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História Antes de Você - Eu não estava preparado


Escrita por: mrsanne

Notas do Autor


Estou péssima, e isso deve estar horrível. Sinto muito

Capítulo 2 - Eu não estava preparado


Não sai muito durante a primeira semana na casa dos meus pais. Eu estava com dor, me cansava facilmente, então era fácil ficar deitado na cama e cochilar, nocauteado por analgésicos fortíssimos, além de aceitar finalmente que eu precisava dar um tempo e me recuperar se quisesse ter minha vida de volta.

Por incrível que pareça, voltar para a casa dos meus pais foi bom pra mim. Depois de muito tempo conseguia dormir mais de quatro horas seguidas sem interrupção. Minha tia me alimentava, e as tardes eram baseadas a jogos de dominó com meu vô, que aproposito roubava sempre. Era como estar em um cazulo da família abelha.

Não tocávamos em nenhum assunto que pudesse perturbar esse delicado equilíbrio famíliar.

E a semana foi assim, enquanto meus pais saiam para trabalhar, Gray para vagabundar a fora, minha tia arrumando a casa e meu vô dormia, eu fazia pequenos desafios diários, como me vestir, escovar os dentes e me complementar em quaisquer tarefas que minha tia pedisse.

— Sabe querido, você pode separar sua roupa suja enquanto eu lavo as do Gray.

Mas, por mais que eu me tentasse não ser o centro das atenções, eu era.

Eu ouvia os vizinhos fazendo perguntas a minha tia enquanto pendurava as roupas no varal. _ei Cana, então Natsu está de volta, isso é verdade?_ e como sempre ela respondia a mesma coisa, sem emoção alguma. _Sim_, e os ignorava novamente.

E então eu sempre voltava para o quarto, pra não "tentar" causar mais desconforto para ela.

E bom, meus olhos sempre voltavam para casa do outro lado. Aquela casinha amarela me fazia lembrar muitas coisas que deixavam meu peito apertado. Eu não sabia se os Strauss ainda moravam lá, mas não tinha coragem de perguntar. A casa não parecia estar abandonada mas ninguém nunca sai ou entra de lá.

Já fazia duas semanas que eu estava em casa, quando me dou conta que meus pais não saiam mais para encontro sociais.

— Hoje não é quarta? — Perguntei na terceira semana quando estávamos na mesa de jantar. — Não é dia de encontro com os amigos?

Os dois se entreolharam.

— Ah não, estou bem aqui. — Disse meu pai enquanto mastigava um pedaço da coxa do frango.

— Eles não querem deixar você sozinho idiota. — Gray se manifesta enquanto tomava um copo de suco. — Não é óbvio?

— Não estou sozinho. Tenho a tia Cana, e o vovô.

— Eu não conta? — se ofendeu.

— Não sabia que podia contar com os animais. — Ri.

No fundo, eu queria mesmo era ficar sozinho. Sem pais, Gray, tia ou avô. Sozinho, sem ninguém para de te olhar, ou te perguntar _precisa de ajuda?_. Desde que cheguei aqui não fiquei sozinho meia hora sequer, era sufocante.

— Nós, não saímos mais com os "amigos" — Minha disse, enquanto cortava a batata.

— Eles fazem perguntas demais. Sobre. O que aconteceu... — Meu pai deu de ombros. No final, estávamos lá naquele silêncio gritante. Apenas ouvindo o som dos talheres batendo nos pratos.

Então apenas fiquei na minha.

Apenas na sexta feira as coisas começaram a mudar. Era manhã, Gray ainda estava dormindo como um urso no inverno. Eu estava acordado, olhando para a janela que sempre ficava meia aberta. Foi quando eu os vi, de longe levando o cachorro para passear. O senhor e senhora Strauss. Bem ali. Quero dizer, bem lá. Forcei a vista para ter certeza, e claro confirmei, aqueles cabelos brancos eram inconfundíveis. Meio tonto, fui mancando até a janela, e espiei através das persianas. Lá estavam eles, conversando entre si enquanto o cachorro latia para algumas bicicletas que passavam. Eles pareciam brigar. Derrepente ela aponta para a casa, que no caso é minha, e com a surpresa fecho a persiana rapidamente enquanto me agaixo no chão. _droga!_

— MAS QUE... — Gray acorda. — Seu imbecil você tá bem? — Ele me ajuda a levantar. Meu braço ainda estava engessado então mal conseguia me apoiar, sem contar as minhas pernas que pareciam mais moles que uma gelatina. — Merda cara, quer se matar de novo? Faz isso longe do meu quarto.

— O quê tá acontecendo aqui? — Minha mãe, mais uma vez histérica entra no quarto. — Natsu, o que houve? Você tá bem? Aí meu Deus, *IGNEEL*! — _aí merda_!

— Mãe, eu tô bem, eu só...

— O quê foi? — Meu pai chega, ainda de pijama. — Você caiu?

— Um velho não pode nem dormir em paz mais? — mais um convidado. Vovô está sem a dentadura. _meu Deus, que bela maneira de começar o dia_.





***

Então, de tarde eu estava na varanda. Havia acabado de tomar um milhão de analgésicos e estava loucamente drogado. Eu precisava tomar um ar. Me sentei no banquinho forrado em tecidos e me escorei na parede. Pela primeira vez, eu estava dando as caras pra vizinhança. A rua estava calma. Um carro ou outro passava. Alguns garotos estavam empinando pipas, outros andando de bicicleta. Me lembrei como a minha infância deveria ter sido, mas acabou ficando só na imaginação de poder brincar.

