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História Apenas Alguém que Continua Amando - Apenas Sussurros.


Escrita por: coldweather

Notas do Autor


Chegamos ao último capítulo! Preparem os corações!!!! ♥

Capítulo 3 - Apenas Sussurros.


Fanfic / Fanfiction Apenas Alguém que Continua Amando - Apenas Sussurros.

Quando Jeongguk soube da morte de Min Yoongi, parecia que o seu céu havia desmoronado de repente, deixando-o completamente fragilizado.

 As lágrimas eram constantes, eu nunca tinha visto o meu garoto daquela maneira antes, as mãos trêmulas, os olhos vermelhos e a indignação estampada em seu rosto. Quando fomos ao enterro, me senti terrivelmente deslocado. Não queria ir de forma alguma, mas Jeongguk insistiu o tempo todo com lágrimas nos olhos. Não tive condições de negá-lo, até porque, eles eram amigos e deixá-lo sozinho naquele momento seria um absurdo.

Ao ver aquele rosto extremamente pálido no caixão, soltei um suspiro que estava reprimido desde cedo. Se me perguntassem se eu tinha me arrependido do que tinha feito, a resposta era muito clara: Não. Min Yoongi só havia aparecido em minha vida para me infernizar, declarando que cobiçava a pessoa que eu mais amava nessa vida. Livrar-me dele foi muito fácil, difícil mesmo foi ver que a sua morte causava um efeito devastador em Jeongguk.

Não queria de forma alguma vê-lo sofrer.

 Ele chorava como se o mundo fosse acabar em pouquíssimos minutos e não tivesse conseguido realizar todos os seus sonhos. Chorava como se alguém estivesse o apunhalando cada vez mais forte com uma faca aguçada e sentisse o sangue jorrar, não podendo fazer nada. Chorava como se eu tivesse tirado o seu bem mais precioso. E constatar isso era terrível.

Puxei-o para um abraço na intenção de consolá-lo quando o seu choro estava mais forte, os soluços eram tudo o que eu escutava, mas eu tinha a impressão de que, por mais que me dedicasse, não seria o bastante. Jeongguk só ficaria realmente bem se visse o seu amigo voltar à vida.

 No entanto, era tarde demais. Yoongi estava morto. E assim, felizmente, não oferecia perigo algum.

Sem ele por perto, eu conseguia ficar mais sossegado. Às vezes, quando eu estava trabalhando, ficava sabendo que Yoongi tinha a intenção de visitar Jeongguk e isso me incomodava de uma maneira tão grande que conseguia escutar os batimentos cardíacos em meus ouvidos. Para alguém completamente ciumento e egoísta, ter alguém por perto do seu namorado o tempo todo, não é nada agradável. E tudo se agravou quando Yoongi, com a maior coragem do mundo, proferiu que estava apaixonado por Jeongguk. Era uma audácia grande demais para alguém tão pequeno. Eu não o conhecia muito bem. Não fazia ideia de seus gostos pessoais, não sabia do que se orgulhava e do que tinha medo, e para ser realmente sincero, não me importava com nada disso.

Eu estava livre.

 Jeongguk estava livre.

— Eu não entendo. Como alguém teve coragem de machucá-lo? – Jeongguk murmurou contra o meu peito, as lágrimas encharcando a minha camisa. 

— Muitas coisas acontecem e não conseguimos entender, Jeongguk. – murmurei. — Mas, olhe pelo lado bom, agora ele vai descansar em paz, provavelmente está em um lugar muito melhor.

— Isso é o que todos dizem em todos os enterros. – Me olhou quase desesperado. — São frases prontas que machucam.

— Eu não quero te machucar.

— Eu sei, Jimin.  Eu sei...

Passei o enterro inteiro assistindo Jeongguk derramar lágrimas e mais lágrimas. E foi aí que eu senti mais raiva ainda de Min Yoongi porque ele não deveria ter deixado que Jeongguk gostasse tanto assim dele, deveria ter sumido o mais rápido possível da vida do meu garoto ao dar-se conta de seus sentimentos porque sabia muito bem que Jeongguk mantinha um relacionamento comigo. Mas, aparentemente, as pessoas gostam de se arriscar, gostam de sofrer por alguém completamente inacessível. “Eu venci.” Foi o que pensei quando o enterro acabou e os amigos e familiares de Min Yoongi retornaram para suas casas. Vi seus pais inconformados. A mãe com olheiras e o pai com a barba por fazer. Vi o quanto estavam assustados e desolados. Jamais aceitariam o fato de que arrancaram a vida de seu precioso filho.  

