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História Apenas Ela - Viagens


Escrita por: DanyPS

Notas do Autor


Demoreeeeeei, mas voltei com o final de Apenas Ela.
E acho que essa demora pra conseguir escrever o capítulo foi uma forma inconsciente de evitar que acabasse. Vou sentir tanta falta quanto algumas de vocês.
Pretendo sim que essa estória tenha uma continuação. Só preciso amadurecer melhor algumas coisas e repensar outras. Espero de verdade ter fôlego e inspiração para postar a segunda parte.

E não podia deixar de agradecer cada comentário, cada favorito, cada chamada no bate-papo, cada mensagem privada ao longo desses quatro meses. Iniciei a fic de forma tão despretensiosa e às vezes ainda não acredito que cheguei aqui no 38º capítulo.

Enfim... aqui encerra uma etapa da estória de Laura e Taylor. Com certeza sentirei muita saudade dessas loucas.

Bjssss

Capítulo 38 - Viagens


Depois de quase dois meses se adaptando aquela nova rotina diária de casal, Laura e Taylor mal conseguiam acreditar em como as coisas estavam correndo bem. Muito melhor do que o esperado.

Schilling havia se preparado para ter mais paciência com os rompantes da namorada, fossem as crises de ciúme, fossem as ordens que ela adorava dar quando assumia o modo autoritária. Mas surpreendentemente esses rompantes não vieram. Pelo visto, todas as atitudes da loira no intuito de deixá-la à vontade para considerar aquele apartamento como sendo seu também havia surtido efeito. E Taylor também notou que depois do encontro delas com Chloe, Laura parecia muito mais segura. A loira fazia questão de agradecer a Deus todas as noites por ter colocado aquela mulher em sua vida.

De sua parte a morena também se preparara para aquela nova fase de coração aberto, porém sem esquecer o medo que sentia. Sabia que seria uma mudança radical em sua vida, uma decisão tomada praticamente do dia para a noite e que poderia não só mostrar-se precipitada como também abalar a relação das duas em níveis mais profundos.  Só que aquela bruxinha loira conseguia deixá-la cada dia mais apaixonada, fazendo de tudo para provar que Laura tinha feito a escolha certa. Não era raro Prepon acordar no meio da noite em dúvida se estava sonhando ao constatar que encontrava-se no quarto de Taylor e com ela em seus braços.

Obviamente nem tudo foi um mar de rosas. Houve sim pequenos desentendimentos, mas sempre por razões menores. Eles giravam em torno da indignação de Laura com a total falta de cuidado de Schilling com sua alimentação ou com a preguiça e o mau humor matinal da loira ou ainda com a ausência de malícia dela em perceber quando algumas pessoas se aproximavam por puro interesse. Taylor também se irritava nos dias em que acordava sozinha na cama e descobria que Laura já tinha saído de casa ou quando a namorada se juntava a Lyonne para provocá-la. O fato é que em qualquer uma dessas ocasiões, as queixas e resmungos não duravam mais que cinco minutos. Logo elas já estavam achando graça da situação e quase sempre terminavam a rusga penduradas uma no pescoço da outra.

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No fim de fevereiro de 2014 Laura não pôde mais adiar sua ida para Los Angeles. Desde a festa de Orange, ela só havia ido pra Califórnia uma única vez. Na ocasião, os planos era que ficasse por pelo menos uma semana. Mas como não tinha conseguido levar a namorada junto por conta de compromissos profissionais da loira, Prepon foi embora depois do terceiro dia. Jodi teve um dos piores ataques que Laura já havia presenciado e ficou tão brava que chegou ao ponto de ligar para Schilling fazendo queixa da falta de comprometimento da morena. Assim que chegou em Nova York, Laura teve de ouvir um sermão daqueles de Taylor e por pouco não se arrependeu de ter voltado.

Agora não dava mais pra escapar. Prepon tinha vários compromissos na cidade e Jodi a mataria se ficasse mais um dia sequer longe de sua casa na costa oeste. E tinha de admitir a saudade que sentia de Los Angeles. Amava aquela cidade e só não estava lá desde o fim das gravações porque seria impossível ficar longe de uma certa loira.

Para felicidade de Laura, as duas conseguiram encaixar tudo de forma que Schilling ficasse em Los Angeles enquanto a morena precisasse permanecer lá.

Assim que chegaram foi a vez de Prepon fazer de tudo para convencer Taylor de que agora aquela casa também era dela. Se o apartamento de Nova York passara a ser das duas, aquela residência também seria. Por mais que isso não tivesse sido feito de forma oficial através de documentos, o importante para Laura era que Schilling se sentisse tão proprietária daquele lugar quanto ela.

Mas para a loira era praticamente impossível aceitar essa ideia. O apartamento dela era infinitamente menor e muito mais simples que aquela mansão. Taylor achava que jamais conseguiria se sentir dona daquilo tudo. E por mais que tentasse fazer com que Prepon entendesse a diferença, a morena não entendia. Então depois de algum tempo simplesmente parou de tentar, embora continuasse se referindo ao lugar como “a casa de Laura”.

Prepon estava com a agenda cheia: fotos, entrevistas, reuniões, assinatura de contratos. Era o preço que estava pagando por ficar tanto tempo longe. Mas não tinha do que reclamar. Aquele ano prometia trazer bons frutos na área profissional e a morena tinha de agradecer Jodi por isso.

Taylor, já mais familiarizada com a cidade, acabou criando sua própria rotina enquanto a namorada estava trabalhando. Algumas vezes saía com Terasa e Rebecca, ela adorava a companhia das amigas de Laura. Outras vezes saía sozinha. Até que começou a perceber o quanto a morena ficava apreensiva quando isso acontecia e passou a evitar essa opção. Em alguns momentos preferia ficar em casa mesmo, lendo alguns clássicos ou vendo filmes.

 

Em um determinado dia Prepon quis fazer surpresa para a namorada e a chamou para acompanhá-la em uma sessão de fotos. Taylor amou a ideia. Quando a equipe viu que a loirinha também estava presente no estúdio, houve praticamente um surto. De uma hora pra outra eles queriam mudar todo o planejamento e convidaram Schilling a fazer parte do ensaio. Laura conhecia todos os profissionais envolvidos, pois já fotografara algumas vezes para aquela revista e tinha intimidade suficiente para recusar ferozmente aquela sugestão. O produtor e a fotógrafa prometeram de tudo à morena para tentar fazê-la mudar de ideia, mas Prepon foi firme. Não queria que sua relação com a namorada fosse exposta além do estritamente necessário.

De longe, Taylor acompanhava tudo se divertindo bastante e quando sugeriu a Laura que toparia fotografar ao lado dela e que podiam transformar aquilo em uma espécie de presente para os fãs, por pouco a morena não baixou a guarda. Mas ao imaginar o aumento do assédio de outros veículos depois que a revista fosse publicada, recuou novamente.

Laura era tão fotogênica que Schilling passou horas assistindo todas as poses que eram feitas a cada troca de roupa, hipnotizada com o que via e sem sentir o tempo passar. As melhores fotos foram as que flagravam a morena sorrindo ou simplesmente olhando a namorada. Havia uma energia tão palpável entre elas que todos no estúdio perceberam.

Com o trabalho encerrado, Prepon fez questão de se despedir de um por um. Demorou-se um pouco mais conversando com Celine, a fotógrafa, já que Jodi e Taylor estavam por perto, mas pareciam estar mais interessadas em analisar as fotos que foram tiradas.

- Quando estiver em Nova York, não esqueça de me procurar – era Laura quem falava.

- Oh, vou tentar. Ultimamente estou sempre no limite do tempo em minhas viagens. Depois que Jeremy nasceu ficou mais difícil sair de Los Angeles.

- Ele já deve estar enorme. Quando o vi ele tinha acabado de nascer.

Celine mexeu no celular por alguns segundos e quando achou o que procurava exibiu a tela para Prepon.

- Meu Deus, o danadinho já está andando. E essa é Ava? Não acredito... com quantos anos ela está agora?

- Quatro – a mãe orgulhosa anunciou.

- O tempo voa mesmo. Lembro-me dela naquela vez em que passamos o fim de semana fotografando na praia. Não saía do meu colo.

- Ela ficou apaixonada por você – Celine riu – Depois que voltamos não parava de perguntar da tia La.

