História Anti-social (em revisão) - Sentimentos

Lara on:

Acordo em um pulo com a respiração ofegante, sinto o suor escorrendo pelo meu corpo. Olho para o relógio na pequena mesa ao lado da minha cama. Ainda é de madrugada.

É o mesmo pesadelo todas as noites. Sinto que estou sendo empurrada e começo a cair em um abismo que não parece ter fim, mas sempre que olho pra cima vejo uma silhueta e depois outra silhueta se aproxima. A primeira solta uma risada macabra e a outra sempre pergunta: "Pra que fazer isso? Ela já não pagou o bastante?". Nunca consigo identificar os rostos delas, é como se tivesse um borrão.

Me levanto, sentindo meu corpo mais pesado que o normal. Passo o olhos pelo cômodo que chamo de quarto, está uma bagunça, mas é assim que eu gosto. Claro que também gosto quando está arrumado, mas prefiro assim, combina mais comigo, já que sou uma bagunça por completo.

Vou em direção à janela que dá para o telhado da garagem e pulo a mesma. Me sento e começo a observar o céu, que estava bem estrelado e a Lua brilhava intensamente. Ele realmente estava bonito. O vento gelado que foi de encontro a minha pele me fez arrepiar. Adoro essas brisar geladas da noite.

Reparo na casa depois do muro. Um dos cômodos estava com a luz acesa. Ouvi vozes vindas do local. Tinha decidido ignorar até ouvir meu nome no meio da conversa. 

Resolvo me aproximar para saber do que se trata, mas acho que vou ter que pular o muro e ir para a pequena sacada do quarto que vinha as vozes.

- Então ela está te dando trabalho?–Perguntou uma voz que não consegui reconhecer.

- Claro. Pelo visto ela tem problemas com aproximação.– Dessa vez reconheci a voz. Era Rafael.

- Mas ela deve ser muito bonita pra fazer você ter esse trabalho todo, não é?

- Cara ela é uma gostosa. Só quero tranzar com ela logo e acabar com isso. Essa coisa de amizade com garotas não rola para mim.

- É só continuar com essa sua estratégia. Garotas como ela só querem atenção.

Por fim ouço risadas dos mesmos. Que bando de babacas e...

- LARAAAA!!!– A voz que reconheci ser de Axel, gritou de um modo que fez boa parte da vizinhança acender as luzes de suas casas.

- LARAAA!! CADÊ VOCÊ?–Ela continuava gritando.

Já com todas as luzes da casa de minha tia ligadas, vejo Axel saindo pela porta da frente, ainda gritando meu nome.

- Parece que sua garota está dando trabalho. Vai lá ajudar. Talvez, se você der sorte consiga comer essa garota que estava gritando por ela também. – Disse a voz do desconhecido.

Não quero saber o que Rafael irá responder. Decido voltar para meu quarto. Pego meu celular e ligo para Axel. Digo para ela voltar para casa imediatamente. Não deu um minuto e ouço a porta do andar de baixo bater e paços apressados e pesados se aproximando.

- Onde você se meteu garota? Acordei de madrugada e vim ver se estava tudo bem e você não estava aqui. Tem ideia do tanto que fiquei preocupada?!– Axel diz ofegante e com seus cachos loiros bagunçados caindo sobre seu rosto.

"Ela deve ter corrido bastante. De qualquer forma, tenho uma parte da culpa."

- Desculpa. É que eu acordei de madrugada e não consegui dormir mais, então fiquei entediada e...hãã...só me segue.

Mostrei meu lugarzinho para Axel. O telhado. Ninguém ia lá além de mim. Ela pareceu um pouco surpresa, mas assim que viu a vista arfou.

- É...realmente é um ótimo lugar para pensar. Me desculpa também por gritar que nem uma louca.– Ela ri com sua autoavaliação. Uma risada gostosa, daquelas de só de ouvir você se sente melhor.

- Você não tem que pedir desculpas. Eu entendo que você teve seus motivos.

De repente ela me abraça. Um abraço apertado e aconchegante. Como sentia falta desses abraços que só ela sabia dar.

- Sabe que sentia falta disso.– Ela diz. Não pude evitar ficar surpresa. Axel, a garota que não se prende a nada nem ninguém, sentindo falta de me abraçar? Sem nem perceber, abri um enorme sorriso.

- Também senti falta. – Digo mais para mim mesma do que para ela. 

- As vezes tenho vontade de pegar essa sua fofura e esses seus sorrisos e colocar em um potinho.– Ela diz e acabo corando.

"Pera aí! Corando? Como assim? Você nunca foi assim com sua prima."

- Sobre o que eu queria te falar...bom. Pode parecer estranho, mas... Primeiramente queria me desculpar por sempre sumir de repente. Mesmo sumindo eu queria dizer que você sempre foi o motivo para voltar. Você nunca deixou de me apoiar, até quando tinha ideias malucas. Espero de verdade que você me perdoe. Eu quero recomeçar, aqui é com você.

Ainda abraçadas, Axel beija minha bochecha. Depois vai passando seus lábios até chegarem em minha boca.

Sinto meu coração disparar. Não estou acostumada com isso e eu não sei mais o que pensar. 

De repente ouvimos um estrondo e nos separamos rapidamente. Olho em direção a casa de Rafale e percebo uma silhueta que se aproximava apressadamente. O muro não é muito alto, então facilita a passagem.

- O que você tá fazendo Lara?

- O que? Rafael? Quem deixou você vir aqui? Isso é uma propriedade privada, não pode ir entrando a hora que quiser.– Respondo com um misto de surpresa e raiva. Raiva pelo que ouvi antes e por ele ter atrapalhado o que estava prestes a acontecer.

"Isso foi meio hipócrita, já que agora a pouco tinha pulado o muro para escutar uma conversa, ou seja, invadi uma propriedade privada, mas isso é só um detalhe que não importa agora."

- Não ligo se posso ou não vir aqui. Se eu não chegasse a tempo vocês...vocês...

Ele não conseguiu concluir a frase. Quando pude enxergar melhor percebi que sua expressão era de raiva.

- Chega. Eu faço o que bem entender e não é da sua conta. Agora volta para sua casa e tenta dormir para ver se passa esse seu mau humor. Não sei porquê está irritado e também não quero saber.– Disse já cansada daquilo tudo. Estava muito cansada emocionalmente e fisicamente para discutir com ele. 

" Já foi muita emoção para um dia só, sem falar que a coitada da Axel não deve estar entendendo nada. Não sei porquê ele está assim, afin eu sou só mais um desafio idiota para ele."

Rafael vira de costas e hesita por um instante, mas volta a andar em direção de sua casa. 

Quando ele finalmente sai e fecha a porta que dá para sua pequena varanda me bate uma onda de alívio.

Pego meu celular e olho para o visor. Já são 5:00h da manhã e ao longe se pode ver os primeiros raios de sol do dia.

- Não vou para a escola hoje. Vem vamos entrar e voltar a dormir. Estou realmente exausta. Assim que acordarmos te explico tudo.

Ela apenas afirma com a cabeça e finalmente tira aquela expressão confusa que manteve durante todo o último acontecido.

Entramos pela janela e viu em direção a minha cama e me jogo na mesma. Axel sem nem mesmo ser convidada deita ao meu lado e puxa o lençol para nos cobrir.