Engoli em seco. Fazia um bom tempo que eu não mantinha contato com os meus pais. Saí de casa muito cedo em busca de liberdade tendo em mente que a forma como eles me criavam era um tanto arcaica a meu ver. Uma grande ironia era pensar que, caso eu morresse, provavelmente eles não iriam comparecer ao enterro. Eu não guardava mágoa, afinal, eu também havia os deixado para trás. Estávamos em caminhos diferentes e era muito melhor desse jeito.

Quando a noite se fez presente e Jeongguk adormeceu em meus braços completamente exausto, me perguntei se eu era uma pessoa que merecia desprezo por não me remoer tanto quanto deveria por ter tirado a vida de alguém. Eu tinha sido movido pelo receio de perder o amor da minha vida, e não medi as ações, muito menos as consequências. Não quis saber de absolutamente nada porque estava visando a minha felicidade ao lado daquele garoto de sorriso manso e olhos calorosos. O medo permutado com o ciúme me fez agir.

Perdido em meus pensamentos, me permiti chorar um pouco. Não era um choro de arrependimento, porque eu nunca me arrependia das minhas ações, na verdade, nem sabia o real motivo de estar chorando. Só deixei que as lágrimas molhassem o meu rosto até que o sono me embalasse como deveria.

No dia seguinte, levantei para trabalhar e deixei Jeongguk dormir até mais tarde porque suas aulas na faculdade só começavam às nove. Meu desempenho não fora o pior durante aquele dia, mas era complicado chegar à conclusão de que já tinha sido muito melhor. Trabalhar em um banco era um tanto exaustivo, mas tinha o seu lado bom. Estava rodeado de pessoas endinheiradas que me tratavam exatamente como eu deveria ser tratado, com o máximo de respeito possível. Tudo era muito diferente do primeiro trabalho que consegui assim que completei dezoito anos.

Era em uma lanchonete caindo aos pedaços no final da rua, precisava servir as pessoas o tempo inteiro, aguentar suas feições insatisfeitas com os lanches engordurados que eram servidos. Muitas vezes, descontavam em mim, chamavam-me até a mesa depois de mordiscarem o lanche e reclamavam como se a culpa fosse minha. Eu nem ao menos chegava perto da cozinha daquela maldita lanchonete, apenas servia. Em seis meses de trabalho, ainda não tinha me acostumado com as reclamações e tentava lidar com elas tendo em mente que era apenas uma pequena fase da minha vida, mas quando atiraram um copo de café fervendo em minha direção porque segundo o cliente não estava tão adocicado como deveria estar, foi a gota d’água para que eu pedisse demissão no mesmo dia.

Com uma queimadura no braço ardendo como o inferno e com pouco dinheiro no bolso, encontrei um anúncio no jornal sobre vagas no banco da cidade. Inscrevi-me, fui chamado para a entrevista e tive a sorte de ser contratado. As pessoas me tratavam bem, eu me sentia satisfeito com o meu cargo. Após três anos, mudei-me para um apartamento bem maior do que eu residia, com ar-condicionado e uma vista bacana. Comecei a ficar orgulhoso de mim mesmo, porque convenhamos, eu era uma pessoa persistente e meu maior objetivo sempre fora vencer na vida.

 Não demorou muito para que eu percebesse que, sempre às sete horas da noite, um garoto caminhava pela rua do meu condomínio com uma mochila nas costas e livros nas mãos, todos os dias, menos aos finais de semana. Ele era tão encantador a ponto de me fazer esperá-lo diariamente na varanda apenas para vê-lo caminhar, e no fundo, eu criava expectativas de me aproximar. Me apaixonei por Jeongguk sem querer, não tinha pretensão alguma. E definitivamente, me aproximar não fora tão complicado assim. Num dia onde os pingos gelados de chuva estavam engrossando, lhe ofereci um guarda-chuva. Ele me olhou desconfiado, os olhos arregalados, os lábios levemente entreabertos, o vento brincando com os fios de seu cabelo. Lindo. Simplesmente lindo. A preocupação de acabar molhando a mochila e os seus livros era grande, e não tendo muita escolha, aceitou. No outro dia, as sete em ponto, eu estava o esperando e ele me devolveu o guarda-chuva que fora emprestado. Nós conversamos, ele sorria, eu sorria. Combinávamos de um jeito meio original e que me impressionava bastante. Foi ele que me beijou pela primeira vez, depois de uma semana parando para conversar comigo na rua do meu condomínio, mas fui eu que o convidei para subir até o meu apartamento. Dois meses depois, assumimos um relacionamento sério.