- Ficarei aqui em Los Angeles por mais algumas semanas ainda. Vamos marcar de fazer algo, quero muito vê-los. Especialmente Ava.

- Ela vai amar. Acredita que até hoje quando ela vê você na tv ou em alguma revista a reconhece? Outro dia passamos por uma propaganda enorme de Orange e quando ela te viu de Alex Vause me perguntou se a tia La tinha feito tatuagens.

- Oh, jura que ela me reconheceu? – Prepon estava realmente encantada.

- Juro. Mas, falando em crianças... quando a senhorita terá os seus? Você me disse uma vez que queria uma família enorme como a que seus pais tiveram... com muitas crianças.

- Ainda não desisti dessa ideia. Terei no mínimo cinco filhos pra honrar a tradição de mamãe – Laura brincou.

A conversa seguia de forma espontânea e nenhuma das duas percebeu que tinham atraído a atenção de Taylor que acompanhava calada. Jodi tinha saído de perto por alguns minutos e quando voltou achou estranha a carinha triste que a loira apresentava, mas não entendeu o motivo. Avisou a Laura que precisavam ir e enfim as três deixaram o edifício.

Assumindo o volante, com Laura sentada a seu lado, Jodi perguntou:

- E aí meninas, o que preferem? Vamos direto ao restaurante ou pretendem passar em casa antes para trocar de roupa?

- Por mim podemos ir direto, estou morrendo de fome – a morena se pronunciou.

- Eu prefiro que me deixem em casa antes. Estou me sentindo um pouco enjoada.

- Ah não Tay. Tínhamos combinado jantar fora hoje – Laura virou-se para trás para poder olhar a namorada enquanto falava.

- Vocês podem ir sem mim. Eu não estou com fome – pelo espelho retrovisor, Schilling percebeu que Jodi a olhava de maneira inquisitiva.

- Sem você não tem graça, bebê. Então saímos amanhã e hoje pedimos uma pizza em casa mesmo. Pode ser? – ela virou-se pra frente novamente querendo saber a opinião da amiga.

- O que vocês decidirem pra mim está bom – Jodi deu de ombros.

Laura notou que pelo restante do trajeto Taylor ficou meio distante. Pra responder qualquer pergunta que fosse, precisava ser chamada mais de uma vez. Preocupada com a possibilidade da namorada estar ficando doente, achou mesmo que era melhor  irem pra casa.

Mal Jodi parou o carro na frente da residência de Laura, anunciou que iria pra sua própria casa:

- Garotas... já que vamos sair amanhã, vou descansar hoje. Tentar dormir cedo...

- Ah não, vocês são duas furonas – Prepon parecia não entender que o clima descontraído já tinha ido pro espaço.

Taylor desceu do carro e indo até a janela do motorista, deu um beijo no rosto de Jodi:

- Desculpe ter estragado o programa, mas hoje realmente não estou com vontade de sair. Me perdoa?

- Quem resiste a você, Taylor? Mas amanhã você não me escapa – Jodi estava a cada dia mais próxima da loira e já a considerava uma amiga especial, independente da relação que tinha com Prepon.

- Vou subindo – Schilling avisou a Laura.

Antes que a morena também saísse do carro, Jodi a surpreendeu ao perguntar:

- Que merda você fez agora?

- Eu?

- Óbvio Laura. Não percebeu como ela está?

- Sim, ela veio quietinha, calada. Tô achando que ela tá ficando doente. Vou checar direitinho quando entrar.

- Deixa de ser tonta mulher, ela não tá doente. Ela tá chateada com alguma coisa. Eu vi no rosto dela quando me aproximei de vocês para chamá-las pra virmos embora. Ela te olhava com uma carinha triste de dar pena.

- Jodi, eu não sei o que pode ter acontecido. Juro que não brigamos.

- Será que ela ficou com ciúme da Celine?

- Impossível. Estávamos conversando sobre amenidades, ela me mostrou o quanto os filhos tinham crescido. A Tay não é ciumenta a esse ponto.

- Bem, então eu não sei o que foi. Mas alguma coisa aconteceu pra deixar ela assim.

Despedindo-se da amiga, Laura entrou em casa cismada com aquela história. Não viu Taylor no andar de baixo e quando subiu para o quarto, percebeu que a loira já estava no banho. Pensando em uma forma de abordá-la sem que iniciassem uma discussão, Prepon resolveu juntar-se a ela.

Mal entrou no box porém, Schilling pegou a toalha e disse que já havia terminado.

- O que eu fiz Tay?- Laura conseguiu segurá-la pelo pulso antes que a namorada se afastasse totalmente.

- Você não fez nada, Lau. Eu que não estou bem.

- Taylor, você não vai fazer isso de novo. Não vai se afastar e se recusar a falar sobre algum problema que surgiu. Eu vou tomar um banho e depois vamos conversar. Por bem ou por mal. Portanto você tem alguns minutos para pensar em como vai me explicar o motivo de estar assim.

A loira saiu de cabeça baixa e a morena sentiu que precisava muito daquela ducha.

Ao deixar o banheiro, Prepon constatou que Schilling não estava mais no quarto. Ela então se vestiu com calma e se preparou psicologicamente para um possível embate que teriam. Já na sala, encontrou Taylor no sofá assistindo a qualquer coisa na televisão, ou pelo menos fingindo interesse. De qualquer forma, foi a loira a primeira a dizer alguma coisa:

- Pedi pizza.

- Ah é? Não era a senhorita que estava enjoada e sem fome? – a morena sentou-se a seu lado.

- Passou – Taylor disse simplesmente.

- Você não tem vergonha não, Schilling? – Laura ficou mais tranquila quando percebeu que a expressão da namorada estava um pouco melhor – Vem pra cá.

A morena trouxe Taylor para seu colo. Adorava ficar abraçada a ela dessa forma. Ficando assim, mais próximas, esperava que a loira se sentisse melhor para falar o que a afligia. Como a loirinha continuasse calada, Prepon passou a lhe dar beijos suaves no rosto, na cabeça, no pescoço.

- Você sabe que não gosto que haja segredos entre a gente, não sabe?

- Eu sei Lau... mas às vezes preciso de tempo para processar algumas coisas. E por isso fico mais calada – aconchegando-se melhor à namorada, Taylor deitou-se no ombro dela e escondeu o rosto em seu pescoço.

- Mas quando faz isso acaba nos afastando e o problema fica maior. Você já devia ter aprendido isso.

- Estou aprendendo – Schilling falou e em seguida deu um beijo no pescoço da morena.

- O que aconteceu hoje? – Laura foi direto ao ponto.

- Eu ouvi uma parte da sua conversa com Celine.

Prepon se remexeu. Jodi estava certa. Ela tentou olhar para Taylor, mas a loira fez força para manter a cabeça na posição que estava.

- Olha pra mim, Tay – Prepon pediu.

- Não. Prefiro continuar assim.

A morena aceitou e passou a acariciar os cabelos loiros aguardando que ela continuasse. Demorou mais um pouco, mas Taylor prosseguiu:

- Lau, eu nunca poderei te dar os filhos com os quais sonha.

Laura congelou por um tempo. Não mexia um músculo sequer tentando entender se realmente ouvira aquilo.

- Eu ouvi você dizendo que quer ter uma família grande como a dos seus pais. Mas enquanto estiver comigo, você não poderá realizar esse sonho. Isso não é justo com você e não é justo comigo porque algum dia acabará me cobrando. O tempo que tá perdendo ficando ao meu lado...

- Para... para Taylor – com esforço, ela conseguiu fazer com que a loira levantasse a cabeça e a olhasse nos olhos – Você não percebe a besteira que está dizendo?

- Laura, eu nunca poderei te dar um filho.

- Não da maneira convencional, Tay. Mas é claro que podemos sim formar uma família. Eu posso engravidar, você pode engravidar, podemos fazer inseminação, adotar... podemos ter quantos filhos nós quisermos.  Você tá me entendendo? Não importa como eles venham, de onde eles venham. Serão nossos de qualquer forma.

Foi a vez da loira ficar paralisada. Aquela ideia não tinha lhe passado pela cabeça ainda. Para ela o problema se resumia ao fato de que sendo mulher, não poderia engravidar Laura como qualquer homem faria. Ela mesma já deixara de se imaginar mãe fazia tempo. Mas abrir a mente para aquelas novas possibilidades era sim uma opção.

