História Apartment 23. - Um final de semana em Hamptons.

- Acorda, é uma emergência! - Abri os olhos encarando o rosto de Jimin a cinco centímetros do meu e arregalei os olhos. - EMERGÊNCIA! - Me sacudiu enquanto gritava.

- CALMA, CALMA! - O empurrei para o lado e levantei da minha cama. - Eu me preparei a minha vida inteira para esse tipo de emergência... - peguei uma bolsa ao lado do guarda roupa e fui colocando algumas roupas e objetos dentro.

- Anda, Tae! - Jimin corria pelo corredor puxando uma mala de rodinhas e carregando uma mochila. Me perguntei mentalmente como ele teve tempo para arrumar aquilo tudo mas, logo desisti de entender, afinal Jimin era uma expressão de matemática impossível de se obter um resultado.

Saí correndo do apartamento - enrolado em papel alumínio - sem nem olhar qual era a emergência, Jimin estava um pouco atrás de mim me empurrando e murmurando coisas como "isso é muito legal", quase o mandei ir pra merda porque era a segunda vez que eu perdia um apartamento.

Ele falou para que eu entrasse no carro em frente ao prédio e assim o fiz, colocando as malas no banco em que sentei.

- O que aconteceu com o apartamento? - Perguntei ao Jimin que fechava a minha porta.

- Não aconteceu nada. - Ele sorriu, abaixando os óculos. - Nós vamos passar um final de semana em Hamptons!

- E por que você está enrolado em papel alumínio? - Olhei para J-Hope sentado ao lado de Jin e só percebi que estávamos em uma limusine.

- Eu não acredito que você me enganou para ir passar um final de semana em... Hamptons. - Falei ríspido, cruzando os braços.

- Se eu falasse que íamos para Hamptons, você nunca iria concordar. - Jimin deu de ombros, entrando na limusine e atacando o pote de jujubas.

- De quem é essa limusine? Quem 'tá dirigindo? - Fui até o banco da frente e bati no vidro preto que separava os passageiros do motorista. Logo o vidro abaixou e eu pude ver Jungkook com um chapéu de motorista, batucando distraído no volante.

- E ai Tae, pensei que não fosse viajar também. - Disse, parando em um sinal.

- Como conseguiu essa limusine? - Analisei o painel da limusine, tinha algumas fotos do Jimin e até uma foto minha com J-Hope e Jin, sorri abertamente. - Por que tem uma foto de todo mundo?

- Primeiro, meu primo trabalha em aluguel de limusine e me devia um favor. - Ele deu partida e eu fiquei de joelhos no banco. - Segundo, coloquei as fotos para não me sentir sozinho, já que a condição de Jimin foi que eu não atrapalhasse a viagem dos sonhos dele.

- Por que ele quer ir até Hamptons?

- Eu na-

Antes que Jungkook completasse a fala, voltei para o meu banco e olhei Jimin bebendo uma garrafa de vodka.

- Por que quer ir ate Hamptons? - Perguntei, me livrando do papel de alumínio.

- Tem um cara - J-Hope começou, olhando para Jimin.

- Esse cara dá a melhor festa do ano, todos os anos. E, como ele se mudou para Hamptons, eu não acho nada mais justo do que ir até a festa, descobrir quem ele é e ter um sexo fantástico enquanto a festa acontece. - Jimin sorriu, levantando sua garrafa.

- Ele é gay? - Okay, era uma pergunta idiota, já que ele planejou tudo - até uma forma de me enganar - e o detalhe mais simples, se Jimin não tivesse pensado nisso, não seria ele.

- Droga. - O ouvi murmurar e me joguei no banco, xingando mentalmente.

- Eu conheço um gay de longe - disse Jin, pegando uma revista em baixo do banco em que estava sentado. - E com certeza, Denny Hall é gay.

- Como sabe? - Minha voz saiu baixa, mas Jin riu, deduzi que tinha escutado.

- Ele está na capa da revista "Gays secretos" - jogou a revista em mim e eu gemi baixo, fazendo J-Hope me olhar e balançar a cabeça.

