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História Apenas Ela - Desentendimentos


Escrita por: DanyPS

Notas do Autor


Olá, meninas. Desculpe a demora, mas tá complicado arrumar tempo pra escrever.
Matando a curiosidade, segue a sequência da treta.

E mais uma vez, obrigada pelos comentários e retorno que tem dado.

Capítulo 20 - Desentendimentos


Naquele instante foi como se o tempo entrasse no modo pausa. Nenhuma das três mulheres falava ou fazia algum movimento. Até mesmo as respirações ficaram suspensas. Taylor tentou captar através do olhar de Laura o que estava se passando em sua mente, mas era praticamente impossível. A surpresa inicial que apareceu ali foi aos poucos sendo substituída por um olhar vazio, que não demonstrava nenhum sentimento. E pior, ele foi perdendo também o brilho que sempre atraía Schilling de forma magnética.

Reunindo toda a coragem que ainda lhe restava, a loira deu um passo pra frente tentando se aproximar. Mas esse movimento serviu apenas para tirar a morena do transe em que se encontrava:

- Por que Taylor? Por que?

Depois de fazer a pergunta Prepon ainda ficou alguns segundos olhando para Schilling, até que de repente se virou e saiu pela porta que acabara de entrar.

A loira ainda tentava encontrar uma resposta para a pergunta e demorou a perceber o que tinha de fazer. Quando resolveu agir, era tarde. Taylor partiu atrás de Laura, mas assim que passou pela porta avistou-a já entrando no carro. Provavelmente ela tinha corrido para estar tão distante em tão pouco tempo.

- Lauraaaa... Espera, por favor – Schilling gritou sem se importar se alguém estava observando a cena.

Tentou correr até o veículo, mas isso só fez com que Prepon se apressasse ainda mais, ligando o carro e saindo em alta velocidade do local. Parada no meio do estacionamento, sem saber o que fazer, as lágrimas da loira voltaram com força total.

- Taylor, pelo amor de Deus, o que tá acontecendo? – Chloe tinha conseguido alcançá-la somente agora.

- Chloe, o que deu em você? Porque me beijou? – Schilling a questionava no meio de seu desespero.

- Você e Laura estão juntas, é isso? Eu não sabia... – a garota parecia confusa.

- Pode me fazer um último favor, Chloe?- sem esperar resposta, Taylor continuou: - Vá lá dentro e peça pra Natasha trazer minha bolsa. Por favor, tente ser discreta.

- Você tá precisando de alguma coisa? Eu...

- Eu só preciso que faça isso, chamar a Natasha, mais nada. Eu não tenho condições de ir lá sem chamar atenção.

- Ok.

Quando Chloe já estava voltando pra dentro da boate, Schilling chamou-a novamente:

- Chloe... Não quero que volte junto com  Natasha. Converso com você em outro momento.

A loirinha olhou-a com expressão desolada, mas não disse nada.

Enquanto aguardava Lyonne, Taylor tentava lembrar a sequência dos fatos, embora alguns detalhes aparecessem de forma confusa em razão do alto teor alcoólico presente em seu organismo. Uma coisa, porém, estava clara em sua mente: ela havia sido muito dura com Laura e mal entrara na boate já estava arrependida. Avaliava se devia voltar ao carro e ir mesmo embora com a morena, quando Chloe se aproximou. Tudo aconteceu rápido demais para que seus reflexos lentos lhe alertassem do que estava acontecendo. Laura jamais entenderia e a perdoaria, disso Schilling tinha certeza.

- Tayloface... o que houve?

Taylor só notou a presença de Natasha quando ela já estava ao seu lado. Mas a amiga não estava sozinha, Uzo veio junto.

- Tasho, eu fiz uma merda das grandes – ela abraçou a amiga, chorando em seus ombros – A Laura vai me odiar pra sempre.

- Calma, tenta explicar o que aconteceu – Lyonne afastou Taylor com delicadeza, mas sem perder o contato visual com ela.

- Tivemos uma briga feia por causa de Chloe. Laura queria que eu fosse embora com ela. Eu não quis, joguei um monte de coisa na cara dela e voltei pra boate. Nem eu mesma sei como aconteceu, mas ela acabou indo atrás de mim e viu Chloe me beijando.