- Você realmente não se importa com isso?

- Taylor... quantas provas mais eu preciso dar de que te amo? Do quanto é sério o que nós estamos construindo? De que foi você que escolhi pra dividir a minha vida?

Schilling abraçou a namorada com tanta força que Laura teve medo de que ela quebrasse seus ossos. Depois de um beijo apaixonado, ela se afastou só o suficiente para conseguir falar:

- Eu te amo tanto – os olhos azuis mergulharam fundo nos olhos verdes – Te amo tanto que tenho medo de que uma hora você se dê conta do quanto sou imperfeita para você, Lau. Tenho medo de que me deixe. Porque se você me deixar, eu não sei o que farei com a minha vida. Pode parecer exagero, mas em pouco tempo você se tornou tão fundamental para mim como ninguém nunca foi. Eu consigo sobreviver sem minha família, sem meus amigos, sem meu trabalho. Sei que seria muito difícil, mas eu sobreviveria. Sem você, não. Sem você seria impossível sobreviver.

Ao pronunciar cada uma daquelas palavras, Schilling teve consciência da profundidade delas. E do quanto aquilo era verdadeiro. O quanto era real.

Taylor soube naquele instante que não importava o que havia acontecido em seu passado nem como seria o seu futuro. O fato é que aquela mulher bem ali na sua frente era e seria por toda a eternidade a pessoa mais importante de sua vida. Tudo o mais estava em segundo plano. Tudo o mais perderia a graça se ela não estivesse ao seu lado.

Somente Laura dera sentido à sua existência. Apenas Laura a fazia completa e irremediavelmente feliz. Mais ninguém.

Apenas ela.

Percebendo só agora que lágrimas escorriam sem parar pelo rosto da namorada, Schilling tentou suavizar a situação carregada de emoção que se formara:

- Tem uma coisa que ainda preciso te perguntar – ela conseguiu atrair a atenção da morena e com isso passou a enxugar suas lágrimas.

- O que é? – Prepon perguntou ainda com a voz embargada.

- Temos espaço pra negociação?

- Como assim?

- A questão dos filhos... podemos negociar?

Prepon ficou imediatamente tensa. Taylor percebeu a rigidez de seu corpo. Ficou com um pouco de pena, mas continuou séria.

- Você não quer ter filhos? É isso? – a expressão da morena agora beirava o desespero.

- Não é isso. É só que... – Schilling fez uma pausa, mas não conseguiu torturá-la por muito tempo mais -... precisa mesmo ser cinco? Não podemos parar no terceiro ou no segundo se já tivermos um casal?

- Taaaay... você quer me matar? – indignada, foi a vez de Laura apertar a loira o mais forte que conseguiu.

Schilling caía na gargalhada. Tentava se desvencilhar das cócegas, mas sem sucesso porque as risadas lhe roubavam toda a força.

Foi só quando o interfone tocou que Laura lhe soltou.

- Salva pelo gongo, Taylor Jane. Sua sorte é que estou azul de fome.

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Depois de uma temporada em Los Angeles e com as duas sem ter mais nenhum compromisso pendente, enfim chegou a hora de concretizar um dos planos de Laura que tinha gerado o grande mal-entendido: viajar durante um mês na companhia de Taylor.

Pela vontade da morena, elas até ficariam mais tempo fora para poder visitar um número maior de lugares. Porém, dentro de um mês e meio, seriam iniciados os trabalhos para o lançamento da segunda temporada de Orange e elas obviamente teriam que estar presentes. Assim, ficou decidido que viajariam para três países. Elas concordaram que não queriam fazer um roteiro tipo “volta ao mundo em 80 dias” e preferiam curtir de verdade cada um dos locais escolhidos. Acharam então, que três era um bom número para aquele período de trinta dias.

Foi Prepon quem escolheu o primeiro destino, Schilling escolheu o segundo e juntas, as duas chegaram a um acordo sobre o último ponto de parada daquela viagem.

Quando Laura mencionou que gostaria de ir com Taylor para a França, a primeira reação da loira não foi nada favorável. Agora, ao ouvir o nome daquele país, sempre lembrava o tempo que Prepon ficou fora com Dylan e o quanto elas se afastaram por causa disso. Aquele foi um período sensível para Schilling, ela realmente sofrera com o rompimento súbito de uma ligação que já sentia existir entre elas.

E quando a loira disse que estava aprendendo a falar sobre as coisas que lhe incomodava, não mentira. Ela não conseguiu disfarçar e embora houvessem combinado que cada uma teria autonomia para escolher um lugar, Taylor expôs que aquela ideia não lhe agradava e foi clara quanto aos motivos.

Mas Prepon era dura na queda quando queria algo e tratou logo de minimizar esse desconforto de Schilling. A França era um país maravilhoso, um dos mais visitados do mundo. Laura já havia estado lá antes de Dylan e pretendia voltar muitas vezes mais. Então, para ela, era um absurdo a namorada se privar de desfrutar um lugar tão especial por conta de um ex-namorado dela. No fim, a loira acabou concordando que Prepon tinha razão.

A morena então preferiu traçar um roteiro alternativo, onde iniciariam a jornada pelo interior da França. Uma região mais rural, porém não menos interessante que a capital cosmopolita, e que abrigava diferentes culturas, paisagens e tradições gastronômicas. Ela optou por permanecerem em Paris somente nos três últimos dias daquela primeira etapa da viagem.

Saíram de Nova York diretamente para Biarritz. A cidade, que já fora considerada a capital europeia do surf, era uma mistura de culturas, sotaques e sabores diferentes por estar localizada na fronteira com a Espanha. Taylor amou as construções lindíssimas e o mar de um azul único. Laura já havia estado ali antes e seu maior prazer era observar o prazer da namorada a cada descoberta naquele balneário perfeito.

Depois de três dias em Biarritz, elas alugaram um carro e no decorrer dos dias que se seguiram foram percorrendo diversas outras cidades, em uma rota que teria Paris como destino final. Laura amou Carcassonne. Ela ainda não conhecia a localidade, e permaneceram ali por dois dias. A cidade do século 13 era toda murada, com igrejas antigas, a fortaleza e a vila. Elas fizeram um passeio pelo canal e exploraram a região de bicicleta> À noite, com todo aquele cenário iluminado, elas sentiram-se como se fizessem parte de um conto de fadas.

Prepon e Schilling estavam adorando o fato de praticamente não serem reconhecidas naquele cantinho escondido do mundo, onde o tempo corria de uma maneira particular e as prioridades eram bem diferentes daquelas de onde vieram. Mesmo quando cruzavam com algum turista que as reconhecia, o que era raríssimo, não chegavam a ser importunadas. Somente um casal pediu para tirar foto com elas.

A próxima parada foi em Sète, uma cidadezinha pacata e sem grande apelo entre turistas estrangeiros. Ali desfrutaram de restaurantes charmosos e da companhia de um povo amigável antes de prosseguir viagem.

Passando por Lyon, mergulharam de cabeça na história do lugar, com suas passagens secretas, as ruínas romanas e ruas medievais. Apesar de ser a terceira maior cidade da França o lugar ainda conseguia manter vivo muitas características antigas.

Taylor já tinha consciência de que a estratégia usada pela namorada mostrara-se perfeita. Ela estava tão encantada com tudo que vira e vivenciara ao lado de Laura que o passado em nenhum momento apareceu para perturbá-la.

Isso até pisarem em Paris.

Mesmo tendo apreciado ao máximo cada localidade pela qual passaram, das maiores às menores, tanto a morena quanto a loira já estavam sentindo falta da agitação e de tudo que uma cidade grande tinha para oferecer. Assim, em sua segunda noite ali, elas decidiram ir a uma boate. Tentando ser um pouco mais sociável, Prepon entrou em contato com alguns amigos que fizera nos meses em que passara ali. O grupo era composto de franceses e americanos, todos ligados ao ramo gastronômico. Ela ficou surpresa com a forma carinhosa com que foi saudada por eles ao avisar que estava na cidade.

E foi então que aconteceu a primeira briga séria, depois de completados quatro meses desde que Laura havia se mudado para a casa de Taylor. E como era típico delas, o desentendimento foi em grande estilo.

