História Anti-social (em revisão) - O meu passado.

Lara on:

Hoje eu acordei antes do alarme, com o mesmo pesadelo de sempre. Fiz toda a minha rotina matinal e saio de casa.

Assim que coloco os pés para fora, ouço a porta da casa ao lado bater. Olho para a direção do barulho e vejo Rafael.

- Bom dia, Lara.–Ele diz abrindo um sorriso.

Apenas faço um aceno de mão, sinto que se eu disser alguma coisa vou acabar desabando em lágrimas. Ele corre até mim e caminhamos juntos em direção à escola em um silêncio que não parece me incomodar, mas Rafael sim. Ele não para de se remecher.

Não estou preparada para iniciar uma conversa que provavelmente acabará em uma discussão. Não dormi bem essa noite, acordei toda hora aos prantos e quando finalmente consegui dormi, tive um pesadelo e acabei acordando antes do alarme.

- Você parece estar mais distante que o normal hoje. Está tudo bem?–Rafael me tira de meus pensamentos.

- Eu estou bem, deve ser impressão sua.

Rafael caminha um pouco mais rápido, me ultrapassando e para em minha frente. Eles estende suas mãos e segura em meus ombros.

- Não, você não está bem. Lara, você tava viajando, você nem estava piscando.– Ele faz uma pausa e murmura um: ~isso não fazia parte do meu objetivo, mas Ok.~ Acho que não era para eu escutar, mas acabei ouvindo.– Eu já estou ficando preocupado. Me diz, foi algo que eu fiz?

Ele cora, o que me faz revirar os olhos.  Retiro seus braços de meus ombros.                "Quer saber?! Foda-se. Ele quer saber o que está acontecendo?! Ele vai saber."

- FODA-SE. VOU DIZER TUDO MESMO. Eu ouvi você é seu amigo conversando e eu sei que sou só mais um desafio para você. SINCERAMENTE, EU QUERO QUE VOCÊ VÁ SE FODER. Eu já tenho muitos problemas e eu não espero que você me entenda, Rafael. Agora se você me dá....

Meu celular começa a tocar e eu atendo.

Ligação on:

- Vocé deve estar muito curiosa néh?

Arregalo meus olhos no instante em que ouço a voz. Rafael percebe e toma o celular da minha mão e antes de eu conseguir protestar ele susurra:

~não é a primeira vez que vejo você desse jeito.~ 

- Descobriu sobre seus pais, princesinha?

- Quem é você?– Pergunto com a voz trêmula.

- Você não vai querer saber quem sou eu, porque se souber, terá muitos problemas, não que você já não tenha. Você não respondeu minha pergunta, L-A-R-A.

Ele diz meu nome bem devagar.

- Como você sabe o meu nome?

Ele não responde e começa a rir e depois de um tempo desliga.

Ligação off:

Rafael on:

Deixo de encarar a tela do celular para encarar Lara. Ela estava petrificada e suas mãos estavam trêmulas.

- Lara, gostaria muito de saber o que está acontecendo aqui.

- Olha Rafael, é melhor você não se envolver nisso.– Ela diz e faz menção de voltar a andar, mas eu seguro seu braço. Ela encara minha mão e depois sobe o olhar até meus olhos.

- Me solta Rafael!

- Não vou te soltar até me contar o que foi isso.

Em uma fração de segundos sem que meu cérebro possa processar e entender o que aconteceu, Lara me imobiliza e diz com a voz firme:

- Acho bom você não se meter onde não é chamado e nunca mais me segurar desse jeito, porque da próxima vez eu vou fazer muito mais do que só te imobilizar.

- Pode pelo menos me dizer como aprendeu a fazer isso?– Pergunto ainda perplexo com a ação da garota mais baixa que eu. Ela pode não parecer, mas é bem forte.

- Fiz 10 anos de todo tipo de artes-marcias que você pode imaginar.– Ela me solta e continua:

- Sabe, quando se tem muito tempo livre você tenta ocupá-lo de todas as formas e eu ocupava estudando e entrando em aulas de luta. Depois de ser agredida por colegas da escola eu só queria saber me defender, mas depois fui criando gosto e agora acho bom você não me enfrentar. Me entendeu?

- Entendi sim. Desculpa. Eu não sabia e...

-Tudo bem, isso já faz muito e tempo, já superei.

Ouço tudo o que ela diz ainda surpreso e quando volto a realidade, Lara já está a alguns metros de distância a minha frente indo em direção a escola. 

Rafael off.

