História Apenas Cartas para Alguém que não se Importa - Apenas exatas

Eu acordei duas vezes depois que decidi dormir no banco do carro.

Uma delas foi aos gritos de Hoseok e Yoongi se matando, provavelmente discutindo algo que eu realmente não consegui identificar. O sono logo me invadiu de novo e eu capotei sem nem estar lúcido direito.

E a segunda foi em uma cama.

Ela era confortável, daquelas que você se revira e parece que mais afunda no colchão. Nossa, eu me senti nas nuvens por alguns instantes.

Porém logo associei “nuvens” ao “céu” e deduzi que morremos no carro enquanto Suga fazia uma curva perigosa, então eu levantei num salto digno das Olimpíadas.

Eu não morri, só estava em um quarto estranho, e com “estranho” eu quero dizer “desconhecido por minha pessoa”. Era simples, com uma parede bege enquanto as outras são brancas, me pergunto se o dono da casa tem dificuldades pra limpar elas ou só eu me importo com paredes limpas. Tem uma escrivaninha, uma cama, um guarda roupa... E uma janela gigante, porém fechada.

Me levantei logo cogitando a possibilidade de ter sido sequestrado. Saquei meu celular e comecei a ligar por 190, porém parei no “9” ao ouvir um som. Mas não é um som comum. É KPOP!

Pelo ritmo inicial dá pra perceber que é do EXO, conclui ser Heart Attack. Acho que os bandidos iriam me deixar curtir uma música antes de morrer né?

E é agora que chegamos no presente.

Eu cheguei correndo na sala bem na hora que a música começou, ironia do destino, talvez. Eu me perdi um pouco já que nunca tinha visto essa casa na vida, mesmo sendo meio parecida com algo em minha memória.

Seu brilho faz com que qualquer luz se intimide

Desde o início meus pensamentos estão longe, você é a minha luz guia

Encontrei o ex-casal Yoonseok esparramados no sofá rindo de alguma piada de alguém familiar pra mim.

Olhos verdes, sem brilho, cabelo castanho com as pontas loiras. Apresento a vocês: Park Sook

Mesmo assim sua imagem sempre é deixada como uma visão depois de um flashback

Eu paralisei, e ela olhou pra mim. Focando aquele universo esmeralda nos meus negros.

— Olá Jin! — Ela sorriu, mostrando a covinha na bochecha esquerda. Ela falou com um tom tão natural que nem pareceu que passamos tanto tempo longe depois de terminarmos.

Andei por um longo labirinto, guiado por uma imagem que parecia ser você

Pensei que pudesse te alcançar, mas bati minhas mãos no vento

Pisquei algumas vezes, tentando ver se a imagem da garota a minha frente não é uma miragem ou uma ilusão. Eu já havia me acostumado com esse tipo de coisa pois eu tinha muito quando terminamos. Eu conseguia a sentir me abraçando na cama sem nem estar perto dali nas manhãs, eu ouvia sua voz suave por qualquer lugar que eu ia, eu sentia o seu cheiro em tudo. Ela parecia estar fixada em minha vida, pra onde quer que eu ia.

A única cousa que eu tenho dentro de minha mente é você

Estou enlouquecendo, confundindo fantasia com realidade

Oh não, não! Não pode ser! Não pode ser você!

— Sook? — E então eu decidi reparar na reação dos outros ao meu redor, Hoseok a olhou com uma careta indefinida, enquanto Yoongi arregalou os olhos e murmurou um “então é ela?”

E então a ficha caiu.

Meu coração continua inquieto, ansioso pelo momento que se aproxima

Um ataque cardíaco! Tempo acabado!

O mundo está me dominando. Um ataque cardíaco instantâneo

Mesmo que eu pare de respirar, você está tão perto, acabo me acostumando

Uma sensação de gelo correu pelo meu corpo, arrepiando todos os meus pelos. Em seguida meu coração começou a bater mais rápido.

