- Eu não vou demorar muito. Mas preciso resolver isso.
- Diga logo, então.
- Certo… - Aí, quando você mais precisa, a coragem vai embora. A adrenalina baixa e você empaca. - Hmm… - olhei para o chão, segurei meu braço esquerdo, passando o dedão nele como um limpador de para-brisas. - Acho que… Você sabe porquê estou aqui.
- Você vai falar logo, ou não? Porque meu livro tava bem mais interessante que isso. - Percy reclamou. O olhei de olhos cerrados.
>Quê? Quem você pensa que é pra falar assim comigo, Perseu?
- Certo. - Suspirei. - Olha, é o seguinte: eu não quero perder muito tempo, porque tenho mais o que fazer da minha vida, e pelo visto, você também, então vou direto ao ponto: eu não gostei daquele seu showzinho. Quer dizer, que culpa eu tenho de você estar ressentido? - Pude ver a expressão de Percy mudar como em câmara lenta, ele passou de bravo para indignado e então para realmente irritado.
- Que culpa, Annabeth? Que culpa? Você é totalmente culpada! Você é a mais culpada da história! Foi você quem saiu do país de repente! Foi você quem sumiu sem avisar ninguém!
- E como uma criança de doze anos vai morar no exterior por conta própria, Percy? Eu também não tenho culpa!
- Certo Annabeth, e quem teria então?
- Ninguém, Percy! O universo! Sei lá! Só sei que eu não tenho! E não me venha com essa de “Ai, ela foi embora e eu só descobri porque ela não apareceu no parquinho na hora combinada!” - Fiz uma voz bem debochada, porque agora eu também estava brava. - Eu lhe avisei Percy. Pode não ter sido a melhor maneira, mas pelo menos eu não sumi do nada.
- Certo Annabeth, porque agora deixar um bilhete é avisar. “Oi Percy, tô saindo do país. Não sei porquê e nem quando volto. Obrigada por ser meu amigo. Assinado, Annabeth”. - E me impressionei por ele lembrar exatamente o que estava escrito no bilhete. Tá, essa não é a melhor maneira de contar a alguém que você está indo embora, mas segundo minha mãe, quanto mais curta a despedida, menos dolorida ela é.
- Ok, Percy! Essa pode não ter sido uma boa opção! Mas eu pensei em você. Eu pensei enquanto escrevia o bilhete. Pensei quando o deixei na sua porta. Pensei em você durante todos esses anos, porque eu senti sua falta. Não só sua, mas de todos. E eu pensei que quando voltasse, e a gente se visse, que você ia me abraçar, e eu ia me desculpar, e então estaria tudo ok! Mas aparentemente, a mocinha ainda tá ressentida!
- Você vai falar, você vai ouvir! Imagine-se com doze anos novamente, Annabeth. Você acorda, tá um dia lindo lá fora, e tudo que você pensa é “ótimo, vou chamar meu amigo pra fazer alguma coisa” e então você abre a porta e BUM!, um bilhete dele dizendo que vai morar fora, que não sabe porquê e nem quando volta! E você faz o que, Annabeth? Você acha que é uma brincadeira! Você liga pro seu amigo! Mas quando ele não atende, nem a mãe dele… Você acaba percebendo que esse “amigo”, que você tanto ama, tá realmente indo embora e deixou um bilhete na sua porta.
- E aí entra a parte da “depressão”? A parte que você fica na bad e começa a ser um babaca? Olha, eu não queria ter de mencionar ninguém… mas a Rachel?! A Rachel?! Olha Percy, sinto muito, mas esqueça tudo que eu falei. - Tirei minha pulseira do braço. É, aquela mesma pulseira de tantos anos, uma aliança de amizade. - Aparentemente, nós não somos mais amigos. Tenha uma boa vida. - Entreguei o objeto em sua mão e saí daquele quarto, batendo a porta e ignorando totalmente sua expressão.
Passei bem rápido pelos meninos na sala de recreação e eles gritaram se estava tudo bem. Apenas levantei os dedos em paz e amor e comecei a correr de volta para nosso quarto.
Não era como se eu quisesse que ele fosse atrás de mim querendo conversar, mas no fundo… Eu queria,sim.
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