História Anti-social (em revisão) - Decisões.

Lara on:

Assim que leio o que está escrito no bilhete, a única coisa que vem em minha cabeça é: Preciso encontrar a Axel.

Ela quebrou nossa promessa, mas não foi por livre e espontânea vontade. Preciso achar ela e procurar uma forma de nos comunicarmos, sem que essa pessoa que está nos vigiando perceba.

Olho para Rafael, que até então estava em silêncio, sentado à minha frente e com uma feição preocupada.

- Tenho que achar a Axel. Obrigada Rafael. Te agradeço do fundo do meu coração por trazer essa carta para mim.

- De nada. Lara, se você precisar de alguma ajuda, qualquer que seja, pode falar comigo.

- Eu até posso precisar futuramente, mas prefiro que você não se envolva nisso. É perigoso.

- Não precisa se preocupar comigo, já fui assaltado muitas vezes.– Reviro os olhos.

- Isso não se trata de um simples "assalto".– Faço aspas com os dedos.–Essa gente matou meus pais. Eles mataram meus pais na minha frente e eu não sei porquê pouparam minha vida naquela época, mas agora estão atrás de mim. 

- Me desculpa, eu não quis dizer iss...–O interrompo.

- Tudo bem, você não sabia.

Alguns dias depois:

Minha tia não apareceu esse final de semana, mesmo dizendo que viria. A Axel não deu notícias. Me pergunto como tudo foi acabar assim?!

Nesse momento estou no meio de uma aula. Rafael está atrás de mim, anotando a matéria que o professor passava.

Rafael tem me apoiado bastante ultimamente e sou muito grata a ele por isso.

Sinto tanto a falta dá Axel, eu já gostava dela, mas essa distância, mesmo ela sempre sumindo e se afastando, dessa vez é diferente, eu quero que eles volte.

Mesmo que a Axel tenha seguido as exigências desse cara, ainda sinto que estou sendo vigiada.

Eu não quero que ninguém mais tenha que ir embora por minha causa.

- Lara..!

Não quero que ninguém mais se machuque.

- LARAA..!

Não quero que ninguém mais morra.

- LARAA!!

Volto para a realidade com um baque em minha mesa. 

- Lara, está tudo bem? Por que você está chorando?

- Hã..? Como assim? Eu não estou...– Assim que meus dedos tocam as maçãs do meu rosto, percebo que estão molhadas.– Eu estou chorando. 

Até então estava de cabeça baixa encarando minha mesa. Levanto o olhar e vejo que é meu professor.

- Lara, todos já foram e você tava chorando durante a aula toda, não queria fazer alarde sobre isso. Mas eu queria conversar com você, tudo bem?

- Claro, claro.– Enxugo rapidamente as lágrimas e me recomponho.– Pode falar.

– Você é a melhor aluna da escola, e sabe disso. Tira as notas mais altas, tem o melhor comportamento, mas você é a única que não parece estar se divertindo.

- Não precisa se preocupar comigo.

- Como seu professor eu deveria me preocupar sim. Eu quero te dar uma notícia. Bom, todos sabem que você já está mais do que apta para se formar na faculdade, qualquer que seja a profissão que você escolher, acabará se saindo bem, disso toda a equipe da escola tem certeza. 

- Aonde você quer chega?– Digo um pouco confusa.

- O Estado está te oferecendo uma prova. Se você passar nela, já pode se formar direto na faculdade e ganhar uma emancipação, já que todos sabemos que você mora praticamente sozinha.

- Essas coisas sempre tem um preço. O que eu tenho que fazer?

- Tem que participar de olimpíadas de matemática, química e concursos de redação, representando o nossa estado por um ano, apenas um ano. O que me diz?

- Eu preciso de um tempo para pensar. 

- Claro, tudo bem. Leve o tempo que precisar. Agora tenho que ir para uma reunião de professores. Pense nisso Lara. Até.

- Até.

Junto os meus materiais e vou em direção a minha casa. 