Schilling estava terminando de se arrumar, enquanto Prepon a aguardava na sala de estar da espaçosa suíte em que estavam hospedadas. Precisando da ajuda da namorada para fechar o zíper do vestido, que ficava na parte posterior da peça, a loira foi até ela. Encontrou-a em pé, olhando através da ampla janela para as luzes lá embaixo e falando com alguém ao telefone. No momento em que Taylor se aproximou, percebeu que um sorriso meio sem graça se formou nos lábios de Laura, mas não deu muita importância. Ela parecia entretida na conversa e Schilling mostrou do que precisava. Enquanto a morena fechava o vestido, Taylor ouviu muito pouco do que era dito, mas Prepon ria em diversos momentos.

Foi na hora que já estava voltando para o quarto para dar uma ajeitada final no cabelo, que a loira ouviu o nome que seria o estopim:

- Claro que não, Dylan. Não me dará nenhum trabalho. Checo isso amanhã e te envio por mensagem.

Dylan? Era isso mesmo? Laura estava falando com aquele Dylan? E daquele jeito todo animado, com risadinhas e promessa de mensagens? Schilling não conseguiu esconder sua indignação e como Laura parecesse não ter percebido que ela tinha ouvido o tal nome ser pronunciado, fez questão de voltar até ela e ficar parada à sua frente de braços cruzados.

- Bem, preciso ir. Pode deixar, não esquecerei – a morena arrematou antes de interromper a ligação.

- Vou precisar perguntar o que significa isso?

- Tay... não é nada demais.

- Por que você estava no telefone com aquele idiota? – a loira tentava ficar calma.

- Tay... ele me ligou pra pedir um favor.

- Como assim, Laura? Desde quando vocês se falam para trocar favores? Você me disse por várias vezes que não tinha mais nenhum contato com ele.

- E não tenho. Mas ele soube que eu estava em Paris e pediu que procurasse um ingrediente que descobrimos existir somente aqui...

- Como é que ele sabe que você tá aqui em Paris? Você falou pra ele? Não mente pra mim, Laura Prepon – Taylor não era dada àquelas crises de ciúme, mas nem ela poderia aturar a situação como se fosse algo normal.

- Ei... eu não estou mentindo para você. Parece que um dos meninos com quem falei mais cedo mandou uma mensagem para ele dizendo que ia me encontrar. Nada demais, só para provocar...

- Ah... e aí, ele que conhece várias e várias pessoas que moram aqui em Paris, foi ligar justamente para você que está de passagem na cidade para pedir um favor? Qual é? Até eu que costumo ser mais devagar sei que essa história é lorota.

Laura fez uma expressão de quem não tinha pensado naquilo até então.

- Ok, desculpa. Se eu soubesse que você ficaria tão brava assim por eu tê-lo atendido, tinha ignorado a ligação. Mas não vamos brigar por uma bobagem dessas... vem cá – a morena tentou puxá-la para um abraço.

- Sem essa, Laura. Não tenta diminuir seu erro. Eu vi os risinhos... você não parecia nem um pouco entediada ao falar com ele.

- Ah, Taylor. Deixa esse assunto para lá. Podemos sair? Já está pronta?

A irritação de Schilling, ao invés de arrefecer, só foi aumentando ao ver que a postura de Prepon era mesmo de minimizar sua atitude.

- Não quero sair mais. Não quero me encontrar com um bando de gente que vai ficar me olhando de cima a baixo porque estou com a mulher que era namorada do amigo deles.

- Por favor, bebê... não começa. Estamos indo tão bem. Nós não vamos brigar por causa do Dylan a essa altura do campeonato.

- Então me responda uma única coisa. Dependendo da sua resposta, eu tento deixar esse assunto de lado – Schilling sabia que era mentira, mas queria fazer aquela pergunta pra namorada: - E se eu estivesse no telefone com a Chloe, rindo e prometendo ajudá-la com alguma coisa?

Ouvir o nome da garota que já lhe trouxera tantos problemas, fez com que a paciência de Laura fosse embora na mesma hora:

- Uma coisa não tem nada a ver com a outra.  Nem ouse fazer essa comparação, Taylor.

- E por que não? Ela é a minha ex tanto quanto ele é o seu ex.

- Agora ela é sua ex? – Laura berrou – Você disse que ela nunca foi sua namorada, disse que nunca tiveram nada sério. Agora ela é sua ex-namorada?

Dando-se conta do ato falho que cometera, Taylor tentou consertar, mas já era tarde:

- Eu não falei namorada... falei ex-caso, ex-ficante, ex-qualquer coisa. Mas não fuja da minha pergunta, o que faria comigo se eu estivesse no celular com a Chloe?

- Taylor... é melhor não irmos por esse caminho.

- Eu posso te responder. Você gritaria comigo, me xingaria e provavelmente encerraria a viagem aqui mesmo. Então não me peça pra ser compreensiva por te ver se oferecendo praquele babaca.

- Eu me recuso a estragar nossa noite por causa de alguém que está a quase dez mil quilômetros de distância. O pessoal já está nos esperando... vamos? – a morena estava decidida a encerrar aquele assunto definitivamente.

Taylor ainda passou alguns segundos olhando-a, tentando avaliar qual a melhor alternativa: bater o pé e se recusar a sair, correndo o risco de que Prepon fosse sozinha ou engolir o que sentia e tentar aproveitar o mínimo que fosse? Como ficar longe de Laura era sempre uma das piores opções, ela voltou para o quarto, terminou de se arrumar e alguns minutos depois o casal deixava o hotel.

Quando encontraram os amigos de Laura na tal boate, a morena percebeu que além de Aimee, Louis, Oliver e Alissa, ela não conhecia o restante das pessoas que estavam no grupo. Apresentou a namorada ao quarteto, que foi muito simpático com Taylor, para seu alívio, e depois as duas foram apresentadas aos demais. Analisando melhor os fatos, Prepon achou que era até melhor assim. Depois de quase dez dias vivendo na bolha que construíram ao redor delas, seria bom interagir com outras pessoas.  Principalmente depois da recente discussão que tiveram.

Enquanto conversava com Louis e Oliver, a morena ficou de olho em Taylor e para sua frustração, notou que a loira estava ingerindo bebida alcoólica em maiores quantidades que o normal. Ela estava de papo com Alissa e um outro homem a qual foram apresentadas, mas que Laura não lembrava o nome. A princípio tímida, a loira foi se soltando e já conseguia até rir de algo que os outros dois estavam dizendo.

Tentando prestar atenção no assunto que se desenrolava no círculo em que estava, Prepon viu-se em uma encruzilhada. Ou deixava a namorada à vontade com os outros e assim o clima tenso entre elas provavelmente passaria no decorrer da noite, ou ia até lá e ficava ao seu lado tentando evitar que bebesse demais.

Optando por só observá-la de longe, Laura tentou manter contato visual com a loira em vários momentos, mas Schilling parecia decidida a ignorar sua presença. Prepon tentava não dar muita importância aquilo até o momento em que viu Taylor soltar uma grande gargalhada, prontamente acompanhada por Alissa e pela mão dela no braço da loira. E o pior, ela não só tocou no braço de Taylor, ela deixou a mão lá. Não a tirou. Ver alguém tocando sua namorada, mesmo que sem segundas intenções, jamais faria com que Laura permanecesse inerte em qualquer situação que fosse.

Pedindo licença aos amigos, ela foi até onde Schilling estava e parou a seu lado, abraçando-a pela cintura. A loira olhou-a um tanto quanto confusa, mas Laura, sem a menor cerimônia, passou a fazer parte da conversa. No momento em que Alissa e o tal homem se afastaram a pretexto de buscar mais bebidas, a morena foi direta:

- Você tá bebendo demais. E eu não gostei de ver a Alissa pegando em você.

- A garota é sua amiga, não minha. Vai ficar com ciúme dela?

- Tay, se tá fazendo isso pra me provocar... já funcionou. Pode parar.

- O mundo não gira ao seu redor, Laura Prepon. Assim como você, eu resolvi que não quero estragar minha noite e vou me divertir sim, se isso for possível – ao terminar de dizer isso, Taylor foi andando em outra direção – Preciso ir ao banheiro.

Vendo-se parada ali sozinha, Laura respirou fundo e foi procurar um dos amigos. Quando Oliver a chamou para dançar, ela aceitou sem pestanejar. Precisava liberar energia ou acabaria discutindo com a namorada na frente de todos.