- Puta que pariu, loirinha. Não acredito. Porque você fez isso?

- Ei, alguém me explica o que tá acontecendo? – Uzo enfim resolveu se manifestar – Então você e Laura estão...

- Isso aí, Uzo. Elas estão. Mas são duas desequilibradas que vivem fazendo merda – foi Lyonne quem respondeu por Taylor.

- Uau – foi a única coisa que Uzo conseguiu dizer.

Schilling pegou sua bolsa com Natasha, tirou o celular de dentro e ligou para Prepon. Enquanto ouvia os toques, começou a andar de um lado pro outro. Por mais que já soubesse que a morena não a atenderia, quando entrou mensagem de caixa postal ela ficou bastante frustrada.

- Tasho, preciso de você – antes que a outra respondesse, ela emendou: -Vai atrás dela, por favor. Laura saiu daqui muito nervosa, dirigindo que nem uma louca... eu tenho medo que ela se envolva em algum acidente.

- Eu? Você quer que eu vá atrás dela?

- Sim, você. Se eu for, pode ser pior. Conheço aquela cabeça dura, a última pessoa que ela quer ver agora sou eu. Só preciso que vá até lá e veja se está tudo bem. Se conseguir, diga que eu vou explicar tudo a ela.

- Porque não manda a Uzo? Ela é mais equilibrada do que eu pra essas coisas.

- Justamente por isso. Porque Laura não vai dar a menor chance a ela. Tem que ser alguém que se imponha.

- Ha ha ha.. você deve tá brincando. Ela vai acabar comigo – Lyonne balançava a cabeça como quem não acreditasse no que estava ouvindo.

- Você tá com medo, Tasho? Quem é que vivia dizendo que ia quebrar a cara dela por minha causa? – Schilling começava a ficar nervosa com aquele impasse. Ela precisava ter notícias da morena ou teria um troço.

- Era modo de dizer. Você já viu o tamanho daquela mulher? Eu te amo, loirinha. Realmente te amo. Mas encarar a ruiva é demais pra mim.

- Por favor... eu tenho certeza que ela vai te ouvir.

Lyonne pensou, pensou e enfim se deu por vencida:

- Você vai ficar me devendo essa. E pode contar que eu vou cobrar – no caminho para seu carro, ela se virou e soltou: - Onde você tava com a cabeça quando escolheu ficar com aquela garota sem sal em vez de ir embora com a ruiva gostosa?

Taylor escondeu o rosto nas mãos. Ela sabia o tamanho da besteira que tinha feito, não precisava que ninguém lhe lembrasse disso. Mas naquele instante sua prioridade era se certificar que Laura chegara em casa sã e salva.

- Vamos pra casa, Taytay – Uzo a abraçou pelos ombros – Você precisa sair daqui. E pode deixar que eu dirijo.

Schilling se deixou levar, os pensamentos voando longe.

-------------

No caminho para casa Laura sentia-se anestesiada. Precisava fazer bastante esforço pra se concentrar no caminho de tão aérea que estava, embora isso pouco adiantasse. Por duas vezes entrou na rua errada e acabou levando muito mais tempo do que o normal para chegar até seu endereço. Como que por defesa, sua mente encontrava-se completamente vazia, evitando que as lembranças da última hora a dominassem. Nem mesmo ver o nome de Taylor no celular fez com que reagisse. O máximo que conseguiu fazer foi desligar o aparelho quando parou em um semáforo vermelho.

Chegando enfim diante de seu prédio, Laura embicava o carro na entrada da garagem quando reconheceu a figura da pequena mulher de cabelos alvoroçados que andava de cabeça baixa e com as mãos nos bolsos. Aparentemente Natasha estava saindo da frente de seu edifício e indo em direção ao próprio carro.

Ao vê-la o primeiro pensamento de Prepon foi de que algo havia acontecido com Taylor e isso ocasionou uma descarga de adrenalina que fez com que seu corpo acordasse. Abrindo o vidro ela chamou:

- Natasha...