Então, por uma questão de segundos, eu inclino minha cabeça para a calçada ao lado, e os Strauss estão ali, parados, me olhando enquanto o cachorro fazia xixi no poste de luz.

— Natsu! — A senhora Marvis diz, parecendo surpresa como se não soubesse que eu estava ali a mais de duas semanas sendo que o assunto do momento é a minha volta. — Estou surpresa que você tenha voltado para casa dos seus pais.

O senhor Elfman me olhava com sangue nos olhos, parecia se segurar para não avançar no meu pescoço como um leão faminto. Eu sentia a raiva dele transbordando e era muito desconfortante. Ele tinha quase dois metros de altura, e apesar de ter duas filhas, ele estava em forma. Se algo acontecesse eu não poderia correr, estaria morto.

— Nossa, você está um pouco... quebrado. — Ela diz inclinando a cabeça para me ver melhor. Logo manteve os olhos fixos novamente em mim.

— É, um pouco. — Tentei parecer simpático, forçando um sorriso.

Elfman dá uma risadinha, e solta um "idiota" baixinho, mas que com certeza passaria sobre meus ouvidos.

— Você emagreceu.

— Pois é, uma dieta de soro faz isso com a gente.

— Fiquei sabendo que você caiu do décimo segundo andar. — Ela me parecia nervosa. Como se estivesse conversando comigo apenas porque me viu, por educação.

— As notícias correm depressa.

— Enfim, fico feliz que esteja bem. — Isso soou falso. Enquanto pegava as chaves do bolso traseiro da calça.

— Você me parece melhor, desde... Bom, você sabe.

Pronto. Tentei controlar minha respiração, minha garganta deu um nó. _não, não estou melhor, e sei que vocês também não estão_! Meu coração acelera gradativamente.

— Érr...

— A gente precisa ir, daqui a pouco a Mira liga, e não vai ter ninguém em casa para atender. — O senhor Elfman deu as costas logo depois de dizer isso. Ele ainda me culpa, e eu me odeio por isso.

— É verdade, desde que ela começou a faculdade tem dia e hora certa pra ligar pra casa. — Marvis forçou um sorriso falso. A tristeza era visível em sua face. Perder a primeira filha e ficar longe da outra não estava sendo fácil. Eu queria poder ajudá - lá de alguma forma. Então, ela também me dá as costas e vai saindo devagar. Eu fico ali parado, olhando. Por algum motivo uma força maior me dá dois segundos de coragem eu os grito.

— Senhora Marvis! — digo de olhos fechados, já arrependido. Quando olho novamente, ela está lá parada esperando acontecer alguma coisa. Elfman está vermelho como um pimentão, parece explodir a qualquer momento.

— Eu... — tenho tantas coisas para dizer, tantas. — Por favor, me perdoe. — e isso é a única coisa que sai, antes do ar me faltar e eu quase ter uma crise bem ali.

Ela se inclina em minha direção e dá dois passos, eu já esperava por chuva de ofensas mas não. Ela me abre um sorriso largo e aberto.

— O quê aconteceu não foi sua culpa Natsu. Não foi culpa de ninguém. Apenas siga em frente, sim? — E logo depois segue seu caminho. Até se virarem a esquina, e ir para casa.





***

Naquele mesmo dia que parecia não ter fim mais, ainda recebi uma daquelas notícias desagradáveis e insensíveis.

— O QUÊ? — Gritei irritado. Estava indignado com aquilo. Eles não podiam fazer isso, não sou mais criança.

— Por favor Natsu sem drama. — Minha mãe disse dura. Estava sentada no pé da cama, de braços cruzados com a cara fechada. Ao lado meu velho em pé, me olhando fixamente.

— Já decidimos e você vai.

_mas que merda, o que acham que eu sou? Um cachorrinho que vocês mandam e desmandam?_.

— EU NÃO TENTEI ME MATAR. — Grito. — NÃO SOU UM LOUCO

— Se continuar a gritar desse jeito, é o que os vizinhos vão achar.

— Acalma - se Natsu — Meu pai caminhou até a janela e observou se alguém havia escutado. — Vai ser bom você conversar com alguém...

— Sim filho, e você sabe que é necessário. Você caiu do décimo segundo andar, precisa colocar os parafusos nessa "cachola" aí.

_cachola? Quem usa esse termo ainda?_. Respirei fundo. Não queria discutir. Eu estava cansado, principalmente depois de ter aquela "conversa" com os pais de Lisanna. Sem contar que eu estava na casa deles, bebendo e comendo a comida deles, eu não podia ser um ingrato.

— Vamos garoto, você já não é mais criança pra fazer birra.

Meu pai estava certo. Mas eu também não estava fora de mim, já que não tentei me suicidar.

— Tá. — Falei seco revirando os olhos. — Quando?

— Amanhã, às 10. — Minha mãe abriu um sorriso tão largo que quase visualizei todos os seus dentes. — Agora descanse, partiremos cedo.

Ela levanta e arruma a coberta. Meu pai me sai dizendo "te vejo amanhã", e encosta a porta deixando um pequena fresta fina de luz entrar no quarto. Ainda estou sentando na cama, tentando rassocinar tudo aquilo.

_meu deus, esse dia não acaba nunca?_.

Me deitei. Enquanto olho para o teto, consigo imaginar aquele rosto delicado que Lisanna tinha, aqueles cabelos brancos e cheirosos únicos e aquela vontade de viver que transbordava no sorriso.

_onde será que você está agora, minha garota?_. Fecho os olhos e acabo dormindo.



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