É ela. Na minha frente.

Um ataque cardíaco! O fim da espera

A serenidade que calmamente agarrou meu coração, agora parecia estourar.

Mesmo que eu pare de respirar, você está tão perto, acabo me acostumando.

Eu poderia ter um ataque cardíaco, ah se poderia. Na verdade, eu deveria.

Mas não foi algo tão forte assim quando eu a olhei.

Um sorriso brotou em meus olhos, mas meu estomago não recebeu borboletas, minha garganta não secou e também não senti um nó nela como pensei que seria. Eu não poderia vomitar aqui mesmo como eu pensei que seria.

— Eu mesma, Sook Melo. — Ela falou rindo.

Brilhando tanto que chegava a desaparecer.

Não, nada era igual

O ar parava e congelava, não conseguia respirar

Comecei uma conversa, você pode me ouvir?

— Como está a vida sem mim?

— Eu estou muito bem, Jinnie. — Ela pareceu meio surpresa de me ver falar tão normalmente. E quando ela falou o “bem”, cheguei a uma conclusão — E você? O que está sentindo?

Embora tenha virado para mim, você ficou surpresa com a minha voz

— É incrível a sensação de perceber que não precisava daquilo que sempre pensou que precisava. — Comentei minha conclusão, sorrindo também.

E eu não menti.

Meus olhos já não se focam mais no que é importante pra mim

Talvez ainda seja difícil de acreditar.

Desviei minha atenção dela e foquei em Yoongi, para ver sua reação. Ele estava sorrindo tão abertamente que me senti derreter.

Cheguei a outra conclusão.

— Me esqueceu? — Ela perguntou em expectativa, com os braços em posição como se estivesse levantando peso, só que os mexendo freneticamente.

— Estou gostando de outra pessoa. — Sorri de lado e cruzei os braços.

E então a música foi pausada por um Yoongi meio ansioso.

— Acho que vocês precisam ter uma conversa séria pra resolverem essa intriga de ex-namorados. Até três meses atrás Jin era obcecado por você e do nada mudou de opinião.

— Primeiramente: Não foi do nada. E segundamente, eu já cansei de ter conversas sérias, eu tive várias só essa semana!

— Mas a gente ainda não tive uma conversa séria! Querendo ou não a gente precisa se resolver. — Ela falou fazendo bico, Yoongi se posicionou do lado dela e imitou o gesto. Suspirei e olhei pro céu, pedindo a Deus pra me tirar desse mundo porque é muita fofura acumulada.

— Beleza — Falei, entregando os pontos. Enxotei Hoseok e Yoongi dali, sem antes falar um “ainda temos que ter A conversa séria depois” pra esse último. Voltei pro sofá e me sentei ali, olhando pra Sook meio atordoado — Temos que resolver algumas coisas.

— Temos... — Ela falou e se sentou ao meu lado — Esse cabelo ficou bom em você.

— Obrigado — Sorri e me surpreendi ao ver que a conversa não tomaria um rumo constrangedor.

— Ok... Pode começar a perguntar.

É, a conversa vai tomar um rumo constrangedor.

— Por que terminou comigo?

— Eu te expliquei ué. Eu não gostava mais de você, e nós dois não estávamos concordando com nada. Eu queria o Y e você queria o bom e velho X. Você era pessimista e eu positiva, essa combinação nunca deu certo em matemática.

— E eu nunca fui bom em exatas.

— Exatamente! — Ela sorri e se ajeitou — O que mais?

— Hm... — Tanto tempo imaginando me encontrar com ela de novo, pra quando acontecer, simplesmente não saber o que falar, que vergonha, Jin! — Era você no evento de anime?

— Claro que sim! Quem mais seria? — Cruzou os braços — Eu fui em Seul porque queria saber se você estava bem, e vivo..... Eu botei na minha cabeça de que se você não fosse naquele evento de anime, teria se matado. Então eu revirei aquele lugar até te achar!