A mulher virou em sua direção abrindo um largo sorriso. Laura abriu a porta e fez um gesto para que ela entrasse no veículo.

- Aconteceu alguma coisa com a Taylor?- ela perguntou sem dar chance que a outra iniciasse a conversa.

- Opa. Você tá preocupada com ela? Sério? Porque ela me mandou vir aqui porque também tá preocupada com você.

Ouvir aquilo fez com que a lembrança das palavras de Taylor misturada à visão do beijo com Chloe atingissem Laura de uma só vez. Ela de repente começou a tremer.

- Ei, o que tá acontecendo Laura? Você tá tremendo - Lyonne ficou preocupada com o que via.

- Nada. Eu tô bem – ela tentou avançar com o carro para entrar no estacionamento, mas simplesmente não conseguiu.

- Sai do volante. Você não tá em condições de dirigir – como a morena não se mexesse, ela falou um pouco mais alto: - Anda, Laura. Passa pro banco de cá que eu assumo.

Natasha saiu do carro dando a volta e sentando no banco do motorista. Entrou na garagem e quando finalmente parou o carro em uma vaga, disse:

- Jesus, como você conseguiu chegar aqui desse jeito?

- Nem eu mesma sei – a morena continuava a tremer – Mas eu estou bem. Só preciso descansar. Obrigada por vir até aqui só pra isso.

- Não, você não está bem e eu não vou embora se é isso que tá insinuando. Você não tá em condições de ficar sozinha agora.

Para surpresa de Lyonne, Laura não protestou e se deixou ser conduzida para o elevador e, em seguida, até a porta de seu apartamento. Após entrarem,  encaminharam-se para a sala de estar e Prepon praticamente desabou no sofá.

Como se ali, protegida em seu mundo particular, ela pudesse finalmente deixar as emoções virem à tona, as lágrimas chegaram em profusão. Apoiou a cabeça no encosto do sofá e, olhando para o teto começou a chorar compulsivamente.

Em determinado momento lembrou-se da presença de Natasha e voltou a atenção para ela:

- Porque Natasha? Porque a Taylor fez isso comigo?

Lyonne parecia assustada em presenciar o estado que Prepon se encontrava. Ela nunca nem tinha visto a morena chorar, quanto mais daquele jeito. Antes que pudesse responder, Laura continou:

- Eu fui atrás dela porque não queria que terminássemos a noite brigadas. Ela me falou coisas horríveis e mesmo assim eu estava disposta a tentar consertar o estrago... – uma nova onda de choro interrompeu seu raciocínio.

Natasha aproximou-se e com todo o cuidado, conseguiu acariciar os cabelos da morena tentando trazer algum consolo.

- E quando a vi, ela já tava lá, com aquela garota em cima dela... Como eu consegui ser tão burra?

- Laura, eu não sei o que aconteceu entre vocês. Não presenciei a cena. A Tay nem teve tempo de me contar direito o que aconteceu de tão preocupada que estava em que eu viesse te ver. Mas uma coisa eu sei, ela é louca por você. Não teria porque ela ficar com a loirinha.

- Eu vi, Natasha. Eu vi. Talvez se alguém tivesse me contado, eu não teria acreditado. Mas eu vi – a voz dela tornou-se um pouco mais alta do que o normal – Eu devia ter escutado meu sexto sentido. Aquela garota nunca me desceu, mas a mentirosa da Schilling me garantiu que elas não tinham mais nada.

- E não tinham mesmo, ruiva. Talvez a garota tenha se aproveitado do momento, não sei.

- Para de defender ela. Eu sei que é sua amiga. Mas ela foi uma tremenda de uma filha da puta – a morena sacudia a cabeça como se quisesse afastar as visões de sua mente - Por isso ela me mandou voltar pra casa sozinha. Já tinha outros planos. Que idiota que eu sou!

Laura levantou-se do sofá e começou a andar de um lado pro outro. Ficando tonta com aqueles movimentos ininterruptos, Lyonne tomou coragem para chamá-la de volta ao sofá. A morena veio.

- Como é que eu consegui me enfiar nessa situação? Eu sabia que isso não ia dar certo. Ficar com uma mulher? Onde eu tava com a cabeça?

