Hades' POV
- Nico, Bianca... Sentem-se por favor. - Disse papai.
- Crianças... Nós temos uma coisa séria para contar a vocês.
Maria e eu nos preparávamos para dar a notícia às crianças havia uma semana. Eu sabia que seria difícil, mas pode acreditar, por pior que seja na hora do choque, sempre contar aos seus filhos será mais doloroso.
Eu os observava atentamente, imaginando o que viria depois. Seríamos só nós? Maria conseguiria sobreviver? Como as crianças se sentiriam?
Acontece que, quando pensamos que a vida de adulto é melhor, estamos apenas nos enganando. Imaginando algo inexistente. Na verdade tudo é muito pior quando se tem 33 anos. Quando seus pais não decidem mais por você, e sua cabeça enche-se de dúvidas. " Eu faço ou não? ", " Onde chegarei com isso? ", " Proteger ou preparar para a vida? ".
Mas Maria era a melhor esposa que eu poderia ter. Sempre via o bom das pessoas, via o certo, me ajudava a me encontrar em momentos tão difíceis. E bem, lá estava ela: com lágrimas nos olhos, segurando o peso de ter que contar aos filhos que tinha uma grave doença que poderia levá-la à morte em poucos meses. Sabendo que teria de fazer quimioterapia, que sofreria, que seria necessária a cirurgia e deixaria de ser ela mesma por um tempo. Tudo isso para, talvez, no final, conseguir unir o pouco que lhe restar e fundar-se novamente, para viver um pouco mais da vida. E no entanto, parecia calma. Parecia estar ainda inteira. Talvez seus pensamentos estivessem em perfeita ordem e sincronia, para contar às crianças da maneira menos dolorosa o que acontecia. Ou talvez fosse apenas eu, enxergando apenas sua antiga imagem, apenas me iludindo que tudo ficaria bem.
- Meus anjos... Vocês sabem que a mamãe ama vocês. Que nunca os deixará. Sabem o quanto são importantes para nós, eu e seu pai, e sabem, acima de tudo, que não mentimos para vocês. Por mais que seja ruim, nós sempre contamos o que está acontecendo. - Ah Maria... Como você era boa. Preparando Nico e Bianca para ouvir o pior de um jeito compreensivo.
- Sim crianças. Vocês são o motivo pelo qual acordamos todos os dias. Mas... O que queremos lhes dizer será difícil... - Engoli em seco, tentando formar um jeito de contar tudo a eles. Maria me olhou e lançou-me um pequeno sorriso de incentivo. - Bem, a mamãe... Está doente e... Maria, pode me ajudar? - Eu não conseguiria...
- Certo... Mamãe está doente, e talvez não possa melhorar dessa vez.
- Mas mamãe, - Disse Bia de cabeça baixa. - é só tomar um chá e ficar uns dias na cama e você melhora... - Ah!, Bia... Minha doce e inocente garota... Como eu queria que todas as coisas fossem assim...
- Não meu amor... - Disse Maria, com um pequeno sorriso no rosto, aproveitando a inocência das crianças. - Não é bem assim. A mamãe tem que fazer tratamento no hospital. Tomar um remédio na mesma veia de quando tiramos sangue. E mamãe vai ter que fazer uma cirurgia.
Nesse momento Nico, que permanecera de cabeça baixa o tempo todo, levantou-a, olhou nos olhos da mãe, e perguntou:
- E você vai... Morrer?
Aquelas palavras pareceram atingir a todos, como um raio repentino. Todos olhamos para ele. Bianca, com os olhos cheios de água, eu, com pena do garoto, e Maria... Seu sorriso confortante sumiu, sua expressão tornou-se de puro medo.
E pela primeira vez na vida, vi Maria DiAngelo sem palavras. E eu soube na hora, ela desabara por dentro.
Se aquilo doeu? E muito.
- Bem... Ninguém sabe... Não é mesmo? -Eu disse.
- Sim...- Concordou Maria.- Talvez... Talvez eu passe por tudo isso e fique bem... Talvez... Eu... Para ser franca com vocês, crianças. Eu não queria que sofressem tanto... Mas... Talvez... Talvez sim, mamãe pode morrer.
Bianca correu a abraçar a mãe, já soluçando. Nico tornou a baixar a cabeça, e eu sabia que ele chorava. Já eu... Tentei me manter. Enxuguei uma lágrima que insistiu em cair... Observei as duas, mãe e filha, um amor incondicional. Levantei-me e chamei Nico. O mesmo me seguiu. Levei-o ao jardim e me sentei em um dos bancos, colocando o garoto sentado em meu colo, de frente para mim.
