1. Spirit Fanfics >
  2. Apenas Ela >
  3. Cuidados

História Apenas Ela - Cuidados


Escrita por: DanyPS

Capítulo 14 - Cuidados


Saíram do hospital e a cara de desânimo de Taylor amoleceu o coração de Prepon. Apesar de ainda estar brava com o descuido da loira em relação a sua saúde, sabia que ela não mentira ao dizer que a causa daquele quadro era Laura. Ou para ser mais específica, a causa de todo o estresse era a confusão que estava acontecendo entre as duas naquele momento.

Como ficaria pelo menos os próximos três dias com Taylor, a morena precisava antes passar em seu apartamento para pegar algumas roupas e objetos pessoais. Jenji ficaria com Schilling enquanto isso; ela dissera que precisavam realmente conversar a sós. Laura imaginava que a conversa na verdade seria um sermão e dava graças a Deus de não precisar presenciar.

Mas ficar sozinha durante aquele pequeno intervalo de tempo, antes de começar sua jornada, seria bom também para Laura. Tudo acontecera de forma tão rápida e inesperada que nem parou para pensar, simplesmente se ofereceu para cuidar de Taylor porque achava que era a coisa mais lógica a fazer. Ela não tinha nenhuma gravação programada naquele momento. Ficaria em Nova York analisando algumas propostas, mas nada que fosse urgente. Jodi viria na semana seguinte a fim de organizarem sua agenda profissional para os próximos meses.

         Sendo assim, aqueles dias com Schilling não atrapalhariam em nada sua vida, pelo contrário. Embora o motivo não fosse nada bom, a ideia de passar um tempo com Taylor a estava deixando num certo nível de excitação gostosa. Como uma criança que está prestes a ganhar um presente. Por mais confusa que estivesse em relação aos sentimentos por aquela loira, de uma coisa Laura tinha certeza: queria ficar perto dela. Sentia falta daquela intimidade que vinham conquistando ultimamente e que fora quebrada de uma hora para outra. Mexia demais com ela a forma como Taylor a vinha tratando e isso era uma coisa que esperava que mudasse logo.

Acabou demorando mais do que esperava, pois passou no mercado antes. Sabia que a geladeira e a despensa de Taylor eram uma piada, ainda mais agora que ela teria de seguir uma dieta. Quando chegou no apartamento da loira, carregada de sacolas, já eram sete da noite. Pediu desculpas a Jenji, mas a mulher não pareceu se incomodar nem um pouco.

Ela contou que teve uma conversa direta com Taylor e que essa prometeu se cuidar melhor daqui pra frente e que em seguida havia tomado um banho e ido dormir um pouco.

- Pegue leve com ela, Laura. Eu já cumpri a parte da bronca, agora você pode fazer o carinho. – Jenji a aconselhou, antes de ir embora. – Eu não sei o que está havendo entre vocês. Até desconfio, mas prefiro não opinar. Então tente não deixar o clima pesado durante esses dias. Essa menina é extremamente sensível, a família dela está longe, a pressão da série também não é fácil de aguentar. Enfim... se não der conta, peça socorro. Manterei contato diariamente.

- Pode deixar. - Laura estava encabulada após as palavras de Jenji. – Eu vou cuidar dela direitinho, não precisa se preocupar.

- Ah, já ia esquecendo. Daqui a pouco tem visita chegando. – vendo a cara de espanto da morena continuou:- Natasha Lyonne. Ela ligou pro celular da Taylor e eu atendi, contei por alto o que tinha acontecido e ela mandou avisar que viria pra cá.

- Ai meu Deus, tô ferrada. – Laura deixou escapar.

Quando ficou sozinha, Laura foi ver como Taylor estava. A loira dormia tranquilamente, parecia um anjo com aqueles cabelos loiros caindo ao redor do rosto. Passaram-se alguns minutos até que se desse conta de que estava por tempo demais parada feito boba na porta apreciando a cena. Foi até o quarto de hóspedes e arrumou as coisas que trouxera. Era ali que se instalaria enquanto cuidasse de Schilling.

Esquecera de perguntar a Jenji a hora que Taylor dormiu, então resolveu se ocupar enquanto ela não despertasse. Foi até a cozinha separar e guardar todos os alimentos que trouxera. Lavou as frutas e legumes, armazenou as carnes magras no freezer e listou vários cardápios para os dias que viriam. Nesse momento o interfone tocou. Era hora de encarar a fera.

- Onde está minha loira?