- Olha, não é qualquer mulher né? É “a mulher”. Tayloface é irresistível. Se ela não fosse tão minha amiga, até eu entrava nessa disputa.

- Não tem disputa nenhuma. Fica com aquela idiota pra você.

- Ei, calma. Só estou brincando. Vem cá, deita aqui – ela devia estar mesmo louca ao tentar que Laura Prepon deitasse em seu colo para ser consolada.

Mas ela não estava tão louca assim. A morena apresentava-se tão frágil que acabou repousando a cabeça em suas pernas.

- Amanhã vocês conversam e ela se explica. Vocês são completamente loucas uma pela outra. Eu achei que era só ela. Mas agora tô vendo o quanto você também tá envolvida.

- De jeito nenhum. Não tem conversa. Até porque antes mesmo de ver as duas juntas, as palavras da Taylor já eram suficientes para acabar com qualquer coisa que estivesse começando a acontecer entre a gente.

- O que ela falou de tão grave?

Laura pareceu pensar um pouco antes de desabafar mais ainda:

- Tasho, ela não consegue entender o quanto é difícil pra mim admitir que estou ficando com uma mulher. É muito pra minha cabeça. Mesmo assim, achei que o que estava sentindo era tão forte que não dava mais pra segurar. Paguei pra ver o que ia acontecer. E me fudi.

- Eu entendo você. Pode parecer que estou sempre querendo gozar com a sua cara, mas sei o quanto foi difícil pra você se entregar. Eu fiquei realmente surpresa quando soube que vocês tinham ficado. Eu duvidava até mesmo que isso aconteceria, ainda mais de forma tão rápida.

- Pois é. E tão rápido quanto começou, acabou.

Uma nova crise de choro surgiu, pausando a conversa entre as duas.

Após algum tempo, dando-se conta de que Taylor devia estar aguardando ansiosamente notícias suas, Natasha tentou pegar o celular na bolsa com cuidado para que a morena não percebesse o que estava fazendo. Foi em vão, na mesma hora Prepon se ergueu e vendo-a com o aparelho na mão sua expressão mudou no mesmo instante:

- Eu não quero que fale com ela daqui.

- Ei, Laura. Escuta... Taylor se tornou uma de minhas melhores amigas, eu amo aquela garota de verdade. Mas acho que só hoje consegui te conhecer realmente e entender o que ela viu em você. Você também é muito especial, tanto quanto ela.

A morena ia dizer alguma coisa, mas Lyonne não deixou:

- Sabe o que é engraçado? Eu te dei alguns avisos de que não partisse o coração da minha loira. Olha onde estou agora: aqui, com você – ela deu um sorriso ao dizer isso – E tenho que confessar que nesse momento quem tá merecendo uns bons tabefes é ela.

- Obrigada, Natasha. Obrigada mesmo. Nem sei como eu estaria aqui nesse apartamento sozinha em uma hora dessas. Mas eu gostaria que você não contasse absolutamente nada do que se passou aqui pra ela. Promete pra mim?

- Prometo, ruiva.  Mas posso ao menos mandar uma mensagem avisando que você tá bem? Ela ficou realmente preocupada.

Sem responder, Laura apenas deu de ombros. Mas ao ver a outra digitando algo no celular, uma preocupação a pegou em cheio também. Com a voz tomada pela timidez ela pediu:

- Você pode fazer só um favor pra mim?

Natasha parou o que estava fazendo e olhou-a curiosa:

- Claro, fala.

- Veja se ela está bem – ela tentou explicar melhor: - Parte de mim quer que ela se dane. Ela e aquela namoradinha dela. Mas tem outra parte que não quer que ela tenha uma nova crise de estresse e vá parar de novo no hospital. É bom que ela tome os remédios por precaução. E também não pode ficar comendo besteira. Você pode fazer isso por mim? Mas não pode dizer que sou eu que estou preocupada, tem que dizer que é você. Passa lá depois que sair daqui.

Lyonne a encarava sem acreditar no que estava ouvindo:

- Mas que merda... vocês deviam se ouvir falando. A coisa é muito mais séria do que eu imaginava. Vocês estão completamente apaixo..