Peguei a revista curioso e olhei a capa. Não tinha ninguém. Exatamente, nada, ninguém. Na verdade, tinha o formato do corpo de alguém mas pintado de preto e uma pergunta idiota: "Como será esse gay secreto?". Eu queria ler a matéria e saber um pouco sobre o cara que dava as melhores festas, mas Jimin puxou a revista da minha mão e começou a folhear, falando desesperadamente que precisava ler a entrevista.

- Desculpe tentar atrapalhar seus planos novamente, mas - me ajeitei no banco da limusine e bufei, percebendo que eu estava com um pijama de patos. - Onde vamos ficar em Hamptons?

- Na casa da minha amiga super vadia, Joy. - Jimin respondeu em um tom baixo, prestando mais atenção na revista em suas mãos do que em mim.

Demoramos - mais ou menos - uma hora para chegar no nosso destino, a limusine parou em frente a uma enorme casa amarela, com porta e janelas pintadas de branco. Descemos do carro, todos com uma mochila - até Jungkook - mas Jimim estava com uma mochila e a puta mala de rodinhas, parecendo que ia passar mais de um final de semana na casa da vadia da Joy.

- Abra, sua vadia! - Jimin alternava entre apertar a campainha e dar tapas surdos na porta. - Vadia, vadia, vadia!

- Jimin você sabe que ela tem nome, certo? - Jin cruzou os braços, olhando o jardim da casa.

- Ai, meu Deus! - A porta foi aberta por uma mulher loira descabelada, segurando dois nenens gêmeos, ambos choravam e balançavam os bracinhos como se tentassem se segurar em alguma coisa. - Ainda bem que vocês estão aqui. - Joy olhou para todo mundo, sorrindo aliviada. - Toma, segura esse. - Entregou um dos bebês para Jimin, que começou a gritar enquanto segurava a mini pessoa.

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 - Como assim você não vai poder ir já festa de Denny Hall? - Jimin bateu o pé no chão, pisando em um ursinho que começou a falar eu te amo sem parar.

- A última vez que eu fui, ganhei esses dois presentes. - Joy apontou para o porta retrato dos seus dois filhos e suspirou.

- O seu vestido não tinha um bolso onde você colocava camisinha e anti concepcional?

- Jimin, aconteceu, okay? - Joy bufou e por um momento, senti pena dela ter um amigo feito Jimin. - Eu não tenho culpa. Quando vi, o teste de gravidez tinha dado positivo.

- O pai paga pensão? - J-Hope passou por mim, esbarrando em meu ombro e eu o olhei. - Desculpa perguntar...

- Paga, mas não o suficiente para sustentar as duas crianças. - Os ombros de Joy se abaixaram um pouco e eu sentei do lado dela, pegando um lenço umedecido.

- Quem é você? - Perguntou, me olhando atentamente com os olhos azuis.

- Ahn... sou Tae, amigo do Jimin e do J-Hope... - Dei o lenço para ela e Joy riu, limpando o borrado do lápis de olho.

- Como você ainda está vivendo aqui, então? - Jungkook tirou com as pontas do dedo, uma fralda de cima da poltrona e sentou. - É uma casa grande...

- Meus pais mandam dinheiro às vezes, e eu trabalho em casa... mesmo com o Harry e Andy me deixando louca. - A mulher ao meu lado deu de ombros, jogando o lenço umedecido no chão.

- Andy é menina ou menino? - Jimin perguntou baixo - não o bastante - para Jungkook.

Kook moveu os lábios, respondendo sem som mas deu para perceber que ele tinha respondido que era uma menina.

- Estou a três semanas sem tomar um banho descente, não lavo meu cabelo a meses e tem uma mancha de vomito na minha blusa. - Desci meu olhar pelo seu rosto até a blusa rosa claro que ela usava e quase fiz uma careta, mas apenas levantei e voltei para onde tinha deixado minha mala.

- E como fica a festa?? - Jimin tinha um bico em seus lábios. - Eu só consigo curtir com você, Joy!

- Se você carregar o Harry e alimentar ele de três em três horas, tal-

- Ótimo! - O ruivo sorriu, animado. - Eu posso fazer isso, já fui babá de um peixe.

- Você o matou. - Falei, recebendo um tapa na cabeça de Jungkook. - Ouch! Mas é verdade!

- Como você matou um peixe? - Joy arregalou os olhos levemente, como se realmente tivesse surpresa.