Depois de quase uma hora na pista de dança e sem nenhum sinal de Schilling por ali, Prepon achou melhor se hidratar um pouco e aproveitar para checar o estado em que a loira se encontrava. E qual não foi sua surpresa ao ver Taylor sentada em um sofá, cercada por mais quatro pessoas e parecendo ser o centro das atenções. Na mesma hora, Laura imaginou que ela já devia estar bêbada. Pronta para tirá-la de lá e chamá-la para ir embora, a morena ficou tensa quando foi se aproximando e viu a mão de Alissa pousar no ombro de Taylor enquanto lhe dizia alguma coisa.

Que merda era aquela? Quem Alissa pensava que era para demonstrar tanta intimidade com sua namorada quando tinha acabado de conhecê-la? E que diabos Taylor tinha na cabeça para permitir aquela liberdade? Sentindo o sangue ferver, Prepon apressou o passo até elas, desviando-se das pessoas que cruzavam o seu caminho. O que aconteceu a seguir foi tão rápido, que Laura não conseguiu entender direito a dinâmica da coisa. O fato é que em um momento Alissa, que estava sentada no braço do sofá ao lado de Taylor, inclinou-se para dizer algo mais perto da loira, no momento seguinte ela perdeu o equilíbrio, e segundos depois literalmente caiu sentada no colo de sua namorada, que pareceu achar tudo muito engraçado e em vez de tirar a mulher dali só conseguia rir.

Aquela cena patética foi a gota d’agua para Laura. Ela já estava bem perto delas e Alissa foi a primeira a vê-la. Ainda rindo, ela foi se levantando e parecia querer explicar o que tinha acontecido, mas de jeito nenhum que Prepon pararia para ouvir. Indo até onde havia deixado sua bolsa, ela a pegou e foi em direção à saída do local sem dirigir a palavra a ninguém, nem mesmo para se despedir.

Ela achava ter ouvido alguém chamar seu nome, podia até mesmo ser a voz da loira, mas sua mente tinha entrado em transe e seu único objetivo era sair daquele lugar e ficar o mais longe possível de Schilling e daquela palhaçada toda.

 

Taylor já estava de volta em sua suíte. Ainda tentava entender o que tinha acontecido. Não porque estivesse bêbada a ponto de ter perdido p discernimento, mas sim porque tudo se desenrolara tão rápido que foi difícil acompanhar.

Ela estava irritada com Laura e preferira ficar longe para não passarem a noite trocando farpas. Para sua surpresa, descobriu que os amigos da namorada eram bem legais e em nenhum momento se sentiu intimidada por eles. O que só serviu para ajudá-la em seu propósito de manter uma distância segura até que as coisas se acalmassem. Acabou ficando mais próxima de Alissa e não notou nenhuma maldade da parte dela, nem mesmo quando Laura veio reclamar da garota ter tocado em seu braço. Mas Schilling tinha de confessar que se aproveitou um pouco da situação ao perceber que a namorada estava roxa de ciúme. Seria bom que ela provasse um pouquinho do próprio veneno. Além do mais, Alissa não tinha o menor interesse nela, estava noiva e o rapaz só não tinha ido porque ainda estava trabalhando. Se Laura Prepon não sabia dessa informação não seria ela que iria contar.

Tudo estava sob controle, até Laura resolver sumir. Por mais de uma hora. Alguém havia dito que ela estava dançando, mas a loira preferiu não ir atrás. Permaneceu onde estava, esforçando-se ao máximo para se distrair da pequena crise em seu relacionamento. E então, estava rindo com alguma história que alguém contava quando Alissa se desequilibrou e caiu em cima dela. As duas não conseguiram parar de rir da situação ridícula e foi aí que Taylor viu Laura passar feito um foguete por elas, pegar a bolsa e sair. Ainda tentou ir atrás, mas a morena pareceu criar asas nos pés e quando Schilling chegou na calçada ela já tinha sumido.

Voltando para dentro da boate, ela pegou o celular e começou a ligar insistentemente para a namorada, que obviamente não atendeu. Imaginando que Laura tinha preferido voltar sozinha, Schilling, envergonhada, despediu-se de todos e recusou todas as caronas oferecidas. Pegou um táxi e em menos de meia hora chegara ao hotel. Entrou no quarto rezando para que Prepon já estivesse lá. Não estava.

O que inicialmente era frustração, com o passar das horas transformou-se em apreensão e depois em desespero. A loira andava de um lado pro outro. Já esperava por Prepon há mais de quatro horas. Dentro de pouco tempo estaria amanhecendo e nem sinal de sua namorada. As ligações primeiramente não atendidas, agora caíam direto na caixa postal e Schilling já estava começando a imaginar as piores coisas possíveis.

E se Laura tivesse sofrido um acidente? E se tivesse sido assaltada? E se tivesse passado mal? E se alguém a tivesse sequestrado? Estar sozinha naquele quarto, sem ter ninguém para dividir sua angústia só piorava as coisas. Ela estava a ponto de ligar para Natasha, Jodi ou até mesmo Marjorie pedindo uma luz. Não sabia o que fazer. Deveria sair pela cidade à procura de Prepon? Ir à polícia? Pedir ajuda na recepção? Ou simplesmente continuar aguardando?

Taylor não conseguia mais segurar as lágrimas e já se preparava para descer até o hall, pois não aguentaria mais um minuto sequer trancada ali, quando ouviu um barulho na porta e a figura morena finalmente apareceu. Prepon estava com uma expressão cansada, mas parecia bem. A loira olhou-a de cima a baixo.

- Onde você estava? – Schilling conseguiu perguntar em um sussurro, ainda parada no mesmo lugar.

A morena pareceu ficar em dúvida se devia responder. Foi andando em direção ao quarto e disse simplesmente:

- Eu precisava de tempo e espaço.

- Eu achei que tivesse acontecido algo com você. Porque não me atendeu ou respondeu minhas mensagens simplesmente para dizer que estava bem? Você tem noção do meu desespero? – Taylor começou a se sentir estranha. Seu corpo parecia esquentar e algumas partes estavam trêmulas.

- Não parecia que você estava se importando comigo em qualquer momento dessa noite desde que deixamos o hotel. De qualquer forma, preciso dormir. Ainda pretendo fazer algumas coisas na cidade hoje e amanhã partimos pra Turquia - Prepon soltou antes de ir para o quarto.

Ver Laura tratando-a de forma tão indiferente e irônica depois da tensão que havia passado com medo de que algo lhe tivesse acontecido, fez com que Schilling tivesse suas sensações agravadas e toda a tensão emocional acumulada foi liberada em uma descarga única. Ela foi tomada por uma tremedeira intensa. Não conseguia falar, não conseguia se mover, apenas tremia enquanto lágrimas desciam por seu rosto.

A essa altura, Prepon já não estava mais na sala e não podia ver a gravidade da situação.

 

Laura estava no banheiro retirando o vestido e preparando-se para um banho reconfortante, mas de forma inexplicável sentiu um arrepio. Olhou para trás pensando que Taylor podia estar ali. Não estava. Já prestes a tirar a lingerie, Prepon voltou a sentir o arrepio e dessa vez foi atrás da loira. Quando viu o estado em que a namorada se encontrava, chorando, com os olhos vidrados e tremendo dos pés a cabeça, foi ela que entrou em desespero. Correu para abraçá-la.

- Ei, o que foi? Calma Tay... não tem porque ficar assim. Está tudo bem – ela dizia enquanto envolvia a loira em seus braços, mas não havia nenhuma reação da outra parte.

Assustada, Prepon tentou guiá-la até o quarto:

- Vem comigo. Vamos deitar. Vem, Tay.

A loira não parecia estar ali.

- Amor, estou ficando com medo. Olha pra mim – Laura olhou-a, os rostos bem próximos – Eu te amo, Tay. Desculpa. Não queria te deixar preocupada, só não queria fazer um escândalo na frente de todo mundo e achei que era melhor sumir até me acalmar. Eu não fiz isso pra te magoar. Fala comigo... fala alguma coisa, pelo amor de Deus.

