História Aos Olhos da Noite - Soluços Noite à Dentro

Ela parecia mais triste que o normal. Eu realmente estava desesperada, para olhar seu pescoço. Eu sei. A Xena era uma humana. Mas e daí? Eu só precisava ter certeza, que Laura estava bem. Ela ainda estava encostada na porta, olhando para os pés.

-Laura… Tem certeza, de que está bem? - Disse, me levantando devagar.

-Ah Carm… - Os olhos dela marejaram, e ela tentou esconder. Eu estiquei a mão pra ela. Afinal… Não podia me aproximar. Ela segurou minha mão, mas não veio até mim. -Me deixa tomar um banho, e tirar essa roupa. Você deve estar curiosa, sobre o que aconteceu.- Um sorriso fraco apareceu.

-Eu me preocupo mais, em saber se você está bem - Queria puxá-la pro meu colo, afagar seu cabelo, e dizer que tudo estava bem. Havia tempos que esse sentimento, não aflorava em mim. Odiava saber que estava me rendendo a ele. Mas… Com ela parecia certo. Ela sorriu fraco me olhando.

-Só uns minutos - Ela soltou minha mão, e foi pegar o pijama. Entrou no banheiro e abriu o chuveiro. Mesmo com o barulho da água, eu a podia ouvir chorando. Aquilo doeu mais que a estaca. O que poderia fazer Laura, chorar daquele jeito? Minha vontade era ir atrás de Xena, e fazer me contar o que aconteceu. Isso. Xena. O quarto no fim do corredor… Se eu me concentrasse, talvez pudesse ouvir. Me sentei e esperei. Tentei me concentrar, o máximo possível. Eu estava fraca, depois de tantos dias sobrevivendo, de copos de sangue e bolachas. Mas não custava tentar. Pude ouvir corações, batendo calmamente. Respirações. Uma ou outra virada na cama. Mas ao longe… Alguém chorava. Mas não como Laura. Ela estava triste. Esse choro não. Parecia mais… Com raiva. Um soco abafado. A pessoa estava esmurrando o travesseiro. Seria Xena? Um soluço mais alto. Reconheci a voz. Era ela. Laura abriu a porta, e eu a encarei. Seus olhos inchados, o rosto vermelho. Ela se sentou na cama a minha frente, em silêncio. Respirou fundo, e foi até a geladeira. Encheu um copo com mais sangue do que o normal, e me deu. Eu pensei em falar que havia muito, mas eu estava louca pra me fartar daquilo. Ela se sentou ao meu lado, e ficou me olhando beber. Virei até a última gota e lhe devolvi o copo. Ela o deixou na pia, e voltou ao meu lado. Ambas em silêncio. Pela primeira vez… Esse silêncio era constrangedor. Ambas imóveis. Ambas olhando pra qualquer lugar, que não fosse a mulher ao seu lado.

-Ela falou algumas coisas… Que me magoaram. Muitas na verdade. E doeu ouvir tudo, o que ouvi. Mas cada palavra dela… Era uma verdade, que eu simplesmente… Estava ignorando. Eu… -Ela respirou fundo antes de continuar - O que eu estou pensando da vida? Nada pode se erguer com mentiras. Eu distorci a verdade, e omiti tantas coisas. Nada pode ser erguido assim. Eu fiz isso com Danny. Antes mesmo, do que quer que houvesse entre nós, eu já mentia pra ela. E eu nem sei o porquê. Parecia certo, esconder tudo sobre você. As sensações que me causava. A vontade de saber mais sobre você. As vezes que me protegeu, ou que me pediu pra me cuidar. Eu mantive tudo pra mim. Contei algumas coisas pra LaF. Mas a maior parte… Eu escondi. Escondi até do meu pai. E, por Deus - ela fechou os olhos, e uma lágrima escorreu deles. Ela mordeu o lábio, tentando controlar. - Eu nunca escondi nada dele. Por mais que eu dissesse que estava dormindo, e não estava, eu ainda contava o que acontecia no meu dia pra ele. Mas não sobre você. Nunca, nada sobre você.

-Laura…

-Carm - Ela tocou meu ombro, para que não a interrompesse.

-Laura - Eu segurei sua mão, ela balançou a cabeça. Toquei seu rosto. - Se você quer saber sobre mim, basta perguntar. O que quiser, quando quiser. Eu contarei tudo a você. Tudo que eu puder contar. Existem… Coisas sobre mim, que eu não posso contar. Não, por não querer. Mas, por não poder. Existem partes da minha memória que se perderam. Mas… Fora isso. Eu vou te contar tudo. - Ela me olhou devagar. Havia carinho, na maneira como ela me olhava.- Eu não quero esconder nada de você, Laura Hollis - Me aproximei dela, e beijei seu rosto. Ela fechou os olhos.

-Eu… Carm…  Droga. - Ela abaixou a cabeça e segurou a testa. Ela respirou fundo,

antes de continuar - Ela falou sobre… Nunca ter uma vida ao seu lado. Tampouco, ao lado dela. Lembrou de minhas mentiras. Todas elas. Me lembrou do meu pai também. De tudo que omiti dele. E isso… Sabe. Sinto, como se não tivesse percebido isso. Como… Se tudo, tivesse… Bloqueado esse pensamento. E eu devo contar a ela? Não sei. Não sei nem o que devo contar. Imagina contar a ele, sobre minha colega de quarto ser uma Vampira. Que ela… Deus. Que nos beijamos. E que eu… - Ela me olhou nos olhos.

-Que você gostou. - Ela abaixou a cabeça, sem graça. - E eu também - Ficamos sorrindo igual crianças.

-Antes de conversar com meu pai, eu quero entender tudo. Desde o porquê você está aqui, me protegendo, até como você nasceu - Ela segurou meu braço, com força.

    -Eu contarei tudo. Mas, você precisa dormir. Esta tarde. - Eu beijei sua cabeça, novamente. Ela sorriu.

    -Porque meu travesseiro, sempre está em sua cama? - Ela puxou o travesseiro, do meu lado.

    -Você deve dormir, Cupcake. Amanhã conversaremos.

    -Não vai me contar nada? - Ela me perguntou, indo até sua cama.

    -Hoje não. Acho… Que suas amigas, adorariam ouvir. - Eu disse esticando as costas. Ela riu baixo, e se deitou. - Boa noite, Cupcake - Eu disse baixo.

    -Boa noite, Carm - Ela disse abraçando o travesseiro.

    Durante toda a noite, Laura se mexeu, e resmungou. Eu a observava dormir, até que não aguentei mais. E acabei dormindo.