- Boa noite pra você também, Natasha.

- Desculpe, ruiva. Mas como ela está?

Natasha foi vê-la rapidamente, jurando que não a perturbaria. Laura atualizou-a sobre o que Taylor tinha e as recomendações médicas. Resolveu fazer um jantar para as três enquanto a doente não acordava.

- Porque será que eu acho que você tá envolvida nessa história de desmaio por estresse agudo? – Lyonne enfim foi ao ponto.

- Eu e ela tivemos uma pequena discussão há duas semanas. Fui para Los Angeles, não nos falamos mais, então as coisas ficaram mal resolvidas. – Prepon não queria entrar em detalhes. – Tentei quebrar o gelo em Chicago, mas sua loira foi dura na queda. Me ignorou completamente.

Natasha nem sequer disfarçou ao rir da cara de Laura:

- Minha garota mandou bem.

- Eu tô me sentindo culpada, Tasho. Por acabar provocando problemas físicos nela. Eu fiquei tão nervosa quando ela desmaiou nos meus braços.

- Laura, preste atenção no que vou te falar. Você sabe que eu e Taylor somos muito amigas. Conversamos sobre várias coisas, inclusive sobre os sentimentos dela. Não quero invadir a privacidade de vocês. – Natasha estava séria como nunca vira antes.

A morena começou a coçar o pescoço, claramente incomodada com o rumo da conversa.

- Sei que estou te deixando desconfortável. Vou evitar ao máximo esse assunto daqui pra frente, mas embora a Tay seja uma das mulheres mais determinas e fortes que eu conheço, também tem um coração de vidro. Eu sei que você vai quebrar esse coração, mesmo que não seja de propósito. E sei que vou te odiar por isso. Mas não posso me meter entre vocês, então só me resta torcer para que o tempo se encarregue de mostrar que estou totalmente errada.

Nenhuma das duas falou nada por quase dez minutos. Laura continuou cozinhando enquanto remoía as palavras da mulher ali ao lado, que também não fez questão de quebrar o silêncio.

Já era quase dez horas e nada de Taylor acordar. Laura já tinha ido ao quarto por duas vezes. Por mais que tentasse já não conseguia mais esconder de Natasha a apreensão que sentia.

- Ela tá dormindo demais. Deve ter alguma coisa errada.

- Tem. Ela tá doente e cansada.

- Mas ela precisa comer.

- Então vai lá e acorda. Eu não vou embora enquanto não falar com ela - Natasha estava decidida.

- Espere aí.

Laura foi até o quarto e pegou um papel em sua bolsa. Ao voltar para a sala, pegou o celular e ligou para um número.

- Oi, boa noite. Dr. Malcom? – uma pequena pausa. – É a Laura. Estive aí no hospital hoje com a Taylor.

Mais uma pausa e em seguida continuou:

- Não, ela está bem. Quer dizer, eu acho. Na verdade, tô preocupada porque ela tá dormindo demais.

Natasha deu uma gargalhada tão alta que nem o olhar fulminante de Prepon a intimidou.

- Laura, eu não acredito que você tá perturbando o médico por causa de uma besteira dessas.

-------------

Taylor despertou assustada ao ouvir um riso alto. Levou um tempo para lembrar onde estava e o que tinha acontecido. Olhou as horas no celular: dez da noite. Caramba, tinha dormido demais. Esperou ouvir de novo a risada para ter certeza se era mesmo de Natasha. Mas não havia mais nenhum som. Será que tinha sonhado?

Levantou-se e foi até o banheiro. Jogou uma água no rosto, escovou os dentes e ficou encarando-se no espelho. Então era isso? Seu corpo havia lhe pregado uma peça e somatizado aquele turbilhão de sentimentos que a dominavam ultimamente. E como se isso já não fosse problema suficiente, teria de ficar aos cuidados de nada mais nada menos que Laura Prepon. Sabia que aquilo ia ser um desastre completo. Passou os últimos quatro dias evitando a morena de tudo que foi jeito para quê? Para acabar trancada com ela dentro de seu apartamento. Taylor já devia imaginar que o destino não facilitaria nada pra ela.

A mulher por quem estava perdidamente apaixonada, mas que fazia questão de gritar aos quatro ventos sua heterossexualidade, não lhe deixara nenhuma opção. E a loira estava se sentindo tão fraca no hospital que desistiu de debater aquela questão. Além disso, prometera a Jenji que iria se aquietar e aceitar os cuidados de Laura. Bem, se era assim que as coisas tinham de ser... que fossem.