- Ele deu comida demais. - J-Hope veio para o meu lado, pegando sua mala que só notei que estava ao lado da minha quando ele a puxou pela alça. - E era o meu peixe.

- Mas isso não faz senti-

- Faz, pior que faz. - Balancei a cabeça, rindo fraco.

Entrei na cozinha saltitando ao ouvir o alarme do meu celular gritando, era um aviso de que o meu bolo tinha ficado pronto. Fui até o balcão, pegando um pano para tirar a forma do bolo e quase gritei quando vi um peixe paralisado, de cabeça pra baixo... dentro de um copo que tinha mais ar do que água.

- Jimin! - Gritei, pegando o copo para analisar melhor o peixe. Ele estava morto??

- Oi, flor do dia. - Jimin parou ao lado da pia com os braços cruzados. - O que é isso que você 'tá segurando?

- Um peixe. - Respondi e Jimin me olhou com uma expressão séria. - Acho que ele está morto...

- Espero que não seja o peixe do J-Hope. - Ele riu. - Prometi que iria cuidar por trezentos dólares e preciso dessa grana.

- E onde está o peixe do J-Hope? - Coloquei o copo em cima da pia e peguei o pano, me aproximando do fogão.

- Está ali, ue. - Jimin apontou para o balcão e o meu coração deu um pulo.

- Jimin...

- Ah, não.

- Você matou...

- EU NÃO ACREDITO!

- NÃO GRITA, SEM PÂNICO! - Comecei a gritar junto com Jimin e percebi que tinha entrado em pânico juntamente.

- EU PERDI TREZENTOS DÓLARES, COMO ASSIM SEM PÂNICO? - Jimin pegou o copo e aproximou do rosto. - Não tem como fazer ele voltar a vida?

- Você é Deus? - Puxei o copo da mão de Jimin e peguei o peixe, o colocando na palma da minha mão.

- Como ele morreu?

- Você estava alimentando ele? - Vindo de Jimin não me surpreenderia se ele me perguntasse se peixes precisam de comida.

- Sim, comida de duas em duas... - Jimin pegou um papel no seu bolso e sua voz diminuiu ao ler o que tava escrito. - É A PRIMEIRA VEZ QUE EU ME PREOCUPO COM ALGUMA COISA E ACONTECE ISSO! ELA MORRE!

- O que foi? - Devolvi o peixe para o copo e puxei o papel. - Ótimo, você o alimentou de duas em duas horas e agora o peixe está morto por obesidade mórbida!

Lembrar daquele dia ainda me faz rir, mas ainda sim sentir pena de J-Hope que ficou durante dois dias lamentando por ter perdido o seu querido Dobova - o primeiro peixe obeso do mundo -.

Senti alguém me puxando pela mão e acordei do meu transe, olhando para o cara que a alguns segundos atrás estava na minha mente. J-Hope me olhava com as sobrancelhas arqueadas, como se me perguntasse se eu iria o acompanhar o não. Me abaixei um pouco pegando a minha mala e o segui pela casa, indo parar em um quarto que tinha apenas uma cama de casal no canto. 

- Vou dormir aqui? - Perguntei, colocando a mala em cima da cama.

- Vamos dormir aqui. - J-Hope mordeu o lábio, indo até a mim. - Jimin vai dormir com Joy, Jin e Jungkook no quarto das crianças.

- E quando vocês decidiram isso?

- Enquanto você ria de alguma coisa que pensava. - J-Hope riu baixo, abrindo sua mala. - Você acha que eu vou me sair bem no Dancing With Stars? - Ele perguntou baixinho e eu quase me engasguei com o chiclete que tinha colocado na boca.

- Você está com medo? - Sentei na ponta da cama, olhando para os meus pés que de repente, se tornaram uma ótima distração. - Não vai ser a primeira vez que você compete por algo na TV.

- Eu sei. - Um suspiro escapou de seus lábios. - Mas é que, eu nunca dancei em público. Na TV. Para mais de cinquenta milhões de pessoas...

- Hoseok. - O chamei, percebendo que era estranho chamá-lo assim, já que para mim ele era o J-Hope. Um astro do rap, impossível de alcançar. Mas vê-lo naquele estado, um pouco trêmulo e falando baixo, me deixava mais próximo dele. Não só como pessoa, mas como amigo.