As palavras surtiram efeito, e Schilling foi saindo do estado catatônico em que se encontrava. Ela começou a piscar e o choro silencioso, transformou-se em um choro convulsivo. Mas ela finalmente se moveu. Jogando-se nos braços de Laura, começou a falar entre soluços e lágrimas:

- Desculpa... eu não queria brigar com você. Não queria. Mas nunca mais faça isso. Nunca mais suma desse jeito.

- Não farei. Nunca mais. Nunca mais. Prometo – agora a morena também chorava.

Finalmente Prepon conseguiu levar Schilling até o quarto. Tirou a roupa que a loirinha ainda usava e deitou-se a seu lado, abraçando-a o mais forte que conseguiu. Nenhuma das duas falou mais nada durante um longo tempo. Não era preciso. A única necessidade ali era sentirem uma à outra. Taylor ainda demorou para se recuperar totalmente da crise nervosa, para conseguir relaxar e dormir.

Contrariando os planos que haviam sido feitos, elas passaram aquele último dia em Paris dentro do quarto. Não tinham vontade de fazer qualquer outra coisa que não fosse ficar juntas, literalmente grudadas. Fizeram amor, trocaram carícias, beijos e saíram da suíte à noite, porém somente para jantarem ali mesmo no restaurante do hotel.

No dia seguinte elas pegariam um voo rumo a Istambul e prometeram que aquele maldito episódio ficaria para trás, não carregariam junto com elas na bagagem.

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A Turquia fora o destino escolhido por Schilling. A loira possuía uma verdadeira fascinação por culturas diferentes e achou que aquela viagem seria uma boa oportunidade para explorar algo novo. O país, de uma beleza fantástica, era o mais ocidentalizado daqueles que compunham o mundo islâmico e por isso elas acharam que seria uma escolha segura, já que viajavam sozinhas e não conheciam ninguém por lá.

De forma diferente ao que fizeram na França, elas contrataram dois guias permanentes e optaram por programas típicos dos turistas convencionais. Laura deixou que Taylor planejasse todo o roteiro e embarcava em qualquer aventura que a namorada sugeria. Acordavam cedo, passavam o dia todo na rua e saíam praticamente todas as noites. Mesmo retornando ao hotel completamente exaustas, no dia seguinte elas sempre estavam prontas para mais uma jornada.

Permaneceram em Istambul por três dias, visitaram os pontos tradicionais: a Mesquita Azul, o Museu Hagia Sofia, o Mercado de Especiarias. Também experimentaram o típico banho turco e um passeio de barco pelo estreito de Bósforo. E fizeram compras, muitas compras. Prepon estava fascinada com o colorido do lugar e Schilling tinha que controlá-la ou voltariam para casa com o triplo de bagagem.

Saindo de Istambul, elas foram para a Capadócia e não puderam deixar de se aventurar no famoso passeio de balão. Eles subiam de manhã bem cedo e a paisagem deslumbrante que se estendia até onde a vista alcançava tornava tudo ainda mais romântico. As duas mulheres pareciam estar ainda mais conectadas do que na França, se é que isso era possível, e definitivamente o pequeno incidente em Paris havia caído no esquecimento.

Elas também conheceram Ankara, a capital do país, Éfeso, Pamukkale e Kusadasi.

Os dias que passaram naquele país proporcionaram uma experiência única à Laura e Taylor. Conhecer e vivenciar cada um daqueles lugares como turistas comuns, trouxe um pouco de normalidade às suas vidas. Algo diferente do que experimentavam em seu próprio país, principalmente depois que anunciaram seu relacionamento. Foram embora com a promessa de retornarem outras vezes e só não se renderam a uma saudade precoce, pois ambas estavam ansiosas para finalmente chegarem a seu destino final.

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No vigésimo primeiro dia de viagem, o casal aterrissou na Costa Rica. Não foi difícil para elas entrarem em um acordo e decidirem passar os últimos dias daquele mês idílico no pequeno país da América Central.  Ali buscavam paz, calmaria, descanso e privacidade antes de voltarem às suas agitadas rotinas. Ambas precisavam de um lugar que fosse especial, que ficasse eternamente gravado em suas lembranças.

Hospedaram-se em um bangalô privativo de um resort extremamente luxuoso. Depois de dias e dias em carros e aviões, indo de um lado para o outro, mereciam ser mimadas com o que havia de melhor. Suas acomodações ficavam de frente a uma praia paradisíaca de mar azul cristalino e areia branca. O cenário era perfeito.

Elas se entregaram a um novo ritmo naquele paraíso, mais lento, mais preguiçoso. E talvez por isso tinham a impressão de que todas as sensações apresentavam-se de maneira aguçada, já que havia mais tempo disponível para desfrutá-las. Abandonaram o relógio e combinaram de só acessar celular uma vez por dia, apenas o suficiente para saber se o mundo não tinha acabado e assegurar os familiares e amigos de que continuavam vivas.

Laura geralmente acordava logo depois do amanhecer e corria alguns quilômetros na areia da praia deserta. Quando voltava ao quarto, acordava a namorada preguiçosa que sempre fazia manha e ia tomar um banho.

Durante o dia elas exploravam as ilhas mais próximas, praticavam mergulho, conheciam vilarejos, faziam trilhas. À tarde se entregavam aos serviços oferecidos pelo resort: banhos, massagens, tratamentos. Mas tudo sem pressa. A restrita extensão territorial do país permitia isso. Faziam questão de conhecer os moradores do lugar e ouvir as histórias que eles tinham para contar.

Mas independente do programa que escolhiam, Taylor sempre fazia questão de que estivessem de volta ao bangalô no fim da tarde, para assistirem juntas na varando ao pôr-do-sol deslumbrante.

À noite elas jantavam em algum restaurante típico ou no próprio resort. Às vezes saíam para um passeio noturno, às vezes apenas ficavam no quarto namorando.

Porém, depois de três dias ali, Prepon notou algumas mudanças sutis na namorada. Ela parecia distante em alguns momentos, aérea. A morena chegou a temer que houvesse algum traço de tristeza naquele novo estado de Taylor. Acompanhando de perto cada reação da loira, ela ficou mais aliviada e constatou que ela apenas estava mais pensativa. Por duas vezes perguntou se havia algo errado, mas Schilling garantiu que estava tudo ótimo. Laura decidiu então não pressioná-la, daria tempo para que se abrisse quando desejasse, se fosse o caso. Taylor continuava carinhosa e afetiva, não se esquivava da namorada, não recusava um beijo sequer e isso de certa forma tranquilizava Prepon.

No entanto, passados mais dois dias, a morena viu que a coisa só piorava. Precisava chamar Taylor várias vezes quando queria sua atenção voltada pra si. A loirinha passou a acordar mais cedo, a comer menos e quando Laura notou sintomas nítidos de ansiedade na namorada, foi impossível não se preocupar. Encostou Schilling na parede e obteve como resposta que ela estava melancólica pelo fato da viagem estar chegando ao fim e por terem de voltar à rotina. Schilling agradeceu-a por ter feito com que aquele sonho se tornasse realidade e jurou que sempre se lembraria do esforço de Laura para que aqueles dias fossem possíveis.

A morena realmente tentava acreditar no que Taylor dizia, fazia total sentido aquela melancolia pela proximidade do momento de retornar à Nova York. Ela também sentia o coração apertar a cada vez que pensava nisso. Mas, por outro lado, não era muito lógico perder os últimos dias que tinham justamente se preocupando com aquilo. Por isso, a explicação de Schilling não foi engolida assim tão facilmente.

Na tarde do dia seguinte, elas tinham acabado de voltar de uma trilha localizada em um parque ecológico e Laura ainda estava cismada com o nervosismo que a loira demonstrou durante quase todo o percurso. Diferente do que acontecera em todos os outros passeios que fizeram, dessa vez Schilling não parecia estar aproveitando nada.

Assim que entraram no quarto, na tentativa de fazer com que a namorada relaxasse, Prepon a abraçou por trás, demonstrando que suas intenções não eram nada inocentes. Mas para seu espanto, Schilling livrou-se do abraço mais que depressa:

- Não, Lau... tô suada. Preciso de um banho.

- Eu também estou suada, Tay – Prepon protestou – Mas se prefere, podemos fazer no chuveiro. Você sabe o quanto adoro isso.

- Nada disso. Se entrarmos juntas no banho, vamos demorar a sair e logo o sol se põe.