Saiu do quarto e caminhou lentamente pelo corredor escutando vozes vindas da cozinha:

- Você não vai e pronto Natasha. Termina de arrumar a mesa. – era a voz de Laura – Não é pra colocar isso aí. Eu já falei, nada de vinho no jantar.

- Puta que pariu, Laura. Se você tá nesse desespero na sua primeira noite como enfermeira, quem vai precisar de tratamento depois é você. – Lyonne falava de forma impaciente. – Vai lá acordar ela e deixa que ajeito as coisas aqui. Você tá me deixando nervosa.

Taylor enfim apareceu na sala e falou com um sorriso tímido:

- Estou aqui. Acho que dormi muito.

Natasha correu até ela e envolveu-a em um abraço apertado.

- Tayloface, que bom que você está viva. Aquela maluca ali tava quase tendo um ataque do coração achando que você tinha morrido dormindo. – enquanto falava, a mulher enchia o rosto da loira de beijos.

- Deixa de ser exagerada. – Laura olhava de longe para Taylor sem graça.

- Exagerada? Ela ligou pro seu médico. Acredita? – Natasha ainda prendia a amiga em seus braços.

- Você vai acabar sufocando ela, Natasha.

- Não falei? Ela tá ficando pirada.- Lyonne falou no ouvido de Taylor.

- Tá se sentindo melhor?- Prepon enfim se aproximou das duas. – Preparei algo para comermos. Você deve estar com fome.

- Obrigada, Laura. Adianta eu dizer de novo que você não precisa se incomodar?

- Não adianta. Vem, vamos comer.

As três mulheres sentaram-se à mesa.

- Laura, não acredito que você comprou tudo isso. Eu já estava me planejando para fazer compras amanhã de manhã. – Taylor estava abismada com o banquete saudável servido à sua frente.

- Isso porque você não viu os armários e nem a geladeira. Tô pensando em ficar aqui esses dias também – Natasha provocou.

- Nem pensar. Você vai me enlouquecer - Prepon protestou.

O jantar transcorreu todo assim, Laura e Natasha implicando uma com a outra e Taylor rindo das duas.

Quando terminaram, Lyonne ficou encarregada de lavar a louça. Schilling quis ajudar, mas foi impedida.

Após o jantar elas acomodaram-se no sofá. Falaram sobre os mais diversos assuntos: as gravações em Chicago, a nova garota com quem Natasha estava saindo, o clima na cidade, um novo musical na Broadway. Pulavam de um tema para outro com tanta rapidez que nem viram o tempo passar.

- Cacete, já são uma hora. Vou deixar vocês dormir - Natasha levantou-se.

- Ah não, Tasho. Tá cedo. Eu dormi tanto que agora tô sem um pingo de sono. Fica aqui hoje. – Taylor gostava tanto da companhia da amiga.

- Tem certeza? Não oferece de novo não que eu acabo aceitando.

- Então já tá decidido. Como Laura tá no quarto de hóspedes, você pode dormir comigo. Minha cama é grande.

No mesmo momento, Laura também ficou de pé. Parecia incomodada com algo.

- Eu vou deixar vocês à vontade. Vou deitar. Taylor, se precisar de qualquer coisa é só chamar. A porta do quarto vai ficar aberta. Durmam bem - ela parecia apressada em se retirar.

- Ei Prepon, tá fugindo assim por quê? – Natasha notou que tinha algo errado.

- Só estou com sono.

Ela já estava no corredor quando Taylor a chamou:

- Laura – e completou quando a morena virou-se em sua direção:- Obrigada. Você tá sendo uma amiga maravilhosa.

- Não é nada demais Taylor. – Prepon falou em voz baixa e dirigiu-se para seu quarto.

As duas ficaram em silêncio na sala por um tempo antes de Lyonne enfim perguntar:

- E aí? Como vocês estão?

- Não sei, Tasho. Essa mulher vai acabar me enlouquecendo. – Taylor escondeu o rosto nas mãos - Você acredita que em Chicago ela tentou agir como se nada tivesse acontecido? Parece que o beijo não existiu e que continuamos tão amigas quanto antes.

- Amigas... até parece. – Natasha zombou.

- Pra ela é fácil, nada mudou.

- Acho que não é assim não, Tay. Laura pode até estar tentando disfarçar, mas as coisas mudaram pra ela também. Você não viu como ela ficou incomodada quando você me chamou pra dormir contigo?

