir. Os veteranos não conseguiam contato com seus parceiros. Miyako continuava dando respostas evasivas e ignorando visitas. Ficava trancada em seu quarto o dia inteiro. Ou ao menos, era o que o resto da família pensava. Mantarou chegou a considerar arrombar aquela porta uma vez, mas graças a um psicólogo da televisão, a mãe estava convicta que era melhor não pressioná-la e aconselhou que ninguém a perturbasse.

Koushirou tinha trabalhado incessantemente numa solução e sem a presença de Miyako, ele foi obrigado a chamar por uma pessoa que, talvez, tivesse alguma resposta. A pessoa? Ninguém mais, nem menos que Ichijouji Ken. A pessoa que tinha começado todo aquele caos. Ele, ciente da necessidade de pagar por seus pecados, concordou em ajuda-los a descobrir o que havia de errado. Infrutiferamente. Tentaram de computadores diferentes, entradas diferentes, programas diferentes... Não adiantava. O Portal não abria de jeito algum.

Reuniram-se todos na casa de Izumi mais uma vez naquela tarde. Ele queria apresentar as descobertas que havia feito junto com Ken. Todos já estavam sentadinhos e devidamente servidos de sanduíches e suco. A senhora Izumi nunca esteve tão feliz por ver seu filho cheio de amiguinhos de novo. Era engraçado vê-la agindo daquela forma, mesmo que ele não fosse mais nenhuma criança.

- Bom, quais são as novidades? – Daisuke foi logo falando, depois de ter devorado o sanduíche num instante.

- Meu brasão reagiu há mais ou menos uma semana atrás. – Ken explicou. – Considerando que ele deve ter feito isso por causa de Wormmon, o seu possível renascimento, definimos a área em questão como o ponto onde fica a Cidade do Princípio. A reação ocorreu de novo, alguns dias depois, em uma certa distância do primeiro ponto. E chegamos com um segundo palpite. Alguém ou alguma coisa moveu o ovo de Wormmon ou mesmo o próprio daquela cidade e o levou para outro lugar. Alguém que, provavelmente sabe quem ele é ou com quem ele foi afiliado... – Os olhos do garoto fitam o chão com pesar.

- O Digimon Kaiser... – Completa Iori. – Mas o que isso quer dizer?

- Não sabemos ainda. – Disse Koushirou – E conseguimos uma forma de abrir o portal, mas... – A voz dele ficou mais baixa, como se estivesse para dizer uma má notícia. – Mas só vai ficar aberto por uns poucos minutos. Não sabemos quanto tempo demoraremos a abri-lo de novo se vocês não conseguirem resolver o problema por dentro.

- Então isso quer dizer que...  – Hikari começou a falar, franzindo as sobrancelhas.

- Há a possibilidade de ficarmos presos lá? – Takeru terminou a frase, com a mesma apreensão.

- Vocês não precisam ir dessa vez. – Ken logo se adiantou. – Eu poderia ir primeiro, como um teste e fazer um reconheciment-

- Nem ferrando. – Daisuke se manifestou enfim. – Você pode não aceitar isso, e talvez nem eles aceitem isso ainda, mas... Você é um Digiescolhido como nós. Não podemos te deixar ir sozinho pro Digimundo, onde talvez um caos esteja se passando quando você nem tem um Digimon pra te defender. É suicídio!

Iori franziu as sobrancelhas e olhou para o chão. Hikari e Takeru se entreolharam.

- Não me importa se for. Vocês não tem que correr um risco desnecessário por causa do erro que eu cometi. – A voz de Ichijouji também era baixa.

- Chibimon, vamos. Pode abrir o portal, Koushirou-san. – Daisuke estava de pé, com seu parceiro do lado.

- Se o Daisuke-kun vai, acho justo ir também. Não sabemos o que pode ter do outro lado. – Hikari se manifestou e preparou seu D-3.

Iori não disse nada, mas tirou seu próprio D-3 do bolso, como se mostrasse estar preparado. Takeru deu de ombros e seguiu os outros dois.

- Vocês entenderam o que eu disse antes? Vocês podem não conseguir voltar. – Izumi insistiu.

Ken se levantou, apertando o D-3 negro nas mãos e caminhou até ficar diante do computador.