— E o que deu na sua cabeça pra você pensar que eu ia me matar?

— Suas cartas — Ela respondeu e eu arregalei os olhos — Você passou muito tempo sem mandar, e a sua última foi tão depressiva que eu cheguei a essa conclusão. Mandei até um curto lembrete pra você com o nome de “S” pra não desistir da sua vida por minha causa! Então quando encontrei você morrendo ao lado daquele garoto, decidi te ajudar. Por ironia do destino aqueles dois garotos acabaram chegando na minha casa pedindo ajuda pra passar a noite. Eu ia recusar porque eu estava com sono e os filhos da puta me acordaram, mas quando vi você dormindo no banco do passageiro, aceitei.

— E porque se preocupou comigo?

— Porque eu gosto de você? — Saiu mais como uma pergunta do que como uma afirmação. Gelei ao imaginar a possibilidade dela querer reatar o namoro — NÃO! Não é isso que você está pensando! Eu... Merda... Eu só te considero um amigo, Jin. Você é legal demais pra fazer só parte do meu passado. E ai, topa?

Ela estendeu a mão e eu esperei alguns segundos antes de aperta-la. Tem que se fazer de difícil né bem

— Obvio! — Chacoalhamos as mãos e suspirei, me apoiando no sofá — Agora vamos assistir um filme?

o.O

Eu não consegui assistir o filme. Enquanto Sook se concentrava em entender a complexa trama do negócio, eu me preocupava em como fazer parar esse martelo na minha cabeça.

Na verdade, várias coisas ainda não se resolviam. É como se quanto mais eu cavasse, mais terra entrasse no buraco.

Ok, tem tanta coisa na minha cabeça que nem começar direito eu sei como. Eu não sei se Yoongi realmente gosta de mim. Eu não sou orgulhoso, sou um trouxa assumido, e admito que posso talvez estar gostando dele.

Mentira, eu estou gostando dele pra caralho.

E estou com ciúmes dele com Hoseok sim, mas vou tentar ser compreensivo, já que, assim como ele teve uma conversa “seria” com Hobi no carro, eu acabei de ter com Sook. Se for parar pra pensar, nós dois ficamos sem ver nossos ex por muito tempo, só agora estamos colocando as coisas no lugar. E eu não posso interferir nas coisas dele assim.

E talvez, só talvez, eu esteja preocupado com meu pai.

Na verdade estou preocupado pra caramba. Para de se fazer de forte Seokjin!

Merda, eu não faço a mínima ideia de como continuar minha vida agora. Eu vou voltar pra minha casa e vou fazer o que? Me fingir de morto pro meu pai? Estudar algo que eu odeio? Continuar num rolo infinito com Suga? Ver meu irmãozinho se relacionar tão estavelmente que me dá inveja?

— Yoongi e Hoseok estão lá fora ainda — Comentei, me levantando pra busca-los. Ela apenas assentiu e continuou focada no filme.

Fui lentamente pra fora, me sentando na varanda da sacada nem um pouco alta e observando tudo, não pensando em como acharia os garotos no meio daquela escuridão que já se formou no céu.

Sook agora mora no sítio do avó um pouco afastado de Seul, por isso o lugar é tão vasto e belo. Suspirei pesado e continuei fitando o céu. Como se num passe de mágica as estrelas sumissem com os meus problemas.

As estrelas me lembram Yoongi e seu brilho. Ele é tão... Ele. E me fascina tanto. Nunca vou admitir isso em voz alta, mas eu realmente gosto de cada parte dele, não é apenas o sorriso ou os toques. Eu gosto dele por inteiro. E gosto muito. Merda, depois de muito tempo pra sair de algo complicado eu me prendo de novo em uma pessoa.

— Jin? — A voz de Sook atrás de mim me tirou dos devaneios, olhei pra trás e sorri forçado ao ve-la — Você não foi procurar os meninos.