- Amor, eu também acho o máximo esse hábito que criamos de assistir o anoitecer juntas todos os dias. Mas não é como se estivéssemos cometendo um pecado se nos atrasarmos um pouquinho hoje – ela suplicou com uma carinha pidona.

- Já disse que não, Laura – a loirinha falou de forma um tanto brusca.

Magoada, a morena desistiu. Para o clima não pesar, ela pegou o celular e gastou sua cota diária em uma ligação para a mãe. Marjorie a manteve atualizada das últimas novidades de sua família, que nem eram tantas assim. Taylor saiu do banheiro logo depois que Laura encerrou o telefonema e, como ainda estivesse sentida com a atitude da loira, a morena foi tomar seu banho sem nada dizer.

No chuveiro, Prepon pensou em fazer birra e demorar de propósito para que Taylor assistisse sozinha ao pôr-do-sol e quem sabe assim desse mais valor à sua companhia. Mas era lógico que Laura não conseguiria fazer isso. Schilling estava transformando-a em uma molenga.

Após se vestir, a morena foi até a varanda e ficou intrigada quando viu que a loira não estava por ali. Olhando na direção da praia, achou a namorada sentada perto do mar. Ver o efeito que os raios de sol provocavam nos cabelos loiros e na pele branca de sua garota, deixou Laura ainda mais encantada. Era como se estivesse vendo um anjo. Jamais cansaria de dizer para Taylor o quanto a amava, porque a cada dia ela se descobria amando-a de uma forma diferente.

Em mais uma prova do quanto a conexão entre elas era poderosa, Schilling virou-se com um sorriso estampado no rosto, como se já soubesse que Laura estava bem ali. Com um gesto, a loira chamou-a para se juntar a ela. Atendendo-a prontamente, Prepon achou-a especialmente linda naquela camisa branca de botões, larga e com mangas compridas. Por baixo, Taylor usava um short jeans tão curto que mal se via. E os olhinhos azuis brilhavam como nunca.

- Eu já disse que te amo hoje? – Laura perguntou assim que se acomodou ao lado dela.

- Cinco vezes.

- Hum... então estourei minha cota?

- Não. Ainda tem direito a mais cinco “eu te amo”.

- Tudo isso?

- Você acha muito? – Taylor brincou – Eu acho pouco.

- É bom saber que voltou ao normal. Você anda muito esquisita – Laura aproveitou o momento leve para dizer a verdade.

- É, eu sei... – Schilling concentrou a visão no mar e pareceu perder-se nele.

-------------------

O sol já estava baixo no horizonte e ao dar-se conta de que a hora chegara, Taylor teve de se esforçar para não ser atacada novamente por aqueles tremores ridículos. Aliás, ela toda vinha se comportando de forma ridícula nos últimos dias e odiava-se por isso. Schilling sentia-se patética por não conseguir guardar um segredinho que fosse sem produzir efeitos colaterais visíveis. Que espécie de atriz ela era? Tudo bem que ali não se tratava de encenação, era sua vida real; ela pensava ao tentar amenizar o seu lado em uma batalha com ela mesma.

- Quando vai me dizer o que está acontecendo? – ouviu Laura perguntar.

- Agora – ela respondeu virando-se e olhando nos olhos da namorada.

A princípio, Prepon pareceu surpresa, mas depois sua expressão suavizou-se e no momento em que abriu um largo sorriso, como que a encorajando a falar o que quer que fosse, grande parte da insegurança e dos medos de Schilling deram lugar à uma coragem e uma determinação que nem ela sabia que tinha. Havia tomado a decisão no dia que ela e Laura tiveram uma conversa sincera sobre filhos. Mais tarde, ao dividir seu desejo com Natasha, a amiga foi fundamental para convencer-lhe de que estava indo no caminho certo.

- Lau... primeiro quero pedir desculpas por estar “esquisita” como você mesma disse -  Schilling tentou sorrir para descontrair, mas a morena a ouvia atentamente – A verdade é que ando meio nervosa sim, apreensiva e com um frio na barriga que não passa nunca. Há dias venho tentando pensar numa maneira especial de fazer isso. Escrevi um texto enorme, tentei decorá-lo, rabisquei um poema, mas nada deu certo. Achei tudo horrível.

Fez uma pausa. Laura a olhava, totalmente confusa com aquele discurso. Para sorte de Taylor, a namorada nem sequer sonhava com um pedido daqueles e assim, mesmo de sua forma atrapalhada, a loira conseguiu manter seu plano em sigilo. Ela continuou:

- Eu sou um tanto atrapalhada, admito. E as probabilidades das coisas saírem erradas quanto mais eu inventasse eram grandes, por isso achei melhor que fosse algo simples e natural. Tão simples quanto um pôr-do-sol qualquer em uma praia qualquer de um lugar qualquer.

Tirando uma caixinha minúscula do fundo do bolso largo da blusa que usava, ela fez questão de fitar o mais fundo possível dentro daqueles olhos verdes antes de dizer:

- Laura Helene Prepon... você quer casar comigo?

Ainda com o olhar fixo no rosto da namorada, ela abriu a caixinha e o brilho do diamante foi intensificado quando os últimos reflexos dos raios de sol atingiram a pedra em cheio.

Laura estava paralisada. As sobrancelhas arqueadas, os olhos arregalados e a boca aberta eram a confirmação de que ela tinha ouvido o pedido de casamento que acabara de receber. Se não fosse isso, Schilling teria dúvidas se ela realmente entendera. No princípio, a loira até achou graça daquela reação abismada de Prepon. Mas quando o silêncio se prolongou, Taylor foi tomada pela dúvida se não tinha sido precipitada, se não tinha apressado as coisas antes da hora. Sem saber se repetia a pergunta ou não, foi a vez dela entrar em choque quando viu a namorada baixar a cabeça e balançá-la forma bem sutil de um lado para o outro. Laura estava dizendo não a seu pedido de casamento? Era isso?

E quando Prepon levantou-se abruptamente e saiu correndo pela areia na direção da casa, Taylor foi tomada por uma vergonha tão grande que nem conseguiu chorar. Seu rosto ardia e ela imaginou o quanto devia estar vermelho. Colocando a caixinha ao seu lado na areia, cruzou os braços sobre os joelhos levantados e observando o horizonte, tentou avaliar a gravidade do que acabara de acontecer. Como conseguiria olhar Laura nos olhos novamente dali pra frente? Ela não estava com raiva da namorada. Mas doía ser rejeitada daquela forma sem ao menos uma palavra de consolo. 

Passaram-se cinco minutos, os mais longos da vida da loirinha, até que ela notasse um movimento atrás de si. Olhando para trás, viu que Laura vinha correndo de volta em sua direção. Taylor não sabia se renovava as esperanças ou se aquilo significava somente que Prepon viria explicar os motivos de sua resposta negativa. O fato é que seu coração batia descompassado no peito e ela sentiu as mãos trêmulas.

Praticamente se jogando na areia ao lado de Schilling, a morena estava com a respiração acelerada:

- Desculpa, demorei? – ela conseguiu dizer mesmo arfando.

Foi a vez da loira mostrar-se confusa. Será que a namorada ia preferir agir como se nada tivesse acontecido? Saíra e voltara no intuito de que Taylor entendesse que ela preferia que aquele momento fosse esquecido e assim elas podiam seguir em frente normalmente? Corroída por tantas perguntas, foi Prepon que a tirou de seu suplício:

- Desculpa, Tay. Eu precisava pegar isso – foi só então que Schilling notou que Laura trouxera o celular e os fones de ouvido junto com ela.

- Antes de te responder, quero que ouça isso – Prepon assumiu uma expressão culpada. Inseriu um dos fones no ouvido da loira e o outro em seu próprio ouvido. Mexeu no aparelho e sorriu.

Taylor, em expectativa, estranhou quando os primeiros acordes de uma canção desconhecida para ela começaram a ecoar. Não se lembrava de ter ouvido aquela música antes.