- Não viaja, Tasho. Ela tá cansada, coitada. Acordamos cedo pra pegar o voo e ela não parou desde então.

- Bom, vou dizer a você o que eu disse a ela. Farei o possível pra não me meter nessa coisa aí que tá rolando entre vocês, que eu nem sei que nome dar. Mas, se precisar de um ombro amigo, sabe que esses dois aqui são todos seus.

Continuaram conversando por mais de uma hora ainda, até que Taylor viu a amiga bocejar e resolveu que era hora de dormirem. Por mais que insistisse não houve jeito, Natasha disse que só ficaria se fosse pra dormir ali mesmo no sofá. Taylor trouxe as roupas de cama e só foi deitar quando teve certeza que ela estava confortavelmente instalada.

 

A claridade acordou-a logo cedo ou talvez fossem aquelas malditas náuseas. Taylor foi tomar um banho para ver se a sensação ruim passava. Quando chegou à cozinha, viu que Natasha e Laura já estavam acordadas. O café da manhã estava arrumado para ser servido ali mesmo no balcão.

- Bom dia, loira. Como você está? – Natasha foi a primeira a saudá-la.

- Dormiu bem? Fiz algo leve pra você comer. – foi a vez de Laura cumprimentá-la com um sorriso estonteante nos lábios.

- Dormi sim, e vocês? Acho que sou uma péssima anfitriã. Estão tendo que se virar sem mim.

- Senta aí e come. - Laura quis encerrar o assunto.

Taylor acomodou-se no banco, mas tentou enrolar um pouco. Ela sabia que não conseguiria colocar nada na boca, pois seu estômago recusaria. Só não sabia como dizer aquilo depois do empenho de Laura pra preparar um desjejum tão caprichado.

- Tay, você não tá comendo nada. Eu tô de olho. – obviamente conseguir enganar Prepon estava fora de cogitação.

- Desculpa, mas eu não tô com fome. – ela fez uma cara envergonhada.

- Você tá enjoada? – como não obtivesse resposta, Laura insistiu: – Taylor Jane, responde.

- Acordei assim. Eu tava tão bem ontem à noite – a loira suspirou.

- Vou pegar seu remédio. Daqui a meia hora você toma pelo menos um suco. – Laura não parecia decepcionada e sim preocupada.

Não demorou muito e Natasha despediu-se, tinha compromissos e precisaria passar em casa ainda. Schilling melhorou um pouco e logo seu celular não parou de apitar, as mensagens e ligações vieram aos montes. Parece que a notícia de sua indisposição tinha se espalhado. As meninas queriam saber como estava e ela adorou todo aquele carinho e atenção.

Estava tão absorta no aparelho que só notou que Laura tinha trocado de roupa e estava pronta para sair quando ela parou na sua frente.

- Ei, aonde você vai? – Taylor estava surpresa.

- Comprar algumas coisinhas. Não encontrei tudo que queria ontem no mercado. Não vou longe e ficarei atenta ao celular, é só me ligar. Você acha que pode ficar sozinha um pouco?

- Não, não posso. - a loira falou com uma expressão séria.

- O que você tá sentindo? – Laura rapidamente sentou ao lado dela, pegando sua mão.

- Eu vou com você. De jeito nenhum que vou ficar trancada em casa - ela tentava disfarçar sua excitação ao sentir o toque de Laura em suas mãos. Já fazia tempo desde a última vez em que o contato físico esteve presente entre elas.

- Não, Tay. Você tem que descansar.

- E o que eu tô fazendo desde ontem? Eu vou. Você disse que não vai longe.

- E os enjoos?

- Já passaram. Espera cinco minutinhos que me apronto – ela saiu da sala sem dar chance de Laura protestar.

O dia estava lindo em Nova York e bastou que Taylor saísse do prédio para se sentir renovada. Percorreram o comércio próximo ao seu apartamento e era divertido ver a empolgação de Laura ao escolher os alimentos. Ela fazia questão de deixar Schilling informada dos benefícios de cada um. Como o sol estivesse forte, elas pararam em um café para que Taylor não se esforçasse demais. Ficaram conversando sobre assuntos aleatórios e naquele momento pareciam realmente duas grandes amigas saindo juntas. Mas era claro que ambas estavam evitando falar sobre qualquer coisa mais íntima.