— Eu estava pensando.

— Quer desabafar? — Ela perguntou, se sentando ao meu lado — Dizem que é bom desabafar com desconhecidos.

— Você não é uma desconhecida.

— 9 meses podem mudar uma pessoa Jin. E foi esse o tempo que passamos longe. Você mudou e eu vejo isso claramente. Agora pra mim é um desconhecido que quero conhecer.

Sorri fraco e desviei o olhar pro céu. Murmurei algumas coisas desconexas e decidi começar a contar.

Sim, Sook mudou muito também. A homofobia que estava nela pareceu evaporar, e toda a frieza deu lugar a um coração um pouco, mas muuuuito pouco, preocupado.

Ela se ofereceu pra me ajudar com meu pai, ela sempre foi meio influente mesmo. E acho que com a ajuda dela eu não saio morto da casa dele. Eu nunca sorri tanto perto dela.

Nós dois mudamos. Essa é a vantagem de um relacionamento.

o.O

Quando voltamos pra sala, Yoongi e Hoseok estavam conversando baixinho sobre alguma coisa. Logo eles sorriram um para o outro e pareceram não notar nossa presença.

— Então seguimos nossas vidas? — Hoseok perguntou, estendendo uma mão.

— Seguimos nossas vidas — Yoongi a apertou.

E então eles se soltaram quando eu fingi uma tosse falsa.

Bonito, que bonito, mais que cena mais linda será que eu estou atrapalhando o casalzinho ai?

Yoongi apenas alargou o sorriso quando me viu e segurou minha mão com força, entrelaçando nossos dedos.

— Vem, preciso te mostrar um lugar. — E começou a me arrastar.

— É longe?

— Dez minutos de caminhada, só.

— Eu nasci num corpo de um sedentário, Gi — Murmurei e cruzei os braços, me soltando de sua mão.

— Para de ser uma batata e vem, prometo que vai gostar — A essa altura ele já tinha segurado minha mão de novo, enquanto adavamos pro meio de uma trilha no mato.

Foras os dez minutos de caminhada mais cansativos. As estrelas no céu já estavam brilhantes e eu só queria me jogar no chão e morrer. Quando eu estava quase pedindo arrego, Yoongi parou se virou.

— Agora eu quero que você feche os olhos. — E eu obedeci, logo ele entrelaçou nossos dedos novamente e começou a me puxar.

— Quando eu levo a gente pra um encontro, a gente vai pra cafeteria... cinema... Agora.. Quando você decide fazer isso, eu acabo no meio da noite andando barra morrendo de cansaço por um lugar que eu nunca vi na vida.

— Hoseok e eu estávamos explorando esse sítio e encontramos esse lugar enquanto você conversava com a Sook — Ele falou e parou de repente — Agora, você vai ter que falar a primeira coisa que vier a sua mente, beleza?

— Ta bom.

— Cor.

— Branco

— Hospital.

— Estrelado

— Estrela.

— Yoongi

— Amor.

— Vermelho.

— Por.

— Espera, o que? — Fiz menção de abrir os olhos, mas senti as mãos de Yoongi em meu rosto.

— Completa a expressão. — Ele falou — Por.

— Favor?

— Namora.

— Comigo?

— Namoro.

E então ele me beijou. Foi apenas um breve selar.

— O que isso significa?

— Você me pediu em namoro e eu aceitei ué.

— Não pedi não.

— Pediu sim. Agora estamos namorando, não tem mais volta.

— Mas o q-

— A vida tem dessas.

E então eu abri os olhos, vendo ele sorrir daquele jeito que eu amo tanto. Com ele, todas as minhas preocupações são chutadas pro fundo do meu cérebro. Ele é a minha luz, minha estrela, meu brilho.

— Você é tão difícil de entender quanto matemática — Ele falou — Mas eu sempre fui bom em exatas.