- Esquece, Tasho. – Prepon novamente levantou-se e recomeçou o suplício de andar de um lado a outro da sala.

- Laura, relaxa. Deixa comigo. Eu não levarei nada do que houve aqui pra ela. Só vou tranquilizá-la. E vou cuidar também para que não deixe a saúde de lado.

- Ok.

- Você não quer tomar um banho e dormir?

- Dormir? Acho que não consigo. Tô pensando em sair de novo. Ir a um bar daqueles bem lotados e com música alta que me impeçam de pensar. Quer ir comigo?

- Ah não... aí é demais, ruiva. Tá me convidando pra sair com você pra beber e dançar? – a pequena mulher choramingava - E eu vou ter que recusar, porque senão a outra me mata.

- Você pode parar de falar nela?

- Sim, eu paro. Mas posso guardar esse seu convite pra cobrar em uma outra hora? Hoje eu não vou deixar você sair.

Prepon a olhou contrariada, mas tinha que confessar que nem ela tava com esse ânimo todo pra voltar pra rua. Era apenas uma tentativa de fuga.

- Quer que eu te dê um banho e te coloque na cama? – Natasha brincou com uma sugestão clara de sedução por trás das palavras.

- Só você pra me fazer rir a essa altura, Tasho. – Laura conseguiu dar o primeiro sorriso depois de horas - Você tem razão. Vou tomar um banho e deitar. Você pode ir.

- Nada disso. Vou preparar um chazinho especial pra te fazer dormir feito um anjo.

Laura arqueou as sobrancelhas como quem duvidasse daquela declaração:

- Você? Preparando chá?

- Porque ninguém nunca me leva a sério? Eu moro sozinha, sabia? Como acha que sobrevivo?

- É o que sempre me pergunto. – Laura fingiu uma expressão pensativa.

- Vai ruiva. Já pro banho ou eu mesma te jogo embaixo do chuveiro. Logo vou até lá com minha poção mágica.

Laura foi até seu quarto e assim que entrou no cômodo, o vazio voltou. Olhou para a cama que dividira algumas poucas vezes com Schilling, mas que já fora suficiente para sentir sua ausência quando se deitava ali sozinha.

Era bom que se acostumasse com isso, ela pensou, pois dali pra frente, no que dependesse dela, Taylor nunca mais poria os pés naquele apartamento. Quanto mais em sua cama. Ela ainda não podia acreditar no quanto as coisas mudaram tão rapidamente. Ao sair de casa, estava feliz e empolgada com a ideia de se encontrar com sua loira. Fazia planos de onde e como terminariam a noite juntas. E agora estava ela ali, decepcionada, triste e sentindo-se uma completa idiota. O destino realmente gosta de pregar suas peças.

A única grata surpresa da noite foi a presença de Natasha. Talvez ela fosse uma das últimas pessoas que Laura imaginaria que ficasse do seu lado num momento como aquele. Mas mesmo que tenha ido a pedido de Taylor, Lyonne realmente a ajudou bastante. A mistura de humor, firmeza e loucura em doses certas faziam com que se tornasse uma amiga perfeita para a ocasião. Ela a ouvia sem alimentar a dramaticidade das coisas, a consolava sem exageros e lhe passava força para seguir adiante.

Ao sair do banho, Laura colocou um roupão e voltou para a sala. Natasha estava concentrada no celular. Assim que notou a presença da morena, adiantou-se:

- Pode deixar que não entrei em detalhes. Ela está bem. Uzo vai passar a noite com ela e eu já repassei suas recomendações - vendo olhar de Laura, emendou: - Sem dizer que eram suas, óbvio. Agora toma o seu chá.

Prepon tomou logo o chá, que para sua surpresa estava realmente bom. Ela teve de dar o braço a torcer.

- Você resolveu me surpreender mesmo essa noite né?

- Não viu nada ruiva. E se as coisas realmente não derem certo com a loirinha, estamos aí.

- Desculpa, Tasho. Mas nunca mais na vida quero saber de me envolver com mulher de novo. Isso é insano. Vocês são muito complicadas.