E Taylor já estava começando a achar que aquela realmente era a melhor tática. Fingir que não tinha acontecido nada e que tudo continuava como antes. Ela não queria ficar brigada com Laura, e tinha de confessar que estava gostando de ter a morena em sua casa. Só não deixaria isso tão claro assim para que ela não se assustasse e saísse correndo como da outra vez.

Como ela mesma dissera, saberia jogar esse jogo tão bem quanto Laura.

Caminharam de volta para casa e tudo parecia perfeito, mas de repente Schilling sentiu-se tonta e precisou parar e se escorar em uma grade para recuperar o equilíbrio. Laura ficou ainda mais branca do que já era, por mais impossível que parecesse.

A morena respirou fundo e só deixou que retomassem a caminhada quando Taylor jurou que já estava bem pra isso. Laura ficou calada o percurso inteiro, mas assim que adentraram o elevador ela começou o sermão:

- Mas que droga, Taylor. Você é muito teimosa. Eu falei que não era pra você sair de casa.

- Não foi nada demais. Só uma tontura leve.

- Para de minimizar as coisas. Eu juro que estou tentando, mas se você não colaborar eu te levo de volta pro hospital e mando te internarem.

- Como se fosse você quem decidisse isso- Taylor revirou os olhos.

Assim que entraram no apartamento, Laura foi direto pra cozinha.

- Vou fazer um frango com salada. Você vai comer tudo e depois vai deitar.

- Para de me dar ordem. – Taylor falou num tom acima do normal, estava ficando irritada com aquela pose de general da outra.

Laura olhou pra ela e quando Schilling achou que fosse receber uma bronca maior ainda, o que veio foi o silêncio. A morena começou a guardar os produtos que trouxera e em seguida foi preparar o almoço. Taylor ficou observando-a e percebeu que estava sendo extremamente injusta. Aquela mulher não tinha nenhuma obrigação de estar ali. Deixara sua casa e sua vida de lado desde o dia anterior e estava se dedicando exclusivamente a ela.

A loira foi até a cozinha e parou na frente de Laura:

- Por favor, me desculpa. Eu não tô sabendo lidar com essa situação e descontei em você.

- Tudo bem, Tay – Laura desviou e continuou a mexer nas panelas.

- Ei, olha pra mim Laura. – Taylor insistiu – Eu não queria dar esse trabalho todo para você. Sei que tenho que me cuidar, mas não tô acostumada com alguém cozinhando pra mim, controlando meus passos, cuidando de tudo. Fico tentando não demonstrar quando estou mal porque sei que você vai ficar mais preocupada.

- Põe uma coisa na sua cabeça, eu estou aqui e não vou embora até ter certeza de que você pode se virar sozinha. Não tô fazendo isso por obrigação e sim porque sou sua amiga e quero te ver bem logo. – Laura enfim deu atenção à loira e suavizou a voz ao dizer: – Sei que tenho que pegar mais leve também. Meus amigos sempre disseram que sou um pouco autoritária.

- Um pouco?

As duas riram e o clima voltou a ficar leve.

- Eu estava pensando em sairmos à noite. Mas acho melhor deixar pra amanhã. Você ainda precisa de repouso. – Laura disse isso com um pequeno sorriso.

- Ah não, Lau. Vamos sair hoje sim. Pra onde?- Schilling ficou empolgada com a possibilidade.

- Não era nada demais. Um pequeno passeio pra você não se sentir tão entediada. Mas tá resolvido, transferimos para amanhã.

- Por favor. Eu quero sair hoje - a loira parecia uma criança pedindo à mãe para brincar na rua.

- Só se você comer tudo e depois deitar um pouco pra descansar. E tem que prometer que vai ser sincera e se estiver sentindo o mínimo mal estar que seja, vai me dizer.

- Prometo. – Taylor realmente parecia uma criança.

- Ok. Quem sabe sua noite de sexta-feira não seja tão ruim a ponto de ter que ficar presa em casa com essa enfermeira chata e mandona que arrumou.

-------------

Após almoçarem, Laura enfim convenceu Taylor a deitar um pouco. Não queria deixar a loira perceber, mas estava tão ansiosa quanto ela para darem o tal passeio à noite. Como estivesse acordada sozinha, entediada e sem sono resolveu que arrumaria o apartamento. Descobriu que a faxina tinha efeito terapêutico. Aproveitou aqueles momentos para pensar em sua vida e que rumo daria a ela. Depois de algumas horas nessa tarefa, foi tomar um banho e sentou no sofá da sala para ler um pouco.

