Droga! Eu não ouvi o que ele disse.
-A voz da natureza – Mili imitava a voz dele em tom de deboche – Aqui está cheio de insetos idiotas.
Entendi. Eu já li sobre isso. Não vai ser complicado esse exercício.
-Meninas, vamos logo com isso. O tempo está passando – tento chamar a atenção delas.
Uma garota cujo nome esqueci me olhou indignada.
-Não tente dar ordens em mim, garota – ela deu um peteleco na minha testa – Você não é a líder.
-Então vocês querem continuar aqui? – pergunto mantendo a calma – Só estou tentando ajudar, colega.
Ela fez uma cara irritada, e ficou falando com a outra menina que eu não conhecia. Marry apenas ignorou e continuou matando os mosquitos. Eu não nasci pra isso.
-Já vi que vou ter que fazer isso sozinha – dou de ombros, e começo a me afastar das vozes delas – Alysson, ouça a voz da natureza e deixe ela te guiar.
Eu acho divertido essas sensações de calma, são relaxantes e você sabe que pode confiar. Comecei a andar sem nenhuma dificuldade. Como se eu tivesse uma bússola me guiando. Uma sinfonia de sons maravilhosos. Pouquíssimo tempo depois eu consigo chegar ao centro da planície.
-Alysson, onde estão as outras do seu grupo? – o professor me vê e pergunta antes mesmo de eu conseguir agradecer a mãe natureza.
-Eu vim sozinha, e fui a primeira a chegar – digo vendo que não tinha mais ninguém ali.
E agora? O que foi que eu fiz? Eu não fiz nada!
-Era para ser um trabalho em grupo, Alysson – ele tenta explicar – Todas deviam sair daí juntas, como uma equipe.
-Mas eu consegui de forma individual. É a mesma coisa, professor – eu tento o convencer – Eu iria demorar muito com elas comigo. Elas nem queriam fazer a tarefa e eu ia sair prejudicada.
Ficou alguns segundos de silêncio, e eu acabei pensando no que tinha dito. Acho que eu devia tentar entender o ponto de vista dele. O sistema de Ensino sempre diz essas coisas de trabalho em conjunto e outras coisas idiotas.
“Você tem que ser a primeira e a melhor, Alysson”
Mas ... Talvez só dessa vez eu possa dar uma segunda tentativa.
-Eu vou voltar pra lá, encontrar elas e vamos sair de lá como uma equipe – digo respirando fundo.
Ele sorriu, e automaticamente sorri de volta.
-Você fez a decisão certa, Alysson – murmuro para mim mesma.
De volta ao Pântano do Lodo Negro ....
Agora volto para o zero.
-Eu ainda vou me arrepender disso – falo novamente sozinha – Porque trabalho em equipe existe? Isso só atrasa minha vida.
Mas lógico que reclamar não vai ajudar. Eu disse que ia fazer o trabalho de equipe e é isso o que eu vou fazer.
-Marry! – é grito o único nome que eu sei.
-Socorro! – ouço o grito dela, seguido de outros.
Mas menina, eu saí correndo numa velocidade ...
Quando consigo avista-las elas estão sendo atacadas por um troll (ou algo do tipo). Estalo os dedos, e vejo o tempo parar. Tudo em tons cinzas como eu estivesse em uma televisão antiga. Ando lentamente até elas.
-Isso vai dar muita dor de cabeça ... – assopro uma mecha de cabelo e encosto em cada uma delas.
As meninas saem da pausa temporal, e voltam a gritar.
-Calem a boca – eu digo meio irritada – Me sigam, vocês estão a salvo, apenas não façam barulho.
Elas me seguem sem falar nada. Será que a voz da natureza funciona em uma pausa temporal?
-Vamos fazer o exercício – eu aviso e tentando ignorar a forte dor de cabeça – Tudo bem para vocês?
Elas concordam e começamos a andar, em silêncio absoluto. E sim, a mãe natureza nunca nos abandona independentemente da situação.
-Vocês estão ouvindo? – eu pergunto – É essa sensação que vai nos levar para o nosso destino.
-Gente, vamos por aqui – uma outra diz sorridente – Tenho certeza, vamos!
Não demorou muito para chegarmos ao nosso ponto de encontro. Estalo os dedos e a quebra temporal acaba, fazendo as meninas caírem no chão. Minha cabeça doía demais, e coloco a mão na cabeça vendo o mundo girar.
-Vocês todas estão bem? – o professor diz tentando acordar elas.
-Elas só estão dormindo – digo me recuperando, e olhando em volta – Parece que fomos as primeiras.
Aos poucos elas abrem os olhos, e ficam confusas. Lógico. Elas não sabem como vieram parar aqui.
-Nós viemos juntas – eu digo ao professor – Como uma equipe.
-Fala sério – a garota diz irritada – Você nos abandonou e apareceu aqui de repente.
Suspiro profundamente e engulo as palavras. Não vale a pena explicar o que aconteceu. Ou melhor! Podem me chamar de mentirosa, afinal, segundo elas eu não tenho nenhum poder. Só porque eu não tenho uma transformação e não posso voar, não significa que eu não tenha poderes. Raramente fadas temporais tem uma transformação, já que os nossos poderes são focados na salvação e não no ataque.