Até que não seria uma má ideia ter apenas mais um ano de estudos.

Assim que chego em frente a minha casa, Rafael que estava sentado nos degrais que dava para a porta se levanta.

- Demorou. Já não basta estar viajando na sala de aula, ainda demora a chegar e me deixa preocupado.

- Há! O professor queria me dizer uma coisa importante.– Muito importante. Se eu terminar a escola logo, posso sumir.

- Que coisa?– Disse ele fazendo uma carta engraçada.

- Deixa de ser curioso. Vou fazer o jantar, quer comer aqui?

- Não perco uma oportunidade de comer sua comida.

Entramos, largo minha mochila em um canto qualquer , prendo meu cabelo em um coque e vou para a cozinha.

É tem sido assim desde que Axel sumiu. Rafael janta aqui quase sempre e me abraça quando choro.

Se eu terminar os estudos logo, posso virar outra pessoa, mudar o cabelo, as roupas, usar uma maquiagem forte, ser totalmente o contrário de como me visto e sumir para as pessoas que estão me vigiando.

Poderia conseguir um bom emprego e procurar a Axel.

Isso. Já me decidi. Vou aceitar essa propostas.

Término de preparar a mesa, já com o jantar pronto e chamo Rafael. Sem demora ele se senta na cadeira a minha frente e começa a colocar comida em seu prato.

- Sabe, se acha que vai se livrar do assunto e me deixar curioso só porque fez esse jantar está muito enganada.

- Do que você tá falando Rafael?– Digo com a boca cheia de arroz.

- Sem rodeios, eu não sou bobo. Sobre o que você e o professor conversaram?

- COF COF COF– Começo a engasgar com o arroz que estava em minha boca.

Rafael se levanta assustado e começa a dar leves tapas em minha costas.

- Obrigada! – Digo e bebo um gole de suco.

- Foi o que pensei. 

- O que você quer dizer com isso?

- Tá na cara Lara. Para você ter se assustado desse jeito é porque o assunto é sério. Dá para você me dizer que porra tá acontecendo?

- Só vou ficar mais um ano na escola.

Dessa vez quem quase se angasgou foi Rafael.

- Co-como assim?! Você vai largar a escola no fim do ano que vem? Lara, você ainda tem muita coisa para aprender e...

- Rafael, calma. Primeiramente que, eu já sei o suficiente para formar na faculdade. Segundamente, ano que vem vou representar o Estado em uns eventos e eles vão me dar uma prova, se eu passar, posso pegar meu diploma.

- Mas por que você que fazer isso?

- Você ainda não entendeu?! Eu vou sumir depois que me formar. Vou virar outra pessoa e procurar a Axel.

- Por que você não para pensar uma vez na vida em você mesma e não nos outros?! Lara, você é jovem, tem uma vida inteira para viver, amores para viver.

- Não! Tá tudo errado. Por que eu tenho que viver como as outras pessoas?

- Não é essa a questão principal. E eu? Provavelmente vamos perder o contato.Você não me ama?

- Não. Eu amo a Axel, Rafael. E...– A frase saiu sem nem mesmo eu ter percebido.

Um silêncio e um clima pesado cai sobre a cozinha.

- Olha Rafael, você é um ótimo amigo e eu te amo demais, mesmo que meio do nada, você se tornou meu melhor amigo. Mas eu não posso retribuir o que você sente.

-  Eu já sabia disso. Só que eu não quero que você se decepcione, também não quero que você deixe de falar comigo.

- Eu prometo manter contato, nem que seja por carta, eu mantenho o contato. 

- Promete de mindinho?– Diz ele, enquanto levanta seu mindinho.

- Prometo de mindinho.– Reviro meus olhos e estendo meu mindinho e entrelaçou com o seu.

- Vai contar para a sua tia?

- Melhor que ela não saiba se não vai querer armar um barraco e controlar minha vida e cobrar carinho, mesmo que ela nunca tenha me dado.

CONTINUA...