Alguns minutos depois a campainha tocou e como ninguém foi anunciado pelo interfone, imaginou que Natasha tivesse voltado. Abriu a porta já preparada para implicar com Lyonne, mas a provocação ficou no ar ao ver a figura também surpresa da garota parada a sua frente.

- Pois não? – Laura rapidamente se recompôs.

- Oi Laura, tudo bem? Soube que a Taylor passou mal. – percebendo que a morena continuava parada na porta sem convidá-la ela mesma se ofereceu: - Posso entrar?

- Na verdade a Taylor não está recebendo visitas, você vai precisar voltar outra hora.

- Ela está tão mal assim? - a garota mostrou-se bastante alarmada – Pode dizer a ela que estou aqui?

- Chloe, é esse seu nome, certo? – Laura falava com toda sua superioridade característica – Estou aqui para cuidar da Taylor e garantir que ela se recupere o mais rápido possível. Entre esses cuidados está não permitir que ela se canse inutilmente. Então esse não é um bom momento para visitas.

As duas ficaram se olhando por segundos até que Chloe tivesse coragem de insistir novamente:

- Eu não posso nem mesmo vê-la um pouquinho?

- Não, isso vai ter que acontecer em outra hora.

- Tudo bem então, diga a ela que estive aqui, por favor.

Laura não respondeu, esperou a menina virar as costas e fechou a porta. Só então se deu conta de sua grosseria. Taylor não ficaria muito satisfeita se soubesse daquilo, mas ela não estava com a mínima vontade de fazer sala pra namoradinha da loira e muito menos ir acordá-la só por isso.

Não demorou muito e Schilling levantou bastante disposta. Fizeram um lanche em casa mesmo, pois Laura não queria correr o risco de que a loira comesse nada na rua, e saíram de carro. Não iriam longe, mas seria menos cansativo pra Taylor.

- Agora posso saber aonde vamos?

- Num lugar que provavelmente você tá cansada de ir, mas que vai servir bem como distração para uma doente estressada. – Laura brincava.

Minutos demais estacionaram e Taylor reconheceu o local: Brooklyn Bridge Park. Realmente já estivera ali algumas vezes, mas de certa forma ela sabia que ir ali com Laura transformaria aquele simples passeio num momento único.

O parque situava-se debaixo da Brooklyn Bridge, e era conhecido por seus jardins e trilhas ao longo do rio que mantinham o tráfego a uma boa distância. Ele havia se tornado um point no verão para moradores e turistas e estava bastante movimentado àquela hora.

Andaram por um tempo lado a lado sem nada dizer, até que Laura olhou para o relógio e chamou Taylor para sentarem em um banco e apreciar o espetáculo que se iniciaria à frente delas. O local proporcionava uma belíssima paisagem dos prédios de Manhattan refletidos nas águas do East River e naquele instante em que o sol começava a se pôr, as mudanças de cores na atmosfera eram uma visão de se tirar o fôlego.

Apesar de já ter andado por ali antes, Taylor nunca havia assistido ao pôr do sol e ficou encantada com a sensibilidade de Laura em levá-la até lá simplesmente para que desfutasse do momento, sem haver a necessidade de palavras.

Somente quando a noite já havia caído totalmente, Taylor ousou quebrar aquele momento de paz. Sem que ela mesma soubesse por que, simplesmente virou-se para Laura e abraçou-a pelo pescoço:

- Obrigada, Lau. Muito obrigada. Foi lindo.

- Gostou? – Laura perguntava com os lábios entre os cabelos da loira.

- Demais. Acho que era justamente disso que eu tava precisando: respirar ar fresco, essa tranquilidade.

- Está se sentindo bem? Acha que aguenta mais uma caminhada?

- Com certeza. Tenho gás de sobra.

- Tá bom, Schilling.- Laura bagunçou os cabelos dela implicando.

Com o clima mais fresco, o local estava repleto de famílias, crianças e casais de namorados. Ao chegarem ao local onde ficava instalado o Jane’s Carousel elas resolveram parar para apreciar a alegria das pessoas girando no brinquedo. Taylor logo inventou que também queria andar no carrossel, mas Laura convenceu-a que não era uma boa ideia considerando seus enjoos inesperados. Ela acabou concordando, pois de forma nenhuma queria interromper o passeio e ir embora antes da hora.

Ali, diante daquele quadro, entraram numa sessão de nostalgia e passaram um longo tempo trocando boas memórias de suas infâncias. As de Taylor não eram tão numerosas assim, então foi Laura quem falou praticamente o tempo inteiro.