Jeongguk, um aluno completamente compromissado, cursava Direito. Carregava consigo uma magia inexplicável que se me pedissem para explicar como ele conseguia mexer tanto comigo, eu não seria capaz. Ele tinha um jeito exclusivo de fazer as coisas e deixava tudo mais bonito ao seu redor. Eu o amava tanto, mas tanto.

Foi em uma sexta-feira que Jeongguk chegou contando sobre a faculdade, sobre como estava animado, sobre seus projetos e sobre um garoto novo, Min Yoongi.

E assim, o inferno começou.

Trabalhos em grupo, conversas nas redes sociais, tornaram-se amigos de um jeito bem rápido, quase num piscar de olhos. Nunca expus minha opinião sobre eles juntos a Jeongguk, mas acho que era fácil perceber que era um sentimento muito distante de contentamento. O ciúme crescia dentro de mim como um monstro e chegou a ponto de eu só pensar nisso, o tempo todo. Eu não aguentava mais ver o sorrisinho no canto dos lábios de Jeongguk ao falar dele e como parecia realmente feliz em tê-lo como amigo.

Em um sábado qualquer, Jeongguk simplesmente anunciou que Yoongi o visitaria, sendo que eu já tinha feito planos para sair com o meu garoto. Abri os lábios para contestar, mas som algum saiu quando eu ouvi Jeongguk pedir pizza. “Seria uma noite divertida, eles eram apenas amigos e eu precisava controlar meus sentimentos negativos sobre alguém que eu ainda nunca tinha visto.” Era exatamente o que eu procurava pensar, mas quando a campainha do apartamento de Jeongguk ecoou e Yoongi abraçou-o com força, fechando os olhos na ação, o sangue correu rapidamente em minhas veias. Senti um nervoso descomunal, meus punhos cerraram-se.

— Esse é Park Jimin, meu namorado. – Jeongguk nos apresentou.

Yoongi era pequeno, magro e de pele branca feito a neve. Fingi que gostei dele como o melhor ator de todos os tempos, mas a simpatia estava bem longe de mim. Na verdade, tudo o que eu conseguia sentir era fúria, nojo e ciúmes. Meus olhos não se desgrudavam de Jeongguk e dele, e a cada mínima ação do visitante, mais atento eu ficava. Quando o meu garoto saiu da sala dizendo que iria arrumar a mesa assim que a pizza foi entregue, deixou Yoongi e eu na sala. Depois de vários minutos, ele olhou para mim.

— Você tem um namorado incrível. – revelou, assim, do nada.

— Eu sei, ele é...

— Com todo o respeito, queria dizer que estou apaixonado por ele.

Antes que eu tivesse tempo de dizer qualquer coisa, Jeongguk voltou para a sala com um sorrisinho dizendo que a pizza estava com um cheiro muito bom. Ele estava feliz. Estava satisfeito por reunir seu namorado e seu melhor amigo pela primeira vez. E eu não podia estragar esse momento. De fato, não estraguei. Mas se Yoongi soubesse ler mentes, ele nunca mais teria coragem de chegar perto de Jeongguk.

 Mas, ele mal sabia o que iria acontecer. Mal sabia que eu o assassinaria.

Porque Jeon Jeongguk era meu.

Apenas meu.

 

-

 

Depois de Jeongguk ir ao enterro de Yoongi, as coisas ficaram um tanto diferentes. Ele estava desanimado de um jeito que acabava ferindo-me. Fiz de tudo para alegrar o meu garoto, desde cozinhar seu prato favorito, até comprar roupas lisas que ele tanto fazia questão de ter em seu guarda-roupa, mas nada parecia capaz de lhe arrancar sorrisos verdadeiros. E tudo pareceu se romper. Ele começou a ficar descontente com absolutamente tudo, e eu senti tanto medo. Minha intenção era de simplesmente tirar Yoongi do meu caminho e deixar que Jeongguk se concentrasse apenas em nosso relacionamento, mas o meu plano aparentemente bem calculado se desviou para outro caminho completamente diferente. E eu realmente estava com medo, mas era um medo que nunca tinha experimentado antes. Que esbraseava. Que me deixava com dores de cabeça e me fazia perder o sono.

