História Apartment 23. - Não confie na vadia do apartamento 23.

Sinceramente, ao perceber que os meus planos estavam sendo totalmente pisoteados pela realidade de Nova York, jurei que iria desistir, pegar o primeiro avião para a Coréia e chorar no colo da minha mãe. Mas, certa vez alguém me disse que imprevistos eram bons para ver o quanto você conseguia ser forte. E eu estava sendo muito forte naquele momento. Porque primeiro, tinha acordado com Jimin gritando pela casa com o vento. Segundo, meu iogurte natural que eu demorei séculos para achar, tinha sumido da geladeira. E, por último mas não menos importante, acabei de deixar minhas compras caírem no chão, o que não era surpresa porque eu parecia um desastre ambulante. Antes que eu pudesse me abaixar para pegar tudo e entrar no apartamento, ouvi alguém fazer psiu e me chamar aos sussurros.  Levantei meu rosto e no final do corredor, tinha um menino branquelo, de cabelos e olhos igualmente negros. Ele balançava as mãos freneticamente como se eu fosse cego. Olhei para trás, checando se ele estava falando com outra pessoa e ao perceber que era comigo mesmo, fui até ele. Não seria tão ruim assim fazer amizades com os vizinhos, né? 

- Olá - sorri, estendendo minha mão. - Sou Tae, o novo mora-

- Eu sei quem você é. - Ele me olhou de cima a baixo e fez uma careta. - Só tenho uma coisa a te dizer... não confie na vadia do apartamento 23! - E com isso, o menino fechou a porta, na minha cara.

- Mas que diabos... - arqueei as sobrancelhas e comecei a socar a porta dele. - Qual seu problema? Por que eu não confiaria no Jimin? - Dei mais alguns socos mas o garoto parecia ter sumido e não se podia ouvir nem o barulho dos passos dele.

Dei meia volta, fui até onde as minhas compras estavam e peguei tudo, entrando no apartamento. Onde Jimin estava sentado no sofá com um copo de vodka na mão, enquanto olhava para algo muito interessante na revista, já que sua testa estava franzida e um leve bico se formava em seus lábios. Dei boa tarde e fui respondido com um balance de mão.

- Ahn... comprei mais iogurte natural, sabe... pra você não comer o meu. - Falei enquanto guardava algumas coisas na geladeira. Jimin permaneceu calado.

- Oi! - Um cara com o cabelo de cor cereja do prédio ao lado - que aliás, era colado ao nosso - disse assim que eu fechei a porta da geladeira. Dei um grito nada másculo e ele riu. - Bem vindo ao apartamento 23! Sou seu vizinho, Min Yoongi.

- Jimin! - Dei alguns passos para trás e peguei uma frigideira. - Por que tem um cara na nossa janela?

- Ah, esse é o Suga - percebi que Jimin estava atrás de mim quando a frigideira foi arrancada da minha mão. - Ele é o nosso vizinho de prédio. Não é legal?

- Não! - Bati meu pé no chão. - E como fica a nossa privacidade?

- Não fica. - O tal Suga disse, com um sorriso idiota. 

- Como está a novela, baby boy? - Jimin sentou no espaço vazio da pia, se encostando na janela. - Fiquei sabendo que a Sônia é um ET e tem seis dedos no pé direito!

- A parte em que ela é um ET eu não tinha ouvido falar... - Suga riu. - Mas os dedos do pé, que cena nojenta.

- Okay... - peguei um pacote de biscoito e um danone. - Vou para o meu quarto, ver TV... se precisarem de alguma coisa, eu... estarei no meu quarto... vendo TV.

- Jimin! - A porta do apartamento foi aberta rapidamente e fechada com um baque alto. - Tem o lançamento de uma nova vodka hoje... - me virei para olhar o invasor e um J-Hope sorridente estava parado no meio da sala com as mãos na cintura. - E aí, Suga.

- J-Hope, quanto tempo! - Alternei o olhar entre os dois e pisquei algumas vezes.

- Jin já comprou nossos ingressos ou terei que fingir que namoro George Clooney de novo? - Jimin perguntou animado.

- Hoje nós temos ingressos, baby! - E eles saíram, dando novamente um baque na porta.

Definitivamente, Nova York iria ser uma experiência estranha para mim.

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Quando eu e Jin-Kyong começamos a namorar, estávamos no ensino fundamental ainda e tínhamos apenas quinze anos, mas eu jurei que ele seria meu primeiro e último namorado. E acabou dando certo. Estamos juntos a mais de nove anos e eu não poderia estar mais animado com o nosso casamento. Casamento que iria acontecer em Nova York com todos os nossos amigos presentes e nossos pais também. Aliás, eu teria que lembrar de incluir Jimin na lista de convidados porque certamente ele iria ficar chateado se não participasse do casamento. 

No dia seguinte, eu acabei acordando um pouco mais cedo e saindo para fazer uma caminhada, para conhecer melhor a minha nova cidade e dar o tempo do meu noivo acordar. Parei em frente a mesma cafeteria que eu tinha ficado até encontrar o anúncio de Jimin e entrei, sentindo um cheiro maravilhoso de bolo vindo da cozinha. Caminhei rapidamente até o caixa e cutuquei o funcionário. Um cara alto de cabelo platinado.

- Bom dia e seja bem vindo a... ei! - Ele sorriu. - Você não é o Taehyung?

- Sim... - respondi receoso. - Como sabe?