- Vamos tirar uma foto? – a proposta partiu da morena.

- Sério? - Taylor estava surpresa.

- Sim, vem. - posaram para uma selfie com o carrossel no fundo. Laura gostou tanto que já conseguia vê-la exposta em um porta retrato.

Voltaram a caminhar em silêncio e Prepon não podia deixar de pensar como se sentia tão à vontade ao lado daquela mulher, mesmo quando não havia nenhum assunto ocorrendo. Em alguns momentos sentiu vontade de se aproximar mais de Taylor, de tocá-la e até mesmo abraçá-la mas sabia que seria inapropriado.

Quando decidiu que era hora de ir embora, a morena teve que lidar com os protestos da loirinha teimosa que só sossegou quando ficou combinado que terminariam a noite assistindo um bom filme de comédia.

No carro Laura sentia-se feliz por ter acertado na escolha de levar Taylor para aquele passeio no parque. A loira estava visivelmente mais animada e disposta e o clima entre elas parecia estar voltando ao normal.

Foi só quando entraram no apartamento que Schilling reparou que Laura havia feito uma arrumação mais cedo.

- Lau, eu não acredito. A moça vem aqui em casa às segundas e se você estava achando tudo bagunçado, eu podia chamar ela pra vir antes.

- Taylor, eu não tinha o que fazer, então foi uma forma de ocupar meu tempo – nesse momento, Laura lembrou-se da visita de Chloe, mas achou melhor só tocar no assunto no dia seguinte. A relação delas estava tão tranquila aquela noite que não valia a pena arriscar.

- Eu fico aqui pensando quanto é que vai me custar toda essa atenção que você está me dedicando

- Eu vou cobrar na hora certa e do jeito certo - a morena falou de forma enigmática, erguendo as sobrancelhas do jeito que sabia que deixava a outra intimidada.

- Isso é jogar sujo, Laura Prepon. Mas eu também saberei negociar quando essa hora chegar. – as duas riram – Vou tomar um banho. Você se importa de vermos o filme lá no meu quarto? É mais confortável.

- Por mim tudo bem. - Laura tentou parecer indiferente – Também vou tomar um banho.

Após o banho, ao entrar no quarto de Taylor e ver a loira já sentada na cama mexendo no controle remoto, Laura sentiu-se totalmente sem jeito. Ela não sabia como se acomodar ali.

Ao notar que Laura continuava parada, Schilling chamou-a:

- Ei, você vai ver o filme daí?

Laura colocou a mão no bolso dos shorts que usava e foi caminhando lentamente em direção a calma.

- Você quer fazer o favor de sentar aqui logo? Fique fria Prepon, eu não vou te agarrar. Você não corre nenhum risco.

A morena ficou tão espantada com aquela abordagem direta que nem teve o que responder. Sentou da melhor forma que conseguiu, encostada na cabeceira e perguntando-se porque Taylor afirmara tão categoricamente que ela não corria nenhum risco. Naquele fatídico dia, lembrava-se bem dela ter dito que já estava querendo aquele beijo há muito tempo e que não tinha se arrependido do que acontecera. Será que agora ela tinha perdido o interesse? Laura estava incomodada com aqueles pensamentos, resolveu então se concentrar em outra coisa:

- Já escolheu o filme?

- Duas opções: Adam Sandler ou Ben Stiller?      

- Sandler, claro.

- Concordo – Taylor parecia ter gostado da escolha.

Taylor apagou a luz principal do quarto deixando só as luminárias ao lado acesas. Ajeitou-se nos travesseiros e deu alguns para Laura convencendo a morena a deitar-se também.

Laura estava tão cansada que acabou cedendo e esticou-se na cama, mas com o cuidado de ficar bem distante e assim não correrem o risco de se tocarem. Ela não havia dito a Schilling, mas comédia não era um de seus tipos de filme favorito e logo o cansaço do dia extenuante a pegou em cheio. Lutava para conseguir manter os olhos abertos. E foi só quando sentiu uma mão acariciando seus cabelos que se deu conta que perdera a batalha para o sono.

- Lau, vai dormir no seu quarto. – a loira sussurrava bem perto de seus ouvidos.

- Desculpa, acho que apaguei. O filme já acabou?

- Ainda não – Taylor ria dela - Mas você tá cansada, é melhor ir se deitar. Seu turno acabou por hoje.