- Vocês ainda podem desistir se quiserem.

- Tch. – Daisuke estralou a língua e rolou os olhos. – Ninguém está aqui para bancar o mártir. Vai dar tudo certo, vamos resolver a trava e sair normalmente, ok? Agora... Vamos logo.

Hikari sorriu levemente e depois riu.

- Não é pra menos que herdou o Brasão da Coragem... Esse é exatamente o tipo de atitude idiota que meu maninho tomaria numa situação assim.

- É mesmo... – Takeru concordou.

Entendendo que não havia motivo para continuar falando, Izumi abriu o portal enfim.

- Boa sorte, novatos. – Ele comentou quando todos já haviam desaparecido.

As roupas deles não mudaram como costumavam fazer. Isso, por si só, já era bem estranho, mas... Os Digimons também continuavam em suas formas ‘Em treinamento’. Mas nada era mais estranho que o mundo que se apresentou diante deles...

O Digimundo estava totalmente reconstruído. Árvores em seus devidos lugares. Água límpida pelos rios. Digimons diversos brincavam. Não havia sinal de torres negras, nem do mínimo sinal de que algum dia já havia existido um Digimon Kaiser por lá.

- O que que tá pegando? – Motomiya comentou enquanto andava ao lado dos outros, confuso como poderia estar.

- É como se, de fato, o Digimundo tivesse sido reiniciado. – Iori comentou e todos olharam para Ken que piscou algumas vezes sem entender a súbita atenção.

- Eu não fiz isso, se é isso que estão tentando insinuar. Vocês mesmos disseram que não havia como, não foi? – Ichijouji sentiu um frio percorrer seu corpo e seu coração pesar dentro do peito. Sobretudo, conforme o grupo ia se aproximando de um vilarejo.

Ao entrar lá, viram que os Digimons presentes,  Xiaomons, viviam em conforto, com muita comida, eram amigáveis e hospitaleiros.  O líder, um Labramon, os convidou para passar o dia na área e contou como a vida deles tinha melhorado nas últimas duas semanas, desde que tudo havia acontecido.

- O que é esse ‘tudo’, Labramon? – Perguntou Takeru com curiosidade.

- Ah, vocês devem ser novatos por aqui... Há duas semanas, depois que o temível Kaiser foi derrotado, nós conhecemos outro ser humano.

- Outro ser humano? – Daisuke quase gritou enquanto olhava para os amigos.

- E ele fez algo contra vocês?

- Não, não. Muito pelo contrário... Esse ser humano tem sido uma bênção para o Digimundo. Ela tem trabalhado muito por todos nós. Evita que nós briguemos e é carinhosa. Ela é uma líder e não uma tirana.

- Ela... É uma mulher? – Hikari captou aquilo de imediato.

- Sim. Eu acredito que sob o comando dela, nunca mais precisaremos lutar contra Digimaus de novo. – Labramon dizia animado.

- É uma mulher humana... – Ken franziu as sobrancelhas. Aquilo soava estranho. Loucamente estranho.

- Muitos de nós já se ofereceram para protegê-la, caso qualquer coisa aconteça, mas ela se recusa a formar um exército porque diz que no Digimundo não deve haver dor e sofrimento. Todos devemos ser livres e felizes e que ela fará tudo por nós. É verdadeiramente, um anjo!

Os garotos se entreolhavam confusos e agradeceram a hospitalidade dos Xiaomons, tornando a seguir pela estrada. Em todo lugar era a mesma coisa. Todos os digimons que encontraram pelo caminho diziam maravilhas sobre a tal líder humana e como ela era gentil e cuidadosa com todos. O Digimundo havia virado um mundo perfeito, colorido e cheio de felicidade, mas cada área ainda possuía suas características especiais. As áreas de trevas continuavam de trevas, mas organizadas. As áreas selvagens continuavam selvagens, mas livres de interferências estranhas.

No fim do dia, receberam uma mensagem reconfortante de Izumi.

Podem voltar quando quiserem.  A ligação entre o mundo Real e o Digimundo se restabeleceu. Também sou capaz de mapear as áreas novamente. É...  Como se o problema nem tivesse existido.