- Eu era funcionário lá na Interline, a empresa que te dispensou no primeiro dia de trabalho. - Ele riu e eu não consegui rir junto.

- Mas... - fingi uma tosse. - Só fazem três dias, como conseguiu esse emprego?

- Meu tio é o dono e ele estava cansado do antigo gerente, então... - deu de ombros. - Eu não queria ficar sem fazer nada, até porque Jennifer me enhe o saco até quando estou trabalhando.

- Jennifer? - Cerrei os olhos.

- Ah, minha namorada. - Suspirou, empurrando um pote na minha direção. - Não gostaria de doar algumas de suas moedinhas para as crianças com câncer?

- Ah, sério? - Passei as mãos pelo meu bolso e tirei algumas moedas, logo colocando no pote. - Minha primeira boa ação em Nova York!

- Bom dia, Tae. - Me virei ao ouvir a voz de Jimin. - O que 'tá fazendo aqui, veio se candidatar ao emprego? - Ele parou ao meu lado e puxou o pote. - Uh, dinheiro de graça.

- Esse dinheiro é para as crianças com câncer, Jimin! - Puxei o pote de sua mão e entreguei a... ao cara que antes trabalhava na Interline e agora estava ali, trabalhando em uma cafeteria. 

- Inocência coreana... - Jimin balançou a cabeça rindo e pegou o pote de volta. - Não me espere acordado hoje. - Bagunçou meu cabelo e sumiu tão rápido quanto tinha aparecido.

- Não acredito que doei dinheiro para o Jimin... - bufei, cruzando os braços. - Mas sobre o emprego... - olhei para o cara a minha frente e li seu crachá.  - Namjoon.

- Você começa amanhã... - ele sorriu e me ofereceu um copo de café.

- Eu odeio café...

- E por que você...

- Preciso de um emprego. - Dei de ombros.

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- Sinto muito que não tenha conseguido vir me ver... - fez bico, encarando o rosto bronzeado do meu noivo pelo notebook.

- Eu estarei aí para o seu aniversário, o que é melhor. - Voltei a sorrir rapidamente e ele sorriu também. - Você não me contou como conseguiu um emprego tão rápido e também não explicou o porque do seu rommate ter vendido suas coisas.

- Ah, um cara que ia trabalhar comigo na Interline conseguiu para mim, ele é o gerente da cafeteria. - Peguei minha xícara de chá e dei um pequeno gole.

- E as suas coisas?

- Creio que tenha sido para conseguir dinheiro... na verdade, tenho certeza. Ele roubou o pote de doações da cafeteria hoje e depois de eu ter colocado dinheiro lá...

- Amor, eu tenho que ir, nos vemos em dois dias. - Kyong disse rapidamente e a minha tela escureceu, aparecendo em seguida que a ligação tinha sido terminada. Arqueei minhas sobrancelhas.

- Relacionamento complicado. - Ouvi a voz de Suga e olhei para a janela da sala.

- Seu cabelo não era cereja ontem? - Ele riu.

- Decidi mudar um pouco, às vezes é bom...

- Você não tem medo de ser denunciado como o estuprador da janela? - Fechei meu notebook e cruzei minhas pernas, olhando Suga. - Deveria arranjar uma namorada.

- Eu tenho uma namorada. - Ele se abaixou e logo surgiu com uma boneca inflável. Abri a boca. - Jimin que me deu, ela é linda, né? O nome dela é Iggy.

- É... linda sim... - levantei do sofá e fui para a cozinha. - Ahn, você sabe qual é a relação do Jimin com o menino do apartamento vinte e um?

- Jungkook? - Suga jogou a boneca para trás e se apoiou na janela. - Ele já foi rommate de Jimin, relação estranha.

- O que aconteceu? - Peguei um danone e sentei no espaço da pia. Suga parecia ser um cara legal, mas na última vez que eu achei alguém legal, ele vendeu minhas coisas. - Ele me disse para não confiar na vadia do apartamento 23.

- Olha só, roubando meu amigo de novelas, que vadia você, Tae. - Jimin entrou em casa acompanhado de J-Hope. Os dois estavam com chapéus de festa e seguravam bolsas com garrafas de vodka dentro. 

- Quem é Tae? - J-Hope se jogou de qualquer jeito no sofá e levantou o pescoço para me encarar. - Ah, oi Tae.

- Meu novo rommate! - Jimin sentou no colo de J-Hope e abriu a garrafa de vodka, tomando um gole.

- Mas e o Rich-

- Está morto. - Jimin o cortou e eu arregalei os olhos. - 'Tô bricando, criança. - Levantou do colo de J-Hope e veio até a geladeira, a abrindo. - Por que tem comida na geladeira, quem fez comida?

- Ah, é o meu almoço de amanhã! - Desci da pia, puxando meu pequeno pote de macarrão com carne. - Consegui um emprego na cafeteria! 

- Uh, café de graça. - Ouvi Suga comentar e Jimin sorriu.

- Jin acabou de me mandar uma mensagem dizendo que abriu um novo bar aqui perto... - J-Hope levantou rapidamente e jogou sua sacola no sofá, ajeitando suas roupas. - Estou pronto.

- Hey, hey, hey! - Jimin sorriu e se virou para mim. - Tem cém dólares para me emprestar?

- Não... - puxei minha carteira do bolso e a abri. - Só te-

- Ótimo! - Ele puxou minha carteira e saiu do apartamento, pulando com J-Hope.

- Iggy 'tá me chamando. - Disse Suga ao perceber que eu o olhava com as sobrancelhas arqueadas.