Forever can never be long enough for me

(Para sempre pode nunca ser o suficiente para que eu)

Feel like I've had long enough with you

(Sinta que já tive tempo suficiente com você)

Forget the world now we won't let them see

(Esqueça o mundo agora, não vamos deixá-los ver)

But there's one thing left to do

(Mas há uma coisa a fazer)

 

Now that the weight has lifted

(Agora que o peso foi levantado)

Love has surely shifted my way

(O amor certamente mudou meu jeito)

Marry Me

(Case comigo)

Today and every day

(Hoje e todos os dias)

Marry Me

(Case comigo)

Schilling levou as mãos à boca e a cada palavra cantada, uma lágrima brotava em seus olhos. A mulher que amava era a pessoa mais maravilhosa da face da terra. Ela também a estava pedindo em casamento? Ela também planejara aquilo? Será que merecia tanta felicidade assim? Precisando se certificar de que estava entendendo direito, ela voltou a prestar atenção na letra:

Promise me

(Prometa-me)

You'll always be

(Você sempre será)

Happy by my side

(Feliz ao meu lado)

I promise to

(Eu prometo)

Sing to you

(Cantar para você)

When all the music dies

(Quando todas as músicas morrerem)
 

And marry me

(E case comigo)

Today and everyday

(Hoje e todos os dias)

Marry me

(Case comigo)

Foi a vez de Laura puxar uma caixinha rosa do bolso traseiro do short e fazer o pedido oficialmente:

- Taylor Jane Schilling, eu aceito me casar com você. E você? Aceita se casar comigo?

- Sim, sim, sim... para sempre sim!!

A loira se jogou nos braços da namorada derrubando o anel, o celular, os fones de ouvido... mas nenhuma das duas pareceu se importar com o incidente. Elas riam e choravam enquanto trocavam um beijo apaixonado.

- Então é isso? Agora estamos noivas? – Laura perguntou enquanto recolhia a caixinha do anel na areia. Taylor fez o mesmo com a sua.

- Acho que sim – Schilling ria sem parar, não conseguindo conter a alegria que a preenchia naquele momento.

Colocaram os respectivos anéis no dedo uma da outra e não se podia dizer quem tinha o sorriso mais bobo nos lábios.

- Então a senhorita foi mais rápida do que eu? Pretendia fazer o pedido no nosso último dia aqui – Prepon esclareceu.

- Eu também – a loira confessou – Mas aquela ansiedade ia acabar me matando, isso se eu não te enlouquecesse antes.

- Me enganou direitinho. Jamais desconfiei que seu nervosismo fosse por conta disso, bebê – a morena ainda derramava lágrimas enquanto falava.

Laura trouxe Taylor para mais perto, sentando-a de costas no meio de suas pernas. Em seguida, abraçou-a pela cintura enquanto enchia os ombros e o pescoço da loira de beijos.

 - Lau, nós vamos nos casar!!

- Sim... vamos! Quem podia imaginar uma coisa dessas há um tempo atrás? – lembrando-se de algo, a morena perguntou: - Tay, você contou para alguém que faria isso?

- Para a Tasho – ela entregou sem pestanejar – Eu precisava dividir isso com alguém.

- Filha da mãe! Quando foi isso?

- No dia seguinte daquela sua sessão de fotos em Los Angeles. Eu liguei pra ela e perguntei se achava que eu estava maluca por pensar em uma coisa dessas – a loira caiu na gargalhada ao lembrar a conversa – E você? Falou com alguém? Sua mãe?

- Falei com a Natasha. Foi por isso que achei ela mais animada e surpresa do que seria o normal. Ela já sabia que você também estava pretendendo a mesma coisa – a morena fez uma pausa antes de continuar: - E eu falei com a Uzo também. Por mais que adore a Tasho, precisava de uma segunda opinião de alguém mais equilibrada.

- O seu pedido foi tão mais fofo que o meu. Amei a música – Schilling falava enquanto se recostava no pescoço da agora noiva, Laura Prepon.

- E o seu foi tão espontâneo e natural... a coisa mais linda do mundo, amor. Eu fiquei tão surpresa que demorei pra me recuperar.

- Falando nisso, foi maldade o que você fez. Me deixou aqui sozinha achando que tinha recusado minha proposta. Eu já estava pensando em arrumar outro lugar para dormir... não ia conseguir te encarar tão cedo depois de ter sido rejeitada.

- Eu não te rejeitei, sua louca.

- Mas também não aceitou, não falou nada. Saiu correndo como se estivesse com medo de mim.

Laura deu uma gargalhada alta.

- Desculpa, eu nem me toquei que tinha passado essa impressão. Eu só não quis perder a oportunidade. Precisava antecipar o meu pedido. Me perdoa? – ela pediu dando uma mordidinha leve na orelha de Schilling.

- Perdoo. Mas só porque te amo demais.

- Eu te amo muito mais, Taylor Schilling.

Depois de mais alguns minutos se beijando praticamente sem pausa, Prepon teve uma ideia. Pegou o celular e pediu para a loira colocar a mão com o anel sobre a areia. Em seguida a morena colocou sua própria mão sobre a de Taylor, tomando o cuidado de que os dois anéis aparecessem nitidamente e tirou uma foto.

- Vai mandar pra Tasho? – a loira questionou.

- E pra Uzo.

Prepon enviou a foto e minutos depois veio a resposta de Lyonne:

Puta que pariu, eu não acredito. Agora é oficial? Vocês vão se casar? Parabéns, garotas. Vocês são as mulheres mais fodas que eu conheço. E eu amo vocês pra caralho. Amo demais. Tô morrendo de saudade. Nunca mais fiquem tanto tempo longe de mim.

As duas leram a mensagem juntas e fizeram um som de “aaahhhh” praticamente ao mesmo tempo, enternecidas com o carinho sem tamanho da amiga por elas.

Prepon já começava a digitar uma resposta quando outra mensagem chegou:

Preciso saber uma coisa: quem pediu primeiro?

Ambas acharam graça daquela pergunta. Lyonne e sua curiosidade sem fim.

Prepon respondeu:

Foi a Tay. A propósito, nós também amamos você e a saudade é recíproca.

Mais uma mensagem em resposta, quase que instantânea:

Merda, ruiva. Me fez perder dez mil dólares. Apostei com a Uzo que você pediria primeiro. E você deixou a Tayloface tomar a iniciativa? Investi em você, Laura Prepon. Que decepção.

- Eu não tô acreditando nisso – Prepon estava mesmo incrédula – Ela fez uma aposta sobre os nossos pedidos de casamento? Pior que isso é bem a cara dela mesma. Não duvido que seja verdade.

- Natasha sendo Natasha – Schilling resumiu.

 

As duas continuaram ali, sentadas a beira do mar e conversando sobre seus planos para o casamento enquanto a escuridão da noite dominava tudo. Em determinado momento, Schilling levantou-se e foi molhar os pés na água. Parecia uma criança, brincando com as ondas e parando a todo instante para olhar o anel em seu dedo com um sorriso inocente.

Laura olhava a figura loira em contraste com aquele céu estrelado e o mar agora negro ao fundo e foi tomada por uma sensação de paz inexplicável. A morena sabia que nunca se sentira tão feliz em toda sua vida. Nunca alguém lhe fizera tanto bem e lhe dera tantos motivos para sorrir. Às vezes ainda sentia medo de que tudo aquilo que vivia fizesse parte de um sonho do qual poderia acordar a qualquer momento. Mas bastava um olhar ou um sorriso de sua loira para os temores serem deixados de lado.

Prepon não sabia o que o futuro reservava para si. Não sabia o que aconteceria dali pra frente. Mas não se preocuparia com qualquer obstáculo ou problema que porventura tivesse de enfrentar, se Taylor estivesse ao seu lado. Era só isso que importava. Somente ela.

Apenas Ela.

 


Notas Finais


Alguém por aí ainda? Espero que sim.
Eu estou meio anestesiada em constatar que essa fic acabou. Foram muitas noites dedicadas a esse casal, por vezes até sacrificando horas de sono. Mas não tenho nenhum arrependimento por isso. Me deliciei com cada palavra escrita.

Sei que estou sendo repetitiva, mas nunca vou me cansar de agradecer o carinho e incentivo de vocês.
Obrigada.

E para aquelas que quiserem seguir, tenho novidades.

Conforme falei anteriormente, havia uma estória Vauseman na minha mente já há algum tempo e consegui começá-la há alguns dias. Só que achei melhor encerrar Apenas Ela antes de iniciar as postagens de Little Gift.
Com a meta alcançada, Alex e Piper estão na área agora. Quem tiver interesse em acompanhar, segue o link:

https://spiritfanfics.com/historia/little-gift-7601132


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