— Jeongguk... – chamei-o numa noite que ameaçava começar a chover bastante. O vento frio invadia seu apartamento sempre muito aconchegante enquanto ele se encolhia em sua cama dentro de um moletom confortável. — Você precisa jantar.

— Estou sem apetite.

— É sério. – Me aproximei da cama e sentei ao lado dele, meus dedos alcançaram seus cabelos sempre bem macios. — Você precisa se alimentar bem.

— Você já perdeu alguém importante demais na sua vida? – A pergunta era tão séria que tranquei os dentes.

— Não...

— Então não deve fazer ideia do que eu estou enfrentando agora. Preciso que você respeite isso, Jimin. É tudo o que eu te peço.

— Eu fiz o que você gosta de comer de novo, mas se achar melhor, posso pedir uma pizza.

— Sei que você preparou com carinho, mas não quero comer nada agora.

— Você só comeu uma maçã hoje. – disse completamente descontente com a situação.

— Por favor, Jimin.

— O que eu posso fazer agora para te deixar melhor? Eu não sei mais... – abaixei a cabeça, sentindo uma pontada forte em meu interior.

 — Nada. – sentou-se na cama, aborrecido com a minha insistência.

— Eu só quero que você fique bem. – olhei-o nos olhos. — Porque, não sei se você reparou, mas eu me preocupo de verdade com você.

— Sei que se preocupa, mas não é me empurrando comida que vai me fazer melhorar. – A voz tão áspera me atingiu como um raio.

— E o que você quer que eu faça? – indaguei. — Quer que eu dê um jeito de ressuscitar seu amiguinho?

Um silêncio cortante tomou conta do quarto.

 Existem certos momentos na vida que você se arrepende profundamente de dizer algo sem pensar. A forma como fui encarado chegou a destroçar o meu peito e eu senti tudo congelar enquanto tentava lidar com o peso daquelas palavras que atingiram os tímpanos e os sentimentos do meu garoto. A minha intenção não era magoá-lo, só... Aconteceu de eu ser um completo estúpido.

— Só... Vai embora. – pediu.

— Me desculpa, eu não queria ter dito isso. – Me levantei de sua cama.

— Mas disse. – respondeu. — Eu quero ficar sozinho, pode ser?

— Jeongguk, eu...

— Qual foi a parte do que eu disse que você não entendeu? Só me deixe, Jimin. Você não vai morrer se ficar sem mim apenas por uma noite, tá?

E eu entendi que as palavras realmente possuem o cruel poder de ferir de uma maneira desastrosa.

Mas, respeitei a sua vontade e o deixei sozinho. Não queria sufocá-lo mais do que, aparentemente, já sufocava. 

“Você não vai morrer se ficar sem mim apenas por uma noite, tá?”

Não sei por quanto tempo amarguei aquelas palavras, mas ao voltar para o meu apartamento, tomei um banho e me joguei na cama. O sentimento de impotência prevalecia. Eu só queria que Jeongguk se aproximasse de mim, mas, sem querer, acabei o afastando.

 

-

 

Na segunda-feira, acordei determinado em melhorar aquele clima ruim que se instalou entre nós e depois de voltar do trabalho, fui ao apartamento de Jeongguk após ter feito algumas compras. Ele só estaria de volta ao lar as sete e dez, então eu tinha um bom tempo sozinho para colocar meus planos em ação. Arrumei cada cantinho de seu apartamento com muito carinho, troquei a decoração, comprei novas roupas de cama, pôsteres do seu herói favorito – porque apesar de já ser um quase-adulto cursando Direito, ele não deixava o seu lado infantil morrer. Comprei jogos para o seu Xbox, uma nova câmera fotográfica para que ele pudesse voltar a fotografar as paisagens quando saísse comigo, já que sua câmera antiga tinha sofrido um pequeno (grande) acidente ao cair no asfalto. Tirei das sacolas novas camisas lisas e comecei a preencher seu guarda-roupa. Eu estava me sentindo bem, sabia que ele iria gostar.