Lara on:

O Rafael só sabe me irritar. E bom eu sei que é verdade que eu sei lutar e me defender muito bem, mas queria manter isso em segredo de todos. No fim ele acabou me irritando além da conta e segurou meu braço de uma forma que estava me machucando.

Não quero que ninguém me defenda, sempre quis ser capaz de me defender sozinha, sem a ajuda de ninguém. Não quero um príncipe para me salvar quando eu estiver em perigo, quero poder eu mesma me salvar.

 Lembro bem de quando era mais nova e tinha acabado de entrar na escola. As crianças do jardim de infância não gostavam de mim, por algum motivo que desconheço e batiam em mim. Na época meus pais ainda eram vivos e quando eu disse que queria aprender algo para me defender, eles me deram o maior apoio e me colocaram numa escola de karatê, participava de competições e eles iam ver todas.

Depois fui entrando em escolas de outros tipos de luta, por gostar e também porque meus pais pareciam gostar de me ver lutando. 

Ainda vou a algumas aulas de vez em quando, mas não com a mesma frequência de antes, afinal também tenho os estudos.

Ainda estou desgastada de ontem e lembrar dos meus pais assim, só me deixa mais triste e mais dúvidas me rodeiam.

Por que mentiram para mim, ou melhor, por que minha tia mentiu para mim? Quem é o cara das chamadas esquisitas e como ele me conhece? Por que mataram meus pais?

Eu só quero esquecer de tudo isso um pouco. Me sinto mais perdida do que já estava. Parece que quanto mais remexo no passado, acabo achando mais problemas.

Chego na minha sala e me sento em minha carteira, poucos segundos depois Rafael entra. Acabei deixando ele para trás.

A aula ocorre normalmente e eu saio logo de sala para não ter que ir embora também com Rafael.

Estou caminhando calmamente, mas começo a me sentir sendo observada, paro e olhor ao redor, muitas pessoas voltando para casa, outras rindo, mas passando por mim como se eu fosse invisível, o que era de se esperar já que eu não tenho nada a ver com elas, mas não encontro ninguém olhando diretamente para mim.

Ainda sentindo a sensação de que alguém está me observando, decido ignorar e continuar meu caminho para casa.

Chego em casa encontrando o lugar mergulhado em um profundo silêncio.

- AXEL! CHEGUEI.– Aviso, mas não obtenho resposta.

Ando pela casa procurando Axel, mas não a encontro em qualquer canto. Decido voltar a arrumar o sótão que já estava quase terminado, faltavam apenas algumas poucas caixas.

Guardo as folhas de jornais e as fotos de meus pais em meu quarto e passo um pano para tirar o pó da mesa velha que havia no sótão.

"A Axel está demorando, será que ela saiu pra algum lugar?! Mas ela nem me avisou. Isso é estranho."

Decido fazer algo para comer, pois já estava escurecendo e eu não havia almoçado. Faço uma comida simples e como.

Axel ainda não tinha chegado então decido esperar por ela na sala. Sento no sofá grande e ligo a TV e coloco um filme qualquer e sem perceber adormeço.

Acordo com o sol batendo em meu rosto e me levanto em um pulo.

- MEL DELS QUE HORAS SÃO?–Me pergunto.

Subo apressada para o segundo andar e olho em meu celular.

"Droga! Estou atrasada"

- Merda, merda, merda, merda.

Repito sem parar enquanto me dirigi para o banheiro. Tomo um banho rápido e visto o uniforme, pego uma maçã para comer no caminho e  saio literalmente correndo.

Chego na escola ofegante, mas aliviada de ter chegado a tempo para a segunda aula, já que eles só marcam a chamada nela. 

Entro em sala e por sorte o professor da segunda aula ainda não chegou, mas recebo diversos olhares dos alunos e de imediato abaixo minha cabeça.

"Odeio atenção!"

Vou para minha mesa e logo Rafael me cutuca e viro para trás de modo que possa encara-lo.

- Por que chegou atrasada?

- Eu fiquei esperando acordada a Axel chegar em casa até tarde. Em falar nisso não vi ela hoje de manhã também. Mas eu não sei porquê estou te contando, afinal não te devo satisfações.

- Ok. Agora vou prestar atenção na aula, porque nem todo mundo é um gênio como você. Mas relaxa, com certeza a Axel volta.

Devo estar com uma cara de muita preocupacão pelo tom que Rafael disse, parece até que estava me consolando.

"Será que Axel me deixou novamente?! Não, isso é impossível. Ela prometeu que não ia me deixar mais."

Continua...