- Nós??? Você é o que Laura Prepon?

- Uma mulher que gosta de homens.

- Ah... sei. Era neles que você pensava quando estava com a boca no meio das pernas da Schilling?

- Merda Natasha... não fode. Tá na hora de ir embora. Seu momento fofo já passou pelo visto.

Lyonne ria sem parar do desespero da morena. Era divertido ver Laura tão desconcertada.

Entre um bocejo e outro, Laura começou a se sentir sonolenta e achou melhor ir deitar:

- Vem cá – ela disse puxando Natasha para um abraço - Mesmo você sendo tão implicante comigo eu gosto muito de você. E nada do que eu disser vai ser suficiente pra retribuir o quanto me ajudou essa noite.

- Ok, ok - Lyonne falou já se livrando do abraço – Não gosto dessa melação toda não. Vai dormir que amanhã é um novo dia e tudo se ajeita.

Prepon levou-a até a porta se despedindo mais uma vez. Depois que a amiga se foi, ela precisou de um grande esforço para conseguir chegar até o quarto e se ajeitar em sua cama, tal o sono que sentia.

-------------

Schilling passou a noite em claro. Depois de quase duas horas de angústia até Natasha dar algum sinal, ela achou que enfim conseguiria se acalmar. Puro engano. Apesar de Lyonne ter garantido que Laura estava bem e em casa, acrescentou que não havia a menor possibilidade dela receber ou mesmo falar com Taylor naquela noite. E por mais que a loira tentasse arrancar algo do que fora dito entre elas, não obteve sucesso. Aquele mal entendido todo a estava consumindo terrivelmente.  

Ficou acertado que Uzo passaria a noite ali com ela. Vendo que a amiga não dormiria enquanto ela mesma não se deitasse, a loira arrumou o quarto de hóspedes garantindo que dormiria em seguida. E ela tentou. Mas foi em vão.

Às quatro da manhã, continuava acordada e resolveu arriscar uma nova chamada para Laura. Telefone desligado. Ela enviou uma sequência de mensagens. E fez mais três tentativas de ligações. Sabia que seria em vão, mas era a única coisa que podia fazer naquele momento ou sentia que enlouqueceria.

Perto das 5 da manhã, a exaustão a venceu e ela praticamente desmaiou. Mas às sete e meia estava acordada novamente. Sabendo que não conseguiria continuar deitada, tomou um banho e concentrou-se no celular. O telefone da morena continuava inoperante. Ela enviou mais mensagens.

Pensou em ir até a cozinha e preparar um café forte que a ajudasse a suportar o longo domingo que sabia que teria. Mas não estava preparada para encontrar Uzo e conversar sobre o que quer que fosse, por isso permaneceu no quarto.

Perto das oito horas, recomeçou as tentativas de contato com Prepon e para seu espanto, o telefone começou a chamar. A ligação não foi atendida, mas só o fato de Laura ter ligado o celular de novo já lhe deu forçar para insistir. Depois de mais três mensagens e duas chamadas, enfim a morena atendeu. Taylor sentiu que seu coração sairia pela boca ao ouvir aquela voz:

- Você vai continuar insistindo até quando? – dava pra sentir a raiva latente na voz de Laura.

- Até você me ouvir, Lau. Eu preciso falar com você. Tô indo pra aí.

- Nem pense nisso, Taylor. Eu não tenho nada pra falar com você. – o tom da morena era de advertência clara.

- Você não precisa falar nada, só me ouvir. – Schilling não desistiria tão facilmente.

- Eu não quero ouvir suas desculpas esfarrapadas. Guarde elas pra Chloe.

Há tempo Taylor não a ouvia pronunciar o nome de Chloe. Ela sempre se referia a ela como “aquela garota”, “aquela menina”. A situação era realmente grave.

- Por favor, Laura. Eu sei que errei feio. Estava nervosa, chateada e falei muita besteira no carro.

- Você só teve coragem de pôr pra fora tudo o que pensava, Taylor. Nada mais que isso. Podia ter feito isso antes, assim nem eu e nem você teríamos perdido tanto tempo à toa.