 Ao passar o olho em cada repartição do móvel, uma caixinha pequena quase escondida atrás de roupas dobradas me chamou atenção. Com o cenho franzido, peguei-a e passei os dígitos sobre a tampa. Sabia muito bem que Jeongguk odiaria que eu acabasse com a sua privacidade, mas a curiosidade praticamente gritou dentro de mim porque eu nunca tinha visto aquilo antes, e eu imaginava que Jeongguk não guardava segredos. A pergunta que não queria calar era: O que havia de tão importante no interior daquela caixinha que ele fizera questão de escondê-la?

Soltei um suspiro quando abri a tampa e meus olhos se depararam com cartas. Sentei-me na cama de Jeongguk e apoiei a caixa entre as pernas e peguei um envelope com detalhes em azul. Só li um “De: Min Yoongi. Agilmente, abri o envelope, e algo estranho crescia dentro de mim.

 

“Algo me diz que consigo me expressar muito melhor quando estou escrevendo. As palavras não fogem de mim como acontecem pessoalmente, principalmente quando teus olhos se esbarram nos meus. Jeongguk, não faço ideia de como me apaixonei por você, mas afirmo que foi rápido porque, quando percebi, já estava aos seus pés. Não há como escapar quando o amor acontece. Pode me chamar de meloso, eu não ligo.

 Não me esquecerei daquele nosso beijo no final da aula, quando você segurou meu rosto como se eu fosse fugir a qualquer momento. E aí é que está: eu jamais teria coragem de fugir. Na verdade, você provavelmente nem faz ideia de como esperei por esse momento. Seus lábios têm um gosto bom. Um gosto que vicia. Queria te pedir desculpas por ser tão invasivo, mas eu realmente tenho certeza que você seria muito mais feliz ao meu lado. Você mesmo me disse que sente receio do teu namorado e também disse que não sabe o que fazer.

 Meu amor por você é como brisa, leve e calmo. O dele é furacão, intenso e devastador. O meu amor por você é delicado. O amor dele por você é angustiante. Você já fez a sua escolha, não é? Pelo menos me mostrou que sim ao me beijar. E eu te amo muito, Jeongguk. Disso você não pode duvidar. Sempre estarei te esperando de braços abertos disposto a lhe oferecer todo o amor do mundo.

Min Yoongi.

 

 

A minha primeira reação foi de rasgar aquela carta em um milhão de pedaços com uma raiva absurda. Nunca tinha me sentido assim em toda a minha vida. Era como se me passassem para trás, como se estivesse sendo ridicularizado sem pensar duas vezes por alguém que eu era completamente apaixonado. Minha garganta ardeu quando soltei um grito para tentar me livrar daquela sensação alarmante e soquei a porta do guarda-roupa.

 Não tive interesse algum em ler as outras cartas, na verdade, não me importava mais. Eu sabia que se tratava de declarações baratas e que só me deixariam mais aborrecido. Descobrir que Jeongguk estava me traindo foi uma decepção tão grande que nada mais fez sentido.

 A dor era real, palpável. Tão grande que eu poderia explodir a qualquer momento.

Com a visão tornando-se turva por conta das lágrimas, joguei todos os pedaços da carta no interior da caixa e guardei-a como se nada tivesse acontecido, embora a sensação fosse quase a mesma de ser espancado até ficar inconsciente. Deixei o apartamento de Jeongguk as pressas. Não prestei atenção nos carros, e não prestei atenção nas pessoas que atropelei ao correr pela calçada até entrar num estabelecimento praticamente escondido. Eu conhecia aquele lugar muito bem, e conseguir um vidrinho de Cianureto não é impossível quando se tem lábia e muito dinheiro. Com aquele veneno letal no bolso da calça, retornei para o apartamento de Jeongguk, os olhos magoados, a sensação de vazio.  

Fiz o seu prato favorito e suco de laranja. Ouvi a porta do apartamento se abrir e o meu coração disparou.

— Jimin? – ouvi sua voz que brincava com as minhas emoções.

— Aqui na cozinha, meu amor.

Ele invadiu o cômodo e estava bonito como sempre. A mochila em suas costas, um livro na mão e aparentemente cansado demais. Sempre soube que seu curso exigia muito empenho e dedicação, e seus olhos exaustos eram a prova disso.

— O que é tudo isso? Você arrumou o meu apartamento? Decorou... E... – encheu os pulmões de ar. — Preparou meu jantar.

— Sim. – forcei um sorriso. Estava doendo tanto, tanto, tanto que eu não era capaz de suportar. 