-Todas terminaram o exercício e eu sei disso – o professor diz e logo vemos um outro grupo se aproximar.
O professor vai falar com elas, e eu me deito no chão, ainda com tontura. Marry se senta do meu lado.
-Como isso aconteceu, Alysson? – ela me pergunta – Eu me lembro de estarmos com medo, e quando piscamos nós estávamos no chão.
Olho em volta, e começo a rir.
-Marry, existem coisas que não valem a pena explicar – eu digo me deitando – É algo que talvez faça vocês me chamarem de mentirosa. E agora eu estou com sono. Boa noite, Marry.
Fecho os olhos e fico em silêncio. Ouço Marry se levantando e indo embora. Parece que agora vamos ter que esperar o resto do pessoal chegar. Por enquanto vou apenas pensar sobre as perguntas.
O que eu sou?
Por que eu estou aqui?
Qual é o meu objetivo nessa vida?
Eu sou uma fada temporal
Meus pais esqueceram de se prevenir.
...
E novamente eu falho na última pergunta.
Não muito tempo depois a última equipe chegou, eu não falo com essas meninas, mas sempre estão juntas. A Stella é a princesa de Solaria. Tecna é do meu planeta. Não sei mais nada sobre elas.
Também tinha uns Especialistas, talvez quisessem capturar o troll fugitivo. Então o professor diz que o exercício não vai valer ponto na nota, e uma das meninas diz que isso não era justo e alegaram que elas fizeram todo o trabalho à toa.
-Eu não diria isso. Algumas de vocês aprenderam muito hoje – ele diz e sinto uma alfinetada por dentro.
Isso foi uma indireta para mim?
Fico olhando em volta tentando saber como reagir, e infelizmente minha mente ainda está meio lenta, eu não devia me sentir estranha.
Que droga.
De volta a Alfea ....
A dor de cabeça voltou, e eu acho melhor tomar um remédio antes que a coisa fique séria. Eu não tenho problema em salvar uma pessoa, mas foram 3 de uma vez.
Alysson, e por que você não usou sua magia no troll o levou embora?
Até onde eu saiba nenhuma fada temporal conseguiu usar seus poderes com alguém que não quisesse ser salvo. Elas queriam ajuda, mas o troll queria atacar elas. Se fadas temporais usassem seus poderes independente do sentimento da pessoa, muitos bruxos perigosos poderiam ter sido capturados sem nenhuma violência.
-Mas talvez eu nunca possa voar – murmuro ainda encarando o prato com o jantar.
As fadas voam, mas eu não. E acreditem, as vezes isso é uma droga. Tipo alguns exercícios aéreos que realmente pedem uma transformação, tipo pra treinar a coordenação motora. Eles pareciam legais mas ... Eu realmente quero voar.
-Alysson! – Marry grita no meu ouvido, quase me deixando surda – Para de encara a janta e vamos logo.
No dia seguinte ...
Acho que Marry vai ser minha melhor amiga nessa escola. A Tecna já fez seu grupinho, e sempre vejo elas juntas. Mas vamos ver os pontos positivos: Eu posso parar de pesquisar sobre esses jogos.
As aulas tem ocorrido normalmente, e até melhor do que eu imaginava. Esse ensino não é tão rigoroso. Agora as aulas de hoje acabaram e eu e Marry estamos procurando algum livro na biblioteca que seja legal.
-E esse também era tão bom – ela diz olhando a capa e colocando na pilha de livros que eu estou segurando.
-Marry, eu não estou aguentando ... – e deixo todos os livros caírem – Que droga, Marry. Por que você tem que ler tanto?
Começamos a recolher os livros e ela me ajuda a levar eles para uma mesa.
-Se você gostasse – ela começa e eu a interrompo.
-Eu já li muitos e muitos livros na minha vida, mas parece que você já leu todos os que existem no mundo – eu reclamo, me sentando em uma cadeira – Nessa pilha aqui, qual você me recomenda? Eu prometo ler.
O lado bom de ter ela como amiga é que ela é uma rata de biblioteca, uma devoradora de livros. Eu não me daria muito bem com garotas mais festeiras e fúteis (sem ofensa a ninguém).
Ela finalmente me sugere um livro de drama, e pego ele emprestado com devolução para próxima semana. Bem, não é como se eu tivesse muita coisa útil para fazer mesmo.
Só me sinto meio desconfortável quando a Marry começa a falar de meninos. Ela parece estar gostando de um deles, ela diz que eles se falaram naquela festinha que teve aqui.
-Tá escutando? – ela me pergunta.
-Claro. Pode continuar falando – digo meio que acordando (rimou).
-Na verdade eu já acabei – ela diz ainda com a pilha de livro nos braços – E você? Não se interessou por ninguém ainda?
-Olha ... Para ser sincera não – ela me olha sem acreditar. Que droga – Mas quando eu gostar de alguém eu te conto. Eu prometo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.