- Nico... -Ele me olhou. - Nós... Nós teremos de ser fortes, ok? -Assentiu com a cabeça, enxugando os olhos.- Vamos cuidar da mamãe, e da Bia.
- Tudo bem... -E me abraçou.
Logo voltamos para dentro de casa. Nico e Bianca subiram para seus quartos, no sofá sentava-se Maria, tomando um copo de água. Me dirigi a ela e nos abraçamos.
- Nós vamos conseguir... Você vai conseguir...
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Nico's POV
Aquilo era muito para mim.
Mamãe podia morrer!
Me joguei na cama, expeli todo o ar de meus pulmões e deixei as lágrimas rolarem. Logo Bianca entrou, também chorava.
Eu já tinha algo em mente... Não queria ver mamãe sofrendo... Decidi dividir com Bia.
-Eu vou sair de casa.
- Oque? Mas... Nico, como assim?
-Eu vou fugir. Vou para a casa daquele amigo da mamãe e do papai. O loiro.
- Mas... Não! Nico! A mamãe precisa da gente!
-Bia... Eu não consigo, não aguento... O papai quer que eu seja forte... Que eu ajude você e a mamãe. Mas eu não posso, não consigo... -Disse a verdade.
- Nico... -Ela me abraçou. -Pense mais...
- Não Bia... Eu... Eu vou arrumar umas roupas. E vou sair daqui. Quando tudo isso acabar, quando mamãe... Mamãe estiver bem... Eu volto.
Saí de seu abraço. Abri meu guarda-roupa e tirei uma mochila. Peguei cinco calças, sete camisetas, duas blusas, umas oito cuecas e algumas meias. Calcei meu tênis e coloquei meus chinelos no bolço da mochila.
- Nico... S-se eu não posso impedir... Então vou... Vou com você. -Disse Bianca, determinada.
-Faça o que você quiser.
- Certo, eu... Eu vou separar umas roupas e escrever um bilhete. Acho melhor nós... Irmos amanhã cedinho.
-Sim... Mas não podemos fazer barulho.
Bianca assentiu e foi para seu quarto.
Após o jantar subimos para seu quarto.
- Cinco e meia... -Disse ela arrumando o relógio.
- Certo. Mas ponha o despertador em baixo do travesseiro.
-Ok.
Voltei para meu quarto e ajeitei umas últimas coisas, encondendo a mala no armário.
Papai logo entrou para desejar uma boa noite. Junto dele, mamãe.
- Boa noite Nico. -Disse papai.
- Durma com os anjos. -Mamãe depositou um beijo em minha testa.
Sorri como se estivesse tudo normal. Eles se foram, apagando a luz. E logo adormeci.
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Bianca's POV
Acordei às 5:30 com o despertador. Logo o desliguei, para não acordar nossos pais. Percebi que Nico não fora tão rápido, já que pude ouvir seu relógio por alguns segundos ainda.
Peguei minha mochila de sob a cama e a deixei próximaà porta do quarto. Fui escovar os dentes e também coloquei escova e pasta na mala.
Troquei de roupa e saí do quarto, entrando no de Nico.
- Já está pronto?
-Sim. Pegou a escova?
-Peguei. E o bilhete está aqui. -Disse estendendo a mão e lhe mostrando o post-it amarelo. Colei o papelzinho na porta de seu quarto.
"Mamãe e Papai, nos desculpem, mas estamos com muito medo. Fugimos de casa para não ver a mamãe sofrer. Estaremos em um lugar seguro e voltaremos quando mamãe melhorar. Beijos, Bia e Nico."
Descemos as escadas sem fazer som algum. Os empregado ainda não tinham chego. Abrimos a porta e observamos o sol nascer. Deviam ser 6:00h já.
Nos pusemos a caminhar. Tomamos a avenida, pouco movimentada por ser domingo, depois viramos algumas ruas e finalmente chegamos.
Era um prédio de torre única, branco e bege. Tocamos o interfone e ouvimos sua voz:
-Quem é?
-Somos nós, Nico e Bianca! -Respondi.
-Podem subir.
O portão se destrancou e entramos. Era um prédio bonito. Pegamos o elevador e subimos ao nono andar. Ao chegar a porta do apartamento 92 já estava aberta. E ele parado lá, encostado no batente, de pijama e uma caneca de café em mãos.
- Onde estão seus pais? -Perguntou.
-Ahn... Nós fugimos. -Confessou Nico.
Apolo fez uma expressão de estranhamento. Então abriu mais a porta e nos deixou entrar.
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