- Izumi Koushirou

Ou talvez, nem tão reconfortante assim. Não descobriram o que causou aquilo para começo de conversa e o Digimundo parecia ter se tornado uma completa utopia. Depois que retornaram, explicaram para Koushirou o que viram e resolveram descansar pelo dia.  

-----

Na madrugada, o brasão de Ken reagiu mais uma vez e ele entrou no Digimundo sozinho. Caminhou por algum tempo entre uma cidade, onde os habitantes estavam adormecidos, antes de chegar a um grande castelo aos moldes europeus com formas lúdicas e cores extravagantes. Quanto mais se aproximava do castelo, mais o brasão brilhava.

- Wormmon... – Ele suspirou, cheio de esperança. – Será que eu vou rever você agora? Será que enfim vou poder te pedir perdão adequadamente?

Não havia nenhum Digimon ao redor. Só o corredor iluminado por peculiares tochas em forma de flor. Não tinha medo. O que quer que acontecesse com ele era resultado de seus próprios erros.  Quando o corredor acabou, ele chegou num cômodo grande. Aliás, grande não, gigantesco, com um tapete estendido que dava para uma grande cadeira bonita, adornada e flutuante. Havia uma gama de telões de tamanhos diferentes. Se não soubesse, diria que aquele lugar era muito parecido com... A sala que costumava usar em sua antiga base.

- Bem-vindo, Digimon Kaiser. Ou eu devia dizer... Ichijouji Ken-chan? – O ruído de saltos altos ecoou dentro do salão e uma figura surgiu saindo de uma porta. Seu corpo era indiscutivelmente feminino e curvilíneo.  A voz era familiar, mesmo que ele não devesse se lembrar dela.

- Quem... Quem é você? – Ken perguntou deixando seus olhos se mostrarem surpresos. – Por acaso... Wormmon está aqui?

A mulher à sua frente sorriu e ficou perto de um ponto iluminado. Ele pôde ver seus cabelos lilases presos num rabo de cavalo volumoso e uma coroa dourada enfeitando-lhe a cabeça.[1] Usava um vestido cor-de-laranja, balonê. Era mais curto do que precisava ser e deixava as coxas dela em evidência, tal qual o decote que dava a impressão que seus seios eram ainda maiores. [2]Uma capa estava sobre seus ombros e se arrastava pelo chão. Os óculos eram semelhantes aos dele, mas tinham tomado uma forma mais anatômica. Tinha um sorriso amigável nos lábios e carregava um digitama no colo. O ovo brilhava e o brasão reagia ao brilho.

- O bebê está prestes a nascer. Shhh. – Ela colocou um dos dedos sobre os próprios lábios para gesticular silêncio.

- Por favor, não o machuque. – Ichijouji caminhou para mais perto, ansioso, amedrontado.

- Machucá-lo? Eu jamais faria isso. Jamais. Eu não suporto dor e sofrimento. Vê como eu tornei o Digimundo um lugar livre disso? – Suas palavras eram orgulhosas, mas gentis.

- Você... Você é... Aquela menina... Inoue Miyako, não é? – Ele franziu as sobrancelhas.

- Ouviu isso, bebê? – Ela falou próxima à casca do ovo. – O grandioso ex-Imperador se lembra do nome que eu abandonei. Não, sinto informar que não sou mais essa pessoa. Eu juro que pensei em vários outros nomes, mas dado o fato de que nossas roupas são tão parecidas... Achei que seria apropriado. Agora, deverei ser somente conhecida por Kaiserin.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


[1]Baseei minha Miyako nesse AU aqui pela tumblr user 'burbies'(ou algo assim):
https://65.media.tumblr.com/ab902660b215201485ee7030f895aaba/tumblr_n1ur5ithKV1sheuc7o1_500.jpg

[2]O vestido dela é levemente mais escandaloso que o do desenho, não tem nenhuma cobertura no colo e nem nas pernas. Tipo assim:
http://g01.a.alicdn.com/kf/HTB1DEZ6KpXXXXagXVXXq6xXFXXXM/Zip-Back-Sweetheart-Neckline-Fitted-Orange-Short-Puffy-Net-Cheap-Low-Price-Handmade-Vestidos-15-Anos.jpg_640x640.jpg

Notei que tinha uma falhinha de continuidade, mas já arrumei. hihi

É só isso mesmo. Espero que tenham gostado. ;)


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...