- Huh?

- Ahn... você vai se sair bem. Tenho certeza. - Sorri, tentando reconfortar o menino parado a minha frente.

J-Hope era lindo, e eu sabia disso desde que meus olhos tinham se cruzado com a sua imagem na pequena TV que tinha no meu quarta na Coréia. Na primeira vez em que eu o vi se apresentando, andando pelo palco, mexendo as mãos e sorrindo para a câmera, meu coração acelerou e eu queria ele para mim. O programa foi passando, Hoseok foi passando as fases e até chegar na final. Naquele dia ele estava mais lindo que o normal. Os cabelos escuros arrumados em um topete, me faziam ter vontade de afundar minha mão ali porque parecia um lugar tão macio. Sua blusa larga indo até o meio de suas coxas, uma calça branca e um sapato também preto. Ele estava lindo, de verdade. Era uma roupa simples, nada muito diferente do que ele tinha usado nos outros episódios, mas algo naquele dia, tinha deixado Hoseok a pessoa mais linda que eu poderia ter visto em toda a minha vida.

- Obrigado, Tae. - Sua voz calma entrou pelos meus ouvidos e eu pisquei algumas vezes. - Você é um ótimo amigo.

- É, sou mesmo. - Fingi jogar meu cabelo inexistente e ele riu. - Você e Jimin são sortudos de me terem por aqui.

- É, talvez. - Ele puxou algumas roupas de sua mala e jogou na cama. - Posso tomar banho primeiro? Me sinto sujo só de ter ouvido Joy falando aquelas coisas.

- Claro, claro. - Levantei, andando de costas até a porta. - Eu vou ver como os outros estão. - J-Hope sorriu e eu sorri de volta, saindo rapidamente do quarto.

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Hamptons poderia ser um lugar agradável se você soubesse aproveitar, claro. Eu não conhecia aquela parte de Nova York. Só tinha casas grandes, luxuosas, bem cuidadas, com jardins incríveis e piscinas melhores aindas. Mas o que me chamou mais atenção foi uma parte onde dava para andar de bicicleta e apreciar a paisagem, na companhia de belas borboletas.

Então, um pouco antes de anoitecer, fui até um mercado pequeno que tinha perto da casa da Joy, e assim que passei pela porta, pude ver Namjoon parado em frente a uma prateleira de biscoitos, que por acaso eram todos iguais e do mesmo sabor.

- Namjoon? - Me aproximei dele e o abracei por trás, fazendo o platinado dar um pulo.

- Hey hey, pequeno Tae. - Ele se virou, sorrindo. - O que está fazendo aqui?

- O que você está fazendo aqui?

- Jennifer gosta de visitar sua tia rica. Ela diz que a velha 'tá perto da morte, então ela tem que garantir parte da bufunfa. - Coloquei a mão na boca, o olhando incrédulo e Namjoon riu. - Estou brincando. Viemos comemorar dois anos de namoro, não é legal?

- Uau, que fantástico. - Sorri, olhando em volta. - Mas você vai comprar biscoito para comemorar a data?

- Não, não. - Balançou a cabeça, pegando um pacote. - Na verdade, a comida da tia da Jennifer é horrível, então eu compro esses biscoitos para me manterem vivo até domingo.

- Vim para uma festa. - Namjoon pareceu surpreso mas logo pareceu entender e riu. - O que foi?

- Denny Hall?

- Como você sabe?

- É óbvio. - Deu de ombros. - Jimin é louco para transar com esse cara.

- Ótimo. Vou contragosto para uma festa e vou ficar de vela. Exatamente como planejei a minha vida em Nova York. - Bufei, puxando o pacote de biscoito da mão de Namjoon.

- Se serve de consolo, as festas são ótimas. 

- Não serve. - Abri o pacote, pegando um punhado de biscoito e colocando na boca. - Urgh, do que é isso? - Cuspi tudo no lixo e fiz uma careta.

- São biscoitos lights. - Puxou o pacote da minha mão e foi até o caixa. - São ótimos quando você 'tá com a barriga vazia e tal.

- Sinto muito pela comida da tia da Jennifer. - Falei assim que o vi se aproximando da porta.

- Sinto muito por Jimin. - Ele riu e eu o acompanhei.

Eu também sinto muito.