— Sobre o que aconteceu, Jimin, quero te pedir desculpas. Eu fui ignorante.

— Tudo bem.

— Como assim? Você não está triste comigo?

— Não, Jeongguk. – rebati. — Na verdade, tudo o que eu fiz aqui no seu apartamento foi para te agradar.

— Ficou bonito, sério. Eu fico muito grato por isso.

— Tem mais surpresas no seu quarto...

— Você é incrível. – sorriu. — Tomarei um banho e já volto para jantarmos, tudo bem?

Assenti e ele se foi. Meu estômago se comprimiu quando coloquei a mão no interior do bolso da calça e senti o vidro do Cianureto. Prendi a respiração quando o peguei, abri a tampa e joguei todo o conteúdo na jarra de suco. Limpei uma lágrima que escorreu rapidamente e depois posicionei os pratos na mesa, talheres, copos e a jarra de suco bem no centro. Quando Jeongguk saiu do banho cheirando a sabonete e vestindo roupas limpas, sorriu para mim.

— O meu quarto ficou tão bonito, Jimin. – Ele parecia tão feliz.

— Decorei com carinho.

— E o meu beijo? – perguntou.

Numa confusão de pensamentos, imaginei Jeongguk tomando os lábios de Yoongi com rapidez e cobiça. Imaginei a frequência com que isso acontecia, e o quanto eles estavam apaixonados. Quis chorar e dizer que eu não o beijaria nunca mais, que me enganar foi o maior erro de sua vida. Entretanto, fui fraco. Puxei sua cintura com força e colei meus lábios nos seus. O desejo de acabar com todo aquele sofrimento de uma vez por todas era tão grande que beijá-lo com fúria foi tudo o que me restou.

Era quase como se aquele momento pudesse aniquilar o meu plano de servir o suco para Jeongguk.

Quase.

Nós nos sentamos à mesa.

Olhei para aquele rosto durante algum tempo sem falar absolutamente nada.

 A raiva me incendiava, a angústia, a desilusão.

 Jeongguk não me amava como achei que me amava.

 Eu lhe dei o mundo. Ele me trocou por Yoongi.

 E então, compreendi o motivo de ele ficar tão abalado quando ficou sabendo de sua morte, e como estava se desculpando demais ultimamente. Mas, sempre achei que traição não tem perdão.

— Eu não te desculpo. – falei áspero.

— Como assim?

— Vamos jantar em paz, tudo bem? – As palavras escaparam de minha boca automaticamente. Eu estava sendo movido pela raiva e sede de vingança.

— Jimin, eu pensei que...

— Vamos jantar em paz. – interrompi e servi o suco de laranja que foi preenchendo o copo de Jeongguk. O som do líquido caindo no vidro me fez perder o foco.

Ele me olhou e eu o olhei. Havia uma pontada de desespero em seu olhar. Ali, naquele momento, tive a certeza absoluta de que ele ficou sabendo que eu havia descoberto sobre a traição porque meus olhos entregaram toda a decepção. Jeongguk não disse absolutamente nada, até porque não havia o que dizer.

Vi o momento exato em que Jeongguk levou o copo aos lábios e encheu a boca do líquido com veneno.

— Fui eu que matei Yoongi. Agora, vocês podem ficar juntos. Era isso que vocês queriam, certo?

Vi o momento exato em que o líquido desceu pela sua garganta, o pomo de adão dançou pela última vez em seu pescoço. Não deu tempo de ele dizer palavra alguma. Mas as lágrimas molharam o meu rosto quando o vi fechar os olhos, seu corpo caindo da cadeira num baque surdo.

Estava feito.

Eu tinha matado Jeon Jeongguk porque ele havia traído o meu amor.

 

-

 

O inverno rigoroso me fazia bater os dentes. Depois de ter sido preso durante anos, aparentemente eu havia me esquecido de como lidava bem com a estação sempre tão temida por mim. Amargando na prisão, paguei pelos meus erros, e lidar com o fato de Jeongguk não estar mais comigo me deixou desestabilizado.

 Quando tirei a sua vida, só estava focando-me na dor que eu estava sentindo, mas logo depois, a saudade me maltratou sem limites. Culpei-me por feito aquilo. Culpei-me por ter comprado Cianureto e por ter achado que tinha algum direito de castigá-lo.