Ela se espreguiçou e virou a cabeça na direção de Taylor e por mais escuro que estivesse foi impossível não ver aqueles olhos azuis penetrantes fixos nela, roubando-lhe todo o ar. De repente sentiu uma vontade enorme de dormir ali e no mesmo instante pressentiu a perigosa armadilha que seu corpo estava preparando para ela. Levantou-se rapidamente e se despediu:

- Durma bem e qualquer coisa a porta...

- Vai estar aberta. Relaxa, Lau. E mais uma vez, obrigada por tudo. Principalmente pela noite maravilhosa que você me proporcionou. – ao dizer isso a loira jogou-lhe um beijo de longe.

Prepon foi para seu quarto sentindo-se totalmente recompensada.

 

No dia seguinte, para alívio de ambas, Schilling acordou sem enjoos e pode enfim aproveitar o farto café da manhã que Laura preparara. Como lá fora fazia mais um dia daqueles quentes e ensolarados típicos do verão nova iorquino, acharam melhor ficar em casa e fazer algum programa somente no fim da tarde.

Passaram a manhã jogando, ou melhor, com Prepon tentando ensinar a amiga a jogar pôquer, mas sem muito sucesso. Taylor dizia que preferia algo mais fácil e trouxe sua coleção de jogos de tabuleiro. As duas mais riam do que realmente jogavam, mas isso era a melhor parte da coisa.

Quando Laura foi preparar o almoço, a loira fez questão de ajuda-lá e em certo momento fez uma pergunta que incomodou Laura mais do que ela gostaria:

- Você vai embora hoje?

- Não, porque? O médico te aconselhou repouso por pelo menos três dias.- ela tentou não demonstrar sua decepção ao achar que a loira já a queria fora do apartamento.

- Então... quinta, sexta e hoje. – ela parecia achar esse raciocínio óbvio.

- Quinta não conta, Taylor. E se você conseguir aguentar só mais um pouco essa ansiedade em se ver livre de mim, eu prefiro ficar pelo menos até amanhã. Pra ter certeza de que você ficará bem. – ela perdeu toda a vontade de continuar cozinhando.

- Não é isso, Lau. Tô adorando sua companhia. Mas sei que tem sua vida, seus compromissos. Me sinto culpada em ver você gastando todo o seu tempo aqui comigo. – Taylor tentou amenizar a situação pois percebeu a insatisfação de Laura.

- Parece que culpa tem sido um sentimento recorrente entre nós. – Laura fez questão de dizer.

As duas terminaram de preparar a refeição sem tocar mais no assunto. Mas ele continuou martelando na cabeça de Laura e por mais que achasse que sua presença já estivesse incomodando Taylor, ainda não se sentia preparada para deixá-la sozinha. Ou será que o que estava evitando é que ela mesma voltasse para seu apartamento e se visse solitária lá?

Achando que as duas precisavam de um pouco de privacidade, assim que terminaram de almoçar, ela avisou:

- Vou dar um pulo em casa agora à tarde. Tenho que verificar algumas coisas. Tudo bem para você? Eu volto antes de anoitecer.

- Claro que ficarei bem, Lau.- Taylor pareceu pensar um pouco -  Quer que eu vá contigo?

Laura teve de fazer um esforço enorme para não aceitar a companhia da loira, mas achou que talvez ela só quisesse compensar o fato de praticamente tê-la mandado embora antes.

- Não precisa. Eu não vou demorar. Descanse e pense em algo para fazermos mais tarde.

- Combinado, então.    

Durante o tempo em que Prepon permaneceu em seu apartamento, aproveitou para desfazer a mala que trouxera de Chicago, já que ainda não tivera tempo pra isso e colocar algumas roupas pra lavar. Como um sentimento de frustração tomasse conta dela ao se dar conta de que restava menos de 24 horas ao lado de Taylor, resolveu ligar o som e deixar o rock invadir o local. Por mais contraditório que pudesse parecer, aquela música trazia-lhe paz interior.

Às seis da tarde, decidiu que era hora de voltar. Ao girar a chave na porta, Taylor havia deixado uma cópia com ela, sentia-se animada em rever a loirinha. Como não a visse na sala e nem na cozinha, achou que poderia estar dormindo, mas assim que pôs o pé no corredor ouviu vozes vindas do quarto de Schilling. Ela estava com visitas. Ficou sem saber se ia até lá e quando decidiu que seria melhor ir direto para o quarto de hóspedes, reconheceu uma voz que fez seu corpo paralisar.

"Ela” estava ali com Taylor, no quarto.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...