- Você sabe que não perdemos tempo algum. Sabe o quanto gostamos uma da outra. Prefiro falar com você pessoalmente.

- Não tem essa de conversar pessoalmente. Só atendi sua ligação pra mandar você parar de me atormentar. Eu sigo minha vida, você segue a sua. Obviamente teremos que trabalhar juntas ainda, mas isso não me preocupa mais considerando que conseguimos fazer um ótimo trabalho em Chicago quando as coisas também estavam ruins.

- Eu não a beijei Laura. Quer dizer, não conscientemente. Eu só conseguia pensar na nossa discussão dentro do carro. Quando me dei conta do que Chloe estava fazendo...

- Para... para de se fazer de vítima pelo menos uma vez. Aquela sonsa não vale nada. Mas eu vi Taylor, você tá esquecendo que eu vi. Ela não estava te agarrando à força. Vocês estavam se beijando. Não havia ninguém inocente ali. – a essa altura Laura berrava ao telefone, não conseguindo mais controlar sua raiva. – Eu tô morrendo de dor de cabeça, preciso desligar.

- Não desliga. Me desculpa, por favor. Você tem razão de estar com tanta raiva. Não sei o que eu faria se a situação fosse inversa. Mas você tem que acreditar quando eu digo que eu não estava a beijando conscientemente. Eu só pensava em você, Laura.

- Para de gozar com a minha cara, Schilling - a morena voltou a gritar – Eu daria tudo pra essa merda toda ser um pesadelo. Você tem noção do quanto minha vida tá uma droga? Só nesse ano eu descobri que o cara que de quem eu estava prestes a ficar noiva era uma fraude, por pouco não perdi o meu papel na série que eu amo fazer e como se isso não fosse o suficiente, virei a porra de uma amante. Amante de uma mulher.

Ao pronunciar essa última frase, o tom de desprezo na voz de Laura era tão grande que Taylor instantaneamente se encolheu.

- Imagina as manchetes nos jornais amanhã: Laura Prepon é uma piada nacional. A mulher que tanto planeja e organiza tudo, tá com a vida mais bagunçada que qualquer outra pessoa.

- Você nunca foi minha amante Laura – foi a única coisa que Schilling conseguiu dizer.

- Não? Tem certeza? Afinal ela era sua namorada. Eu cheguei depois. Então, pela lógica...

- Para de falar isso só pra me machucar. Tá cansada de saber que eu não estava mais com ela quando fiquei com você – as lágrimas começavam a brotar dos olhos da loira.

- Me diga uma coisa Taylor, o que você tava pretendendo ontem levando nós duas pro mesmo lugar? Era algum tipo de fantasia pervertida sua?

- É melhor parar Laura.

- Ah, agora você quer que eu pare? E porque você não parou ontem enquanto ainda havia tempo?

 - É o que eu também venho me perguntando. – por mais que tentasse, Taylor não conseguia se livrar das lágrimas. As palavras de Prepon estavam começando a doer demais.

- Você deve ter merda na cabeça pra achar que aquilo daria certo. Levar suas duas mulheres pra mesma boate. E pelo visto, quando você se deu conta de que não ia conseguir manter as duas lá, resolveu me mandar embora pra aproveitar melhor a noite só com ela.

- Eu te mandar embora? Você que quis ir embora.

- Com você. Eu queria ir embora com você –  claramente a voz da morena beirava o desespero – Mas a doce Taylor Schilling preferiu voltar para os braços da sua menininha.

Laura respirou fundo e a loira sentiu um arrepio prevendo que o que viria não seria nada bom.

- Levando em conta suas atitudes de ontem, Taylor, eu poderia dizer que me espanta saber o quanto você se comportou como uma vagabunda. Agindo como uma vadia qualquer que troca de mulher como quem troca de roupa. Mas prefiro manter algum respeito e não me referir assim a você.

- Você já fez, Laura. Acabou de me chamar de vagabunda e de vadia.

Sem dizer mais nada, Taylor interrompeu a ligação e jogou-se na cama irrompendo em um choro doído.

 


Notas Finais


Espero conseguir postar mais um capítulo ainda no fim de semana.


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