Eu era uma pessoa perigosa e completamente desequilibrada. Eu era, sem sombra de dúvidas, um monstro. Já não havia mais lágrimas para chorar e não havia mais motivos para sorrir. Voltar para o meu apartamento recheado de lembranças de Jeongguk só conseguiu piorar a minha situação. Sem ele ao meu lado eu tentava enfrentar as minhas insanidades, mas sempre falhava na missão. Precisava de ajuda, desesperadamente. Não aguentava suportar aquela dor.

O psicólogo me recebeu bem e assim que entrei na sala com cheiro de desinfetante, sentei-me no divã e fui encarado por seus olhos indagadores. Engoli em seco.

— Eu matei a pessoa que sempre amei. – confessei.

— Matou? – O psicólogo visivelmente surpreso pela revelação arregalou os olhos enquanto me fitava. — Você é o Park Jimin, certo? – leu meu nome em sua prancheta, apenas para confirmar.

— Exatamente, sou alguém que continua amando.

Apesar de tudo, eu ainda amava Jeon Jeongguk.

Mas a dor de não tê-lo ao meu lado continuava me machucando de forma ilimitada. Depois de ter saído da consulta, me sentindo a pior pessoa do mundo por ter errado tanto, caminhei pelas ruas enfrentando o frio cortante. Chegando ao meu apartamento, fechei os olhos e permiti-me respirar fundo. Meu coração estava doendo de saudade, e a culpa era tão intensa que eu jamais poderia suportar. Sem que eu quisesse, minha mente retornava para o dia em que comprei Cianureto, o dia em que não estava ajuizando da maneira certa e achei que envenenar o amor da minha vida seria a solução para todos os meus problemas; uma grande ilusão. Total remorso é um sentimento abominável.

Se eu sentasse e conversasse com Jeongguk, talvez a situação melhorasse. Se eu procurasse por ajuda quando eu estava começando a assustá-lo, talvez o nosso relacionamento continuasse firme. Talvez... Talvez...

Mas a verdade era que Jeongguk estava morto. Por minha culpa. Por não ter pensado corretamente. Por ter me precipitado. Admitir era fácil, o difícil era arcar com as consequências, e sem a pessoa que eu amava ao meu lado, era difícil tornar-me inatingível. Em um momento, eu tinha tudo o que desejava em minhas mãos, no outro, eu já não tinha nada.

Eu não era nada.

Embaixo de minha cama, eu guardava o revólver no interior de uma caixa. Assim como Jeongguk, eu também tinha os meus segredos. O revólver que havia tirado a vida de Min Yoongi. Suspirei pela última vez, pressionei o cano no ponto entre meus olhos até estar entendendo o que eu estava fazendo, e dessa vez, não existia arrependimentos. Eu precisava ser morto instantaneamente. Precisava ver-me livre de tanta dor e culpa.

Com a respiração rápida e ofegante, pressionei o gatilho.

E depois de uma explosão, tudo se escureceu.

 


Notas Finais


Amores da minha vida, finalmente a fanfic chegou ao fim, e que fim conturbado, não? Eu avisei... Ah, eu avisei, não me culpem agora, hue.

De qualquer forma, quero explicar algumas coisinhas... Jimin era uma pessoa completamente desequilibrada e possessiva, achava que Jeongguk tinha que ser apenas dele e de mais ninguém. Não se esqueçam que ele matou Yoongi apenas por ciúmes antes mesmo de saber sobre a traição!
Quero alertar que infelizmente esse tipo de relacionamento conturbado é muito comum. Se alguém que estiver lendo isso passa por esse problema, converse sobre ou procure ajuda porque é algo extremamente sério. Jeongguk iria contar o que estava acontecendo ao Jimin, mas não conseguiu. Ele tinha medo e buscou por outro relacionamento bem mais leve, mas foi um erro descomunal porque enganar alguém não é uma das alternativas mais sensatas. Cuidado, meus amores, é tudo o que eu peço a vocês. Tenham atenção, por favor.

Comecei a trabalhar esse tema justamente porque tinha escutado sobre relacionamentos sufocantes e abusivos que podem acabar com um final bem trágico e como não resisto a um dramão... Concluí a fanfic.

Apesar da sofrência, espero que tenham gostado. Eu estava sim bem apreensiva por escrever algo com um tema muito forte e envolvendo a morte de todos os personagens, mas realmente precisei.

Mil beijos, a gente se vê.


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